Previsão de Tempo no Brasil Pode Melhorar nos Próximos Meses
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo postado hoje (04/02) no site da “Agência
FAPESP” destacando que a Previsão de
Tempo no Brasil poderá melhorar nos próximos meses.
Duda Falcão
Notícias
Previsão de
Tempo no Brasil Pode
Melhorar nos Próximos Meses
Elton Alisson
Agência FAPESP
04 de fevereiro de 2016
(Imagem: CPTEC-INPE)
Pesquisadores do CPTEC-INPE desenvolvem novo modelo
atmosférico de
circulação global adaptado às condições climáticas da América do
Sul.
|
As previsões
de eventos extremos de tempo e clima no Brasil, como chuvas intensas e períodos
de seca causados pelo El Ninõ – o aquecimento anormal das águas superficiais e
sub-superficiais do Oceano Pacífico Equatorial –, podem se tornar mais
assertivas nos próximos meses.
O Centro de
Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE) começou a realizar este ano previsões de tempo em
escala mundial (de um a sete dias) com um novo modelo atmosférico de circulação
global.
Denominado BAM
(Brazilian Global Atmospheric Model), o modelo foi desenvolvido totalmente no
país ao longo dos últimos quatro anos por pesquisadores da Divisão de Modelagem
e Desenvolvimento (DMD) do CPTEC-INPE.
O BAM será a
componente atmosférica do Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre (BESM, na
sigla em inglês), desenvolvido para projeções de mudanças climáticas,
com apoio
da FAPESP (leia
mais).
O modelo
deverá ser acoplado ao BESM este ano para ser usado não somente em projeções de
mudanças climáticas, mas também para a previsão de clima sazonal (até três
meses).
“Adquirimos
muita experiência no desenvolvimento da dinâmica e de processos físicos em
modelos atmosféricos globais e, como o modelo atmosférico anterior ao BAM usado
pelo CPTEC que estava em operação desde 2010 não era mais adequado para
resoluções espaciais menores ou iguais a 20 quilômetros, decidimos desenvolver
um novo modelo mais adaptado para essas resoluções e às condições climáticas da
América do Sul”, disse Silvio Nilo Figueroa, chefe da DMD do CPTEC-Inpe e
integrante do projeto, à Agência FAPESP.
De acordo com
Figueroa, uma das limitações dos modelos globais americanos, europeus e de
outros centros mundiais de meteorologia é não representar muito bem duas
forçantes (mudanças impostas no balanço de energia planetária que, tipicamente,
causam alterações na temperatura global) que têm forte influência no tempo e
clima da América do Sul: a forçante topográfica, associada aos Andes, e a
forçante térmica, devido à liberação de calor latente das nuvens na Amazônia.
“A maioria dos
modelos numéricos atmosféricos globais falha na representação da cordilheira
dos Andes devido ao fato de que elas é muito estreita e sua altura varia
abruptamente em poucos quilômetros de distância”, afirmou.
Esse problema
matemático tem um impacto muito grande no transporte da umidade da Amazônia
para o Sul e o Sudeste do país e, consequentemente, na previsão de tempo e de
clima sazonal especialmente para estas duas regiões, explicou o pesquisador.
“Ao melhorar
nosso modelo climático atmosférico global para representar melhor as regiões
montanhosas da América do Sul e a formação das nuvens na Amazônia será possível
melhorar as previsões de tempo e de clima sazonal no Brasil. Esse será nosso
grande diferencial com relação a outros modelos globais e uma contribuição
brasileira à comunidade cientifica internacional”, estimou Figueroa.
Segundo o
pesquisador, com o BAM também será possível melhorar a representação de chuva
na Amazônia.
Por meio de
projetos que estão sendo realizados na Amazônia, como o Projeto
Chuva e a campanha científica Green Ocean Amazon GOAmazon – ambos com apoio
da FAPESP –, será possível ajustar o BAM para melhorar a representação da
formação de nuvens na Amazônia, apontou.
“Com a
melhoria da representação tanto da Amazônia como dos Andes no modelo será
possível fazer previsões de tempo e de clima com melhor confiabilidade e
qualidade para a região Sudeste”, avaliou.
Melhor Resolução
Outro avanço
apresentado pelo BAM, segundo Figueroa, será no aumento da resolução espacial
com a qual as previsões de tempo e clima feitas pelo CPTEC passarão a ser
processadas.
O modelo
atmosférico de circulação global usado até então pela instituição – o AGCM3 –
processava as previsões com resolução espacial de 45 quilômetros (km) e 64
camadas na vertical.
Já o BAM
processa as previsões com resolução espacial de 20 km e 96 camadas na vertical.
O aumento da
resolução espacial do modelo possibilita representar melhor a topografia, a
dinâmica (equações do movimento da atmosfera) e a física (radiação, camada,
limite, processos de superfície e microfísica) da América do Sul.
Além disso,
realizará previsões de tempo com mais de dois dias de antecedência – algo que o
modelo anterior não permitia, comparou Figueroa.
“O modelo
antigo apresentava uma queda de desempenho a partir do segundo dia de previsão.
Com o BAM conseguimos fazer previsões de tempo com mais dias de antecedência e
maior nível de confiança”, afirmou.
O BAM ficou em
modo experimental durante um ano e em fase pré-operacional nos últimos três
meses.
Durante esse
período, os pesquisadores fizeram uma avaliação de desempenho do modelo para
previsão de chuva sobre a região Sudeste.
Os resultados
da avaliação indicaram que as previsões feitas com o modelo apresentaram níveis
de qualidade similares às geradas pelo modelo Global Forecast System (GFS), do
National Center for Environmental Prediction (NCEP), dos Estados Unidos –
considerado um dos melhores modelos em operação no mundo.
“O BAM
conseguiu prever com vários dias de antecedência as fortes chuvas que ocorreram
na região no mês passado causadas pela Zona de Convergência do Atlântico Sul [banda
de nebulosidade que se estende desde o sul da região Amazônica até a região
central do Atlântico Sul]”, disse Figueroa.
De acordo com
o pesquisador, as previsões feitas pelo BAM abrangem grandes áreas do globo, da
ordem de 20 quilômetros. Por isso, podem não capturar indícios de mudanças do
tempo para uma região menor, da ordem de poucos quilômetros, como um município
da região metropolitana de São Paulo.
Para realizar
previsões de tempo para essas áreas menores os modelos mais indicados são os
regionais, com resolução espacial entre 1 e 10 km, como o ETA e o BRAMS usados
pelo CPTEC.
Os modelos
globais como o BAM, contudo, servem aos modelos regionais como condições de
contorno (informam as condições atmosféricas na divisa das regiões abrangidas
pelos modelos regionais). Dessa forma, a qualidade das previsões dos modelos
regionais depende também em parte da qualidade das condições atmosféricas
previstas pelo modelo global, ponderou o pesquisador.
“São os
modelos atmosféricos globais que fornecem a temperatura, o vento e outras
variáveis nas bordas dos modelos regionais em intervalos de três a seis horas
para que os modelos regionais consigam fazer previsões para um dia o mais
dentro de suas respectivas áreas de domínio”, afirmou.
O BAM, por
exemplo, fornecerá condições de contorno para os modelos regionais de um
quilômetro que serão usados como forçante para previsões de ondas e correntes
para a Baía de Guanabara durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro, disse
Figueroa.
Capacidade
de Computação
Segundo o pesquisador,
o BAM está pronto para rodar com uma melhor resolução espacial, de 10
quilômetros. Uma das limitações para rodar o modelo com essa resolução,
contudo, é a falta de capacidade computacional.
A capacidade
computacional do supercomputador Tupã, adquirido no final de 2010 pelo
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a FAPESP e instalado no
CPTEC, já está no limite, de acordo com Figueroa (leia
mais).
Um teste
realizado pelos pesquisadores do CPTEC para avaliar o desempenho do atual
supercomputador para processar o modelo BAM, adaptado a uma resolução espacial
de 10 quilômetros, demonstrou que mesmo utilizando toda a capacidade de
processamento do supercomputador Tupã, fazendo uso de seus 30 mil processadores
ao longo de duas horas, foi possível gerar previsões para apenas 24 horas.
Com um
computador novo 28 vezes mais potente, por exemplo, demoraria aproximadamente
uma hora para fazer previsões até com sete dias de antecedência, comparam os
pesquisadores.
Dessa forma, o
atual supercomputador é incapaz de gerar previsões operacionais para até sete
dias, sendo limitado também para realizar previsões de clima sazonal com alta
resolução espacial, apontou Figueroa.
“O máximo que
conseguimos com o Tupã hoje é rodar o BAM com resolução espacial de 20
quilômetros. Mas se tivéssemos maior capacidade computacional conseguiríamos
rodar o modelo com resolução espacial de 10 quilômetros”, disse.
Já o BESM – do
qual o BAM será uma das componentes principais, a atmosférica – está rodando
hoje com resolução espacial de 180 quilômetros, aproximadamente.
O ideal, de
acordo com o pesquisador, é que o modelo do sistema terrestre para mudanças
climáticas e previsão sazonal rode com 100 quilômetros ou menos de resolução
espacial.
“Quanto melhor
a resolução espacial do modelo, melhor também é a capacidade de representar a
topografia, como vales e montanhas, e o contraste entre mar e continente. Com
resolução espacial de 180 estes contrastes não são bem definidos, e a praia
pode parecer terra”, exemplificou Figueroa.
Segundo o
pesquisador, hoje instituições como o NCEP, dos Estados Unidos, por exemplo,
tem capacidade para rodar seu modelo global atmosférico de tempo a uma
resolução espacial de 13 quilômetros, usando supercomputadores entre 30 e 50
vezes mais velozes que o Tupã – na ordem de PetaFlops ou 1015
operações de ponto flutuante por segundo.
“A tendência é
que nos próximos cinco a sete anos os modelos globais estejam rodando com 1 a 2
quilômetros de resolução espacial. Aí não será mais necessário usar modelos
regionais, porque a topografia de uma região, como o Vale do Paraíba, estará
muito bem representada nos modelos globais”, estimou Figueroa.
A ideia é que
o BAM represente o início do desenvolvimento da futura geração do modelo global
atmosférico do CPTEC-Inpe, em que o mesmo modelo será usado para a previsão de
tempo global, com resolução menor de 5 km, e para clima sazonal e mudanças
climáticas, com resoluções da ordem de 10 a 25 km, afirmou o pesquisador
Fonte: Site da Agência FAPESP
Comentários
Postar um comentário