Fermilab Quer Participação do Brasil em Megaexperimento Sobre Neutrinos
Olá leitor!
Segue abaixo uma nota postada ontem (16/02) no site da “Agência
FAPESP” destacando que o Fermilab (principal laboratório de Física de Partículas
dos EUA) quer a participação brasileira em megaexperimento sobre Neutrinos.
Duda Falcão
Notícias
Fermilab Quer Participação do Brasil
em Megaexperimento
Sobre Neutrinos
Elton Alisson
Agência FAPESP
16 de fevereiro de 2016
(Foto: Long-Baseline Neutrino Facility
(LBNF) Reidar
Hahn/Fermilab)
A cientista
argentina Marcela Carena tem dividido o seu tempo entre dedicar-se à sua
pesquisa no Fermilab, o principal laboratório de Física de partículas dos
Estados Unidos, situado em Batávia, nos arredores de Chicago, onde chefia o
departamento de Física Teórica, e desempenhar o papel de uma espécie de
embaixadora deste centro de investigação administrado pelo Departamento de
Energia dos Estados Unidos.
No final de
novembro de 2015 ela aceitou o convite do diretor do Fermilab, Nigel Lockyer,
para ser a primeira ocupante do cargo de diretora de relações internacionais.
Uma das missões de Carena será facilitar acordos entre o laboratório e
instituições de fomento à pesquisa ao redor do mundo e atrair parceiros para o
Deep Underground Neutrino Experiment (Dune).
Um megaprojeto
científico bilionário, voltado a tentar descobrir novas propriedades dos
neutrinos – uma partícula elementar fugaz, quase desprovida de massa e que
viaja a uma velocidade muito próxima à da luz –, o projeto Dune prevê a construção
de uma fonte subterrânea de luz emissora de um feixe de neutrinos no Fermilab.
Os neutrinos
criados pela fonte subterrânea de luz viajarão a 1,3 mil quilômetros em linha
reta, através do manto da Terra, e serão interceptados por dois detectores: um
a 600 metros de profundidade, localizado no próprio Fermilab, e um segundo,
maior, situado a 1,47 quilômetro de profundidade, no Sanford Lab – um
laboratório subterrâneo localizado em Dakota do Sul.
Durante essa
longa jornada dos neutrinos, os físicos envolvidos no projeto pretendem medir
propriedades dessas partículas que estão entre as mais abundantes no Universo –
atrás apenas dos fótons – e que são capazes de atravessar materiais densos,
como solo e rochas, sem interagir com um único átomo, não deixando nenhum
rastro de sua passagem. Por isso, são chamadas de partículas “fantasmagóricas”.
Por meio do
projeto Dune, pretende-se observar algumas das raríssimas interações dos
neutrinos com a matéria e registrar sinais de partículas detectáveis que podem
surgir a partir das raras colisões de neutrinos com átomos.
Dessa forma,
espera-se fazer descobertas que poderiam transformar a compreensão sobre a
origem e a evolução do Universo e responder perguntas como por que o Universo
tem mais matéria do que antimatéria.
“O projeto
Dune representa um novo modelo de experimento para o Fermilab”, disse Carena à Agência
FAPESP, durante sua passagem por São Paulo no início de fevereiro para
apresentar um seminário sobre Física de Altas Energias no Instituto
Sul-Americano para Pesquisa Fundamental (ICTP-SAIFR), sediado no Instituto de
Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (IF-Unesp).
A pesquisadora
também participou de uma reunião, no dia 4 de fevereiro, com dirigentes da
FAPESP.
“Até então o
Fermilab realizou experimentos nos quais os parceiros internacionais foram
convidados no final do projeto, quando o acelerador de partículas e detector,
por exemplo, já haviam sido construídos. No Dune, a comunidade internacional
está se unindo para desenhar o experimento desde o início. É um projeto
internacional como o LHC [o Grande Colisor de Hádrons da Organização
Europeia para Pesquisa Nuclear (CERN), na Suíça]”, comparou a pesquisadora,
que também é professora no Departamento de Física da University of Chicago.
Investimento
Bilionário
Primeiro
projeto de megaciência em Física que os Estados Unidos se propuseram a realizar
em solo próprio, o Dune deverá receber investimentos de US$ 1,5 bilhão somente
do país norte-americano.
Para fechar o
orçamento total, não revelado pelo Fermilab, será preciso contar com parceiros
internacionais como o Brasil, que possui um longo histórico de relações
científicas com o Fermilab, ressaltou Carena.
O país tem a
sexta maior participação na comunidade de usuários do Fermilab – atrás apenas
dos Estados Unidos, Reino Unido, Itália, Índia e Alemanha, e à frente da
Rússia, Suíça, Japão e Canadá –, reunindo 73 pesquisadores de 14 instituições.
Alguns dos
pesquisadores são de instituições do Estado de São Paulo, como a Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal do ABC (UFABC), e estão
trabalhando em experimentos voltados a desenvolver feixes de neutrinos e de
partículas eletricamente carregadas, que são uma plataforma de desenvolvimento
de ideias para o Dune.
“O Brasil é o
país da América Latina que tem uma conexão mais forte com o Fermilab”, afirmou
Carena. “Esperamos manter e fortalecer esse vínculo de colaboração com o país
em Física de neutrinos por meio de experimentos como o Dune”, ressaltou.
Em sua
avaliação, uma das possíveis formas de colaboração do país no Dune poderia ser
na construção de partes dos detectores, como o principal, que será instalado no
Sanford Lab e será composto por quatro módulos criogênicos com argônio líquido
e massa total de 70 mil toneladas.
“A ideia é
verificar com a comunidade de Física de neutrinos no Brasil que tipos de
desenvolvimentos tecnológicos podem ser feitos no país, em colaboração com
indústrias brasileiras, para os detectores que serão usados no Dune”, afirmou.
No momento,
mais de 800 pesquisadores, de 145 instituições de pesquisa de 26 países,
assinaram a proposta de adesão ao Dune.
A meta do
Fermilab é que CERN participe do projeto e ajude a construir o primeiro dos
quatro módulos criogênicos do detector de neutrinos.
O laboratório americano
participa da colaboração Compact Muon Solenoid (CMS), do LHC – também é
integrada por físicos brasileiros – que em julho de 2012 anunciou
concomitantemente com a colaboração Atlas ter detectado o bóson de Higgs (leia
mais).
“A colaboração
CMS, que envolve pesquisadores de 182 instituições de 42 países, é um exemplo
muito interessante de modelo de governança baseado em colaborações informais,
sem uma base jurídica e uma estrutura muito rígida, e que funciona muito bem”,
avaliou Carena. “Talvez isso possa ser adotado no Dune”, estimou.
Fonte: Site da Agência FAPESP
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