A Visiona de Olho na Terra
Olá leitor!
Segue abaixo um interessante artigo publicado na edição de n.º 143, de janeiro de 2016, da Revista Tecnologia
e Defesa (T&D), e postado dia (12/02)
no “Blog Panorama Espacial” do companheiro André Mileski.
Duda Falcão
A Visiona de Olho na Terra
Ivan Plavetz
Revista T&D
Edição de n.º 143
Janeiro de 2016
Sensoriamento remoto através de
satélites é, atualmente, um instrumento de grande valor técnico, científico e
estratégico em muitas áreas da atividade humana, entre elas, cartografia plana
e 3D, monitoramento e proteção ambiental, prospecção de jazidas minerais,
acompanhamento da evolução urbanística das cidades, inspeção e avaliação de
mananciais hídricos, chegando até aos levantamentos de interesse militar
(inteligência, monitoramento marítimo e mapeamento de terrenos). De olho nesse
mercado, a brasileira Visiona Tecnologia Espacial acaba de lançar um projeto de
prestação de serviços nessa área.
A Demanda
A Visiona Tecnologia Espacial,
uma empresa do grupo Embraer e Telebras, foi criada há três anos como
integradora de satélites. Em nível mundial, como negócio, cerca de 80% dessa
atividade depende e é desenvolvida com apoio governamental, sendo que no Brasil
isso acontece da mesma forma. De acordo com Eduardo Bonini, seu presidente, em
conversa com a reportagem de T&D, paralelamente à expectativa de oferecer
soluções de construção e integração de satélites, a companhia decidiu seguir um
modelo de negócio consagrado entre fabricantes espalhados ao redor do mundo. Os
fabricantes de satélites também oferecem prestação de serviços usando esses
veículos espaciais, sejam eles de comunicações ou de observação terrestre,
entre outras aplicações.
Alinhando-se a esse modelo, a
Visiona optou por entrar em um negócio que não depende de projetos esporádicos
como a integração. Um projeto de satélite leva ao redor de três a três anos e
meio. Como a empresa precisa de fontes contínuas de renda, ela definiu o
lançamento de um serviço de fornecimento e análise de imagens com o objetivo de
desenvolver grandes planos para sensoriamento remoto no Brasil e países
vizinhos.
Para tanto, a Visiona estudou
cuidadosamente a contratação de parceiros e suas respectivas constelações de
satélites já em operação. A empresa já sabia que seus proprietários atuam de
forma global, entretanto, conseguiu concessões para aplicações sobre solo brasileiro,
latino-americano e algumas regiões da África. Para Bonini, desenvolver negócios
nesses mercados dependerá da capacidade da empresa, contudo, ele considera o
Brasil o grande foco desse nicho, pois as necessidades são muito maiores do que
já está sendo feito no País e há boas chances de sucesso.
Com base em recente estimativa
divulgada por fontes governamentais, o Brasil gasta por ano cerca de R$ 100
milhões em atividades de imageamento específicas para sensoriamento remoto. A
despeito do ainda baixo nível de emprego dessa ferramenta por aqui, existe um
crescimento mundial de 10% ao ano correspondente ao emprego dessa tecnologia, o
que demonstra o significativo potencial de mercado existente e a viabilidade de
explorá-lo, estimando-se que daqui a 10 anos poderá estar movimentando
anualmente no País em torno de R$ 200 milhões.
A Visiona, segundo Bonini,
possui uma visão de mercado que prevê uma grande demanda por sensoriamento
remoto não somente por satélites dotados de sensores ópticos, mas, também por
radar. A gama de aplicações é vasta, incluindo planejamento territorial,
levantamentos nos campos da energia, agrícola, agropecuária e florestal e
controle de fronteiras, bem como prevenção, acompanhamento e avaliação de
consequências de desastres naturais. Portanto, em função desse volume de
aplicações e as dimensões do território brasileiro, cabe o uso de uma ampla
constelação de satélites de observação.
Parcerias e Constelação
Para desenvolver seu projeto, a
empresa firmou acordos de distribuição de imagens com alguns dos principais
operadores de satélites de observação da Terra: Grupo Airbus, a norte-americana
DigitalGlobe, a japonesa Restec, e a sul-coreana SI Imaging Services.
Por meio dos acordos firmados
com essas corporações, a Visiona formou uma constelação virtual de satélites,
ou seja, cada uma das empresas parceiras possui a sua constelação de satélites,
sendo que cada uma delas irá fornecer de forma independente imagens para a
Visiona. Dessa forma, será possível obter um conjunto de imagens com
características únicas do mesmo assunto a partir de satélites de constelações
diferentes, resultando na capacidade de coletar grandes volumes de imagens com
altas taxas de revisita (as quais podem ser diárias), ou seja, o cliente tem a
seu dispor imagens registradas em intervalos de tempo de acordo com suas
necessidades. A grande diversidade dos sensores presentes nessa constelação
permitirá que a empresa forneça soluções superiores para as mais variadas
aplicações de sensoriamento remoto, enfatizou Bonini.
No total, a empresa terá acesso
unificado a uma constelação composta por 22 satélites (ver box) que percorrem
orbitas circulares baixas com menos de 2.000 km de altitude (LEO - Low Earth
Orbit), sendo 18 deles dotados de sistemas de sensores ópticos capazes de gerar
imagens pancromáticas e multiespectrais de média, alta e altíssima resolução
espacial, com várias faixas de cobertura de terreno, isso com resoluções de 31
centímetros a 22 metros, e três satélites com capacidade de sensoriamento por radar
SAR com resoluções de 25 cm a 95 m que funcionam nas Bandas X e L, esta última
tecnologia única no mundo, particularmente importante para atendimento dos
requisitos legais e técnicos do monitoramento ambiental do País. “Poucas
empresas no mundo conseguiram montar uma constelação virtual com esta
capacidade. Esses satélites representam o que há de mais moderno atualmente”,
destacou o presidente da Visiona.
Bonini ressaltou que tão
importante quanto conseguir esses acordos para a composição da constelação
virtual são os investimentos feitos na equipe brasileira. Para que as imagens
recebidas tenham valor agregado precisam ser trabalhadas para que forneçam
exatamente as informações que o cliente necessita. Isso depende de
especialistas e a Visiona foi buscá-los, trazendo o que há de melhor em
experiência, não só em termos de habilidade comercial, mas também para
processamento e interpretação das imagens. A equipe será composta por
engenheiros, geólogos e profissionais de outras especialidades aplicáveis na atividade,
graduados nos níveis de mestrado e doutorado.
Em conjunto com a Bradar,
empresa do grupo Embraer voltada ao sensoriamento remoto através de
equipamentos de radar SAR aerotransportados, a Visiona passará a fornecer
soluções hibridas empregando sensores embarcados em aviões e satélites,
entregando serviços de alto valor agregado como mapas temáticos e de detecção
de mudanças. Poderá, ainda ocorrer associações com outras empresas que já atuam
no Brasil com objetivo de desenvolver novas soluções e promover a adoção de
tecnologias de sensoriamento de modo a fomentar o surgimento de programas de
satélites nacionais.
Amazônia SAR e o CBERS
Entre os projetos que a empresa
tem condições de abraçar fi gura o Amazônia SAR, que envolverá satélites
dotados de sensores radar tipo SAR, mais eficiente para o monitoramento daquela
região com constante presença de nuvens, e reduzem o desempenho dos sensores
ópticos. Esse tipo de sensor pode não só ver o que há abaixo dessas formações
atmosféricas, mas o que a vegetação esconde abaixo da copa das árvores, por
exemplo. Um ponto de destaque do Projeto Amazônia SAR é a possibilidade futura
de um satélite nacional empregando tecnologias já desenvolvidas no Brasil e
contanto com parcerias internacionais. O emprego da constelação de satélites já
existente é imediata, enquanto o desenvolvimento de um satélite brasileiro
deverá levar em torno de quatro anos.
Com relação aos satélites de
sensoriamento remoto sino-brasileiros da família CBERS, a Visiona poderá
complementar os serviços que prestam para as instituições que se servem das
imagens coletadas por esses satélites. Os CBERS são satélites dotados de
sensores ópticos de baixa resolução e a complementação se daria também com
imagens fornecidas pelos satélites radares da constelação virtual contratada
pela Visiona durante períodos nos quais as áreas de interesse estiverem
“opticamente inacessíveis”, Além disso, considera-se também a periodicidade das
passagens do CBERS pelos mesmos pontos da superfície terrestre (26 dias para o
CBERS-4 completar um ciclo) em comparação com os curtos ciclos de revisita
disponibilizados pelo sistema de satélites empregado pela Visiona.
Em termos de integração, a
empresa trabalha no sistema do Satélite Geoestacionário de Defesa e
Comunicações Estratégicas (SGDC), que vai atender às necessidades de
comunicação via satélite do Governo Federal, incluindo o Programa Nacional de
Banda Larga (PNBL) e um amplo espectro de comunicações estratégicas de defesa.
Ela tem também meta de atuar como integradora de satélites no âmbito do
Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE/AEB) e do Programa Estratégico
de Sistemas Espaciais (PESE/FAB).
Expectativas
Segundo informou Bonini, no
Brasil existem muitas carências em torno do desenvolvimento da soberania em
relação ao espaço. Essa forma de começar a trabalhar, ou seja, fornecendo
imagens e oferecendo a parte de sensoriamento, é uma primeira aproximação com
os clientes brasileiros que poderiam, mais tarde, através de vários demandantes
e ministérios que utilizam imagens coletadas por satélites, trabalharem em
sinergia no âmbito de projetos de satélites nacionais, tanto ópticos quanto
dotados de sensor-radar. “Sabemos hoje que a demanda da área de defesa por um
satélite de observação com uma câmera de 1 metro de resolução é muito
importante”, disse. Ele ponderou que se esse investimento é grande demais, pode
ser dividido, por exemplo, entre os Ministérios da Defesa, do Meio Ambiente, da
Agricultura, e outros, sendo que essa cooperação entre instituições oficiais
que demandam essas imagens, incluindo compartilhamento de investimentos, iria
resultar em benefícios coletivos decorrente da aplicação dessa tecnologia por
meio de satélites nacionais, criando a oportunidade de elevar o Brasil para
outros níveis no desenvolvimento de satélites e exploração do espaço.
Em síntese, a Visiona trabalha
com perspectivas de longo prazo. Neste primeiro momento, conta com um banco de
imagens coletadas por cada constelação dos seus parceiros internacionais, e
estão sendo armazenadas independentemente se serão usadas ou não. Há também um
banco de imagens gerados pela Bradar. A Visiona esta preparada para editoração
desses acervos para atender potenciais clientes. O que interessa nessas imagens
é o histórico nelas contidos, ou seja, a possibilidade de, por comparação com
as atuais, acompanhar a evolução de desmatamentos. A empresa dispõe de
ferramentas para a obtenção e arquivamento de imagens e seu processamento,
acrescentando o valor das interpretações dos especialistas.
Os planos são para ir mais
longe atingindo a capacidade de obter imagens diretamente das constelações,
agilizando o processo e permitindo o seu controle pela Visiona, o que vai
requerer infraestrutura incluindo antenas de múltiplo espectro cuja integração
careceria de investimentos da ordem de R$ 15 a 20 milhões. Numa etapa mais
avançada, o ideal seria integração de satélites nacionais no sistema, podendo,
juntamente com organismos estatais, os quais teriam a propriedade dos mesmos,
explorar a geração de imagens para um leque total de atendimento.
Fonte: Blog Panorama Espacial - http://panoramaespacial.blogspot.com.br/
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