As Camadas Protetoras do Céu
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo postado hoje (22/02) no site da “Agência
FAPESP” destacando que a Universidade do Vale do Paraíba (Univap), em São José dos Campos-SP, esta conduzindo um
projeto temático sobre as “Camadas Protetoras do Céu”.
Duda Falcão
Notícias
As Camadas Protetoras do Céu
Peter Moon
Agência FAPESP
22 de fevereiro de 2016
(Imagem: NASA)
A camada de
ozônio da estratosfera, que se estende de 10 a 50 quilômetros (km) de altitude,
bloqueia os raios ultravioleta nocivos à saúde. Mas o que muitos desconhecem é
que a camada de ozônio é apenas uma das barreiras que a Terra dispõe contra as
diversas radiações solares.
“A camada de
ozônio é a última barreira aos raios ultravioleta. E nem é a principal. A
maioria dos raios ultravioleta e ultravioleta extremo, além do fluxo de raios X
emitido pelo Sol, é absorvida na ionosfera. A ionosfera é o nosso principal
escudo às radiações ionizantes provenientes do Sol”, disse o físico Paulo
Roberto Fagundes, da Universidade do Vale do Paraíba (Univap), em São José dos
Campos. A ionosfera se estende entre 70 e 1.500 km de altitude, já na fronteira
com o espaço sideral.
Apesar de a
ionosfera ser o principal manto protetor da Terra, suas propriedades e a sua
possível relação com o clima e com o meio ambiente só recentemente começaram a
ser estudadas e compreendidas.
“No fundo,
estamos tentando entender melhor a atmosfera, que é o meio ambiente do
planeta”, disse Fagundes, coordenador do Projeto Temático “Estudo da variabilidade dia a dia da mesosfera, termosfera e
ionosfera em baixas latitudes e região equatorial, durante o ciclo solar 24”,
financiado pela FAPESP.
O objetivo do
projeto é estudar a variação diária da dinâmica da alta atmosfera (mesosfera e
termosfera) e da eletrodinâmica da ionosfera em baixas latitudes e na região
equatorial, utilizando uma rede de observatórios no setor brasileiro, dados
complementares de outros setores e dados de satélite.
Um dos
resultados do Temático é o artigo Ionospheric response to the 2009 sudden
stratospheric warming over the equatorial, low, and middle latitudes in the
South American sector, publicado no Journal of
Geophysical Research: Space Physics.
De acordo com
Fagundes, o artigo deriva de um esforço internacional para entender o
acoplamento vertical e longitudinal entre as várias camadas da
atmosfera/ionosfera sobre as Américas e é fruto de uma colaboração entre a
Univap, o Massachusetts Institute of Technology (MIT, Estados Unidos), o
Istituto Nazionale di Geofisica e Vulcanologia (Itália) e a Universidad
Nacional de La Plata (Argentina).
Fotoionização
A alta
atmosfera é formada por gás muito rarefeito, sendo os principais o oxigênio
(O), o oxigênio molecular (O2) e o nitrogênio molecular (N2). As moléculas O,
O2 e N2 são banhadas pelo fluxo de radiações solares, composto dos energéticos
raios ultravioleta, ultravioleta extremo e raios X.
Ao entrar em
contato com essas radiações, as moléculas e átomos absorvem sua energia, em um
processo conhecido como fotoionização. Ao fazê-lo, as moléculas ou átomos
perdem um ou mais elétrons e são criados íons (de carga positiva) e elétrons
(de carga negativa). Daí vem o nome ionosfera: a região da atmosfera onde
existem elétrons e íons livres.
É justamente
essa capacidade de as moléculas e átomos ionizarem ao absorver as radiações
mais energéticas que impede que as radiações atinjam a superfície terrestre.
A totalidade
dos raios X é barrada na ionosfera, assim como a maioria dos raios ultravioleta
e ultravioleta extremo. Os que conseguem escapar da ionosfera podem ou não ser
barrados pela camada de ozônio, dependendo da concentração e espessura da
camada de ozônio – daí o risco promovido pelo aumento no buraco da camada de
ozônio sobre a Antártica. Onde há o buraco, os raios UV atingem a superfície em
quantidades muito perigosas.
O fluxo de
radiação solar que atinge a Terra não é constante. Ele altera de intensidade em
função do ciclo solar, ou seja, do nível da atividade do Sol, que varia em
intervalos de 11 anos. Em períodos de atividade solar mínima, a intensidade das
radiações solares (ultravioleta, ultravioleta extremo e raios X) na ionosfera
diminui, fazendo com que uma quantidade menor de átomos e moléculas ionizem.
De outra
forma, quando a atividade solar está em seu máximo, o fluxo de radiação eleva e
aumenta a quantidade de material ionizado. “O último mínimo solar ocorreu entre
2006 e 2012 e teve um comportamento atípico. Foi prolongado e atingiu valores
muito pequenos. Agora, estamos no máximo solar”, disse Fagundes.
O fluxo de
radiação solar também sofre oscilações bruscas, causadas pela ocorrência de
tempestades solares. São erupções repentinas na superfície do Sol, que aumentam
dramaticamente o fluxo de radiação emitida e, consequentemente, de material
ionizado na ionosfera.
“A maioria dos
satélites orbita o planeta entre 100 e 1.000 km de altitude e seu funcionamento
é muito sensível em relação à atividade solar”, disse. Fagundes.
Densidade
de Elétrons
O estudo agora
publicado mostra que a densidade de elétrons na ionosfera pode ser perturbada
durante dias por fenômenos meteorológicos.
“Os
meteorologistas sabem há muitos anos que, no hemisfério Norte e em menor grau
no hemisfério Sul, existe um aumento súbito nas temperaturas na estratosfera
sobre os polos, durante o inverno”, disse Fagundes.
Esse
aquecimento se deve a uma mudança de direção de um vento específico na região
do polo Norte. A consequência é o aumento da temperatura na estratosfera, até
os 30 km de altitude.
“Começamos a
perceber que ocorrem também alterações na densidade de elétrons na ionosfera,
em altitudes de até 300 km. Essas alterações se propagam ao longo das
latitudes, se deslocando do polo Norte, passando pelas latitudes médias do
hemisfério Norte, pela Linha do Equador, pelo Brasil e chegando até o sul da
Argentina”, disse Fagundes.
Uma das
hipóteses em estudo no momento é que essa propagação não termine na Argentina,
mas prossiga até a ionosfera sobre o polo Sul. Isso poderia se tratar de um
acoplamento polo a polo.
“Ainda não
sabemos se é esse o caso, mas, sob o ponto de vista das mudanças climáticas
globais, é importante entender o funcionamento da atmosfera como um todo e da
ionosfera em particular”, disse Fagundes.
O artigo
Ionospheric response to the 2009 sudden stratospheric warming over the
equatorial, low, and middle latitudes in the South American sector (doi:
10.1002/2014JA020649), de Paulo Roberto Fagundes e outros, pode ser lido por
assinantes do Journal of Geophysical Research: Space Physics em http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/2014JA020649/full.
Fonte: Site da Agência FAPESP
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