Proposta da Casa Branca Para NASA Cortaria Drasticamente Orçamento Científico da Agência e Cancelaria Missões Importantes
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Crédito: NASA/Jolearra Tshiteya
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O Telescópio Espacial Roman da NASA, cujo desenvolvimento segue dentro do cronograma para lançamento no final de 2026, seria cancelado na proposta orçamentária da Casa Branca para 2026. |
No dia 11/04, o portal SpaceNews noticiou que a Casa Branca está propondo cortes drásticos no programa científico da NASA que, se implementados, cancelariam várias missões importantes, contradizendo as declarações do indicado pela administração para liderar a agência.
De acordo com a nota do portal, um rascunho da proposta orçamentária da Casa Branca enviado à NASA em 10 de abril pelo Escritório de Gestão e Orçamento (OMB) cortaria cerca de 20% do orçamento geral da agência, mas reduziria em quase 50% os gastos com seus programas científicos.
O documento, conhecido como passback, não é divulgado publicamente, mas é enviado a agências como a NASA para que possam fazer apelos finais antes da apresentação oficial da proposta de orçamento. O site Ars Technica foi o primeiro a relatar o conteúdo do passback.
Segundo fontes familiarizadas com os detalhes, o orçamento reduziria o orçamento total da NASA para cerca de US$ 20 bilhões. A NASA recebeu cerca de US$ 25 bilhões para o ano fiscal de 2025 em uma resolução contínua (continuing resolution, CR) que manteve os níveis de gastos de 2024.
Essa CR estabeleceu o financiamento da Diretoria de Missões Científicas da NASA em cerca de US$ 7,3 bilhões. No entanto, o passback destinaria apenas US$ 3,9 bilhões à diretoria em 2026, um corte de quase 50% em relação a 2025.
O maior impacto seria na divisão de astrofísica da NASA, que recebeu cerca de US$ 1,5 bilhão em 2024 (a NASA ainda não finalizou os repasses para 2025 com base na CR), mas que teria menos de US$ 500 milhões em 2026. A proposta inclui o cancelamento do Telescópio Espacial Nancy Grace Roman, que estava dentro do orçamento e do cronograma para lançamento no final de 2026.
A ciência da Terra sofreria um corte de pouco mais de 50%, ficando com pouco mais de US$ 1 bilhão, enquanto a heliosfísica teria um corte de quase 50%, ficando com cerca de US$ 450 milhões.
O orçamento destinaria US$ 1,9 bilhão para a ciência planetária, cerca de um terço a menos do que o recebido em 2024. No entanto, também cancelaria o programa de Retorno de Amostras de Marte (Mars Sample Return), que enfrentou aumentos de custo e atrasos no cronograma, levando a uma decisão da agência, em janeiro, de estudar duas abordagens alternativas. Também seria cancelada a missão DAVINCI, voltada para Vênus, selecionada há quase quatro anos no programa Discovery.
O passback parece confirmar rumores que circulam há semanas na comunidade espacial de que o governo Trump pretendia fazer grandes cortes na ciência da NASA. Em um evento no dia 6 de abril, o deputado George Whitesides (D-Calif.), vice-presidente do Comitê de Ciência da Câmara, afirmou ter ouvido que missões de ciência da Terra da NASA ainda em fase inicial ou em operações estendidas receberam instruções para preparar planos de encerramento para o ano fiscal de 2026.
Em entrevista em 7 de abril durante o 40º Simpósio Espacial, a administradora interina da NASA, Janet Petro, disse não estar ciente de nenhuma orientação para preparar planos de encerramento para essas missões, classificando os relatos de cortes como “rumores de fontes não confiáveis”. No entanto, uma fonte da indústria compartilhou documentos mostrando que essas missões de fato receberam a orientação de se prepararem para encerrar.
O passback contradiz declarações feitas por Jared Isaacman, indicado pela Casa Branca para administrador da NASA, durante sua audiência de confirmação em 9 de abril. “Sou um defensor da ciência”, disse ele, citando seu apoio público no ano passado ao Observatório de Raios-X Chandra da NASA, ameaçado por cortes no orçamento de 2025 da agência.
“A NASA será uma multiplicadora de forças para a ciência”, afirmou. “Aproveitaremos os talentos e capacidades científicas da NASA para permitir que instituições acadêmicas e a indústria aumentem o ritmo de descobertas que mudam o mundo. Lançaremos mais telescópios, mais sondas, mais robôs e nos empenharemos em entender nosso planeta e o universo além.”
O passback alarmou tanto defensores de programas científicos quanto membros-chave do Congresso. “A proposta de orçamento da Casa Branca — que corta 47% da ciência da NASA — mergulharia a agência numa era sombria”, disse a Planetary Society em um comunicado. A entidade argumentou que o orçamento resultaria na “interrupção prematura de dezenas de espaçonaves ativas e produtivas” e “paralisaria o desenvolvimento de praticamente todos os futuros projetos científicos da NASA”.
“Os impactos desses cortes seriam devastadores para a comunidade científica astronômica e teriam consequências de longo alcance para o país”, disse Dara Norman, presidente da Sociedade Astronômica Americana, em nota da entidade. Ela destacou que os cortes provavelmente afetariam não apenas missões, mas também o financiamento de bolsas para cientistas. “Esses cortes certamente resultarão na perda da liderança americana em ciência.”
O senador Chris Van Hollen (D-Md.), membro da subcomissão de comércio, justiça e ciência do Comitê de Apropriações do Senado — que financia a NASA — expressou preocupação com os impactos dos cortes propostos no Centro de Voo Espacial Goddard da NASA, localizado em Maryland.
“Desmantelar o NASA Goddard e a Diretoria de Missões Científicas da NASA não é apenas míope, é perigoso”, disse ele. Chamou o passback de proposta “completamente sem seriedade” e prometeu “lutar com unhas e dentes contra esses cortes e proteger o trabalho crítico realizado no NASA Goddard”.
“O ataque de Donald Trump à NASA é uma forma de autodestruição nacional e terá efeitos incalculáveis sobre os esforços científicos do país, seus objetivos de pesquisa e nossa posição no mundo”, disse o senador Adam Schiff (D-Calif.), em um comunicado no fim do dia 11 de abril.
Ele apontou preocupações específicas com o cancelamento proposto do programa de Retorno de Amostras de Marte, que é conduzido pelo Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Califórnia. “É um presente para a China e um tapa na cara de quem dedicou anos a tornar o programa espacial americano o melhor do mundo.”
“Implementar esses cortes absurdos destruiria a capacidade da NASA de cumprir seus objetivos fundamentais, cortaria seus benefícios para a sociedade e seria uma catástrofe para a ciência da Terra e do espaço dos EUA, jogando bilhões em investimentos já feitos pelos contribuintes no lixo”, disse a deputada Zoe Lofgren (D-Calif.), membro do Comitê de Ciência da Câmara, em um comunicado.
Até Elon Musk, CEO da SpaceX e próximo conselheiro do presidente Trump, pareceu preocupado com o passback do orçamento da NASA. “Perturbador”, publicou ele nas redes sociais em resposta a uma notícia sobre os cortes propostos na ciência. “Sou muito favorável à ciência, mas infelizmente não posso participar das discussões sobre o orçamento da NASA, já que a SpaceX é uma das principais contratadas da agência.”
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