Brasil Corre Contra o Tempo Para Se Tornar Membro-Associado do CERN
Olá leitores e leitoras do BS!
Segue abaixo uma reportagem publicada ontem (19/09) no
site do ‘Jornal da UNESP’ destacando
que o Brasil está correndo contra o tempo para se tornar ‘Membro-Associado
do CERN’, o maior laboratório de física de partículas do mundo.
Brazilian Space
REPORTAGENS
Brasil Corre Contra o Tempo Para Se Tornar Membro-Associado do CERN, o Maior Laboratório de Física de Partículas do Mundo
Processo de adesão se arrasta há mais de uma década, e
país recebeu ultimato para que complete etapas até março de 2024. Mudança de
status abriria oportunidade para encomendas de alta tecnologia para indústria
nacional.
Por Malena
Stariolo
19/09/2023, 12h11
Atualizado em: 19/09/2023, 12h29
Fonte: Site do
Jornal da UNESP - https://jornal.unesp.br
Crédito: Raul
Vasconcelos (ASCOM/MCTI)
A Ministra Luciana Santos visitou o CERN em junho deste ano para articular a adesão do Brasil ao centro. |
O Brasil tem
pouco mais de seis meses para oficializar sua adesão como membro-associado do
Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN), casa do maior acelerador de
partículas do mundo, o LHC. A comunidade científica nacional tem demonstrado
interesse nesse processo desde 2010, quando o CERN
passou a aceitar a associação de países não europeus devido à crise
econômica no continente. As negociações sobre a acessão do Brasil ao CERN tiveram
início com uma visita, em 2012, do comitê do centro europeu ao nosso país, e
ganharam força em 2019, com
a primeira visita do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) à
instituição.
O processo tem
percorrido caminhos conturbados. A passagem de nove ministros pelo MCTI entre
2012 e 2022 dificultou a manutenção das negociações, gerando episódios nos
quais o ministério chegou a ignorar as tentativas de comunicação do CERN, além
de falhas nos pagamentos de taxas para manutenção e operação dos experimentos.
Ademais, a escassez de recursos gerada pela pandemia de Covid-19 pode ter sido
mais um agravante que resultou em sérios atrasos para os trâmites de adesão. A
resposta do CERN foi estipular março de 2024 como prazo final para obter uma
resposta definitiva. Segundo fontes do MCTI, a adesão irá acontecer dentro
desse prazo, e os recursos para custear o processo já estão inclusive
definidos. Nesse sentido, desde o início de 2023, o assunto ganhou renovado
interesse por parte das autoridades brasileiras. Uma demonstração dessa mudança
de atitude foi a visita da ministra Luciana Santos às instalações do centro
europeu em junho deste ano. Na ocasião, ela reafirmou o compromisso do governo
brasileiro com o processo de acessão.
Considerado o
maior laboratório de física de partículas do mundo, o CERN é reputado
internacionalmente por seus experimentos e pelo desenvolvimento de novas
tecnologias. Até hoje, seis físicos que realizaram experimentos ou que
trabalharam na instituição foram laureados com o Nobel. O nome mais recente é
Peter Higgs, premiado em 2013 pela previsão teórica do Bóson de Higgs, partícula
elementar considerada chave na explicação da origem da massa de outras
partículas subatômicas. A “partícula de Deus”, como ficou popularmente
conhecida, foi descoberta em 2012, em experimentos realizados no LHC. Além do
campo de física de partículas e pesquisas em energia nuclear, o CERN também deu
origem a algo que está no cotidiano de praticamente todas as pessoas do mundo:
a world wide web,
ou www.
Com tamanha relevância no desenvolvimento de ciência e
tecnologia, não é de espantar que o centro atraia pesquisadores e instituições
de todas as partes do mundo. Atualmente, o CERN reúne um corpo de mais de 12
mil pesquisadores, de instituições de 70 países. No caso do Brasil, as relações
tiveram início em 1990, com a assinatura do Acordo de Cooperação Internacional.
Atualmente
o país conta com 112 pesquisadores colaborando nos quatro experimentos
principais, que compõem o LHC: Alice, Atlas, CMS e LHCb. Além disso, o Brasil
também tem sido responsável pelo desenvolvimento de novos componentes, como é o
caso de hardwares
e códigos criados pela equipe do Núcleo de Computação Científica da Unesp,
campus Barra Funda, que serão implementados na atualização do LHC, prevista
para 2027.
Direito a Tomar Decisões
Apesar de a cooperação entre o Brasil e o CERN estar bem
estabelecida há décadas, uma mudança de status para membro-associado permitiria
um envolvimento mais ativo da nação nas tomadas de decisão dentro da instituição.
Marcia Barbosa, Secretária de Políticas e Programas Estratégicos do MCTI,
explica os ganhos de uma eventual adesão com uma comparação: “por
enquanto é como se estivéssemos alugando um apartamento, mas, para tomarmos
decisões, é preciso comprá-lo”. A secretária diz que é um objetivo do governo
fazer com que o Brasil passe a participar de maneira ativa das macrodecisões
envolvendo a instituição e, ainda, que assuma um papel de liderança em novos
experimentos.
Atualmente o Brasil conta com a pesquisadora Carla Göbel,
do Departamento de Física da PUC-Rio, como a primeira e, até o momento, única
liderança brasileira em experimentos do CERN. A física foi escolhida para atuar
como Coordenadora Adjunta de Física do LHCb, um dos quatro experimentos do LHC,
que tem como foco entender algumas questões fundamentais sobre a história do
universo, tais como as razões para que exista mais matéria do que antimatéria,
e os possíveis efeitos da chamada “nova física”.
Ao lado da coordenadora, Yasmine Amhis, Göbel tem como
responsabilidade garantir a qualidade das publicações de física que serão
submetidas aos jornais científicos. Segundo a pesquisadora, há anos a
comunidade científica brasileira tem estado presente na instituição,
consolidando sua participação em todos os quatro experimentos. “Agora, com a
entrada do Brasil enquanto país-membro, surgirão muitas outras oportunidades,
será possível que brasileiros e brasileiras se candidatem para cargos e vagas
de estágio no CERN, além da possibilidade de termos representações brasileiras
nos conselhos do centro”, comenta Göbel.
Crédito: Raul
Vasconcelos (ASCOM/MCTI)
A “compra do apartamento”, entretanto, não é barata. Para
manter a carteirinha de membro-associado, cada país deve arcar com um
investimento proporcional ao seu PIB. No caso do Brasil esse montante deve
ficar ao redor de US$12 milhões por ano. Atualmente o Brasil paga apenas os
custos dos experimentos dos quais participa. Isto equivale a aproximadamente
US$ 10 mil anuais por pesquisador doutor que assina os artigos da colaboração.
Este é o “aluguel”, destinado a manutenção e operação dos experimentos.
Ao contrário do que se poderia imaginar à primeira vista,
o valor da anuidade não sairia do orçamento do MCTI, e sim do Ministério do
Planejamento e Orçamento, de forma a preservar o financiamento da C&T
no país, diz Barbosa. Esta condição foi reforçada pela ministra do MCTI, Luciana
Santos, em visita ao CERN, que ocorreu no dia 9 de junho deste ano. “Esta
parceria será de grande importância para a comunidade científica brasileira,
mas, principalmente, para a indústria nacional de base inovadora”, afirmou.
A Indústria Brasileira na Fronteira do Conhecimento
Além da cooperar com as tomadas de decisão do centro,
outro benefício reservado para os países-membros é a possibilidade de
participar de licitações para o desenvolvimento de novas tecnologias que serão
utilizadas nos experimentos. Assim, o Brasil pode assumir também o papel de prestador
de serviços para o CERN o que, por um lado, impulsionaria a indústria nacional
e, por outro, poderia servir como fonte de retorno do investimento pago na
anuidade. Esse caminho, entretanto, não é simples. Uma vez aberta a licitação,
o Brasil competiria com todos os outros membros-associados, que incluem países
como Alemanha, França, Inglaterra e Itália. Para Sérgio Novaes, professor do
Instituto de Física Teórica da Unesp, campus Barra Funda, líder do São Paulo
Research and Analysis Center (SPRACE) e da colaboração brasileira no
experimento CMS , não bastará que o país eleve seu status ao tornar-se
membro-associado. Será necessário que o governo atue ativamente para
implementar planos de incentivo e desenvolvimento da indústria nacional.
Novaes participou da comissão inicial responsável pelo
processo de adesão, o qual teve início em 2010. Desde então, tem acompanhado os
trâmites de maneira próxima. “Vai ser necessário criar planos de ligação entre
a indústria nacional e a estrutura do CERN, caso contrário, não vai ser
possível aproveitar as possibilidades abertas. Isso exigirá uma atitude
proativa do governo, não é algo que caberá aos cientistas. Eles não têm o
conhecimento nem as condições para desenvolver um planejamento desse tipo. A
missão do cientista é fazer ciência, não ir atrás de licitações para a
indústria nacional, por mais importante que seja essa tarefa”, diz.
Apesar das dificuldades, Novaes defende a importância de
que o Brasil conclua o processo para se tornar membro-associado. Segundo o
pesquisador, a entrada do país como integrante ativo da organização abre
caminhos para a participação em mercados internacionais, fortalecendo sua
atuação como polo produtor de tecnologias e não simplesmente exportador de
matéria-prima. Quanto aos benefícios científicos, explica que os pesquisadores
poderão identificar áreas nas quais gostariam de desenvolver instrumentação
científica e ir atrás dessa possibilidade com o apoio do CERN e dos demais
países-membros que compõem a instituição. Assim, o Brasil se associaria a uma
rede de cooperação e desenvolvimento científico-industrial internacional.
Na mesma linha, Barbosa sustenta que essa pode ser uma
via para posicionar a indústria brasileira na fronteira do conhecimento. Ela
não duvida da capacidade de que o país venha a se mostrar competitivo no
cenário industrial internacional, com boas perspectivas de sucesso. Aponta como
exemplo a fonte de luz síncrotron
Sírius, construída para estudar a composição da matéria, que é uma obra
completamente brasileira. “O Sirius é o teste preliminar que mostra que, quando
nossa indústria nacional é desafiada e dispõe de condições e apoio financeiro,
ela tem capacidade de ser protagonista. Isso é a industrialização disruptiva
que o Brasil precisa fazer, e ser membro-associado do CERN vai nos ajudar a
alcançar isso”, defende.
Outros benefícios colaterais envolvem buscar reverter a
fuga de cérebros que tem afetado o país. Com o desenvolvimento da indústria,
Barbosa defende que será necessário contratar novos profissionais. Por outro
lado, novas áreas de atuação profissional irão surgir, o que permitirá atrair
pessoas que, hoje, só conseguem encontrar ocupações condizentes com sua
formação técnica no exterior.
Trata-se de um objetivo ambicioso. A secretária sabe
disso, e ressalta que não será um percurso fácil, nem tampouco realizável em
apenas um governo. Será necessário que esta visão “seja mantida a longo prazo,
e também incentivada nos governos futuros”, diz .
Antes de tudo, o processo da adesão do Brasil ainda
precisa ser concluído na Câmara dos Deputados e, posteriormente, no Senado. A última
atualização ocorreu no dia 14 de junho, com o parecer favorável na comissão de
Relações Exteriores. Antes de seguir para votação no plenário, ainda é preciso
passar por mais duas comissões. O tempo é cada vez mais curto. Mesmo assim,
Novaes e Barbosa são otimistas. Para o físico essa provavelmente será a última
oportunidade do Brasil marcar seu espaço no CERN. Barbosa diz que não há
hipótese de que o país não se torne membro do centro europeu. Ela cita um
encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no qual ele comentou que o
Brasil é grande demais para pensar pequeno. “Concordo em gênero, número e
grau”, diz. “Ao virar dona desse apartamento, eu quero dizer quais reformas vão
ser feitas. Mas, mais do que isso, eu quero trazer a indústria e a ciência
nacional para participar dessa construção”, diz.
ISS e ESO São exemplos péssimos de parceria Brasileira....
ResponderExcluir“só para inglês ver”.
ResponderExcluirEnfim.