Técnica Criada nos EUA Utilizando 'IA' Identifica Vida, Não-vida e Fósseis na Terra e no Espaço
Olá leitores e leitoras do BS!
Pois então, no dia de ontem (22/09) foi postado no site Inovação Tecnológica uma matéria destacando
que uma equipe da Instituição Carnegie
para Ciência, nos EUA, anunciou
a criação de uma técnica baseada em Inteligência
Artificial (IA) que consegue distinguir com 90% de precisão entre amostras biológicas - modernas e antigas - e amostras de origem abiótica. Entendam
melhor essa história pela matéria abaixo.
Brazilian Space
ESPAÇO
Inteligência Artificial identifica Vida, Não-vida e
Fósseis - na Terra e no Espaço
Redação do Site Inovação Tecnológica
26/09/2023
[Imagem: NASA/JPL-Caltech/USGS]
Separando o Vivo do Não Vivo
Fornecidas as condições adequadas, a mistura de elementos
e compostos químicos simples pode formar algumas das moléculas mais complexas
necessárias à vida, como os aminoácidos. Em busca de sinais de vida pelos
cosmos afora, já detectamos inúmeros desses componentes necessários à vida,
como os nucleotídeos necessários para formar o DNA.
Mas como sabermos se os compostos que detectamos são de
origem biológica ou se são produzidos por outro processo abiótico ao longo do
tempo? Se não soubermos disso, nunca saberemos se detectamos vida no espaço, em
luas ou planetas.
Agora, uma equipe da Instituição Carnegie para Ciência,
nos EUA, anunciou a criação de uma técnica baseada em inteligência
artificial que consegue distinguir com 90% de precisão entre amostras
biológicas - modernas e antigas - e amostras de origem abiótica.
"Este método analítico de rotina tem o potencial de
revolucionar a busca por vida extraterrestre e aprofundar a nossa compreensão
da origem e da química da vida mais antiga na Terra," disse o professor
Robert Hazen. "Isso abre caminho para o uso de sensores inteligentes em
espaçonaves robóticas, sondas e rovers para procurar sinais de vida, antes que
as amostras retornem à Terra."
Mais imediatamente, o novo teste poderá revelar a
história de rochas antigas e misteriosas na Terra, e possivelmente a de
amostras já recolhidas pelo instrumento SAM (sigla em inglês para Análise de
Amostras em Marte) do robô Curiosidade - os testes poderiam até mesmo ser
feitos a bordo.
"Teremos de ajustar o nosso método para corresponder
aos protocolos do SAM, mas é possível que já tenhamos dados em mãos para
determinar se existem moléculas em Marte
provenientes de uma biosfera orgânica marciana," disse Hazen.
[Imagem: NASA/JPL-Caltech]
O robô Perseverança vem fazendo vários furos nas rochas em Marte, mas até agora não era possível dizer que o que encontramos tem origem biótica ou não. |
Regras Químicas da Vida
O método analítico inovador não se baseia simplesmente na
identificação de uma molécula específica ou de um grupo de compostos numa
amostra. Em vez disso, os pesquisadores demonstraram que a IA pode diferenciar
amostras bióticas de abióticas detectando diferenças sutis nos padrões
moleculares de uma amostra, conforme revelado pela análise de cromatografia
gasosa de pirólise (que separa e identifica as partes componentes de uma
amostra), seguida por espectrometria de massa (que determina os pesos
moleculares) desses componentes.
É claro que, como a inteligência
artificial funciona como uma caixa preta, não sabemos exatamente como o
programa faz isso, de modo a repetir a análise passo a passo. "Começamos
com a ideia de que a química da vida difere fundamentalmente daquela do mundo
inanimado; que existem 'regras químicas da vida' que influenciam a diversidade
e distribuição das biomoléculas. Se pudéssemos deduzir essas regras, poderíamos
usá-las para orientar nossos esforços para modelar as origens da vida ou para
detectar sinais sutis de vida em outros mundos," contou Hazen.
Mas o resultado - 90% de precisão - não deixa espaço para
preciosismos. E não apenas isto: Embora o modelo de aprendizado de máquina
tenha sido treinado em apenas dois tipos de amostras - bióticas ou abióticas -
de modo surpreendente o programa conseguiu identificar três populações
distintas: abiótica, biótica viva e biótica fóssil. Isso significa que ele
consegue catalogar amostras biológicas mais recentes de amostras fósseis, o que
inclui vida primordial na Terra e vida antiga em Marte, por exemplo.
"Estes resultados significam que poderemos encontrar
uma forma de vida noutro planeta, noutra biosfera, mesmo que seja muito
diferente da vida que conhecemos na Terra. E, se encontrarmos sinais de vida
noutro local, poderemos dizer se a vida na Terra e em outros planetas derivou
de uma origem comum ou de origens diferentes. Dito de outra forma, o método
deve ser capaz de detectar a bioquímica alienígena, bem como a vida na Terra.
Isso é importante porque é relativamente fácil detectar os biomarcadores
moleculares da vida na Terra, mas não podemos presumir que a vida alienígena
usará DNA, aminoácidos, etc. Nosso método procura padrões nas distribuições
moleculares que surgem da demanda da vida por moléculas 'funcionais',"
completou o pesquisador.
[Imagem: Carnegie Institution for Science]
Origem Comum da Vida
Para desenvolver seu sistema, os cientistas empregaram
métodos já usados no espaço pela NASA para analisar 134 amostras variadas,
ricas em carbono, de células vivas, amostras degradadas pela idade,
combustíveis fósseis geologicamente processados, meteoritos ricos em carbono e
compostos e misturas orgânicas sintetizados em laboratório - 59 das amostras
eram de origem biológica (biótica), como um grão de arroz, um cabelo humano,
petróleo bruto etc, enquanto 75 eram de origem não biológica (abiótica), como
compostos sintetizados em laboratório, como aminoácidos, ou amostras de meteoritos
ricos em carbono.
As amostras foram primeiro aquecidas em um ambiente livre
de oxigênio, o que causa a quebra das moléculas, um processo conhecido como
pirólise. A seguir, elas foram analisadas por cromatografia
gasosa/espectrometria de massa, em um dispositivo analítico que separa a
mistura em seus componentes e depois os identifica. Usando um conjunto de
métodos de aprendizado de máquina, dados tridimensionais
(tempo/intensidade/massa) de cada amostra abiótica ou biótica foram empregados
como subconjuntos de treinamento ou de teste. Foi este modelo que conseguiu
prever a natureza abiótica ou biótica da amostra com precisão superior a 90%,
além de separar as bióticas entre de origem recente e de origem fóssil.
Uma decorrência fundamental deste trabalho é que, em um
"nível profundo", mas ainda não compreendido, a bioquímica e a
química não biológica são de alguma forma diferentes. Isto provavelmente também
significa que poderemos distinguir uma forma de vida de outro planeta, de outra
biosfera, daquelas que conhecemos na Terra. E disto decorre que, se
encontrarmos vida noutros lugares, poderemos dizer se a vida na Terra e noutros
planetas veio de uma origem comum (panspermia),
ou se teriam vindo de origens diferentes.
Bibliografia:
Artigo: A robust, agnostic
biosignature based on machine learning
Autores: H. James Cleaves IIa,
Grethe Hystadd, Anirudh Prabhua, Michael L. Wonga, George D. Codya, Sophia
Economonf, Robert M. Hazena
Revista: Proceedings of the National
Academy of Sciences
DOI: 10.1073/pnas.2307149120
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