O "puxadinho" no "puxadinho" no "puxadinho" do Patch!

Olá, leitora / leitor!

Pode até parecer erro de digitação, mas não é. Realmente, seguindo a cultura brasileira e o princípio da natureza dos "puxadinhos", o "puxadinho" é uma entidade, uma força da "criatividade", que, depois de concebido, possui vida própria e capacidade de mutação, crescimento e multiplicação únicos.

O brasileiro é naturalmente um povo criativo e impulsivo, que, muitas vezes, com três rabiscos em um papel, já projeta o "puxadinho" de uma casa ou de um carro ou de uma lei ou mesmo de um Patch de missão de um satélite, na grande maioria vezes dando vida a algo questionável em sob muitos aspectos (legal, funcional, moral, estético, etc.).

Conforme nossa publicação de ontem ("O "puxadinho" no Patch!"), vimos que o MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações) alterou o Patch original da missão NANOSATC-BR2, numa clara demonstração de capricho e apelo midiático de autopromoção da pasta, ou seja: uma ingerência política em algo de natureza técnica ou inerente ao projeto.

Imagens do Patch original da Missão NANOSATC-BR2 e do Patch(work) V1 com a logo de governo do MCTI.

Para piorar, lembrando que ideias de mau gosto e sem noção não tem limites e "puxadinhos" possuem vida própria, veja como ficaram as versões V2 e V3:

Imagens do Patch(works) V2 (esquerda) e V3 (direita).

Além da aparência de "penteadeira de casa de tolerância", como se diz popularmente, as versões 2 e 3 dos Patch(works) trazem consigo uma "salada de frutas" que só as mentes mais delirantes, megalomaníacas e erráticas poderiam conceber.

Esse comportamento errático se materializa mais fortemente com a inserção (também de muito mau gosto) das bandeiras do Rio Grande do Sul e da cidade de São José dos Campos (SP), e a pergunta natural que qualquer um faria é: Por que a bandeira do Rio Grande do Sul (estado) está acompanhada da bandeira de São José dos Campos (cidade) e não a do Estado de São Paulo?

Imagens das bandeiras do Rio Grande do Sul (esquerda) e de São José dos Campos (direita).

Resposta: Porque São Paulo é governado por Doria e não pode aparecer em nada do Governo!

Veja o nível (em tamanho de amostra grátis) de psicopatia desse povo!

Empurrada goela abaixo da equipe do projeto (sem nenhum questionamento ou ponderação da Diretoria do INPE), depois desse circo todo, a versão final (V4), desse Patch(work) foi divulgada em um release do MCTI divulgado hoje a tarde (veja aqui): 

Imagem do Patch(work) V4.

Nessa última versão, premidos pelo prazo para divulgação do release, o mau gosto geral da concepção "artística" é o mesmo da V3, somente diferenciando daquela pela substituição da bandeira do Rio Grande do Sul pela de Santa Maria (RS).

Imagem da bandeira de Santa Maria (RS), adaptada (contorno azul para diferenciar no fundo branco).

Esse nível de ingerência política e de autopromoção segue na contramão de tudo a comunidade espacial espera / deseja para o Programa Espacial Brasileiro (PEB) como um Programa de Estado, não de Governo(s).

O Ministério pode / poderia capitalizar o acontecimento do lançamento do NANOSATC-BR2 naturalmente, com material de divulgação do Ministério associando a marca de Governo do MCTI ao Patch do projeto, o qual inclusive já possui o logo da Agência Espacial Brasileira (AEB) e a sigla do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), ambos ligados ao MCTI, sem ter que "violentar" o Patch original do satélite.

Por outro lado, esse nível de ingerência e tentativa de autopromoção pode representar uma necessidade de mostrar resultados (ou se a associar eles), talvez pela falta de resultados concretos próprios da atual gestão na área espacial, pois quase tudo que se materializou foi herdado de gestões anteriores ou de fora do MCTI, tais como: 

- Satélite Amazônia: Já estava até com o lançamento contratado antes da atual gestão;
- Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST): Estava pronto e aguardando aprovação no Congresso;
- Denúncia do Acordo da Alcântara Cyclone Space (ACS): Já estava pronta e aguardando aprovação; 
- Aquisição de Satélite RADAR: Efetuada pela Força Aérea Brasileira (FAB)/ Comando da Aeronáutica (COMAER).

Mesmo assim, por dever de justiça, temos que louvar que, fora a colocação em condição de inanição (com razão) do Programa CBERS, de um modo geral, a atual gestão não atrapalhou o andamento de projetos anteriores, destacando ainda que nos casos de tramitação do AST e da Denúncia da ACS, houve um empenho de tramitação e de formação da opinião pública, mas nada que não fosse intransponível.

Fora isso, nenhum outro projeto dentro do guarda-chuva espacial do MCTI aconteceu por obra da presente gestão, exceto a concessão de licenças de operação a partir de Alcântara (muito pela atuação da AEB e do COMAER), mas ainda sem resultados concretos.

Voltando ao caso do Patch do NONOSATC-BR2, outro ponto a ser lembrado é o fato do projeto também ser muito anterior a atual gestão, que com certeza pode ter colaborado nas etapas finais de preparação para o lançamento, mas isso não sugere esse nível de ingerência e de tentativa de apropriação do mesmo.

É evidente que existe um limite moral nesse tipo de atuação, que, com certeza, não vai afetar o funcionamento e operação do satélite, mas que desrespeita e macula a história do projeto!

Inclusive é importante destacar que com os alertas do BS sobre esse caso, provavelmente a relação custo benefício em alterar o Patch original para se promover possa ter um efeito de imagem contrário ao esperado e não seja mais tão vantajosa como se pensou quando se rabiscou esses "puxadinhos".

Em tempo, registramos o nosso protesto contra esse ato despótico e oportunista e aproveitamos para nos solidarizar com a equipe do projeto que sofreu essa violência inédita no PEB.

Rui Botelho
(Brazilian Space) 

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