Inovação na Defesa
Olá leitor!
Normalmente não abordamos a área de Defesa aqui em nosso
BLOG, mas esse interessante artigo publicado na edição de Agosto de 2015 da
“Revista Pesquisa FAPESP”, apresenta um relato das atividades da empresa
MECTRON, empresa esta que também atua na área espacial.
Duda Falcão
TECNOLOGIA
Inovação na Defesa
A MECTRON desenvolve soluções tecnológicas
avançadas para
as áreas militar e espacial
YURI VASCONCELOS
Revista Pesquisa FAPESP
ED. 234 | AGOSTO 2015
© LÉO RAMOS
A partir da esquerda,
Henrique Mohallem, Aristóteles Carvalho,
Marta Suarez e Cesar Buonomo, da
equipe de P&D, e
Wagner Silva, diretor da MECTRON.
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Desde o ano passado, os jatos de combate JF-17 Thunder,
de fabricação sino-paquistanesa, e os franceses Dassault Mirage III e IV da
Força Aérea do Paquistão voam equipados com um armamento inteligente, o míssil
antirradiação MAR-1. Lançado de aeronaves, o míssil é usado contra defesas
antiaéreas e tem como alvo radares no solo, essenciais para identificação da
posição de aviões hostis. Considerado uma arma sofisticada, o MAR-1 foi
projetado e desenvolvido pela brasileira MECTRON, uma das quatro empresas do
mundo que dominam a tecnologia de fabricação do armamento – as outras três são
as norte-americanas Raytheon e Alliant Techsystems e a russa Zvesdat.
“Somos a única empresa brasileira com capacidade para
projetar mísseis. O desenvolvimento do MAR-1 representou um grande desafio para
a indústria bélica nacional e foi conquistado com o capital intelectual
multidisciplinar que temos na MECTRON”, afirma o engenheiro aeronáutico Wagner
Campos do Amaral Silva, de 57 anos, diretor e um dos fundadores da empresa. “O
míssil também será instalado futuramente em caças AMX da Força Aérea Brasileira
(FAB), recentemente modernizados pela Embraer.” O projeto MAR-1 remonta a 1998,
quando a MECTRON começou a desenvolver o armamento para a FAB. Dez anos depois,
foi assinado o contrato de exportação para o Paquistão.
A empresa tem sede em São José dos Campos, polo da
indústria aeroespacial do país, e atua nos mercados de defesa, aeronáutico e
espacial, desenvolvendo e fabricando produtos de alta tecnologia tanto para
aplicações militares como civis. Fundada no início dos anos 1990 por cinco
engenheiros formados pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a empresa
foi adquirida em 2011 pela Odebrecht Defesa e Tecnologia (ODT), braço da
Organização Odebrecht voltado ao desenvolvimento de soluções tecnológicas para
as Forças Armadas do Brasil.
Empresa: MECTRON
Centro de P&D: São José dos Campos, SP
Nº de funcionários: 405
Principais produtos: Armamentos inteligentes, radares,
sistemas de comunicação e equipamentos para satélites
Equipe Qualificada
Com um faturamento de R$ 124,7 milhões em 2014, a MECTRON
possui uma bem estruturada área de pesquisa e desenvolvimento (P&D). No ano
passado, 52% da receita da empresa, equivalente a R$ 65,5 milhões, foi
direcionada para as atividades de P&D e inovação. Nessa conta, não entram
as subvenções de projetos da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) no
valor de R$ 6,2 milhões. Para projetar e construir equipamentos como armamentos
inteligentes, radares, sistemas de comunicação e aviônicos, a empresa dispõe de
um especializado corpo de colaboradores. Do seu quadro de 405 empregados, cerca
de 300 integram os setores de P&D – dos quais 178 são engenheiros.
Aproximadamente 70% dos funcionários têm diploma superior, sendo que 22% são
pós-graduados. O engenheiro da computação Henrique Mohallem Paiva, de 36 anos,
faz parte desse grupo. Após obter os títulos de bacharelado, mestrado e
doutorado no ITA, ele fez um pós-doutorado na Universidade Concórdia, em
Montreal, Canadá.
“Nos meus
estudos de pós-graduação, dediquei-me às áreas de processamento de sinais e de
sistemas de controle automático. Continuo estudando e publicando artigos científicos,
como bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq [Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico] e como pesquisador no ITA. O
conhecimento acadêmico adquirido tem aplicação direta nas minhas atividades
como engenheiro porque trabalho numa área que requer sólidos conhecimentos
teóricos”, diz Mohallem. Funcionário da MECTRON desde 2010, ele atua no projeto
MAR-1, sendo responsável pela simulação computacional do míssil e de seus
subsistemas e pelo projeto de sistemas de controle automático.
A engenheira
Marta Cristina Suarez Garcia, de 28 anos, também se dedica ao programa MAR-1.
Ela é coordenadora da etapa de certificação do atuador, o subsistema
responsável pela deflexão independente das superfícies aerodinâmicas utilizadas
para controlar as manobras em voo do míssil. Formada em engenharia
elétrica pela Faculdade de Engenharia de São Paulo (FESP) e com mestrado na
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), ela ingressou na MECTRON
como trainee em 2012. “Atuei inicialmente na engenharia industrial,
implantando melhorias nas áreas produtivas e nos processos de manufatura.
Depois, fui convidada para integrar a equipe do MAR-1”, diz Marta.
© LÉO RAMOS
Montagem de subsistema
mecatrônico de míssil.
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Armas Inteligentes
Orçado em R$
500 milhões, o MAR-1 é o maior projeto em desenvolvimento nos laboratórios da MECTRON,
mas não o único. Na área de armamentos inteligentes, a principal da empresa,
também estão em construção dois mísseis do tipo ar-ar (lançados de uma aeronave
contra outra aeronave), os modelos MAA-1B e A-Darter. O primeiro deles é uma
versão atualizada do míssil Piranha, fabricado pela MECTRON na década de 1990.
“O projeto Piranha foi iniciado nos anos 1970 na FAB, mas sofreu interrupções
por falta de recursos, embargos de componentes importados e o fracasso de
empresas privadas que não resistiram à crise do setor nos anos 1980. Coube a
nós concluir o desenvolvimento, modernizar e realizar a certificação e
homologação nos caças F-5 e F-5M, e fabricar os lotes encomendados pela FAB”,
recorda-se Wagner Silva.
O A-Darter é
um desenvolvimento conjunto com a empresa sul-africana DENEL DYNAMICS e as
brasileiras OPTO e AVIBRAS. O míssil é dotado de múltiplos sensores de
infravermelho para imageamento térmico do cenário aéreo, o que eleva sua
capacidade de detecção e rastreio de alvos. Em fase de industrialização, o
A-Darter irá equipar os jatos multifuncionais de última geração Gripen NG,
adquiridos em 2013 pela FAB da empresa sueca SAAB.
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Placa eletrônica de míssil.
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Assim como a
FAB, a Marinha do Brasil é um cliente importante da MECTRON. Para a força
naval, a empresa desenvolve projetos de um míssil antinavio, batizado de
MAN-SUP, e de um torpedo pesado, conhecido no segmento de defesa pela sigla
TPNer. Feito em parceria com a alemã Atlas Elektronik, o TPNer é empregado por
submarinos contra esquadras. “Nosso forte é engenharia de sistemas.
Desenvolvemos e produzimos a eletrônica embarcada dos armamentos, que incluem
os sistemas de computação de bordo, os sensores e os atuadores de comando”,
explica Wagner Silva. O prazo para fabricação do TPNer é de oito anos. Os
orçamentos de todos esses projetos não são divulgados.
O objetivo
do MAN-SUP é o desenvolvimento de um míssil antinavio nacional para ser lançado
de uma embarcação contra outra, para combates em mar aberto, explica o
engenheiro aeronáutico Cesar Augusto Buonomo, de 40 anos, coordenador técnico
do programa na MECTRON. Ele, que tem mestrado em aerodinâmica, explica que cabe
à sua equipe o desenvolvimento do subsistema de guiamento, navegação e controle
do míssil. Várias tecnologias utilizadas, como o radar altímetro para medir a
distância do míssil até a superfície do mar, o sistema de atuação das
superfícies aerodinâmicas de controle para a realização de manobras e os
computadores para a realização dos cálculos de trajetória, são soluções desenvolvidas
pelos pesquisadores da MECTRON. Os demais subsistemas estão sob
responsabilidade de outras companhias brasileiras do setor de defesa, entre
elas AVIBRAS e OMNISYS.
Mísseis Revitalizados
O engenheiro
eletrônico Aristóteles de Sousa Carvalho, de 56 anos, lidera a área de
radiofrequência do programa MAN-SUP, coordenando quatro pessoas. “Os
conhecimentos que adquiri na pós-graduação, na Universidade de Sheffield, na
Inglaterra, foram fundamentais para enfrentar os desafios do desenvolvimento
dos subsistemas de radiofrequência do MAN-SUP”, diz. O programa, que tem
previsão de conclusão para 2017, deve prover independência à Marinha brasileira
no que tange a essa arma. Enquanto isso, a Marinha revitalizou os seus antigos
mísseis Exocet, de fabricação francesa, e a Aeronáutica optou por comprar
mísseis Harpoon, da Boeing.
Além de
mísseis e torpedos de última geração, os engenheiros e técnicos da MECTRON
também estão envolvidos no projeto de um sistema de comunicação por enlace de
dados (data-link) para emprego militar, chamado de Link BR-2. Projetado
para a FAB, o sistema vai integrar e processar em tempo real informações entre
aeronaves e centros de comando e controle com criptografia de dados, voz e
imagens. O projeto, orçado em R$ 250 milhões, está na fase final de
desenvolvimento.
Outro campo
de atuação da MECTRON é o setor espacial. A empresa fez parte do consórcio
responsável pela construção do CBERS-4, o Satélite Sino-Brasileiro de Recursos
Terrestres, lançado com sucesso do Centro de Lançamentos de Taiwan, na China,
em dezembro do ano passado. Couberam aos pesquisadores da companhia o projeto e
a fabricação do Gravador Digital de Dados (DDR), equipamento que faz o
armazenamento das imagens terrestres captadas pelas câmeras do satélite. O CBERS-4
é dotado de quatro câmeras de alta definição, projetadas para coletar imagens
do território brasileiro, especialmente da Amazônia, auxiliando no combate ao
desmatamento ilegal e queimadas.
Os
pesquisadores da MECTRON estão envolvidos no desenvolvimento de uma Plataforma
Multimissão (PMM) para satélites de baixa altitude do Programa Espacial
Brasileiro. A PMM é um arcabouço básico para ser utilizado na construção de
diferentes tipos de satélite e a empresa está fabricando dois subsistemas da
PMM: o de suprimento de energia, que contempla painéis solares e seus
servo-posicionadores, baterias e unidades de condicionamento e distribuição; e
o de rastreamento, telemetria e telecomando, que inclui transponders e
antenas.
© LÉO RAMOS
Simulação operacional de sistema de comunicação
por
enlace de dados para uso militar.
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Com uma área
de 37 mil metros quadrados situada ao lado da Embraer e do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE), as instalações da MECTRON incluem uma sala limpa
para montagem de componentes críticos, laboratórios eletrônicos, de sistemas
aviônicos, de radiofrequência e de comunicação, além de áreas de montagem
mecânica, de integração mecatrônica e de ensaios ambientais. Em 2007, a empresa
depositou sua única patente, relacionada ao desenvolvimento de uma antena de
banda larga do míssil MAR-1. “No mercado de defesa, não é prática trabalhar com
registro de patentes”, explica Wagner.
Uma
dificuldade recorrente enfrentada por outras empresas do setor de defesa também
atingiu a MECTRON. “Tínhamos ideia de adquirir a antena de um fornecedor
norte-americano, mas o Departamento de Defesa dos Estados Unidos impediu a
concretização do negócio por se tratar de um componente crítico e não autorizou
o Brasil a ter acesso a essa tecnologia”, recorda-se Wagner. “A saída que
encontramos foi fazer o desenvolvimento desse componente com o nosso pessoal.
Esse é apenas um exemplo de muitas outras situações enfrentadas no nosso dia a
dia.”
Fonte: Revista Pesquisa FAPESP - Edição 234 - Agosto de
2015
Comentário: Não resta dúvida que o artigo é muito esclarecedor sobre as atividades da MECTRON nas áreas de Defesa e Espaço, porém esquece de dizer que a MECTRON também foi a responsável pelo desenvolvimento do Subsistema das Redes Elétricas da Plataforma SARA, bem como convenientemente esquece do fiasco protagonizado pela empresa no projeto de desenvolvimento das redes elétricas (equipamentos eletrônicos de bordo) do VLS-1 VSISNAV.
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