Satélite Geoestacionário Russo Fora de Controle

Olá, leitor!



Segue aqui a notícia divulgada por T.S. Kelso [1], uma das maiores autoridades mundiais em uso sustentável do espaço, na sua conta oficial seu tweeter, na qual ele informa que o Satélite Russo COSMOS 2473 está supostamente a deriva em uma órbita geoestacionária (GEO).

Satélites Garpun.
Imagem: Russian Space Web em http://www.russianspaceweb.com/images/rockets/proton/luch5v_kazsat3/luch5_deployed_1.jpg (Crédito: ISS Reshetnev).

Postagem de T.S. Kelso sobre o COSMOS 2473.
Imagem: T.S. Kelso on Tweeter : https://twitter.com/tskelso?s=11.

Segundo o gráfico disponibilizado por Kelso em sua postagem, percebe-se a mudança de altitude (alteração com aumento do semi-eixo maior) e deslocamento anormal para este tipo de satélite (alteração com mudança da longitude).

Longitude do nó ascendente e média do semi-eixo maior.
Imagem: T. S. Kelso em pic.twitter.com/9nGTWMLyRm.

COSMOS 2473

Lançado ao espaço a partir do cosmódromo de Baikonur por um foguete Proton-M, em 20 de setembro de 2011, e posicionado em GEO a 80° Leste, o satélite KOSMOS 2473 (os russos usam K) é um satélite da família Garpun (гарпун, arpão em russo), com ~2.400 kg de massa, de retransmissão de dados (relay) militares, operado pelo Comando Espacial Global e Sistema de Comunicações (GKKRS - Global Space Command and Communications System) [2,3].

Satélite da família Garpun durante o teste de abertura para implantação.
Imagem: Russian Space Web em http://www.russianspaceweb.com/images/rockets/proton/luch5v_kazsat3/luch5_deployed_1.jpg (Crédito: ISS Reshetnev)

Esse tipo de equipamento tem a missão de atender, em escala global, as redes de satélites militares russo de reconhecimento óptico das famílias Persona e BAR-M e os satélites radar das famílias Pion-NKS e Lotos-S ELINT, retransmitindo os dados obtidos e pré-processados por estes para as unidades de inteligência e operações militares do governo russo [2].

Em uma primeira análise, a única outra possibilidade para tal mudança seria alguma manobra de reposicionamento, a exemplo do que o referido satélite passou em 2016, quando mudou da sua posição original a 80° Leste para 13,5° Oeste, aonde o mesmo deveria se manter "estacionado".

Longitude original do COSMOS 2473 (2011 a 2016).
Imagem: Wikipedia em https://pt.wikipedia.org/wiki/Meridiano_80_E [4].


(b)
Longitude "atual" aproximada do COSMOS 2473 (a partir de 2016).
Imagem: Wikipedia em https://pt.wikipedia.org/wiki/Meridiano_13_W [4]. 

Posição atual do COSMOS 2473 [5].
Imagem: CELESTRAK SATCAT em https://celestrak.com/cesium/orbit-viz.php?tle=/satcat/tle.php?INTDES=2011%2D048&satcat=/pub/satcat.txt&orbits=20&pixelSize=3&samplesPerPeriod=90.

Problemas e ameaças

O principal problema envolvido na questão é que se o satélite está fora de controle, não será possível o seu descomissionamento para uma órbita cemitério, como normalmente acontece com satélites em órbitas tão altas e isso pode comprometer as posições orbitais geoestacionárias próximas a região aonde o COSMOS 2473 estará a deriva.

Por serem órbitas muito cobiçadas e exaustivamente exploradas pelo mercado de comunicações mundial, além das aplicações de defesa, a indisponibilidade ou restrições nessas posições tem reflexos de ordem econômica e comercial, que podem encarecer ou inviabilizar as operações nessa região. 

O outro fato é que, confirmada / oficializada essa situação, o COSMOS 2473 se tornará, oficialmente, um grande detrito espacial, somando-se aos milhares já existentes, principalmente nessa região. Assim, ainda que venha a decair e reentrar na atmosfera terrestre, o que demorará décadas ou séculos, ou, por ventura continue aumentando a sua altitude, a medida que for alterando sua altitude (aumentando ou diminuindo a sua velocidade), o satélite-detrito continua sendo uma potencial ameaça de colisão e de geração de novos detritos na nossa órbita. 

A imagem abaixo ilustra o quanto as órbitas geoestacionárias estão sendo exploradas e ocupadas por satélites operacionais (pontos verdes) e outros objetos não operacionais (demais cores) .

Satélites operacionais e outros objetos em posições orbitais geoestacionárias e nas suas proximidades [5].
Imagem: CELESTRAK SATCAT em https://celestrak.com/cesium/orbit-viz.php?tle=/satcat/gpz-plus.php&satcat=/pub/satcat.txt&orbits=0&pixelSize=3&samplesPerPeriod=30&referenceFrame=0.

Visão mais aproximada dos satélites operacionais e outros objetos em posições orbitais geoestacionárias e nas suas proximidades [5].
Imagem: CELESTRAK SATCAT em https://celestrak.com/cesium/orbit-viz.php?tle=/satcat/gpz-plus.php&satcat=/pub/satcat.txt&orbits=0&pixelSize=3&samplesPerPeriod=30&referenceFrame=0.

Importante destacar, antes que sejam criadas notícias de ameaças ao SGDC-1, que o nosso satélite de comunicações (posicionado a 75° de longitude oeste), ~60,5° de diferença, está muito longe (mais de 44.000 km) do satélite russo a deriva, que, por enquanto, não é uma ameaça objetiva a segurança do nosso equipamento.

A imagem abaixo apresenta as posições do SGDC-1 e do COSMOS 2473.

Visão mais aproximada dos satélites operacionais e outros objetos em posições orbitais geoestacionárias e nas suas proximidades [5].
Imagem: CELESTRAK SATCAT em https://celestrak.com/cesium/orbit-viz.php?tle=/satcat/gpz.php&satcat=/pub/satcat.txt&orbits=0&pixelSize=3&samplesPerPeriod=30&referenceFrame=0.

Vamos acompanhar o desenrolar dessa situação para ver no que vai dar.

Saudações,

Rui Botelho
Brazilian Space

Referências
[1] T.S. Kelso on Tweeter : https://twitter.com/tskelso?s=11.
[2] Gunter's Space Page: https://space.skyrocket.de/.
[3] Russian Space Web em http://www.russianspaceweb.com/. 
[4] Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/.
[5] Celestrak: https://celestrak.com/.


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