Falta de Recursos Obriga IAE a Realizar Reestruturação
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria publicada na edição de Julho
do ”Jornal do SindCT“, destacando que falta de recursos obriga Instituto
de Aeronáutica e Espaço (IAE) a realizar reestruturação.
Duda Falcão
NOSSA PAUTA
Diretor do IAE quer que servidor tenha orgulho de
trabalhar na instituição
Falta de Recursos Obriga IAE a
Realizar Reestruturação
Por Fernanda Soares
Jornal do SindCT
Edição nº 69
Julho de 2018
O Brig. Eng. Otero, diretor do IAE.
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O Instituto de Aeronáutica e Espaço – IAE, do
Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial – DCTA, nasceu em 1991, com a
fusão do Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento (criado em 1954) com o
Instituto de Atividades Espaciais (criado em 1969). O IAE é responsável por
ampliar o conhecimento e desenvolver soluções científico-tecnológicas para
fortalecer o Poder Aeroespacial Brasileiro, por meio da Pesquisa,
Desenvolvimento, Inovação, Operações de Lançamento e Serviços Tecnológicos em
Sistemas Aeronáuticos, Espaciais e de Defesa.
Nos últimos 30 anos, assim como outras instituições de
pesquisa científica no Brasil, o IAE vem sofrendo com a falta de recursos
humanos e financeiros. O IAE possui um deficit de mais de 50% de servidores e
estima que em 5 anos esse número atinja 70%. A não reposição da mão de obra e
os constantes cortes no orçamento da C&T, aliados à aprovação da Emenda
Constitucional 95, que congela os gastos públicos por 20 anos, obrigou a
instituição a elaborar um plano de sobrevivência.
Em 2015, o IAE realizou uma pesquisa com seus servidores
e um estudo da sua estrutura e força de trabalho, visando conhecer melhor a
instituição e melhorar a sua atuação. O resultado fez a direção avaliar se uma
reestruturação do IAE seria a saída para continuar operando, mesmo com baixos
recursos.
No ano seguinte, a reestruturação começou a ser
implementada oficialmente. Foram criados grupos de trabalho que puderam ter a
participação dos servidores. Cada setor foi representado por um servidor e,
além destes, houve também servidores voluntários, que pediram para participar
do projeto. A configuração de uma grande equipe foi necessária porque, mais
importante que entender de reestruturações, era necessário que a equipe tivesse
pleno conhecimento do IAE, de seu pessoal e de suas atividades.
Em resumo, a reestruturação planejou criar uma
organização mais simples e sem dividir o IAE em áreas de atuação (Aeronáutica,
Espaço e Defesa) podendo, todos os servidores, atuarem em todas as áreas,
preservando as mais sensíveis e específicas.
Mesmo tentando realizar um processo transparente, muitos
servidores questionaram a metodologia e a real motivação. Alguns temem pelo
futuro da instituição, outros estão receosos sobre a efetividade das mudanças.
Um servidor do instituto, que não quis ser identificado,
foi enfático ao criticar a proposta de reestruturação apresentada: “em nenhum
lugar do mundo funciona assim, são ciências distintas. Não vejo chance de
funcionar. Isso irá aumentar a desmotivação das pessoas, principalmente das que
já estão em final da carreira.”
Outro servidor, que também não quis ser identificado, vê
nessa reestruturação a única opção que resta para o IAE continuar existindo:
“infelizmente, sem recursos financeiros, com poucos projetos e com falta de
pessoal especializado, não tem outra saída”.
O diretor do IAE, Brig. Eng. Augusto Luiz de Castro
Otero, acredita que a reestruturação será boa para a instituição e cita, como
exemplo, o trabalho realizado com as oficinas mecânicas em 2016. “Passamos a
ter, não a oficina mecânica de um departamento, mas as oficinas 1, 2, 3… e a
gestão de todas as oficinas, dos técnicos e dos insumos, centralizada.
Resistência à mudança sempre existe, mas, depois de um certo tempo fui analisar
as opiniões e a resposta foi: todo mundo gostou, porque agora todos têm trabalho
durante o ano inteiro.”
Uma dúvida que assombra alguns servidores é: “o que irá
acontecer comigo, já que meu setor não existe mais?” Sobre esse ponto
específico, o diretor do IAE esclareceu que não está mudando as atribuições dos
servidores e que poucos foram transferidos do local em que trabalham. Para
explicar, o Brigadeiro Otero usou, como exemplo, o laboratório de ensaios
estruturais do X-20: “alguns laboratórios permitem um uso horizontalizado, como
o X-20, que é de aeronáutica, mas já realizou ensaios de armamentos e de
estruturas espaciais. Esse laboratório permanece no mesmo local físico, assim
como os profissionais que lá atuam. O que mudou foi apenas a gestão dos
serviços que são realizados ali. Os profissionais continuam atuando nas
atividades para as quais foram contratados. Se no futuro houver a necessidade
de movimentar as áreas, queremos que seja realizada de maneira natural.”
A reestruturação realizada no IAE não pretende diminuir
as competências da instituição, nem deixar de atender nenhuma das áreas de
atuação. “Nossa intenção é valorizar o servidor e manter nossos projetos: o
VLM, na área de espaço, a turbina, na área de aeronáutica, e conquistar um
grande projeto na área de defesa. Eu quero que o servidor volte a ter orgulho
de trabalhar no IAE.”
O SindCT ressalta que o processo de desmonte da Ciência e
Tecnologia e do Programa Espacial Brasileiro – PEB vem ocorrendo desde a década
de 90. A falta de investimentos no setor é uma decisão política que vem se
agravando desde o governo de Fernando Henrique Cardoso. Além de não haver
interesse do governo federal em fortalecer o PEB, o setor também sofre com
sanções de outros países, como os Estados Unidos.
O sindicato atua não só em defesa dos servidores, mas de
toda a Ciência e Tecnologia. Uma das maiores lutas do SindCT, atualmente, é
pela reposição de pessoal e mais investimentos em C&T. A EC-95 agravou essa
situação. Manter o parco orçamento da C&T congelado pelos próximos 20 anos
é antecipar o fim do PEB e das instituições de pesquisa no país, além de
predefinir a política econômica dos próximos quatro governos, criando um
engessamento incompatível com a soberania do voto popular.
Com relação ao Instituto de Aeronáutica e Espaço, um
ponto que chamou a atenção foi a recusa dos servidores do instituto em
colaborar com a produção dessa matéria. Dos poucos servidores que se dispuseram
a conversar com o Jornal do SindCT, nenhum quis ser identificado. Alguns,
ainda, alegaram medo de sofrer represálias, algo extremamente preocupante.
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 69ª - Julho de 2018 –
Pág. 03
Comentário: Pois é, para mim é muito triste toda esta
situação e pode significar nos próximos anos o fim de uma instituição que muito
fez pelo Programa Espacial Brasileiro (PEB) e que ao longo dos anos (desde a
chegada dos civis ao governo) foi perdendo o seu rumo por falta de uma ação
governamental para coloca-la num caminho de desenvolvimento e por outras questões
menores de má gestão, egocentrismo, ente outras que, em minha modesta opinião seriam de fácil solução
num governo realmente comprometido com o setor. Realmente muito triste.
Não só o IAE vai acabar como também o INPE, pois este tipo de estrutura formada por civis e militares nunca deu certo e o INPE, apesar de toda sua inegável competência técnica, padece do mesmo mal de outras instituições públicas brasileiras: a politicagem interna e o engessamento por regras de gestão, compras, etc. Apoio, incondicionalmente, o fim destas instituições e substituição por entidades privadas para tocar o PEB.
ResponderExcluirLi com muito carinho o relatório de atividades do IAE e fiquei impressionado com a matéria do VLS. Da para perceber nas entrelinhas a empolgação e dificuldades que o projeto despertou e a frustração pela total falta de apoio de nosso governo. É muito triste ver que algo tão grandioso simplesmente morreu a míngua, pois nesse mesmo relatório dá para perceber que o gasto anual deles é o equivalente ao que se gasta com apenas um deputado inútil.
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