Como Seria Um Dia Sem Espaço?
Olá leitor!
Segue abaixo mais um interessante
artigo escrito pelo Sr. José
Monserrat Filho e postado pelo
companheiro André Mileski ontem (19/06) em seu no Blog Panorama Espacial.
Duda Falcão
Como Seria Um Dia Sem Espaço?
“Como todas as coisas, também o espaço pode ser desolador”
Thierry Garcin, As Questões Estratégicas do Espaço, 20011
José Monserrat Filho*
David Logsdon, executivo da empresa CompTIA Lead – New
and Emerging Technologies, com sede em Washington, EUA, imaginou um dia sem os
benefícios e serviços do espaço exterior.2
Escreve ele: “Imagine acordar e descobrir que as
tecnologias diárias dadas garantidas não funcionam. Não há Internet. Os
celulares estão mudos. Não há previsões de tempo na palma da mão. Os aviões
estão atrasados por falha do sistema de gestão do tráfego aéreo. Os militares
estão literalmente cegos nas frentes de batalha: Sem imagens de satélite. Sem
comunicações globais confiáveis. Sem nenhuma orientação precisa.”
Para David, “Um dia sem espaço” é hipótese de grande
significado, pois a segurança econômica e a segurança nacional dos EUA estão
cada vez mais interligadas, e “nossa dependência dos serviços de satélites
segue crescendo”. Ele valoriza altamente a recente pesquisa de Gary Oleson,
engenheiro sênior de sistemas espaciais da empresa TASC Engility Company,
segundo a qual, “na última década, o crescimento da economia espacial global
superou de forma consistente o crescimento econômico global”. E lamenta que nas
discussões americanas que estabelecem os principais estimuladores da economia,
“a indústria espacial raramente é parte da equação”.
“Um dia sem espaço” é o que chamamos de “apagão
espacial”. Se esse dia algum dia acontecer, afetará o mundo inteiro ou grande
parte dele, e não apenas um país, por maior e mais poderoso que seja. Seria
necessariamente um desastre global.
Mas David Logsdon prefere nos oferecer uma visão das consequências
da catástrofe restritas a seu país. É como se uma eventual paralisação total
das atividades espaciais pudesse ocorrer e ter efeitos graves apenas nos EUA, em
separado do resto do mundo.
David deixa clara sua especial preocupação com os prejuízos
das empresas americanas.
Ele se concentra no Sistema de (Navegação e)
Posicionamento Global, o GPS, pertencente ao Governo dos EUA e operado pelo seu
Departamento de Defesa. A seu ver, “muitas vezes esquecidos e muitas vezes
tidos como garantidos, vários serviços de satélite, em particular os
habilitados pelo GPS, são um multiplicador-chave de indústrias basilares como a
aviação e transporte, a navegação marítima e a distribuição, os serviços
bancários, as comunicações e a agricultura”.
A propósito, David cita recente declaração de Brad
Parkinson, considerado o pai de GPS: “Há pelo menos 64 aplicativos exclusivos
alimentados pelo sinal de GPS". Parkinson salienta ainda: desde 1983, o
sistema tem gerado “mais de 55 bilhões de dólares por ano em benefícios
tangíveis” e muitas de suas aplicações em automação, como o pouso automatizado
de aviões, o controle automático de veículos terrestres (carros guindaste e
outros), além das máquinas robotizadas para agricultura, dependem do GPS.
Assim, frisa David, “qualquer degradação significativa do
GPS danosa a tais benefícios, independente de afirmativas originais, seria
muito prejudicial aos interesses dos EUA". É como ele introduz o motivo do
dia sem espaço.
Logo surgem perguntas: Mas será que a falta do GPS não
afetaria nenhum outro país, além dos EUA? Por que só o GPS seria atingido? Por
que o sistema russo, Glonass, não citado, ficaria intacto? Seria a Rússia a
culpada pela desativação do GPS e do apagão geral? E o sistema Compass, da
China – que já funciona em toda a Ásia e em parte do Pacífico, incluindo a
Austrália –, também não mencionado, teria igualmente culpa no cartório? Nada
disso é dito por David. Mas fica a suspeita não esclarecida. Quem ou que país
teria causado o “dia sem espaço”? Como imaginar um “apagão espacial” sem
explicar ou supor, pelo menos, o contexto global em que a desgraça se daria?
O que se sabe é que hoje há nova e impetuosa corrida às
armas espaciais envolvendo os EUA, a China e a Rússia, e que os EUA estão
publicamente empenhados em instalar armas no espaço, o que naturalmente
transformaria o espaço em teatro de guerra.
Falando nisso, o General John Hyten, Chefe do Comando
Espacial da Força Aérea dos EUA, disse, segundo David, que "sem satélites,
voltamos à II Guerra Mundial, à guerra da Era Industrial". Seria,
portanto, um atraso de vida. Como poderia isso ocorrer? Simples: “Um
concorrente [na verdade, inimigo] limita severamente o acesso das forças dos
EUA às comunicações militares e naves espaciais de navegação por meio de obstrução
ou algo mais destrutivo, como armas antissatélite”. Pronto, é o quanto basta para
iniciar a guerra.
Curiosidade imediata: quem ousaria, sem ser rigorosamente
vigiado e impedido de fazê-lo, usar de meios espaciais para obstruir ou
destruir toda forma de acesso das forças dos EUA às suas comunicações militares
e naves espaciais de posicionamento e navegação? Quem são os “inimigos” dos EUA
com essa imensa capacidade tecnológica e tresloucada agressividade? Os russos?
Os chineses? O Estado Islâmico? E quem avaliaria e julgaria se a tentativa de
obstrução ou destruição dos meios de acesso ao espaço seria real e verdadeira,
senão as próprias forças dos EUA?
Alheio a essas questões, David faz recomendações às
empresas sobre como enfrentar o “dia sem espaço”.
1) Em primeiro lugar, lutar para prevenir qualquer
conflito no espaço? Não. A indústria deve ampliar o público-alvo para enaltecer
a importância dos negócios e atividades espaciais. Para tanto, a empresa de
David tem promovido uma série de fóruns sobre "Um dia sem espaço".
Cada um deles foca um negócio vertical diferente (transporte, agronegócio,
energia etc.), explicando como os usuários finais deveriam tratar de suas
atividades espaciais e dos benefícios econômicos delas auferidos, bem como do
impacto potencial em seus negócios, se a eles for negado o acesso a seus bens
espaciais. Conclusão: ampla coalizão de negócios seria uma voz poderosa na
discussão sobre a relevância dessas aplicações para nossa segurança econômica e
nacional.
2) Assegurar a sustentabilidade das empresas espaciais.
Para garantir a estabilidade e a segurança das atividades espaciais? Não. Para
criar um movimento multifacético apoiado na “integração de todos os domínios –
terra, mar, ar, espaço e ciberespaço – trabalhando juntos para produzir efeito
no campo de batalha”. A solução, pois, não está na busca do desarmamento e da
paz, mas na união das empresas para fortalecer a força militar do país no campo
de batalha. Não por acaso, conta David, no 32º Simpósio Espacial Nacional, em abril,
o General Hyten falou sobre a importância dos efeitos espaciais e cibernéticos
no campo de batalha e afirmou de forma categórica que "os soldados nas
batalhas do Oriente Médio nunca podem ser deixados sozinhos”. Para David, a
hora é de “paramos de tentar proteger nossas tigelas de arroz e começar a
pensar em um quadro mais amplo”. Pensar em um quadro mais amplo, a seu ver, é
preparar-se para a guerra.
3) Fortalecer nosso empreendimento espacial. Para
neutralizar as ameaças de guerra? Não. Mais especificamente, para fortalecer
nossas capacidades cibernéticas – a capacidade de operar diante de ataques
persistentes. Isso permitirá que o governo continue a prestar serviços ao
público e que a indústria continue servindo a seus clientes. Governo e empresas
juntos rechaçando e reagindo a ataques cibernéticos.
“As indústrias espaciais e tecnológicas devem trabalhar
em conjunto para ajudar a criar um plano cibernético abrangente e resiliente
para nosso país. Sem resiliência cibernética não temos missão sólida”, conclui
David. Mas poderá um país sozinho resolver esse vasto problema global?
Referências
1)
“Comme toute chose, l'espace peut aussi être désolant.” Garcin, Thierry,
Les enjeux estrategique de l'espace, Belgique, Bruxelles: Emile Bruylant, 2001,
p. 1.
2) A day
without space, Space News Magazine, 06/06/2016. Leia o artigo em inglês
em http://www.spacenewsmag.com/commentary/a-day-without-space/.
Fonte: Blog Panorama Espacial - http://panoramaespacial.blogspot.com.br/
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