Novo Capítulo na Parceria Científica Sino-Brasileira
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo escrito pelo Dr. José Medeiros da
Silva sobre o novo capítulo na Parceria Científica Sino-Brasileira postado pelo
companheiro André Mileski dia (09/01) em seu no Blog Panorama Espacial.
Duda Falcão
Novo Capítulo na Parceria
Científica Sino-Brasileira
Artigo de José Medeiros da Silva, doutor em Ciência
Política pela
Universidade de São Paulo e Investigador convidado do
Instituto
Internacional de Macau, na China, destaca a importância
do recém
inaugurado Laboratório Sino-Brasileiro para Clima
Espacial.
Por José Medeiros da Silva*,
com a colaboração de Shi Ke
Blog Panorama Espacial
09/01/2015
2014 foi um ano marcante para a
amizade sino-brasileira não somente por se comemorar o 40º aniversário do
estabelecimento oficial das relações diplomáticas entre os dois países, mas
também por muitos acontecimentos significativos como a visita oficial ao Brasil
do presidente Xi Jinping e a decisão histórica do Ministério da Justiça
brasileiro de revogar a expulsão de nove cidadãos chineses que viajaram ao
Brasil legalmente no início da década de 1960 e que foram condenados por
subversão depois de 1964. Na área científica, merece destaque a inauguração do
Laboratório Sino-Brasileiro para Clima Espacial, que ocorreu no dia 06 de
agosto na sede do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em São José
dos Campos, no Estado de São Paulo, que contou com a presença de pesquisadores
brasileiros, além de representantes da Academia Chinesa de Ciências (CAS) e do
Centro Nacional de Ciência Espacial (NSSC, respectivamente nas siglas em
inglês).
A criação desse laboratório
abre novos espaços para colaborações acadêmicas duradouras e para a formação de
grupos de trabalho capazes de desenvolver ações que contribuam efetivamente
para os interesses científicos dos dois países. Pelas instituições envolvidas,
pela natureza dessa plataforma, por suas perspectivas de longo prazo e devido
as potencialidades de intercâmbios criadas, o laboratório abre um novo capítulo
nas relações entre Brasil e China.
O Laboratório Sino-Brasileiro
para Clima Espacial será responsável também pela promoção, em todo hemisfério
ocidental, do Programa Internacional do Círculo Meridiano para monitoramento do
Clima Espacial (IMCP, na sigla em inglês). Equipada com avançados instrumentos
de tecnologia de observação do geoespaço, a atual rede chinesa de monitoramento
terrestre do clima espacial estende-se no entorno do meridiano 120°Leste e do
paralelo 30°Norte. Para ampliar a capacidade de monitoramento do clima espacial
a uma escala global, o NSSC vem estabelecendo acordos de cooperação com
instituições de pesquisa espacial dos Estados Unidos, Austrália, Canadá,
Rússia, Coreia do Sul, Japão e Brasil, buscando criar uma estrutura de
observação integrada internacionalmente ao longo dos meridianos 120º Leste e
60º Oeste.
Para além da razão do meridiano
60º atravessar uma enorme extensão do território brasileiro, o INPE tem uma
atuação destacada na pesquisa de fenômenos do ambiente solar-terrestre que
remonta aos anos 1960 e também opera, desde 2007, um Programa de Estudo e
Monitoramento Brasileiro do Clima Espacial (EMBRACE), dotado de uma rede
própria de sensores em diversos pontos da América do Sul.
O interesse por essa parceria
com o Brasil se deve também a fatores como a sua localização no globo terrestre,
em posição oposta à da China, o que é particularmente conveniente para o
estabelecimento de um ponto nodal à atual rede de monitoramento chinesa, além
da presença da porção continental da Anomalia Magnética do Atlântico Sul (AMAS)
sobre a região meridional brasileira.
As instituições cooperantes
também iniciaram ações para assegurar a infraestrutura necessária para a
instalação de instrumentos científicos da rede internacional do IMCP em São
Martinho da Serra, no Rio Grande do Sul, numa área cedida ao INPE dentro do
campus da Universidade Federal de Santa Maria.
Com o advento dos voos orbitais
tripulados e a expansão do papel dos satélites artificiais na presente
sociedade tecnológica, a influência de eventos solares extremos no ambiente
espacial pode ter um sério impacto sobre essas atividades, assim como sobre as
vulnerabilidades de sistemas terrestres de telecomunicação e transmissão de
energia. Essa parceria tende a abrir novas portas no desenvolvimento de
aplicações e no avanço do conhecimento nesse campo.
Apesar de ainda tímidos, o
Brasil e a China já deram importantes passos no estabelecimento de parcerias em
áreas científicas estratégicas. O exemplo mais conhecido é o do CBERS (Satélite
Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), projeto pioneiro na cooperação entre
países em desenvolvimento na área de tecnologia espacial, assinado em 1988, e
que já lançou com êxito quatro satélites, sendo o mais recente em dezembro de
2014.
A proposta para criação do
Laboratório Sino-Brasileiro para Clima Espacial é mais um exemplo de que
determinadas iniciativas, seguidas pela soma de esforços, tendem a abrir novas
perspectivas para o aperfeiçoamento das relações entre os dois países. Por
exemplo, a concretização do referido laboratório, partiu inicialmente de uma proposição
do NSSC visando o aprofundamento da cooperação com o INPE, motivada pelos
termos expressos no memorando de entendimento assinado em 2010 pelas duas
instituições. Com a assistência diligente do então chefe do setor de Ciência e
Tecnologia da Embaixada do Brasil em Pequim, Marco Tulio Cabral, a proposta
alcançou consenso entre os participantes da primeira reunião do grupo de
trabalho para o Plano Decenal de Cooperação Espacial, sendo formalizada em
novembro de 2013, por ocasião da III Reunião da Comissão Sino-Brasileira de
Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), realizada em Cantão, China, e
presidida conjuntamente pelo Vice-Presidente do Brasil, Michel Temer, e pelo
Vice-Primeiro-Ministro do Conselho de Estado da China, Wang Yang.
Em 2015 as subcomissões
espacial e de ciência, tecnologia e inovação da COSBAN devem se reunir mais uma
vez para tratar dessas e outras cooperações. Esse será um importante momento
para reforçar as parcerias existentes e se avançar em novos projetos.
*José Medeiros da Silva,
doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, investigador
convidado do Instituto Internacional de Macau e há sete anos vive na China.
Fonte: Blog Panorama Espacial - http://panoramaespacial.blogspot.com.br/
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