Por Que a Exploração Espacial Deve Ser Levada a Sério?

Olá leitor!

Segue abaixo um artigo postado dia (15/01) no site “GIZMODO Brasil” tendo como tema a pergunta “Por que a exploração espacial deve ser levada a sério?

Duda Falcão

Espaço

Por Que a Exploração Espacial
Deve Ser Levada a Sério?

Por: Leonardo Rossatto*
15 de janeiro de 2015 às 16:10

Imagem via Flickr

Por que explorar o espaço exterior se o mundo ainda tem tantos problemas? Sempre me questionam isso e é difícil dar uma resposta simples, então eu resolvi concatenar algumas ideias em relação ao tema.

Essa semana saiu a notícia de que um consórcio de países africanos pretende enviar uma missão à Lua em dez anos. Pode parecer contrassensual um continente que ainda sofre com a fome, com guerras e com epidemias como a do Ebola vá investir em mandar uma sonda para o espaço, mas a iniciativa ajuda a entender por que a exploração espacial é tão importante.

1) Porque ajuda a desenvolver a ciência como um todo

A exploração espacial envolve o uso de diversas tecnologias de ponta: a da produção de satélites, a dos sistemas de propulsão (que tem muito a ver com a tecnologia usada em sistemas de mísseis), a da aviônica, a da aerodinâmica, a do estudo e desenvolvimento dos materiais, dentre outras.

Além disso, em vôos espaciais tripulados, também são necessários sistemas de isolamento que garantam a segurança dos tripulantes na entrada e na saída da atmosfera. Essas tecnologias são complexas e caras, e por isso até hoje só EUA, Rússia e China desenvolveram a tecnologia para conduzir voos espaciais tripulados (Curiosidade: cada país tem a liberdade de chamar seus tripulantes por um nome específico. Nos EUA, é astronauta. Na Rússia, é cosmonauta. Na China, é taikonauta)

Esse conjunto de tecnologias demanda uma curva de aprendizado muito grande, que pode ser atenuada pela transferência de tecnologias entre países. O próprio responsável pela iniciativa africana, Jonathan Weltman, explica isso:

“Ninguém espera que a África possa contribuir para a exploração científica, mas quanto mais trabalharmos neste sentido mais gente no continente assumirá a ideia de que a África é capaz e pode sair dos problemas que temos agora”

O domínio das diversas tecnologias envolvidas em um programa espacial faz com que os países envolvidos apliquem essas tecnologias em diversas áreas. A NASA é prova disso: lá nasceram tecnologias tão diversas quanto a dos filtros de água com carvão ativado e a dos controles atuais de videogames.

A África, ao pleitear um programa espacial, quer mostrar ao mundo que é capaz de desenvolver ciência de qualidade. E de mostrar que a ciência de qualidade desenvolvida no continente é capaz de ajudar a resolver os problemas crônicos que todos sabem que a África tem.

2) Porque dá dinheiro

Empresas como a SpaceX, de Elon Musk, e a britânica Virgin Galactic, dizem com todas as letras que querem promover voos espaciais comerciais em breve. E, de fato, caminham em direção a isso. Em que pese o trágico acidente com o VSS Entreprise, da Virgin, em outubro de 2014, que matou Michael Alsbury, ambas as empresas seguem na vanguarda desse novo segmento, seguidas de perto por diversas empresas que já investem no desenvolvimento de equipamentos para o setor. E por que isso acontece? Por que viagens espaciais podem ser lucrativas.

Os desafios são óbvios. O principal deles é o de baratear o custo das viagens espaciais oferecendo a mesma segurança que as viagens de avião tem hoje. E nem são necessários objetivos tão ambiciosos. Imagine o efeito do domínio da órbita terrestre para voos comerciais intercontinentais, por exemplo: as pessoas passariam a levar pouco mais de uma hora, incluindo subida e descida, para viagens que hoje em dia levam cerca de 30 horas. Cargas sensíveis poderiam ter o mesmo destino. E tudo isso com uma vista fantástica.

É lógico que existem desafios e objetivos mais ambiciosos, como o de construir estações espaciais e bases em locais relativamente próximos da Terra, como a Lua. Mas eles podem ser vencidos quando os voos espaciais forem seguros e custarem menos de um milhão de dólares por cabeça. Porque nesse momento a construção de bases e estações do tipo vai passar a ser útil para a aceleração da pesquisa científica, para o desenvolvimento de novos materiais e para o próprio turismo espacial.

3) Porque programas espaciais afirmam a soberania nacional

Ao mesmo tempo em que empresas como a SpaceX e a Virgin Galactic entram no jogo da exploração espacial, governos voltam a tratar o tema como algo estratégico. O principal exemplo nesse sentido é o governo chinês, que tem investido muito dinheiro em se programa espacial e tem objetivos ambiciosos, como o de levar um homem à Lua até 2025. E é muito bem estruturado, com objetivos claros:

“É possível inferir que a diplomacia espacial chinesa tem quatro objetivos principais. O primeiro é ajudar o país a obter a tecnologia necessária ao desenvolvimento de um programa espacial completo, civil e militar. O segundo objetivo é o de construir legitimidade para as pretensões chinesas como grande potência na era digital e espacial. O terceiro objetivo chinês é evitar ou adiar uma disputa direta pelo comando do espaço com as demais grandes potências. Finalmente, o quarto objetivo da diplomacia espacial chinesa é contribuir para ampliar a fatia de mercado controlada pelos agentes privados e estatais chineses, tendo em vista o crescimento acelerado de uma cadeia de valor estimada em mais de US$ 150 bilhões ao ano”

A China tem bem claros os seus objetivos em relação à questão espacial: o país quer se afirmar como potência na área enquanto evita conflito com os demais países que disputam o setor. Tudo isso para ter acesso a um mercado que, segundo a AEB (agência Espacial Brasileira), movimentou US$ 280 bilhões só em 2012.

E o Brasil?

Sabe-se que o Brasil é um país que vem tentando desenvolver um programa espacial consistente há muitos anos. Os resultados continuam tímidos, mesmo com o amadurecimento de parcerias estratégicas com países como a China e a Ucrânia.

É necessário dizer que o Programa Espacial Brasileiro ficou terrivelmente marcado pela explosão ocorrida na Base de Alcântara, em agosto de 2003, matando 21 pessoas, que levaram consigo boa parte da memória técnica do programa. Tanto que o primeiro lançamento na base será feito só nesse ano de 2015: será o primeiro teste do propulsor Cyclone 4, desenvolvido na Ucrânia por encomenda da Alcântara Cyclone Space (ACS), uma empresa criada em parceria entre os governos do Brasil e da Ucrânia para, segundo o site oficial“o desenvolvimento e operação do Sítio de Lançamento do foguete Cyclone-4 a partir do Centro de Lançamento de Alcântara no Brasil para a prestação de serviços de lançamento espacial para os governos do Brasil e Ucrânia, assim como para clientes comerciais.”

Atualmente, o principal problema do programa espacial brasileiro não está nem na falta de verbas, como na época do acidente em Alcântara: está na falta de um foco específico. Se analisarmos quais as diretrizes do programa espacial brasileiro, descritas no PNAE, só veremos coisas extremamente genéricas, como “fortalecer a indústria espacial do país”, “fomentar parcerias com outros países” ou “aperfeiçoar a legislação”.

Quando pula para as metas específicas, o PNAE soa igualmente pouco ambicioso, reciclando objetivos não cumpridos da década de 90, como o de “ter autonomia entrando para o restrito grupo dos países lançadores de satélites”. É ótimo, caso venha a se concretizar, mas é muito pouco ambicioso. Não há nenhuma menção a nada que não seja o domínio da tecnologia de satélites “em nome da soberania nacional”.

O próprio discurso do programa espacial como elemento de controle de fronteiras e soberania nacional parece bastante anacrônico nesses tempos atuais em que o rastreamento de informações através de programas como o Prism, da NSA, vão além das fronteiras nacionais e chegam às casas de cada morador com um computador e uma conexão de Internet.

O argumento da “falta de verbas” para sustentar o programa espacial também não se sustenta. O próprio PNAE prevê investimentos governamentais de quase R$ 5,8 bilhões no programa espacial até 2021 (Tabela 1, abaixo). Para comparação, a Índia conseguiu enviar uma sonda para Marte por “apenas” US$ 74 milhões (R$ 194 milhões, na cotação atual).


O Brasil tem um programa espacial conservador, que tem como objetivo estabelecer toda uma estrutura prévia antes de ousar missões espaciais. A China, a Índia e a África, dentre os países emergentes, estão mostrando que existem outros caminhos para o desenvolvimento da indústria espacial, conciliando iniciativas ousadas com a criação de estruturas para seus programas espaciais.

Outra necessidade urgente do programa espacial brasileiro é a integração com as universidades. O programa espacial indiano é feito em parceria com as universidades do país. No programa espacial chinês o próprio governo impõe essa participação. A pesquisa em universidades é um ótimo catalisador de soluções para a exploração espacial a curto médio e longo prazo, bem como um fomentador da indústria do setor, e o Brasil deveria prestar mais atenção aos profissionais da área aeroespacial que saem das nossas universidades.

A pergunta inicial

Depois de toda a reflexão, a pergunta inicial permanece: por que fomentar a exploração espacial, se o mundo ainda tem tantos problemas?

Em primeiro lugar, porque ela pode ajudar a solucionar nossos problemas. Explorar o espaço pode fazer com que sejam desenvolvidas tecnologias que melhorem a nossa vida na Terra: formas alternativas de produção agrícola ou de reciclagem de insumos essenciais, como a água, são exemplos válidos.

Mas há um motivo mais essencial. Quem mora no exterior ou já fez uma viagem internacional, vai se identificar com o fato de que o estrangeiro é tratado com uniformidade. O brasileiro que vai para o exterior não é paulista, mineiro, gaúcho, carioca ou pernambucano. É brasileiro. E daí percebemos que a maioria das rixas regionais que nós cultivamos durante a vida não passam de bobeira.

No espaço, somos todos estrangeiros. Olhando a Terra do alto, em órbita, não conseguimos ver os detalhes do planeta, não conseguimos diferenciar mas mansões dos guetos, não enxergamos as fronteiras nacionais, não separamos as pessoas boas das pessoas más. Olhando do espaço, somos todos parte de um mesmo planeta, e esse planeta é só uma pequena e insignificante parte de um espaço muito maior, repleto de satélites, mundos, estrelas e galáxias. E daí percebemos que a maioria das rixas nacionalistas, religiosas e políticas que cultivamos durante a vida não passam de bobeira, porque somos todos parte de uma mesma humanidade, e, do espaço, somos chamados apenas de terráqueos.

Referências



* Leonardo Rossatto Queiroz, 31 anos, é sociólogo, mestre em Planejamento Territorial e Especialista em Políticas Públicas (@leorossatto no Twitter)


Fonte: Site GIZMODO Brasil - http://gizmodo.uol.com.br

Comentário: Olha leitor eu concordo com alguns pontos apresentados pelo autor do artigo acima, mas em outros discordo frontalmente. Entretanto espero que este artigo estimule o debate aqui no Blog e agradeço ao jovem leitor Brehme de Mesquita pelo envio do mesmo.

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