Conflitos e Orçamentos Militares em Alta na Terra
Olá leitor!
Segue abaixo mais um artigo escrito pelo Sr. José Monserrat
Filho e postado hoje (22/01) pelo companheiro André Mileski em seu no Blog
Panorama Espacial, destacando que os conflitos e orçamentos militares estão em
alta na Terra.
Duda Falcão
Conflitos e Orçamentos
Militares em Alta na Terra
José Monserrat Filho*
“E a orquestração bem trabalhada acaba por acentuar as incompatibilidades, os
contrastes, as divergências, os conflitos. A
violência e o desvario em geral.” Mino Carta1
Com mais de 2.500 participantes, mais de 40 chefes de Estado e de Governo e um
sem número de empresários globais de diversas áreas, o Fórum Econômico Mundial
deu início, nesta quarta-feira, em Davos, Suíça, a quatro dias de debates sobre
questões que abalam as atividades econômicas e financeiras em escala mundial. O
tema central desta feita são os conflitos que hoje ameaçam a economia já tão combalida
do Planeta.
Não foi dito, mas, evidentemente, isso inclui possíveis conflitos em órbitas da
Terra, de onde, aliás, já há muitos anos são comandados as guerras aqui na
Terra.
O desafio de Davos é resolver as ditas “crises geopolíticas”, eufemismo para
guerras, ataques, bombardeios, violências planejadas e executadas com frieza,
que, claro, desorganizam ainda mais a vida econômica irracional e caótica em
que a humanidade vive atualmente sem perspectivas de solução plausível. A visão
unilateral esperta desce a detalhes e chega a colocar o conflito na Ucrânia à
frente da guerra no Oriente Médio, que vem de longe e tende a se perpetuar até
um genocídio final.
Mas a pergunta lançada (que não quer calar) é legítima e pede resposta urgente:
O que a comunidade internacional pode fazer para ajudar a erguer uma paz
duradoura?
É muito bom que se apele à comunidade internacional. Hoje, qualquer conflito,
ainda que aparentemente local ou mesmo regional, é sempre e cada vez mais um
problema global, que só pode ser resolvido globalmente, em amplo esforço
coletivo.
Ainda mais que, neste momento, como observam Edgar Morin e Anne Brigitte Kern,
“o certo é que a história mundial retomou sua marcha turbulenta, correndo a um
futuro desconhecido, ao mesmo tempo em que retorna a um passado desaparecido”
2.
Os gastos militares alcançaram, em 2012, a bagatela de um trilhão e 756 bilhões
de dólares, o que equivale a 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. É a
corrida armamentista, insanidade recorrente, que já vimos tantas vezes nos
últimos 100 anos – para não irmos mais atrás –, sempre com milhões de vítimas e
destruição em massa.
Estima-se que essa quantia seria suficiente para a comunidade internacional
cumprir as Metas do Milênio3 das Nações Unidas, eliminando da face da Terra a
fome e a miséria, a desnutrição e uma variedade de doenças endêmicas. Em poucos
anos, provavelmente, mudaríamos a situação social do mundo, com um impacto
nunca visto, na história humana, de desenvolvimento sustentável e bem-estar
geral.
Há muitos cálculos e previsões sobre o que acontecerá de mais importante na
vida da Terra até 2050. Mas pouco, muito pouco, se fala sobre os progressos
sociais que se podem prognosticar para esse período de 35 anos.
Um trilhão e 756 bilhões de dólares em gastos militares. Tamanha fortuna nos
leva à outra questão-chave levantada por Edgar Morin e Anne Brigitte Kern:
“Podemos sair dessa História?” Ou o armamentismo e os conflitos bélicos são
nosso único devir?
Um evento inesperado mostra que pode haver um futuro mais sensato.
O Partido Nacional Escocês (SNP), com prestígio crescente e capaz de
desempenhar papel preponderante na política britânica após as eleições de maio
vindouro, convidou, em 20 de janeiro, os principais partidos políticos do país
a aprovarem a eliminação do sistema de dissuasão nuclear do Reino Unido.4
O líder do SNP no Parlamento, Angus Robertson, propôs que os submarinos
nucleares Trident, hoje estacionados na Base de Faslane, perto de Glasgow,
Escócia, não sejam substituídos. A seu ver, "chegou a hora de marcar uma
data para demolir o Trident e não mais substituir essas armas de destruição em
massa".
O SNP, líder da luta para fazer da Escócia um país independente do Reino Unido,
sobe nas pesquisas de opinião pública. Ademais, ele vai concorrer às eleições
de maio em aliança com o Partido Trabalhista. A coligação parece ter chances
nas urnas. O SNP poderá eleger no mínimo 12 deputados, o dobro do que tem hoje.
É verdade que o governo conservador e a oposição trabalhista mantêm um acordo de
apoio conjunto à continuidade do Trident, mas alguns deputados trabalhistas já
se manifestam contra a linha do partido, ampliando a posição do SNP.
O deputado Angus Robertson vale-se de um argumento muito convincente, sobretudo
em época de crise econômica e financeira como a atual: o fim do Trident poderá
adicionar mais de US$ 150 bilhões aos carentes cofres britânicos.
A frota de quatro submarinos Trident contribuiu para coroar a Grã-Bretanha como
potência nuclear, embora os mísseis nucleares sempre tivessem sido e continuem
sendo fornecidos pelos Estados Unidos. Hoje é mais um resquício fantasma da
Guerra Fria, que alguns governantes saudosistas tentam ressuscitar. Para que?
Talvez algum espírito mais esclarecido, vindo quem sabe da Escócia, desça em Davos
e consiga convencer o nobre público ali presente que apostar prioritariamente
no uso da força, as usually, já deixou de ser um bom negócio e pode pôr tudo a
perder.
* Vice-presidente da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e
Espacial, Diretor Honorário do Instituto Internacional de Direito Espacial,
Membro Pleno da Academia Internacional de Astronáutica e Chefe dda
Assessoria de Cooperação Internacional da Agência Espacial Brasileira (AEB).
Este artigo reflete apenas a opinião do autor.
Referências
1) Revista Carta Capital, nº 833, de 21/01/2015, p. 18.
2) Morin, Edgard, e Kern, Anne Brigitte, Terra-Pátria, Ed. Sulina, 2011, p. 33.
3) As oito Metas ou Objetivos do Milênio, adotados pela Assembleia Geral das
Nações Unidas em 8/09/2000, são: 1) Acabar com a Fome e a Miséria; 2) Educação
Básica de Qualidade para todos; 3) Igualdade entre Sexos e Valorização da
Mulher; 4) Reduzir a Mortalidade Infantil; 5) Melhorar a Saúde das Gestantes;
6) Combater a Aids, a Malária e outras doenças; 7) Qualidade de Vida e Respeito
ao Meio Ambiente; e 8) Estabelecer uma parceria mundial para o Desenvolvimento.
Ver www.objetivosdomilenio.org.br.
4) Notícia da France Press (AFP), de Londres, datada de 20 de janeiro de 2015.
Fonte: Blog Panorama Espacial - http://panoramaespacial.blogspot.com.br/
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