Redação Sobre a "Missão Centenário" Vence Olimpíada
Olá leitor!
Segue abaixo uma notícia postada hoje (04/12) no site da “redebomdia.com.br” da cidade de Bauru (SP) que destaca a redação do vencedor da categoria juvenil da 5ª Olimpíada de Redação de Jundiaí, que escreveu uma carta para o astronauta Marcos Pontes dando a sua opinião sobre “Missão Centenário” que foi a época duramente criticada por parte da comunidade científica brasileira.
Duda Falcão
Vencedor de Concurso Diz que o Importante é Ler
Felipe, Morador de Mogi Guaçu, Diz que Professor o Incentivou a Participar
Edu Cerioni
Editor-chefe
04/12/2009 - 00:59
O vencedor da categoria juvenil da 5ª Olimpíada de Redação de Jundiaí vem de Mogi Guaçu. Foi incentivado por professores do Objetivo daquela cidade a escrever. Venceu com um trabalho sem título, que ele chamou de uma “carta”.
O importante para ele é ler muito. “Leio de tudo e sempre vale a pena”, diz o jovem de 17 anos, que presta vestibular para medicina (passou na 1ª fase da Vunesp). “Foi surpresa, mas já ganhei outros concursos de redação e de matérias diversas”, diz. Os R$ 2 mil serão guardados.
Carta
"Felipe Franco da Graça"
Mogi Guaçu, 4 de Setembro de 2009, ano internacional da astronomia
Caro senhor Marcos Pontes:
Passados já três anos da missão Centenário espero encontrá-lo livre da chuva de meteoros que, estou certo, tornou muito mais turbulenta a sua volta ao Brasil do que a própria aterrissagem. Envio-lhe esta carta a fim de posicionar-me quanto à validade da realização de tal missão, cujos custos foram astronômicos frente à carência de investimentos em certas áreas necessitadas no país, tornando-se, portanto, combustível de muita contestação.
Em primeiro lugar, senhor Pontes, saliento que sua escolha como representante do Brasil na missão não é, de fato, um dos principais pontos de questionamento, visto que conta com uma constelação de motivos que a suportam, tal qual sua formação e experiência na área astronáutica, adquirida, inclusive, com oito anos de treinamentos na agência espacial norte-americana.
As indagações, como eu já havia delineado, gravitam basicamente em torno da questão financeira. O argumento central dos críticos é o de que, como bem sabe o senhor, existe carência de investimentos em certas áreas essenciais, haja vista a situação precária da saúde e educação em muitas regiões do país. Reclamações foram lançadas, também, por alguns de seus companheiros do meio científico, os quais consideravam que, dentro do próprio campo de pesquisas, haveria possibilidade de um melhor emprego do montante gasto.
Diante de tais posições, realmente contundentes, confesso-lhe que adotei uma opinião severamente contrária à missão, tornando-me, em um primeiro momento, contrapartidário extremo de sua ida ao espaço. Um comportamento, assumo, típico de quem teve o julgamento eclipsado pela visão estritamente unilateral de uma situação. Ocorre, porém, que ao dar-me a oportunidade de refletir com o respaldo de um conjunto mais amplo de informações, percebi o quão alienado era meu posicionamento. Decidi, assim, escrever-lhe e reportar o que alterou a órbita de minhas convicções.
Inicialmente avaliei o investimento científico dentro de um sistema mais geral e o que constatei foi algo sobre o qual o senhor já há muito deve ter conhecimento. A evolução tecnológica do país não pode cessar por ter ele problemas sociais. O investimento científico não é o motivo de tais entraves, mas, ao contrário, representa, em muitos casos, o modo mais eficaz de melhorar o universo brasileiro e levá-lo a alçar vôos cada vez mais altos rumo a um melhor patamar de desenvolvimento humano. A notoriedade, portanto, de missões como a que contou com sua participação elevam o interesse externo na ciência nacional como um todo e aumentam a credibilidade de que ela desfruta. Eu destacaria, ainda mais especificamente, o novo fôlego que a Centenário deu ao programa espacial brasileiro o qual sofreu, conforme é de seu conhecimento, um trágico acidente em Alcântara que provocou um retrocesso de vários anos-luz.
Há ainda outro fator que, embora me tenha servido inicialmente como ponto contrário à sua missão, gerou um dos mais significativos resultados à seu favor. Trata-se da experiência de germinação de sementes de feijão a qual julguei inicialmente inútil, mas que foi acompanhada por estudantes para quem, sem dúvida, a semente plantada foi aquela do interesse pela ciência e, talvez, a da certeza de poder chegar muito mais longe do que imaginam frente a seu exemplo. É essa esperança, para mim, o sustentáculo da missão. Fica claro, dessa forma, que lhe recai sobre os ombros, como astro da empreitada, uma grande responsabilidade que conta com o peso de tudo o que foi gasto somado a toda a expectativa que se criou a sua volta. Para aqueles que lhe acusarem, então, de ter se promovido como herói às custas de dinheiro público, fica em resposta esse fardo digno de Atlas como justo pagamento.
Por fim venho reportar-lhe algo curioso. Estou certo de que são indescritíveis as sensações do espaço, e o que vou dizer pode parecer até insignificante se comparado a elas, mas é fato que, no período em que ocorreu sua viagem, mesmo aqueles brasileiros que não concordavam com ela se sentiam levemente orgulhosos ao olhar para o céu. Foi, sem dúvida, um raro momento em que todos se integraram de certa forma, como estrelas em uma galáxia.
Respeitosamente,
Um brasileiro
Fonte: Site “redebomdia.com.br de Bauru (SP)
Comentário: Magnífica redação escrita por esse jovem de Mogi Guaçu que teve a humildade de reavaliar a sua opinião sobre a “Missão Centenário” (veja aqui a nota Missão Centenário), observado a sua importância e significado para o Programa Espacial Brasileiro. Mesmo a AEB não tendo a devida competência para planejar a divulgação de um evento com esse significado, o impacto junto à sociedade foi realmente muito positivo, mobilizando milhões de pessoas para acompanhar o lançamento do astronauta naquela noite histórica de 29/03/2006 (30/03 na data local). Foi à maior mobilização da sociedade brasileira em prol do PEB até hoje e infelizmente por incompetência administrativa a AEB não sob colher os frutos que poderia ter colhido desse evento. Parabéns ao jovem Felipe Franco da Graça pelo seu texto magnífico, pela escolha do tema e principalmente pela sua visão da importância que teve a "Missão Centenário" para país.
Quantos ainda são eclipsados pela ignorância achando que tudo foi propaganda política jogada fora ?
ResponderExcluirInúmeras Ricardo. Infelizmente muitas ainda pensam dessa forma. E continuaram pensando por muito tempo até poderem enxergar os benefícios que um Programa Espacial gera para sua sociedade. Vai levar um tempo ainda, mas chegaremos lá e a “Missão Centenário” terá então seus benefícios históricos reconhecidos, tenho certeza disso. O que eu não tenho certeza é se veremos o Marcos Pontes ou outro brasileiro realizando outra missão nos próximos 10 anos.
ResponderExcluirAbs
Duda Falcão