Missão Spaceward: A Sociedade Brasileira e o Retorno do Eterno ‘Complexo de Vira-Lata’
Prezados amantes das atividades espaciais!
Infelizmente, logo após o ocorrido com o foguete sul-coreano na Base de Alcântara, esse que vos fala, observou o surgimento nas redes sociais brasileiras de uma enxurrada de asneiras — para não dizer coisa pior — que, mais uma vez, evidenciou a profunda ignorância de grande parte da Sociedade Brasileira em relação às atividades espaciais e, em especial, aos lançamentos de foguetes.
Em outras palavras, além dos oportunistas de plantão que insistem em agir para frear o desenvolvimento espacial do país, o que se observou mais uma vez foi a reativação, por parte de parcela do povo brasileiro, do chamado “Complexo de Vira-Lata”. A expressão, cunhada na década de 1950 pelo dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues, foi originalmente utilizada para descrever o trauma nacional provocado pela derrota da Seleção Brasileira para o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950, no Maracanã. Posteriormente, o próprio autor passou a empregar o termo para caracterizar o sentimento de inferioridade que muitos brasileiros nutrem em relação a outros países, especialmente os desenvolvidos. Sentimento esse que se manifesta na crença de que o Brasil — sua cultura, seu povo e suas realizações — seria intrinsecamente inferior, alimentando um pessimismo crônico que enxerga o país como incapaz de alcançar sucesso ou relevância no cenário internacional. Trata-se de uma mentalidade que, infelizmente, ainda persiste, como ficou novamente evidenciado pelas reações nas redes sociais ao incidente envolvendo o foguete sul-coreano.
Primeiramente, é importante lembrar aos agentes do caos e aos ignorantes de plantão que falhas em lançamentos de foguetes — sejam eles governamentais ou privados, suborbitais ou orbitais (como no caso do HANBIT-Nano) — não são incomuns. Pelo contrário, elas ocorrem com relativa frequência, especialmente no voo inaugural desses veículos. Historicamente, esse índice de falhas tende a diminuir ao longo do tempo, à medida que o foguete é testado, aprimorado e ganha maturidade operacional. Portanto, deixem de propagar asneiras, estudem a história da Astronáutica mundial e busquem se informar adequadamente, para assim estarem mais bem preparados para viver e compreender a Sociedade Espacial que se avizinha.
Além disso, seus irresponsáveis e desmiolados de plantão, compreendam através do texto esclarecedor abaixo, publicado no dia 27/12 pelo Coronel Aviador Clóvis Martins de Souza (Comandante do Centro de Lançamento de Alcântara - CLA) na sua página oficial no Linkedin, qual foi a verdadeira participação e responsabilidade do Brasil durante a realização da Missão Spaceward.
O BS aproveita este momento para parabenizar o CLA, seu Comandante — pessoa extremamente atenciosa e acessível, que surpreendeu positivamente este que vos fala — e toda a sua equipe pelo excelente trabalho profissional de suporte à Operação Spaceward e à empresa INNOSPACE, durante ambas as janelas de lançamento.
Aproveitamos também a oportunidade para registrar uma crítica construtiva quanto à interação da FAB com a imprensa, a qual ainda precisa ser aprimorada, especialmente diante do possível crescimento do interesse da mídia nos próximos anos. Ainda assim, é imprescindível reconhecer o esforço da equipe de comunicação da FAB, liderada pelo Tenente Coronel Ribeiro, com o valioso apoio da atenciosa Tenente Letícia. Tal atuação já representa um avanço significativo em relação ao histórico anterior, motivo pelo qual parabenizamos a FAB por essa evolução.
A Responsabilidade de Um Centro de Lançamento em Operações com Foguetes Privados
Por: Coronel Aviador Clóvis Martins de Souza
Comandante do CLA
Um centro de lançamento, ou espaçoporto, é uma infraestrutura essencial para a realização de missões espaciais, com função semelhante à de um aeroporto na aviação. Sua missão é garantir que o lançamento de um foguete ocorra com máxima segurança e eficiência, oferecendo suporte operacional completo. Em operações com empresas privadas, é fundamental diferenciar as responsabilidades do centro e da operadora do veículo.
Responsabilidade do Centro de Lançamento
O centro é responsável por assegurar a segurança da operação e de toda a infraestrutura. Isso inclui a proteção da área de lançamento, o controle de acessos, o rastreio preciso do veículo por radares, o monitoramento de dados telemétricos e a coordenação do Centro de Controle da Operação, onde são tomadas as decisões críticas durante o lançamento. Também cabe ao centro manter instalações adequadas para montagem, integração, abastecimento e testes dos foguetes, além de coordenar restrições aéreas e marítimas em conjunto com autoridades civis e militares. Essas ações garantem a integridade das pessoas, do meio ambiente e das operações próximas.
Responsabilidade da Empresa Operadora
A empresa que desenvolve o foguete é a única responsável por seu projeto, fabricação, integração e performance. Isso inclui componentes, sistemas de propulsão, orientação e separação de estágios. O centro de lançamento não interfere nessas etapas; apenas fornece a infraestrutura e o suporte necessários à execução da missão.
Analogia com a Aviação
A relação entre o espaçoporto e a empresa operadora é comparável à que existe entre aeroportos e companhias aéreas. Se uma aeronave sofre falha mecânica ou problema de projeto, a responsabilidade é da companhia ou do fabricante, não do aeroporto. Do mesmo modo, centros de lançamento não respondem por falhas inerentes ao veículo espacial.
Exemplo do CLA
O Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), operado pela Força Aérea Brasileira, é exemplo de excelência nesse modelo. Em recente operação com um foguete sul-coreano privado, o CLA cumpriu integralmente suas funções: infraestrutura moderna, segurança rigorosa, telemetria precisa e coordenação eficiente com autoridades civis e militares. Qualquer eventual falha no voo seria de responsabilidade exclusiva da empresa operadora.
Falhas iniciais em foguetes são comuns e não implicam erro das bases de lançamento. A SpaceX, por exemplo, enfrentou explosões nos primeiros voos do Falcon, a partir de Cabo Canaveral e Vandenberk, sem atribuição de culpa às instalações americanas.
Conclusão
Assim como um aeroporto não é culpado por defeitos em aeronaves, o centro de lançamento não pode ser responsabilizado por falhas no foguete. O CLA reafirma o Brasil como um parceiro confiável no cenário espacial, com posição geográfica privilegiada, infraestrutura robusta e capacidade de apoiar missões governamentais e comerciais com alto padrão técnico.
Brazilian Space
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