CLC Consultoria: Próximos Passos Após a Falha do Foguete HANBIT-Nano e a Perda das Suas Cargas Úteis
Prezados amantes das atividades espaciais!
Todos os entusiastas que acompanharam nosso esforço para levar ao público uma cobertura completa da recente Operação Spaceward — realizada com recursos próprios e com o apoio de membros e de um número limitado de patrocinadores — sabem que duas das cargas úteis brasileiras e comerciais embarcadas no Foguete HANBIT-Nano foram a Plataforma Inercial PINA-FD e o Experimento Sputnik. A terceira carga paga foi o CubeSat Solara S2, da empresa indiana Grahaa Space, representada pelo seu simpático e atencioso CEO, o Sr. Ramesh Kumar, ao qual aproveitamos para enviar do Brasil um grande abraço. (assistam em breve a entrevista do Canal BS realizada com ele)
Pois bem, ambas as cargas brasileiras foram desenvolvidas pela Castro Leite Consultoria, mais conhecida no setor aeroespacial como CLC Consultoria, sediada em São José dos Campos (SP). Para as duas janelas de lançamento, a empresa enviou inicialmente à cidade de Alcântara três de seus profissionais engenheiros: a potiguar Ana Ourique, o paranaense Guilherme Abreu e o também potiguar Rafael Medeiros. Durante a primeira janela de lançamento, em novembro deste ano, o Canal do BS teve a oportunidade de conversar com a Ana e o Guilherme em um bate-papo leve, divertido e esclarecedor — uma conversa que todo brasileiro apaixonado pelo espaço não pode deixar de conferir pelo link abaixo:
Entretanto, como todos sabemos, infelizmente o Foguete HANBIT-Nano não cumpriu sua missão, resultando na perda de todas as cargas úteis, incluindo, é claro, as da CLC Consultoria.
Diante disto, no dia de ontem (30/12), enquanto assistia TV confortavelmente em meu quarto, surgiu-me a ideia de enviar uma mensagem via WhatsApp ao renomado Dr. Waldemar Castro Leite Filho, CEO da CLC e em minha opinião o maior especialista da América Latina e um dos maiores do mundo na área de sistemas de navegação inerciais. O que começou como uma simples mensagem acabou se transformando em uma conversa por telefone, da qual surgiu a ideia de realizar a entrevista que compartilho com vocês a seguir.
BRAZILIAN SPACE: Dr. Waldemar, para começarmos, por gentileza, poderia nos contar um pouco sobre sua carreira para aqueles que ainda não o conhecem?
DR. WALDEMAR CASTRO LEITE FILHO: Sou formado em
engenharia eletrônica pelo Instituto Militar de Engenharia em 1978. Em seguida fui trabalhar no então Instituto
de Pesquisa e Desenvolvimento do EB (hoje parte do CTEx) no recebimento de um
sistema de mísseis ROLAND, de onde fiz a dissertação de mestrado em seu sistema
de controle. Em 1985, já fazendo o
doutoramento na UFRJ, vim trabalhar no então Instituto de Atividades Espaciais,
de onde me aposentei em 2015. Nesses 30
anos, fui chefe da subdivisão de controle por 27 anos. Me envolvi diretamente com o sistema de
controle do SONDA IV e, posteriormente, liderei a equipe que projetou e
implementou o sistema completo de controle do VLS. De 2008 até perto da aposentadoria, fui
gerente do Projeto SIA – Sistemas Inerciais para Aplicação Aeroespaciais.
BS: Dr. Waldemar, quando e como surgiu a CLC Consultoria?
DW: Bem antes de
me aposentar do IAE, eu já prestava consultoria para empresas de defesa
brasileiras, como autônomo. Em 2013, fui
procurado pela Mectron para consultoria ligada ao míssil MAR, com a condição de
pagamento como pessoa jurídica. Na mesma
época, meu filho mais velho, que já trabalhava com consultoria, sugeriu que
devêssemos ter um único CNPJ. Aí nasceu a
CLC. A partir daí começamos a prestar
consultoria formal para outras empresas de defesa e espacial.
BS: Para quem ainda não sabe, o que é um sistema de navegação inercial e quais são suas principais funções? Poderia nos explicar de forma clara?
DW: Um SNI
(sistema de navegação inercial) é um equipamento que fornece as informações de
orientação (atitude) velocidade e posição a qual esse equipamento está
submetido. Uma vez dentro de um veículo,
ele serve para dizer para onde o veículo está indo e qual sua orientação. Essas informações são utilizadas pelo sistema
de controle para conduzir esse veículo em sua missão.
O nome
inercial é devido ao princípio físico que seus sensores utilizam para gerar as
informações necessárias à navegação.
BS: A CLC é uma empresa brasileira que atua na área de sistemas inerciais, atendendo os mercados de Defesa e Espaço. Atualmente, quantos produtos a empresa oferece a esses mercados e quais são eles?
DW: Não atuamos
apenas na área de sistemas inerciais.
Damos consultoria e fazemos projetos de sistemas de controle para as
áreas espaciais e de defesa. Atualmente,
a CLC é responsável pelo sistema de controle do RATO / 14-X e pelo controle do
primeiro estágio do ML-BR.
Temos
também nossos próprios produtos: 2
plataformas inerciais, qualificadas (TRL-9)
PINA_M e PINA_F; temos o software CESI que provê estimativa de erros para sistemas
de navegação inercial e temos também o Abaporan que é um RCWS (remote controlled weapon station)
equipamento que estabiliza e aponta uma metralhadora, de forma remota (para uso
em drones terrestres e navais).
BS: Como já é de conhecimento público, o foguete HANBIT-Nano não conseguiu cumprir sua missão, resultando na perda das duas cargas úteis da CLC a bordo: o Experimento Sputnik e a Plataforma PINA-FD. Qual foi o impacto dessa perda nos planos da empresa?
DW: De fato, o voo
do Hanbit-Nano, não cumpriu o tempo de voo necessário para o teste dos nossos 2
equipamentos a bordo. Esses equipamentos
seriam perdidos de qualquer maneira. Em
troca teríamos as informações sobre seu funcionamento necessárias para sua
qualificação e isso não foi possível. Os
impactos sobre o tempo investido no processo e o custo dos equipamentos somente
poderão ser completamente avaliados em conjunto com a Innospace quando serão
definidos os próximos passos.
BS: Apesar do curto tempo de voo do foguete, a CLC conseguiu obter dados relevantes sobre o desempenho dessas cargas úteis?
DW: Ainda não
tivemos acesso a essas informações.
Estamos confiantes de que teremos dados relevantes sim.
BS: A CLC pretende repetir o teste dessas cargas úteis em um próximo voo do HANBIT-Nano ou em outro foguete?
DW: É nossa
intenção que sim. As condições ainda
serão discutidas com a Innospace.
BS: Também sabemos que a CLC é coautora do Projeto RATO, em parceria com a Mac JEE. Em uma linguagem mais acessível, qual será a contribuição da CLC no desenvolvimento deste projeto?
DW: Trata-se de um
projeto em conjunto. A CLC participa da
concepção do veículo que cumprirá os requisitos da missão. Uma vez definida a solução, é
responsabilidade da CLC o projeto de todos os sistemas de controle que constituem
o veículo. Além disso, o sistema de
navegação inercial será a PINA_FD. A
implementação de rede elétrica de controle deverá ser compartilhada.
BS: Recentemente, foi divulgado que a Mac JEE assinou um acordo com o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) na área de inovação espacial, com o objetivo de fortalecer o desenvolvimento de tecnologias críticas para veículos lançadores, incluindo o projeto de Autonomia Tecnológica do Veículo Lançador de Microssatélite (VLM-1 AT) e o foguete de decolagem para o veículo hipersônico RATO-14X. A CLC também está envolvida nessas iniciativas?
DW: Esse acordo
permite a troca de informações essenciais para o desenvolvimento tanto do RATO
como do VLM. Eu incluiria até para novos
projetos. Também facilita o acesso à
infraestrutura existente no IAE. A CLC
certamente está incluída nessas atividades.
BS: Além disso, sabemos que a CLC faz parte do arranjo empresarial do Projeto MLBR como empresa contratada. Poderia explicar para a sociedade qual é o papel da CLC nesse importante projeto brasileiro?
DW: A CLC foi
contratada para participar da engenharia de sistemas do ML_BR e ser responsável
pelo projeto do sistema de controle do primeiro estágio do mesmo. O projeto além da parte conceitual inclui o
acompanhamento dos ensaios e a implementação do algoritmo no computador de
bordo.
Agradecemos ao Dr. Waldemar Castro Leite Filho por nos atender e esclarecer, nesta entrevista, pontos cruciais sobre a atuação da CLC Consultoria nesse importante setor estratégico de alta tecnologia do Brasil.
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