EUA e China Iniciam Um Diálogo Espacial Civil
Olá leitor!
Segue abaixo outro artigo
escrito pelo Sr. José Monserrat
Filho e postado pelo companheiro André Mileski ontem (03/09) em seu no Blog Panorama Espacial.
Duda Falcão
EUA e China Iniciam Um Diálogo Espacial Civil
“A paz é a única forma de nos sentirmos realmente
humanos.”
Albert Einstein (1879-1955)
José Monserrat Filho*
Apesar das crescentes
desavenças, ou por isso mesmo, EUA e China realizaram em Pequim, no dia 28 de
setembro último, seu 1º Diálogo Espacial Civil. O evento foi criado no 7º
Diálogo Estratégico e Econômico, em junho passado, quando os dois países
“decidiram estabelecer consultas bilaterais regulares de governo a governo
sobre cooperação espacial civil” e marcar para “antes do final de outubro”, na
China, “o 1º Diálogo EUA-China de Cooperação Espacial Civil”, o que revela
certa pressa. Também ficou resolvido manter intercâmbios sobre questões de
segurança espacial, no âmbito do Diálogo EUA-China sobre Segurança, o que é
muito sintomático.
Presidiram o Diálogo Espacial
representantes da Administração Nacional Espacial da China (CNSA), Tian Yulong,
e do Departamento de Estado dos EUA, Jonathan Margolis. A CNSA é a agência
espacial chinesa. Deveria encontrar-se com a NASA e não com o Departamento de
Estado.
John Logsdon, Professor Emérito
de Ciência Política e de Assuntos Internacionais do Instituto de Política
Espacial da Universidade George Washington, em Washington, EUA, tem apoiado a
cooperação espacial EUA-China, que para ele “é questão mais política do que
técnica”. Tanto que apelou ao Presidente Obama para que tome a iniciativa de
negociar com o Congresso a revogação das restrições que obstruem essa parceria.
Com isso os EUA poderiam
“convidar a China a trabalhar junto com os EUA e outros países em programas
espaciais numa ampla variedade de atividades espaciais e, mais dramaticamente,
em voos tripulados”, frisou Logsdon, lembrando a acoplagem entre a Apollo
americana e a Soyuz soviética e “o aperto de mão” no espaço, em 1975,
como “lições da história” que servem para hoje. “A iniciativa similar de
os EUA e a China se juntarem em órbita seria um poderoso indicador da intenção
das duas superpotências do século 21 de trabalharem juntas na Terra como no
espaço”, completou Logsdon. A seu ver, “embora seja impressionante que a China
tenha sido o terceiro país a lançar seus cidadãos ao espaço, a situação atual do
programa chinês de voos tripulados equivale, mais ou menos, ao programa
tripulado dos EUA no tempo do Gemini, há 50 anos”. Daí que “a China tem muito
mais a aprender com os EUA em voos espaciais tripulados do que o contrário”.1
A entrevista de Logsdon é de 16
de junho deste ano. Uma semana depois, em 23 de junho, David Alexander, da
Agência Reuters, ouviu a seguinte declaração do Vice-Secretário de Defesa dos
EUA e Chefe de Operações do Pentágono, Robert Work: “A China empreende sério
esforço para desafiar a superioridade militar dos EUA no espaço aéreo e no
espaço exterior, forçando o Pentágono a buscar novas tecnologias e sistemas
para se manter adiante do rápido desenvolvimento do rival”. E mais: “A China
fecha rapidamente as lacunas tecnológicas, desenvolvendo aeronaves capazes de
escapar de radares, aviões avançados de reconhecimento, mísseis sofisticados e
de equipamentos de alto nível para guerra eletrônica”. Para reforçar seu
pronunciamento, Robert Work citou a afirmativa do Vice-Presidente da “poderosa”
Comissão Militar Central, Xu Qiliang, à Agência Xinhua, de que “a construção de
nossos equipamentos militares está mudando da pesquisa de recuperação do atraso
para inovações independentes.”
Robert Work falou na sessão
inaugural da conferência sobre estudos a respeito dos planos aeroespaciais
chineses, realizada em parceria com a Corporação RAND, antigo “think tank” de
questões estratégicas, com o objetivo de pesquisar as “ambições aeroespaciais
da China”.
A notícia da Reuters diz que a
ideia da conferência surgiu depois que centenas de chineses participaram, em
Washington, dos três dias do Diálogo Econômico e Estratégico EUA-China,
destinado a tratar da cooperação mútua e também dos pontos de atrito.
Respondendo a uma pergunta da
plateia, Roberto Work afirmou que “os líderes americanos e chineses vêem a
relação bilateral como tendo lugar para medidas de cooperação e de competição”.
"Esperamos que, com o
tempo, os aspectos de cooperação superam os aspectos competitivos",
assinalou ele, e acrescentou; "Como no Departamento de Defesa estamos no
limite da força (…), dizemos: 'Olha, aqui estão as capacidades que vemos que os
chineses estão desenvolvendo; é importante para nós sermos capazes de nos
opormos a elas'."
Citando estudo de Harvard sobre
o aumento dos poderes em confronto com poderes estabelecidos, Robert Work
observou que “a interação entre os dois poderes resulta muitas vezes em
guerra”. Daí que o Departamento de Defesa deve "impedir que a competição
internacional se torne mais aquecida." Perfeito.
Para ele, “os EUA sentem, em
geral, que o melhor limite é uma dissuasão nuclear e convencional forte, capaz
de superar qualquer rival”. Será mesmo o melhor limite?
Ocorre que, como Robert Work
reconheceu, os EUA se basearam em superioridade tecnológica nos últimos 25
anos, e agora "a margem de superioridade tecnológica com a qual tanto nos
acostumamos... está em constante erosão." Para remediar, explicou ele, o
Pentágono trabalha para desenvolver novas tecnologias a fim de manter sua vantagem
e diminuir o custo de responder aos ataques. Armas de energia direcionada,
citou como exemplo, podem ser capazes de abater mísseis que custam cem vezes o
preço de um choque de energia.2
A questão chave é saber se há,
de fato, sinais claros de que a China planeja atacar os EUA. Isso ainda precisa
ser comprovado. Seria um crime a China querer superar a liderança espacial dos
EUA? E se a China tem medo do poderio dos EUA como os EUA hoje têm medo do
poderio da China? Cooperar e competir ao mesmo tempo também não é pecado.
Mas sem uso da força, claro.
Por isso, a estratégia de John
Logsdon parece mais real, pacífica e construtiva do que a criação de novas
armas descrita por Robert Work. O melhor é sentar e conversar civilizadamente.
Foi o que ocorreu no 1º Diálogo
Espacial Civil entre EUA e China. A nova iniciativa reforça a cooperação entre
os dois países e dá mais transparência a inúmeros problemas espaciais que
precisam ser enfrentados com grande empenho.
Na reunião inaugural,
americanos e chineses trocaram informações sobre suas políticas espaciais.
Discutiram sobre como estimular maior colaboração para enfrentar o desafio do
lixo espacial e da sustentabilidade a longo prazo das atividades espaciais.
Também intercambiaram ideias sobre como prevenir colisões entre satélites.
As duas delegações contaram de
seus planos nacionais com vistas à próxima reunião do Fórum Internacional de
Exploração Espacial, além de debateram formas de cooperar mais sobre as
atividades civis de observação da Terra, ciências espaciais, clima espacial e
Sistemas de Navegação Global por Satélite (GNSS) civis.
EUA e China confirmaram a
relevância do Diálogo Espacial Civil e reafirmaram que a iniciativa irá
fortalecer suas relações de cooperação espacial e promover os resultados do
Diálogo Estratégico e Econômico entre os dois países.
Eles também acertaram que o 2º
Diálogo Espacial Civil terá lugar em Washington, em 2016.
Que esse diálogo se prolongue
por tantos anos quanto forem necessários para que a paz, a segurança e a
colaboração verdadeira triunfem em definitivo.
* Vice-Presidente da
Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial (SBDA), Diretor
Honorário do Instituto Internacional de Direito Espacial, Membro Pleno da
Academia Internacional de Astronáutica (IAA) e Chefe da Assessoria de
Cooperação Internacional da Agência Espacial Brasileira (AEB). Esse artigo
expressa exclusivamente a opinião do autor.
Referências
1) Ver www.space.com/29671-china-nasa-space-station-cooperation.html. Isso foi o que o
colunista Leonard David escreveu no Space.com, em 16 de junho passado.
Fonte: Blog Panorama Espacial - http://panoramaespacial.blogspot.com.br/
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