Extremos Climáticos Devem Ocorrer Com Mais Frequência e Intensidade em São Paulo
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo postado hoje (26/02) no site da “Agência
FAPESP” destacando que Extremos Climáticos devem ocorrer com mais frequência e intensidade
em São Paulo.
Duda Falcão
Notícias
Extremos Climáticos Devem Ocorrer Com
Mais Frequência e Intensidade
em São Paulo
Por Elton Alisson
26 de
fevereiro de 2015
(Imagem: Phelipe Janning)
Chuvas pesadas concentradas em poucos dias, espaçadas
entre
longos períodos secos, podem tornar-se comuns no estado nas próximas décadas, aponta estudo coordenado pelo INPE. |
Agência
FAPESP – A variação
climática observada na Região Metropolitana de São Paulo nos últimos anos –
caracterizada por chuvas intensas concentradas em poucos dias, espaçadas entre
longos períodos secos e quentes – deve se tornar tendência ou até mesmo agravar
nas próximas décadas.
As conclusões
são de um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE) e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres
Naturais (Cemaden), em colaboração com colegas das Universidades de São Paulo
(USP), Estadual de Campinas (UNICAMP), Estadual Paulista (UNESP), de Taubaté (UNITAU)
e dos Institutos Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e de Aeronáutica e Espaço
(IAE), entre outras instituições e universidades do Brasil e do exterior, no
âmbito do Projeto Temático “Assessment of impacts and vulnerability to climate change in
Brazil and strategies for adaptation option”, apoiado pela FAPESP.
Resultados do
estudo foram descritos em artigos publicados na revista Climate Research
e contribuíram para a elaboração do Atlas de Projeções de Temperatura e
Precipitação para o Estado de São Paulo, uma publicação interna do INPE lançada em 2014, também resultado de projeto.
“Estamos
observando na Região Metropolitana de São Paulo um aumento na frequência de
chuvas intensas, deflagradoras de enchentes e deslizamentos de terra,
distribuídas entre períodos secos que podem se estender por meses", disse
José Antônio Marengo Orsini, pesquisador do INPE e atualmente no CEMADEN.
“Os modelos
climáticos projetam que esses eventos climáticos extremos passarão a ser cada
vez mais comuns em São Paulo e em outras cidades do mundo e podem até mesmo se
intensificar, se forem mantidos o atual ritmo de urbanização e de emissão de
gases de efeito estufa”, disse o pesquisador, que coordenou o estudo.
Os
pesquisadores analisaram a variabilidade do clima da região metropolitana nos
últimos 80 anos por meio de dados diários de chuva referentes ao período de
1933 a 2011 fornecidos pela estação meteorológica Água Funda, do Instituto de
Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São
Paulo (USP). Do período de 1973-1997, foram utilizados também dados de outras
94 estações meteorológicas espalhadas pela região.
As observações
indicaram um aumento significativo, desde 1961, no volume total de chuva
durante a estação chuvosa, que pode estar associado à elevação na frequência de
dias com chuva pesada e à diminuição de dias com precipitações leves na cidade.
Enquanto os
dias com chuva pesada – acima de 50 milímetros (mm) – foram quase nulos nos
anos 1950, eles ocorreram entre duas e cinco vezes por ano entre 2000 e 2010 na
cidade de São Paulo.
Ilha de Calor
De acordo com
Marengo, as alterações no regime de chuvas em São Paulo podem ser decorrentes
da variabilidade climática natural, mas podem também estar relacionadas ao
crescimento da urbanização, em especial nos últimos 40 anos, que contribuiu
para agravar os efeitos da “ilha de calor” na cidade.
Com o aumento
da urbanização, o solo da região – antes exposto e com vegetação remanescente
da Mata Atlântica – foi sendo cada vez mais coberto por materiais como asfalto
e concreto, que absorvem muito calor e não retêm umidade.
Com isso,
durante o dia o clima fica muito quente e, à noite, o calor acumulado é
liberado para a atmosfera. A umidade relativa do ar da cidade é reduzida e a
evaporação de água do solo para a formação de nuvens é acelerada, segundo
explicou Marengo.
“O aumento da
taxa de evaporação faz com que mais água do solo seja extraída, deixando-o
totalmente seco, como tem acontecido nas regiões dos reservatórios que
abastecem a região metropolitana de São Paulo”, disse o pesquisador. “Isso pode
contribuir para aumentar o deficit hídrico da cidade”, avaliou.
Projeções Climáticas
A fim de
avaliar possíveis tendências e alterações no padrão de chuvas extremas até
2100, os pesquisadores fizeram projeções de mudanças climáticas de diferentes
regiões do Estado de São Paulo, incluindo a região metropolitana, usando uma
técnica chamada downscaling.
A técnica
combina o modelo climático regional Eta-CPTEC, desenvolvido pelo Inpe, com os
modelos globais HadCM3 e HadGEM2, criados no Reino Unido e usados pelo Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), para
fazer projeções de curto, médio e longo prazo, com uma resolução espacial de 40
quilômetros.
“Ela permite
fazer previsões climáticas mais detalhadas de regiões do Estado de São Paulo,
como o Vale do Paraíba ou a Serra do Mar, que não aparecem em um modelo
climático global”, explicou Marengo.
O modelo foi
rodado pelos pesquisadores com base no cenário 21 SRES A1B de emissões de gases
de efeito estufa até 2100, usado pelo IPCC.
Nesse cenário
climático, considerado intermediário, as emissões de gases-estufa poderão
atingir 450 partes por milhão (ppm) e causar um aumento na temperatura global
da ordem de 3 ºC até 2100.
Os
pesquisadores realizaram simulações para os períodos de 2010 a 2040, 2041 a
2070 e 2071 a 2100, tendo como base o período climatológico de 1961 a 1990,
adotado como padrão para projeções climáticas pela Organização Mundial de
Meteorologia.
Os resultados
das projeções indicaram que aumentará a frequência e a intensidade de chuvas
extremas na região metropolitana de São Paulo e nas regiões norte, central e
leste do estado nas próximas décadas.
Por outro
lado, as projeções também sugeriram um aumento significativo na frequência de
veranicos nessas mesmas regiões, sugerindo que as chuvas extremas serão
concentradas em alguns dias e ocorrerão entre períodos de seca mais longos,
explicou Marengo.
“As projeções
mostram que haverá um aumento dos riscos de enchentes, inundações e de
delizamentos de terra na região metropolitana de São Paulo e nas regiões norte,
central e leste do estado”, disse o pesquisador.
“As pessoas
que moram nessas regiões deverão experimentar um aumento maior de temperatura,
assim como mudanças no regime de chuva e secas mais prolongadas”, afirmou.
Vulnerabilidade
Climática
Segundo
Marengo, uma das razões pelas quais essas regiões do estado poderão ser mais
atingidas pelas variações climáticas é o fato de terem maior densidade
populacional.
Além delas, as
regiões do Vale do Paraíba, da Serra do Mar, da Baixada Santista e de Campinas
também deverão sentir mais os efeitos das variações climáticas, indicou
Marengo.
“Os impactos
sociais e econômicos do aumento da temperatura, secas mais prolongadas e
mudanças no regime de chuva nesses locais deverão ser maiores”, estimou.
“No caso da
região oeste de São Paulo, por exemplo, onde a densidade populacional é menor,
os impactos serão relativamente menores, mas também ocorrerão.”
A projeção de
aumento da mancha na região metropolitana de São Paulo até 2030, justamente nas
áreas mais vulneráveis às consequências das mudanças climáticas, deverão
agravar ainda mais o risco de desastres naturais, avaliou o pesquisador.
“Os
deslocamentos populacionais causados pelas mudanças climáticas não serão só
rurais, porque há mais pessoas vivendo nas cidades do que no campo hoje”,
estimou Marengo.
“Se fenômenos
recentes, como a seca em São Paulo, mostram que não estamos preparados para
enfrentar os problemas relacionados às mudanças climáticas, os resultados do
estudo reforçam que esses problemas só tendem a piorar e que é preciso
considerar possíveis estratégias de adaptação”, disse Marengo.
O artigo
contendo resultados dos estudos Observed and projected changes in rainfall
extremes in the Metropolitan Area of São Paulo (doi: 10.3354/cr01160),
de Marengo e outros, pode ser lido na revista Climate Research em http://www.int-res.com/abstracts/cr/v61/n2/p93-107/
E o artigo “Rainfall
and climate variability: long-term trends in the Metropolitan Area of São Paulo
in the 20th century” (doi: 10.3354/cr01241), de Obregón e outros, pode ser
lido na mesma revista em http://www.int-res.com/abstracts/cr/v61/n2/p93-107/
Fonte: Site da Agência FAPESP
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