Nova Infraestrutura de Pesquisa Para Astrofísica de Partículas na América do Sul
Olá leitor!
Segue abaixo uma notícia postada hoje (11/12) no site da
“Agência FAPESP”, destacando que a América do Sul terá nova infraestrutura de
pesquisa para Astrofísica de Partículas.
Duda Falcão
Notícias
Nova Infraestrutura de Pesquisa Para
Astrofísica de Partículas na América do Sul
Por Elton Alisson
11 de dezembro de 2014
(Foto:
Steven Saffi)
Além de se beneficiar com a atualização do Observatório
Pierre Auger, países da região são candidatos a sediar o maior
observatório de
radiação gama do mundo.
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Agência FAPESP – A comunidade de pesquisa em
Astrofísica de Partículas na América do Sul espera receber nos próximos anos
importantes reforços de infraestrutura para a realização de experimentos nessa
área interdisciplinar, voltada a estudar raios cósmicos de ultra-alta energia –
as partículas subatômicas mais energéticas conhecidas na atualidade, de origem
ainda incerta.
O maior observatório de raios cósmicos do mundo, o
Observatório Pierre Auger – instalado na província de Mendoza, na Argentina, e
com participação do Brasil financiada pela FAPESP e por outras agências de fomento
–, deve passar por um programa de atualização até 2018.
Já em 2015 também será feita a escolha do país-sede, no
hemisfério Sul, do Cherenkov Telescope Array (CTA) – que deverá ser o maior
observatório do mundo dedicado ao estudo de corpos celestes que emitem radiação
gama, de mais alta energia.
Além disso, está sendo discutida a construção do Agua
Negra Deep-Underground Experiments Site (Andes) – o primeiro laboratório
subterrâneo da América Latina, projetado para ser construído anexo a um túnel
previsto para ser escavado na fronteira andina entre Argentina e Chile, para
realização de experimentos em diversas áreas, incluindo a Astrofísica de
Partículas.
“A comunidade de Astrofísica de Partículas na América do
Sul está passando atualmente por uma fase muito importante e excitante em razão
da expectativa de concretização desses projetos”, disse Luiz Vitor de Souza
Filho, professor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da Universidade de
São Paulo (USP), à Agência FAPESP.
A fim de discutir as perspectivas desses projetos de
infraestrutura para a área na América do Sul, Souza Filho e um grupo de cem pesquisadores
de diversos países reuniram-se em novembro no Instituto de Física da USP,
durante o 3rd Astroparticle Physics Workshop: The future in South America.
“O objetivo do evento foi reunir a comunidade
internacional de pesquisadores em Astrofísica de Partículas para começarmos a
planejar o futuro dos experimentos na área de uma forma mais organizada”, disse
Souza Filho, que foi um dos organizadores do encontro.
“O momento é propício para tentarmos criar um plano de
investimentos e de pesquisa, levando em conta questões científicas importantes
que podemos responder com a construção desses projetos”, afirmou.
Plano de Atualização
Entre essas questões, segundo o professor, estão a origem
dos raios cósmicos de ultra-alta energia e o tipo de partículas subatômicas que
chegam à Terra com energias macroscópicas da ordem de 10 elevado a 18 (um
bilhão de bilhões) elétron-volts (eV).
O Observatório Pierre Auger permitiu observar nos últimos
10 anos dezenas de raios cósmicos acima de 10 elevado a 20 eV e foi muito bem-sucedido
nesse propósito, avaliaram os pesquisadores presentes no encontro.
Os resultados obtidos pela colaboração Auger, porém,
ainda não permitem identificar totalmente as fontes desses raios cósmicos de
energia ultra-alta.
“Medimos várias propriedades dos raios cósmicos, mas
ainda não conseguimos localizar a fonte ou fontes deles. E não sabemos
exatamente se as partículas que chegam à Terra são puramente prótons ou núcleos
atômicos mais pesados, ou ainda uma mistura deles”, afirmou.
De acordo com pesquisadores da área, um dos desafios para
identificar a fonte e a composição dessas partículas vindas do espaço é que
elas são medidas de forma indireta.
Quando uma partícula cósmica ultraenergética atinge a
atmosfera terrestre, ela colide com um núcleo do ar, produzindo novas
partículas que, por sua vez, também colidem e interagem, em um efeito
multiplicativo em cascata, formando um chuveiro atmosférico extenso,
constituído de um bilhão de partículas ou mais.
O Observatório Auger estuda os raios cósmicos ultraenergéticos
que chegam até a Terra medindo esses chuveiros atmosféricos extensos produzidos
por eles na atmosfera.
A expectativa é que o programa de atualização pelo qual o
Observatório Auger deve passar permita responder a essas questões ao melhorar
consideravelmente a resolução dos detectores de partículas do observatório.
“A atualização permitirá a medição de diferentes tipos de
partículas e com maior precisão”, estimou Souza Filho.
Atualmente, várias propostas de atualização do
Observatório Auger estão sendo avaliadas internamente por um comitê de físicos.
Todas elas têm como foco melhorar a resolução da composição dos raios cósmicos.
Cada uma das várias propostas envolve uma técnica
diferente para a identificação de múons – partículas subatômicas
ultraenergéticas presentes nos chuveiros atmosféricos – e requer combinações
diferentes de novos produtos eletrônicos, novos detectores e modificações
internas nos 1,6 mil detectores do observatório.
Espalhados por uma área de 3 mil km2, em uma
região plana ao lado dos Andes, os detectores são tanques de polietileno,
preenchidos com 12 mil litros de água purificada e instrumentalizados com
sensores fotomultiplicadores.
Quando as partículas de um chuveiro atmosférico
atravessam a água no interior do tanque é emitida luz que pode ser medida nos
sensores.
Antenas acopladas ao tanque transmitem os dados via rádio
para a sede do observatório em Malargüe, na Argentina, de onde são enviados
para análise de cerca de 450 pesquisadores em outros pontos do mundo.
As propostas de atualização do observatório preveem a
adição de novos detectores de múons nos chuveiros identificados. Para isso,
seriam necessárias mudanças em todos os detectores existentes, a um custo
estimado de US$ 15 milhões.
Para avaliar se realmente funcionam, estão sendo testados
protótipos dos sistemas de detecção de múons propostos.
“No início de 2015, uma das propostas deverá ser
escolhida. Esperamos que seja possível instalar em breve os novos detectores e
operá-los até, no mínimo, 2023”, disse à Agência FAPESP Carola
Dobrigkeit Chinellato, professora do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW)
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e que preside a Comissão de
Publicações do Pierre Auger.
A professora também participou, como representante da
FAPESP, de um encontro da Comissão de Finanças do Observatório Auger, que
reuniu as agências de fomento dos 18 países membros da Colaboração para a
prestação de contas anual. A reunião ocorreu no dia 15 de novembro na sede da
FAPESP, em São Paulo.
CTA
No início de 2015 também será escolhido o país-sede no
hemisfério Sul do CTA – consórcio internacional formado por 28 países, entre
eles o Brasil – que pretende construir, até 2020, o maior observatório
astronômico do mundo dedicado ao estudo de objetos astrofísicos que emitem
raios gama.
O observatório contará com cerca de 100 telescópios que
serão instalados em dois lugares distintos, um no hemisfério Sul e outro no
Norte.
No hemisfério Sul, os países candidatos a sediar o
observatório são o Chile e a Argentina, na América Latina, e a Namíbia, na
África, disse Souza Filho, um dos pesquisadores brasileiros participantes do
projeto (leia mais em http://agencia.fapesp.br/maior_observatorio_de_astronomia_gama_tera_participacao_brasileira/16674/).
Segundo ele, a ideia inicial é construir um conjunto de
sete telescópios – que formarão um arranjo embrionário do observatório,
denominado CTA Mini-Array – em torno do qual o restante do observatório será
posteriormente construído.
Dos sete primeiros telescópios três serão construídos
pelo Brasil no âmbito de um Projeto Temático apoiado pela FAPESP.
O primeiro deles entrou em fase de testes em Catania, na
Itália, no fim de setembro (leia mais em http://revistapesquisa.fapesp.br/2014/10/07/prototipo-de-telescopio-para-observacao-de-raios-gama-sera-testado-na-italia/).
“A meta é testar inicialmente esse pequeno conjunto de
telescópios, obter os primeiros dados científicos e, a partir disso, avançar
até atingir uma centena de telescópios”, disse Souza Filho.
Durante o workshop na USP, Werner Hofmann, porta-voz do
projeto e pesquisador do Max-Plack-Institut für Kernphysik, na Alemanha, disse
que dificilmente o CTA deixará de vir para a América do Sul.
Projeto Andes
Outra iniciativa de pesquisa em Astrofísica de Partículas
na América do Sul em discussão é a construção do laboratório subterrâneo
profundo Andes.
A ideia da comunidade de pesquisa é fazê-lo anexo a um
túnel de 14 quilômetros de extensão que Argentina e Chile pretendem escavar sob
a Cordilheira dos Andes, para facilitar o acesso dos países da América do Sul
ao Oceano Pacífico e, dessa forma, exportar mais facilmente para a Ásia.
O projeto do laboratório subterrâneo prevê a instalação
de diversos equipamentos para estudos em diferentes áreas, como de um grande
detector capaz de identificar neutrinos de baixa energia e geoneutrinos –
neutrinos produzidos pela decomposição de produtos radioativos na Terra, como
potássio, urânio e tório, que se estima tenham grande relevância no balanço de
calor da Terra.
O túnel seria o lugar propício para a medição dessas
partículas, avaliam os pesquisadores da área.
“O Andes possibilitaria a realização de experimentos, em
diferentes áreas, que necessitam de baixo nível de radiação, como medições de
matéria escura e de neutrino”, explicou Souza Filho.
Até o momento, apenas Argentina, Brasil, México e Chile
têm se empenhado no projeto, que busca adesão de outros países.
Fonte: Site da Agência FAPESP
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