Pesquisador Brasileiro Usa Satélite da NASA Para Estudar Seca na Região Sudeste
Olá leitor!
Segue abaixo uma nota da postada hoje (09/11) no site da
Agência Espacial Brasileira (AEB), destacando que Pesquisador Brasileiro usa
satélite da NASA para estudar seca na Região Sudeste.
Duda Falcão
Brasileiro Usa Satélite da NASA Para
Estudar Seca na
Região Sudeste
O Globo
Brasília, 9 de novembro de 2015 – O Sudeste perdeu 56
trilhões de litros de água por ano desde o início da seca que atinge a região,
em 2012. É como se, a cada 12 meses, evaporassem duas represas de Itaipu ou 43
sistemas Cantareira, o principal reservatório da região metropolitana de São
Paulo.
A conclusão está em um estudo feito com auxílio de
satélite pelo pesquisador brasileiro Augusto Getirana, da Agência Espacial
Norte-americana (NASA). O trabalho, já disponível na internet, deve ser
publicado em breve no jornal da Sociedade Americana de Meteorologia.
No Nordeste, a situação também é crítica, segundo o
estudo. Por ano, foram perdidos 49 trilhões de litros de água. As duas regiões
enfrentam a pior seca dos últimos 35 anos, de acordo com o pesquisador, mas o
fenômeno pode ser ainda mais raro, já que a NASA só contabiliza esse tipo de
dado desde 1980. Com informações sobre desde a década de 1930, a Companhia de
Abastecimento de Água de São Paulo (Sabesp) afirma que o estado enfrenta a pior
temporada de falta de chuva dos últimos 83 anos.
No estudo, denominado “Déficit de água extremo no Brasil
detectado do espaço”, Getirana afirma que as “razões para as precipitações
recentes abaixo da média (na região leste do Brasil) ainda são desconhecidas”.
O pesquisador afirma que há especulações no meio acadêmico de que a escassez de
chuva pode ser causada pelo aquecimento global, pelo desmatamento na Amazônia
ou outros fenômenos climáticos. Segundo o texto, porém, “futuros estudos para
investigar as causas são recomendados”.
“Minha intenção não era descobrir a causa da seca. Era
chegar a um valor que quantificasse o tamanho dessa seca no Brasil. E a
conclusão é que a situação é muito grave”, disse Getirana. “Sei que talvez seja
meio tarde para dar um alerta sobre a seca em todo o leste, mas acho que essa
pesquisa pode ajudar as pessoas a terem uma visão mais geral do problema”,
complementa.
Para chegar ao resultado, Getirana utilizou dados
colhidos pelos satélites Grace (sigla em inglês para Recuperação de Gravidade e
Experimento Climático), lançados pela NASA em 2002. Os equipamentos foram
projetados para calcular variações gravitacionais da Terra por meio da análise
da quantidade de água reservada em certas áreas. Eles são capazes de medir
quanta água há disponível na atmosfera, superfície e no subsolo de determinada
região. Também podem mostrar, em centímetros, a variação de um mês para outro.
Secas – O hidrólogo brasileiro comparou os resultados
medidos mensalmente pelo Grace no Sudeste e no Nordeste com as médias de alteração
no volume de água nas duas regiões nos últimos 13 anos – a última medição foi
feita em abril deste ano. Também foram levados em consideração chuva,
escoamento de água e umidade do solo. Analisando apenas o período medido pelos
satélites, os índices de precipitação do Sudeste foram 16% mais baixos que a
média. No Nordeste, foram 19% menores.
No período, porém, as duas regiões enfrentaram outra seca
de grandes proporções, que provocou racionamento de energia entre 2001 e 2002
e, segundo os dados da NASA, só terminou entre janeiro e fevereiro de 2004.
“Outra coisa que chamou a atenção ao analisar os dados do
Grace é que em um período de pouco mais de dez anos essa região leste do Brasil
enfrentou dois fenômenos graves de falta d’água. No Nordeste a situação é
crítica porque, embora a perda de água seja menor que no Sudeste, é uma região
que já era naturalmente mais seca” diz Getirana.
A previsão para chuva nos próximos meses não parece ser
suficiente para reverter à tendência de perda d’água, segundo especialistas. A
chuva deve ficar abaixo da média no Nordeste, de acordo com o Instituto
Nacional de Pesquisas Especiais (INPE). A previsão para São Paulo é que a taxa
de precipitação fique dentro da média entre outubro e janeiro. No restante do
Sudeste, diz o último relatório do INPE, os “modelos numéricos apresentam baixa
confiabilidade na previsão”.
O consenso entre os meteorologistas do INPE é que período
chuvoso deve começar mais tarde que o normal na região central do país este
ano. Em geral, a estação chuvosa vai de outubro a abril. De acordo com
meteorologistas, não é possível calcular se a quantidade de chuva prevista é
suficiente para reverter as perdas identificadas no estudo.
Esta foi a primeira vez que dados do Grace foram
utilizados para avaliar a situação climática no Brasil. Estudos semelhantes já
haviam sido feitos para tentar entender fenômenos climáticos em Índia,
Groenlândia e Estados Unidos. Uma análise preliminar feita por Getirana mostra
que a seca no Sudeste do Brasil é pior, inclusive, do que a observada na
Califórnia, estado americano que enfrenta uma seca severa nos últimos anos.
“O satélite sempre mostra o passado, e não a situação
atual da região pesquisada. Agora, por exemplo, temos acesso a dados que foram
recolhidos em abril último. Os resultados podem servir para melhorarmos os
modelos matemáticos que fazem previsões meteorológicas. E isso pode ser usado
por governos e agências para influenciar tomadas de decisão”, afirma o
pesquisador.
Trajetória – Formado em Engenharia Civil pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Getirana trabalha na NASA há
três anos e tem vínculo com a agência espacial americana por mais quatro anos.
Ele estuda água há muito tempo. Fez mestrado e parte do doutorado no Instituto
Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE/UFRJ) –
outra parte do doutorado foi feita na França.
Em 2010, recebeu um prêmio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) por tese sobre o ciclo da
água na Amazônia. Getirana foi para a NASA para um pós-doutorado e hoje
trabalha com modelos matemáticos para eventos climáticos extremos, como secas e
enchentes. Antes, trabalhou na agência espacial e no serviço de meteorologia da
França.
Fonte: Site da Agência Espacial Brasileira (AEB)
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