Astrônomos Brasileiros Identificam 652 Novos Aglomerados Estelares na Via Láctea
Olá leitor!
Segue abaixo uma
matéria postada hoje (11/11) no site do jornal “O Globo” destacando que Astrônomos
Brasileiros identificam 652 novos aglomerados estelares na Via Láctea.
Duda Falcão
CIÊNCIA
Astrônomos Brasileiros Identificam 652
Novos Aglomerados Estelares na Via Láctea
Descoberta de mais de mil objetos do
tipo pelo grupo reforça
tese de que nossa galáxia tem quatro
braços principais
Por Cesar Baima
11/11/2015 - 6:00
NASA/JPL-Caltech/UFRGS
RIO – Astrônomos brasileiros
identificaram 652 novos aglomerados estelares na Via Láctea, elevando para mais
de mil o total revelado pelo grupo desde o ano passado. A descoberta destes pequenos objetos,
com cerca de dez a 20 estrelas cada, contra centenas a até milhares de
aglomerados mais maciços, ajuda a reforçar a tese de que nossa galáxia tem um
formato espiral com quatro braços principais, e não dois como defendem alguns
cientistas.
Segundo Denilso Camargo, líder da
pesquisa e atualmente professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA), os
novos aglomerados estão na sua maior parte ainda escondidos nos “casulos” de
poeira e gás onde se formaram, e por isso escapam da detecção por sistemas
automatizados de busca por objetos do tipo baseados em densidades de estrelas
visíveis. Desta forma, para encontrá-los, ele e seus colegas Charles Bonatto e
Eduardo Bica, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tiveram que
analisar “no olho” os arquivos do observatório espacial Wise, da Nasa, que
entre 2010 e 2011 escaneou todo céu pelo menos duas vezes na faixa do
infravermelho, capaz de penetrar estas barreiras.
- Sabemos que a grande maioria das
estrelas se forma em aglomerados, mas estes pequenos grupos logo se dispersam
pela galáxia, dificultando sua identificação – conta Camargo, que também é
primeiro autor do artigo que relata a descoberta, recentemente aceito para
publicação no periódico científico “Monthly Notices of the Royal Astronomical
Society” (MNRAS). - Achava-se, no entanto, que a maior parte das estrelas se
formava em aglomerados maiores, com mais de cem estrelas. Nossas descobertas,
porém, mostram que a fração que se forma em grupos estelares pequenos é mais
significativa do que se imaginava.
Mas além de revelar os múltiplos
berçários estelares de nossa galáxia, os achados, batizados Camargo 447 a
Camargo 1098, são uma importante forma de mapear como seria sua estrutura. Isso
porque, por estarmos dentro da Via Láctea, não temos como saber como é sua real
aparência vista de fora. Assim, os cientistas têm que se basear na observação
do formato de outras galáxias espirais como ela, assim como dos objetos visíveis
em seu interior. E é aí que a identificação dos novos aglomerados estelares
ganha um papel crucial.
As estrelas e seus aglomerados se formam
a partir do colapso gravitacional de grandes e frias concentrações de poeira e
gás no espaço, as chamadas nuvens moleculares. E como a maior parte deste
material está justamente nos braços da galáxia, é de se esperar que a maioria
deles se formem nestas estruturas. Desta forma, a localização dos aglomerados
revelados por Camargo e seus colegas serve de indicação sobre onde e quantos
braços a Via Láctea teria.
- Os aglomerados que estamos encontrando
são muito jovens, então eles não tiveram muito tempo para ir para muito longe
de onde nasceram – lembra Camargo. - Além disso, os aglomerados são ótimos
marcadores de distância pois, como têm muitas estrelas, as incertezas nessas
medições ficam menores. Diante disso, as distâncias que estimamos destes mais
de mil aglomerados indicam que a maior parte deles está sobre estes braços, e
que a Via Láctea tem quatro destas grandes estruturas.
Camargo conta ainda que as descobertas
estão ajudando a sanar dúvidas quanto à atividade do braço mais externo de
nossa galáxia, que junto com os braços batizados Perseus e Scutum-Centaurus,
mais proeminentes e lotados de estrelas, e o Sagittarius-Carina, menos ativo,
mas com tanto material quanto os outros, formariam a imagem da Via Láctea com
quatro destas estruturas principais. Neste cenário, o Sol estaria próximo á
beira de um braço menor chamado Órion-Cygnus, entre trechos do de Sagittarius-Carina
e de Perseus e aproximadamente a dois terços do caminho do braço externo ao
núcleo galáctico.
- A existência deste braço externo era
conhecida apenas por sua concentração de gás e achava-se que ele seria muito
tênue, com pouca formação de estrelas – diz. - Agora, porém, descobrimos vários
aglomerados que mostram que sim, há uma formação significativa de estrelas
neste braço externo, e ajudam a traçá-lo como um braço efetivo.
Por fim, a pesquisa também joga nova luz
sobre como nossa galáxia gera novas estrelas, assim como a possível origem de
alguns dos aglomerados estelares gigantes que vemos nela. Segundo Camargo, a
profusão de pequenos aglomerados na Via Láctea sugere uma espécie de “efeito
dominó”, com fenômenos como a explosão de supernovas, a ação do vento de
estrelas maciças já existentes e o próprio movimento dos braços em sua órbita
em torno do núcleo galáctico comprimindo as nuvens de gás e poeira neles, dando
início ao seu colapso gravitacional e fragmentação em diversos aglomerados estelares
menores, a que chamam de agregados de aglomerados.
- Nossa pesquisa sugere que uma nuvem
inteira ou até mesmo um complexo de nuvens podem colapsar quase
simultaneamente, dando origem a inúmeros aglomerados próximos entre si –
explica Camargo. - Desta forma, definimos estes agregados de aglomerados
estelares como grupos de aglomerados ligados entre si no espaço e no tempo,
formados juntos após o colapso e fragmentação de uma nuvem molecular ou um
complexo delas. E como não encontramos agregados de aglomerados velhos, e até
mesmo pares são raros, concluímos que ou eles se fundem ou se dispersam. Então,
muitos dos aglomerados maciços que vemos hoje podem ter sua origem na fusão
destes aglomerados menores.
O astrofísico conta que ele e seus
colegas continuam a buscar novos aglomerados nos dados do Wise para refinar
ainda mais o seu mapa da real estrutura da Via Láctea. Mas eles estão com foco
também em objetos do tipo mais afastados do disco galáctico, como os Camargo
438 e 439. Localizados a uma distância de cerca de 16 mil anos-luz do plano
principal da Via Láctea e caindo balisticamente em direção a ele, estes dois
aglomerados tiveram sua descoberta relatada em outro artigo publicado pelo trio
de cientistas em fevereiro deste ano também no periódico MNRAS.
- Não se esperava que estes objetos
pudessem ser encontrados a esta distância do disco da nossa galáxia – lembra
Camargo. - Queremos entender se eles foram formados por material do disco
lançado para fora da Via Láctea por algum fenômeno ou de material vindo do
espaço intergaláctico.
Fonte: Site do
Jornal o Globo - http://oglobo.globo.com
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