Conferência Espacial das Américas Enfatiza Educação, Telemedicina e Desastres Naturais
Olá leitor!
Segue abaixo mais um interessante
artigo escrito pelo Sr. José
Monserrat Filho e postado pelo
companheiro André Mileski ontem (23/11) em seu no Blog Panorama Espacial.
Duda Falcão
Conferência Espacial das
Américas Enfatiza
Educação, Telemedicina e Desastres Naturais
José Monserrat Filho *
A 7ª Conferência Espacial
das Américas ocorreu, de 17 a 19 de novembro, em Manágua, capital da
Nicarágua – país da América Central com 130 mil km² (área equivalente a dos
Estados de Pernambuco e de Alagoas juntos), e seis milhões de habitantes, onde
o grupo empresarial privado chinês HKND (Kong Kong Nicaragua Canal Development)
deve construir, até 2020, um canal interoceânico de 278 km, ao custo
estimado de 50 bilhões de dólares.
Nicarágua entra na Era
Espacial com os satélites de
telecomunicações Nicasat-1 e Nicasat-2, produzidos na China, que serão
lançados, respectivamente, em 2016 e 2017, e com uma Estação do Glonass, o
sistema russo de navegação espacial, a ser instalada no país, com base em
acordo firmado com a Roscosmos, a agência espacial da Rússia.
Tema geral da 7ª
Conferência: “Ciência e Tecnologia para o
Desenvolvimento Humano em um Ambiente de Cooperação, Cultura da Paz e do
Respeito ao Direito Espacial Internacional”.
A 6ª Conferência, realizada no
México, teve este tema geral: “Espaço e Desenvolvimento: As Aplicações
Espaciais a Serviço da Humanidade e do Desenvolvimento das Américas”.
As seis Conferências
Espaciais anteriores foram realizadas em
San José de Costa Rica (1990), Santiago de Chile (1993), Punta del Este,
Uruguai (1996), Cartagena de Índias, Colômbia (2002), Quito, Equador (2006) y
Pachuca, México (2010).
Delegações oficiais de nove
países das Américas compareceram à 7ª Conferência: Argentina, Canadá, Chile,
Cuba, Estados Unidos, México, Panamá, Uruguai e Venezuela.
O Brasil não pôde enviar
representantes, como em encontros
anteriores. Fui convidado a título pessoal, para proferir uma conferência.
Escolhi falar sobre “A Cooperação Espacial no Mundo do Século 21”. Tive
oportunidade, igualmente, de participar dos debates sobre outras questões e de
apresentar propostas ao encontro. Dei especial atenção à cooperação em
telemedicina por satélite, acoplada com programas de educação espacial.
As agências espaciais da
Itália (ASI) e da Rússia (Roscosmos)
também tiveram ativa participação, bem como o Escritório das Nações Unidas para
Assuntos do Espaço Exterior (UNOOSA), com sede em Viena, Áustria, que ajudou na
promoção do evento.
A 7ª Conferência foi
conduzida pelo Vice-Presidente da Nicarágua,
General Moisés Omar Haleslevens, coadjuvado pelo Presidente do Conselho
Nacional de Universidades (CNU) e Ministro Assessor da Presidência da
República, Francisco Telémaco Talavera, pelo Ministro Secretário de Políticas
Públicas, Paul Oquist, e pelo Coordenador do Comitê Científico do evento,
Dionísio Rodríguez, professor e pesquisador do Instituto de Geologia e
Geofísica da Universidade Nacional Autônoma de Nicarágua (UNAN-Manágua).
Participou ativamente dos
trabalhos do evento a representante permanente da Nicarágua nas Nações Unidas,
diplomata Maria Rubiales de Chamorro.
O Presidente da Nicarágua,
Daniel Ortega Saavedra (1945-), enviou
mensagem especial aos participantes da 7ª Conferência. Ortega preside o país
pela terceira vez (1985-90, 2006-11 e 2012-2016). Foi um dos nove comandantes
da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN, fundada em 1961, hoje
convertida em partido político), que, em 1979, derrubou a ditadura de Anastácio
Somoza Debayle (1925-1980), pondo fim à dinastia da família Somoza,
estabelecida em 1936.
A 7ª Conferência aprovou a
Declaração de Manágua e um Plano de Ação,
e, ao final, promoveu uma reunião de trabalho entre todos os participantes para
recolher ideias e propostas práticas destinadas a ampliar os horizontes da
Secretaria Pro Tempore da 7ª Conferência, que a partir de agora tem sede em
Manágua, sob a responsabilidade direta do Vice-Presidente do país.
A Declaração de Manágua ressalta as recomendações adotadas pela Conferência de
Cúpula das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, reunida em Nova
York, de 25 a 27 de setembro último, bem como “a urgência de impulsionar a
educação em ciência e tecnologia espacial como instrumento fundamental para o
aproveitamento de seus benefícios potenciais, e insta os países da região a
redobrar esforços neste sentido...”. Frisa, ademais, que “os países devem
se comprometer a formular e executar políticas, programas e projetos de
cooperação internacional que contribuam para fortalecer os planos de
desenvolvimento setorial, cuja estratégia de implementação exija a aplicação de
conhecimentos científicos e tecnológicos no uso pacífico do espaço exterior”.
A Declaração diz ainda que “a exploração e o uso do espaço exterior
devem realizar-se em benefício e no interesse de todos os Estados, sem nenhuma
discriminação, em condições de igualdade e com liberdade de acesso”, como reza
a chamada “Cláusula do Bem Comum”, inscrita no Art. I do Tratado do Espaço, de
1967, considerado “o código maior das atividades espaciais”.
A propósito, a 7ª Conferência
Espacial das Américas “faz um apelo aos países desenvolvidos para que apoiem,
em matéria de cooperação científica e tecnológica, os países em
desenvolvimento, conforme expressa a Parceria Global da Agenda Pós-2015 para o
Desenvolvimento, aprovada por todos os Estados-Membros das Nações Unidas”.
Essa Parceria Global, segundo a
Agenda Pós-2015, baseia-se “no espírito de solidariedade global fortalecida,
com ênfase especial nas necessidades dos mais pobres e mais vulneráveis e com a
participação de todos os países, todas os grupos interessados e todas as
pessoas”.
Entre as recomendações da 7ª
Conferência estão:
1) Identificar novas fontes de
financiamento para implementar ações de desenvolvimento que viabilizem o
Plano de Ação aprovado no evento;
2) Fortalecer as instituições
espaciais de cada país e da região encarregadas de desenvolver programas e
projetos baseados em ciência e tecnologia espacial, tendo em vista implementar
as recomendações formuladas na Declaração de Manágua;
3) Apoiar a difusão do ensino
de ciência e tecnologia espacial em todos os níveis, adotar políticas de
divulgação de temas espaciais e trabalhar para que a sociedade em geral conheça
a importância do uso das tecnologias espaciais;
4) Criar mecanismos para o
acesso oportuno à informação e às tecnologias espaciais relacionadas com a
prevenção, redução, atenção e remediação aos desastres causados por fenômenos
naturais e antropogênicos;
5) Contribuir para o
monitoramento dos recursos naturais e a proteção do meio ambiente por meio de
tecnologias espaciais;
6) Fomentar a utilização de
aplicações espaciais – como a teleducação, a telemedicina, as telecomunicações,
o acesso e a conexão por meio das tecnologias da informação e da comunicação
(TICs) – que permitam a inclusão da população no desenvolvimento econômico,
social e cultural;
7) Reafirmar a importância da
cooperação internacional no uso e aplicação das tecnologias espaciais como
mecanismo para fortalecer a paz, a segurança e a promoção do desenvolvimento
humano por meio da utilização pacífica do espaço exterior;
8) Estabelecer o Grupo Técnico
Espacial Consultivo (GTEC), de acordo com o ponto 15 da Declaração de Pachuca
2010, integrado por representantes das Agências Espaciais e as entidades
governamentais responsáveis pelos assuntos espaciais dos países do continente,
com o fim de fortalecer a atuação da Secretaria Pro Tempore;
9) Seguir examinando a
viabilidade e a pertinência da criação de um organismo espacial regional para
impulsionar projetos de cooperação de interesse comum para o desenvolvimento de
tecnologias espaciais e suas aplicações.
O Plano de Ação inclui “a participação, cooperação e intercâmbio em programas e
projetos relacionados com (a) educação, pesquisa e desenvolvimento de ciências,
tecnologias e aplicações espaciais; (b) proteção do meio ambiente e apoio ao
desenvolvimento sustentável; (c) prevenção e mitigação dos desastres naturais;
(d) mudanças climáticas; (e) direito espacial; (f) agricultura e segurança
alimentar; (g) proteção do patrimônio cultural da humanidade; e (h)
aproveitamento racional dos recursos naturais”.
Do Plano de Ação constam também
o compromisso de “promover a participação ativa de instituições acadêmicas,
científicas e jurídicas, de dentro e de fora da região, bem como de agências,
comissões, entidades espaciais governamentais, dos organismos especializados do
sistema das Nações Unidas, em projetos de cooperação regionais e
internacionais”.
O Plano de Ação busca ainda
fortalecer “a difusão dos temas espaciais na região, para criar uma consciência
coletiva sobre sua importância, utilização e aplicação”, e insta à participação
e ao apoio do Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior
(UNOOSA) na realização de oficinas de trabalho, simpósios, conferências sobre o
desenvolvimento das ciências, tecnologias espaciais, bem como de sua área jurídica,
que ajudem a implementar o Plano de Ação”.
A Venezuela candidatou-se para sediar a 8ª Conferência Espacial das
Américas, dentro de três ou quatro anos.
A Nicarágua, como o país mais
pobre entre os que já acolheram as Conferências Espaciais das Américas, tem
agora a chance de liderar – por meio de sua Secretaria Pro Tempore – programas
e projetos de cooperação espacial em todo o continente. Logo veremos o que
conseguirá realizar, com a ajuda de outros países, tanto de dentro, como de
fora das Américas.
Como primeiro passo, a
Nicarágua bem que poderia concentrar-se num programa piloto conjunto de
educação espacial e telemedicina por satélite, capaz de reunir e beneficiar
países da América Central e Caribe, nos campos essenciais da educação e da saúde
pública. Seria um começo apropriado e extremamente útil para a região, com
ampla repercussão em todo o mundo.
* Vice-Presidente da
Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial (SBDA), Diretor
Honorário do Instituto Internacional de Direito Espacial, Membro Pleno da
Academia Internacional de Astronáutica (IAA) e ex-Chefe da Assessoria
Internacional do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da
Agência Espacial Brasileira (AEB). Esse artigo expressa apenas a opinião do
autor.
Fonte: Blog Panorama Espacial - http://panoramaespacial.blogspot.com.br/
Comentário: Olha deve haver alguma explicação para a não
participação brasileira nesta importante conferencia. Porém duvido muito que seja uma boa explicação
diante do banana que temos a frente de nossa Agência Espacial de Brinquedo
(AEB).
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