Grupo da UFC Constrói Foguetes em Fortaleza
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessantíssima matéria publicada hoje
(14/05) no site do jornal “Diário do Nordeste” de Fortaleza (CE), tendo como
destaque as atividades espaciais do “Grupo de Desenvolvimento Aeroespacial
(GDAe)” da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Duda Falcão
Grupo Constrói Foguetes em Fortaleza
O Grupo de Desenvolvimento Aeroespacial começou por
iniciativa de alunos
e hoje é um projeto de extensão da Universidade Federal
do Ceará (UFC)
Por: Jacqueline Nóbrega
Diário do Nordeste
Publicado em 14/05/2018
Ainda que a engenharia espacial seja uma realidade
distante em Fortaleza, o Grupo de Desenvolvimento Aeroespacial (GDAe) nasceu
com o intuito de estudar a ciência e construir foguetes. A ideia surgiu em
2015, quando alguns alunos da Universidade Federal do Ceará (UFC) criaram um
grupo para discutir o assunto. Em 2017, sob a orientação do professor e físico
por formação Claus Wehmann, virou projeto de extensão. Com 22 integrantes,
todos estudantes de cursos de engenharia da instituição, o GDAe funciona dentro
de uma casa feita de plástico, localizada no campus do Pici, e que
anteriormente abrigava outro projeto.
"Tudo começou no 2º semestre de 2015. Eu e uns
amigos estávamos conversando porque nos interessava essa área de engenharia espacial,
só que não tinha nada na UFC sobre o assunto, nenhum núcleo de estudo. O grupo
surgiu para estudar foguetes. Foi quando descobrimos que precisávamos chamar um
professor, para ser nosso orientador, e indicaram o professor Claus. Ele até já
tinha um grupo, que era menor, que já estava fazendo alguns projetos nessa
área. Nós pedimos para ele abrir o grupo para todas as engenharias. Nem tinha
um nome ainda, depois que surgiu a ideia do nome Grupo de Desenvolvimento
Aeroespacial", explica Renan Capistrano, ex-integrante do grupo.
“No Brasil a gente não tem um programa espacial
bem desenvolvido. Desde que eu me dedico a essa
área, percebo que existe uma necessidade do nosso
País de desenvolver essa ciência
Emanuel Santos, Estudante de Engenharia”
Do ponto de vista do orientador, a ideia desde o início
era fomentar essa área de pesquisa, já que ela não existe formalmente na
Universidade. "E ainda aproveitar algumas características da nossa região.
Nós temos uma base de lançamento em Natal, por exemplo, que tá, de certa forma,
um pouco ociosa, e também apareceu bastante estudante interessado no assunto.
Da minha parte, o grupo começou porque eu tive algumas experiências na minha
formação, principalmente na área espacial, com algumas equipes da Universidade
Técnica de Munique (Alemanha). Eu conheci uma equipe lá basicamente formada por
estudantes que desenvolvia foguetes e achei interessante trazer a mesma
proposta pra cá".
Foto: Divulgação
Integrantes do GDAe em frente à casa de plástico que
funciona como oficina do projeto de extensão.
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"No Brasil a gente não tem um programa espacial bem
desenvolvido. Desde que eu me dedico a essa área, percebo que existe uma
necessidade do nosso País de desenvolver essa ciência. O GDAe não visa só
estudar foguetes, mas discutir tudo que está por trás disso. Acredito que
quando o grupo foi criado, o intuito era estudar e desenvolver nosso próprio
método, utilizando o que já existe, de teorias a livros, pra gente fazer algo
brasileiro que seja relacionado à área espacial", comenta ainda Emanuel
Santos, estudante de engenharia mecânica.
Quando oficialmente se tornou projeto de extensão, a
equipe do GDAe passou a divulgar em eventos universitários o programa. O fato
de no início não terem um local para se reunir dificultou para colocar as
ideias em andamento. Eles ganharam um espaço físico somente este ano, e
colocaram literalmente a mão na massa para transformar o lugar em "lar do
projeto". Parte da reforma foi resultado de um crowdfunding. No entanto,
mesmo com pouco tempo de vida, já participaram de eventos como a Competição
Brasileira Universitária de Foguetes (COBRUF).
"Apesar de participarmos de eventos, a proposta que
eu faço ao grupo é o desenvolvimento da tecnologia em si. O GDAe não é uma
equipe de competição e, sim, organizada para disseminar o conhecimento da área
espacial. É para ser também uma semente para o desenvolvimento na área aqui na
Universidade", pontua Claus.
Cogitou-se Construir um Centro de Lançamento no Ceará
Existem dois centros de lançamento de foguetes no Brasil,
o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), em Alcântara (MA), e o Centro de
Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), em Parnamirim (RN). Atualmente, não
existe dentro da Força Aérea Brasileira (FAB) projeto para a construção de um
novo centro no País. No entanto, na década de 1970, quando se estudou a
construção de um novo sítio de lançamento em complemento às atividades do
centro do Rio Grande do Norte, o município de Jaracati (CE) chegou a ser
cogitado como um dos possíveis locais. Entretanto, as condições de Alcântara se
mostraram mais favoráveis para a implantação do centro de lançamento.
Centro de Lançamento de Alcântara (CLA)
O Centro de Lançamento de Alcântara foi criado em 1983
para atender as atividades de lançamento e rastreio de engenhos aeroespaciais e
de coleta e processamento de dados e a execução de testes e experimentos de
interesse do Comando da Aeronáutica relacionados com a Política Nacional de
Desenvolvimento das Atividades Espaciais. Por meio dos lançamentos realizados
em Alcântara, a indústria nacional, institutos de pesquisa e instituições de
ensino passaram a ter acesso ao ambiente de microgravidade, por exemplo,
realizando estudos e pesquisas essenciais para o desenvolvimento de novos
produtos e aperfeiçoamento de tecnologias.
Fotos: SGT Rezende / Força Aérea Brasileira
Agência Força Aérea / SGT Johnson
* 479 veículos foram lançados pelo CLA
* 392 lançamentos nacionais e 83 em parceria com
outros países
* 2º18' sul da linha do equador é a posição
geográfica do CLA, considerada estratégica e privilegiada
* 30% é a economia de combustível dos veículos
lançados em comparação com outros centros, devido sua localização
Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI)
O Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI),
localizado no litoral do Rio Grande do Norte, é uma organização da Força Aérea
Brasileira (FAB) criada em 1965 com a missão de preparar e rastrear engenhos
aeroespaciais lançados pelo próprio CLBI e também provenientes dos centros de
lançamento em Alcântara e na Guiana Francesa, da França. Sua estrutura inclui
um centro de meteorologia, uma casamata, antenas de comunicação e telemetria,
um centro de preparação de foguetes, plataformas de lançamento e estruturas de
apoio, que atendem pesquisadores e militares durante as campanhas de
lançamento.
* 3000 foguetes já foram lançados da base
* 200 veículos espaciais lançados a partir da
Guiana Francesa foram rastreados, entre eles os foguetes Ariane, Soyuz e Veja
* 1ª base de lançamentos de foguetes da América do
Sul
* 524 km de distância de Fortaleza fica o Centro
de Lançamento da Barreira do Inferno
Projetos do GDAE
Ao longo desses
meses de trabalho, o grupo desenvolveu dois projetos. Um deles é o Thunder, que
é um propelente sólido, ou seja, um foguete mais simples que usa um motor. O
outro é chamado de Projeto Hermes, um foguete híbrido capaz de atingir 5.000
metros de altitude, e tido como projeto principal da equipe no momento.
Com o projeto do
foguete em mãos, eles também pensam em uma missão. A Missão Dragão do Mar foi
pensada para o foguete Hermes. "Geralmente as pessoas criam uma missão
relacionada ao objetivo desse foguete. E a nossa missão é basicamente lançar um
foguete que use tecnologia híbrida, atinja um apogeu de 5 mil quilômetros e
seja lançado do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno. Acho que a gente
não vai levar nenhuma carga paga dentro do foguete. A missão se resume a lançar
o foguete mesmo, porque, em termos universitários, já é um feito muito
grande". A ideia é que a Missão seja finalizada, com o lançamento, ainda
em 2018, segundo o relato de Emanuel.
Foto: Saulo Roberto
Oficina do grupo. Boa parte das coisas que eles têm
foram
compradas à base de rifa ou de doação.
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Já o foguete Thunder utiliza nitrato de potássio e açúcar
como combustível. A ideia do grupo é que ele seja lançado entre maio e junho,
em uma área isolada da Fazenda Experimental Vale do Curu, da UFC, em
Pentecoste. Para que o lançamento aconteça, o grupo precisa de uma autorização
da Força Aérea Brasileira (FAB).
"Nesse primeiro lançamento testaremos os pequenos
sistemas, como o de recuperação e o de controle de altitude. Na segunda fase,
ele vai ser aprimorado, e colocaremos uma carga útil, que é um experimento de
outro professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Depois de testados,
esses sistemas serão colocados no Hermes. O Thunder funciona como uma
validação", reforça Claus.
Os alunos utilizam variados tipos de material para
construir os foguetes, desde cano PVC a aço inox. Para construir o paraquedas,
eles usam tecido e barbante comum. Uma impressora 3D, que o professor comprou
para uso pessoal, também é utilizada. "O projeto não tem um financiamento
oficial. Boa parte das coisas que existem aqui foram compradas à base de rifa
ou nos juntamos para comprar ou foram doadas", explica ainda o professor.
"Também tem a parte eletrônica, que precisa ser
validada, que são alguns sensores como altímetro, acelerômetro, etc",
acrescenta o estudante Davi Mendes. Em média, eles levam nove meses para
construir um foguete.
No Ceará, o GDAe é pioneiro em sua proposta. Como antes
não tinham uma oficina, eles aproveitavam a parceria com o Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) para desenvolver peças do
foguete em espaços da instituição. Com isso, alunos do IFCE quiseram montar seu
próprio grupo e o intitularam de Baladeira e Rocket Time. "Fizemos uma
palestra lá, devido a parceria, e apresentamos o projeto do nosso grupo.
Tiveram muitos interessados no assunto e o professor Claus manteve contato com
os professores, por isso o grupo acabou surgindo. Como todo começo, é
complicado por conta da falta de apoio. A gente mantém a troca de ideia e
acabou se tornando uma espécie de tutor deles", conta Davi.
Mercado de Trabalho
O grupo assume que no Ceará o mercado é zero para
engenharia espacial. "Na verdade, minha opinião pessoal sobre o assunto é
que a área espacial brasileira se resume muito aos institutos, como o
Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, onde fica o Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (ITA); o Instituto de Aeronáutica e Espaço e o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. E eles, assim como a Universidade,
têm sofrido com a falta de financiamento. O Programa Espacial Brasileiro tem
sofrido com o corte de verbas. O engenheiro que quer lidar com essa área
aeroespacial tem que se vincular a esses projetos. Existem algumas empresas,
como a Avibras, que desenvolvem algumas coisas porque lidam com foguetes com
foco em armamento, mas não é voltado pra área espacial. Atualmente o
desenvolvimento espacial já saiu do âmbito do governo há muito tempo. Quem
sabe, esse pessoal saindo da Universidade... Existem ex-alunos que pensam em
fazer uma startup na área espacial", explica Claus.
Quando se trata de referência, Estados Unidos é o nome
citado por eles na área. "A Índia é um caso à parte porque eles têm um
apoio enorme do governo e o engraçado é que conseguem fazer as coisas com uma
verba relativamente menor que os Estados Unidos ou a China. Eles conseguiram
desenvolver muitas coisas com um orçamento mais modesto", diz ainda o
professor.
A gente se preocupa em capacitar todos os membros
para saber gerir. O engenheiro, no final da carreira
dele,
é um gerente. No começo a gente pensava só na
parte técnica, mas chegou o momento que sentimos
a necessidade de deixar o GDAe mais profissional,
transformá-lo numa empresa
Davi Mendes”
Apesar disso, o projeto pode ajudá-los em qualquer
segmento da profissão que optarem. "A gente se preocupa em capacitar todos
os membros para saber gerir. O engenheiro, no final da carreira dele, é um
gerente. No começo a gente pensava só na parte técnica, mas chegou o momento
que sentimos a necessidade de deixar o GDAe mais profissional, transformá-lo
numa empresa. Foi quando nos reorganizamos, e montamos núcleos como o
marketing, gestão de pessoas, etc", comenta Davi.
Foto: Saulo Roberto
As mulheres ainda são minoria no GDAe.
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"O engenheiro tem que solucionar problemas com os
recursos que, às vezes, são escassos e no melhor tempo possível. Mesmo que eu
não vá para a área espacial, seja lá pra onde formos, a gente vai poder usar o
que aprendeu", completa Emanuel.
A cada semestre um processo seletivo é feito para novos
integrantes entrarem no grupo. Agora em maio, nos dias 16 e 17, também acontece
a I Jornada Cearense de Foguetes, organizada pelo GDAe em parceria com o órgão
Seara da Ciência. Podem participar do evento estudantes dos níveis fundamental,
médio e superior do Ceará.
As equipes que obtiverem no lançamento alcance acima de
100 metros serão classificadas para participar da 13ª Jornada de Foguetes,
evento realizado pela Mostra Brasileira de Foguetes (Mobfog), que ocorrerá em
novembro, em Barra do Piraí, no Rio de Janeiro.
O objetivo da jornada é divulgar de forma lúdicas as
áreas de astronomia, engenharia espacial, física e astronáutica. O evento ainda
terá exposições e palestra com o professor João Canalle, coordenador da
Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica.
Serviço
Grupo de Desenvolvimento Aeroespacial
Fonte: Site do Jornal Diário do Nordeste - 14/05/2018
Comentário: Simplesmente fantástico esta matéria e como
nordestino fico orgulhoso de ver essa galerinha cearense se destacando nesta que
é atividade de mais futuro para a humanidade. Parabéns a UFC por apoiar esta
grande iniciativa e em especial o nosso agradecimento ao Prof. Claus Wehmann
por acreditar e apoiar esta iniciativa. Infelizmente para nos aqui na Bahia
ainda nos falta um orientador de visão como o Prof. Claus Wehmann, mas estamos
tentando trabalhar nisso. No entanto galera, não se furtem em participar do
Festival Brasileiro de Minifoguetes, vocês tem muito a contribuir. Aproveitamos para agradecer a nossa leitora Mariana Amorim Fraga pelo envio desta matéria.
Oi mr.Duda Falcão, muito obrigado pela sua resposta na investigação da Garatea-L, estou feliz em saber que ela continua a se desenvolver em bons termos. Parece-me uma missão muito importante para o Brasil e também para toda a América Latina e, por que não, para todos os países emergentes, que estão dando seus primeiros passos ... porque mostraria que com um pouco de orçamento você pode fazer ciência de primeiro nível ...
ResponderExcluirQuanto ao VLM-1, espero que consigam tirá-lo, além do satélite Sabia-Mar com a Argentina, que espero que sirva como um embrião para grandes colaborações entre essas duas agências espaciais e, por que não, para uma futura ESA na América Latina. .
Eu não conhecia o projeto NanosatC-Br2, outro projeto interessante, e outro grande exemplo que os cubestats são uma revolução incrível para o setor espacial ...
E sinto muito pelo meu português, usei o tradutor ...
s2