Estudo Com Participação Brasileira Mostra Que Asteroide Extrassolar Orbita o Sol Há 4,5 Bilhões de Anos
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria publicada ontem (21/05) no site
da Agência FAPESP, destacando que um estudo com participação brasileira baseado
em robusta simulação computacional indica que Asteroide Extrassolar orbita o
Sol há 4,5 bilhões de anos.
Duda Falcão
Notícias
Asteroide Extrassolar Orbita
o Sol Há 4,5 Bilhões de Anos
Por José Tadeu Arantes
Agência FAPESP
21 de maio de 2018
(imagem: Royal Astronomical Society)
O Sistema Solar é muito mais vasto e complexo do que
usualmente se supõe. Estima-se que o predomínio do campo gravitacional do Sol
sobre os campos gravitacionais das estrelas próximas se estenda por cerca de
dois anos-luz (125 mil unidades astronômicas). Isso significa que a luz emitida
pelo Sol leva aproximadamente dois anos para alcançar os confins do Sistema
Solar.
Nesse enorme nicho gravitacional, aninham-se e orbitam
milhões de objetos: planetas, luas, cometas, asteroides, meteoroides etc. No
conjunto, um objeto se diferencia de todos os demais, constituindo, por assim
dizer, o “estranho no ninho”. Trata-se do asteroide (514107) 2015 BZ509,
Sua peculiaridade é ter trajetória retrógrada – isto é,
orbitar o Sol em sentido contrário ao dos demais corpos. O sentido retrógrado
do movimento combinado com a estabilidade da órbita pela idade do Sistema Solar
legitimam a interpretação de que o (514107) 2015 BZ509 seja um objeto de origem
extrassolar, capturado pelo campo gravitacional de Júpiter no final da época de
formação dos planetas. Um estudo baseado em robusta simulação computacional
corroborou agora essa hipótese. Artigo a respeito foi publicado no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society: Letters.
Maria Helena Moreira Morais, professora do Instituto de
Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus
de Rio Claro, e coautora do artigo com Fathi Namouni do Observatoire de la Côte
d’Azur (França), teve sua participação no estudo apoiada pela FAPESP por meio
do projeto “Tópicos de dinâmica orbital e métodos de aprendizagem de
máquinas para análise de dados de sistemas planetários”.
“Nós já havíamos construído uma teoria que explica o
movimento desse asteroide. E, em 2017, publicamos um artigo a respeito na
revista Nature (leia mais em http://agencia.fapesp.br/25166/).
“Para tentar compreender a origem do objeto, fizemos
depois simulações em larga escala, que resultaram no novo artigo que saiu agora
na Monthly Notices of the Royal Astronomical Society: Letters”,
disse Morais à Agência FAPESP.
A necessidade da simulação em larga escala se deve a dois
fatores: primeiro, à margem de erro nas observações astronômicas relativas às
órbitas dos corpos celestes; segundo, ao fato de que a interação gravitacional
com os planetas do Sistema Solar introduz nos movimentos um componente caótico,
de forma que uma diferença muito pequena nas condições iniciais pode resultar
em diferenças enormes ao cabo de bilhões de anos.
“Para superar esses problemas, tivemos que fazer um
estudo estatístico muito pesado, simulando um milhão de órbitas. Estudos nessa
escala nunca haviam sido feito antes. Geralmente, as simulações consideram, no máximo, mil
possibilidades”, disse a pesquisadora.
As simulações incluíram o efeito gravitacional dos
planetas e também o efeito gravitacional da Galáxia, porque, para objetos
afastados do Sol, esse componente se torna relevante. E permitiram retraçar a
trajetória de (514107) 2015 BZ509 há 4,5 bilhões – época correspondente ao
final da fase de formação dos planetas. Verificou-se que sua órbita permaneceu
estável desde então, dentro dos limites da margem de erro.
Isso permitiu diferenciar claramente o (514107) 2015
BZ509 de outros asteroides em órbitas retrógradas, pertencentes ao grupo dos
Centauros. Estes são asteroides comuns que foram arremessados para os confins
do Sistema Solar, para a região denominada Nuvem de Oort, devido à
instabilidade gravitacional provocada pelo rápido crescimento dos planetas gigantes.
As trajetórias desses Centauros tinham inicialmente o
mesmo sentido das trajetórias dos demais corpos do Sistema Solar. Mas, devido à
extrema distância em relação ao Sol, passaram a sofrer relevante influência
gravitacional da Galáxia, que alterou seu movimento, fazendo com que alguns
deles se tornassem retrógrados. Esse processo demorou cerca de 1 bilhão de
anos. Depois, alguns Centauros foram puxados de volta para a região de
influência dos planetas gigantes.
O estudo estatístico mostrou que nada disso ocorreu com o
(514107) 2015 BZ509. Ele ocupa estavelmente a faixa correspondente à órbita de
Júpiter há pelo menos 4,5 bilhões de anos. É um coorbital retrógrado de
Júpiter.
“A conclusão que se impõe é que esse asteroide não se
originou no Sistema Solar. Ele deve ter-se desgarrado do sistema de uma estrela
vizinha e sido capturado pelo poderoso campo gravitacional de Júpiter. É o
sincronismo com Júpiter que confere estabilidade à sua órbita”, disse Morais.
Oumuamua, Um Asteroide Extrassolar
A migração de objetos de um sistema para outro não é
impossível. O Sol formou-se em conjunto com outras estrelas num berçário
estelar e assim a densidade de estrelas nas vizinhanças do Sol no passado era
maior do que hoje. As estrelas vizinhas afastaram-se posteriormente. Estudos
recentes mostram que a própria nuvem de Oort pode ser constituída em parte por
objetos capturados de outras estrelas na infância do Sistema Solar.
“No fim de 2017, nosso sistema foi visitado por outro
asteroide extrassolar, o Oumuamua [cujo nome significa “mensageiro de longe que
chega primeiro” em havaiano]. Mas veio com tanta velocidade que a atração do
Sol provocou em sua trajetória apenas um pequeno encurvamento, tornando-a
hiperbólica. Precisaria ter vindo com menos velocidade para que a trajetória se
tornasse elíptica e fosse assim capturado pelo Sistema Solar”, disse Morais.
O estudo do (514107) 2015 BZ509 não se encerrou. De fato,
está apenas começando. Esse objeto é testemunha da infância do Sistema Solar. E
poderá fornecer informações preciosas sobre o ambiente existente nas cercanias
do Sol quando o Sistema se formou.
“Talvez possamos avançar ainda mais, se conseguirmos
determinar sua composição química. Dado que os sistemas estelares têm
composições químicas distintas, asteroides imigrantes, como o (514107) 2015
BZ509, podem ter enriquecido o Sistema Solar com elementos que não existiam
aqui originalmente. E, assim, possivelmente contribuído para o surgimento da
vida na Terra”, disse Morais.
O artigo An interstellar origin for Jupiter’s
retrograde co-orbital asteroid (doi:10.1093/mnrasl/sly057), de F.
Namouni e M. H. M. Morais, está disponível em https://academic.oup.com/mnrasl/article-abstract/477/1/L117/4996014?redirectedFrom=fulltext.
Fonte: Site da Agência FAPESP
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