A OrionSpace Internacional, Opção Descartada


Olá leitor!

Para que os amigos possam entender um pouco melhor sobre esse desentendimento que vem ocorrendo com a direção da Alcântara Cyclone Space (ACS) e os militares do MD/CTA/IAE que resultaram em atritos que já foram relatados aqui pelas notas postadas anteriormente, vamos voltar ao ano de 2004, pouco depois da assinatura (21/10/2003) desse tratado problemático entre o Brasil e a Ucrânia, visando o projeto do foguete Cyclone-4. Nesse ano foi apresentada por via diplomática uma oferta de acordo pelos russos (não confundi o acordo que já está homologado e em andamento) que gostaria que os leitores que não acompanharam na época esse fato possam tirar dele suas próprias conclusões.

Para tanto, segue abaixo uma matéria publicada dia 26/05/2004 pelo jornal Folha de São Paulo que divulgava na época o teor desse acordo proposto ao governo brasileiro. A grosso modo, houve na época uma disputa de projetos entre o MCT e AEB, que defendiam o projeto do Cyclone 4 com os ucranianos, e o Ministério da Defesa e o Comando da Aeronáutica, que apoiavam essa proposta da Orion Space Ventures. No final a ACS que era representada pelo lado político levou a melhor em detrimento dos que representavam o lado técnico.

Duda Falcão

Russos Querem Lançar Satélites do Brasil

26/05/2004 - 05h09
SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Um consórcio de empresas russas está abrindo uma companhia no Brasil para oferecer serviços de lançamento de satélites a partir do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão. Detalhe: o governo brasileiro não aprovou o uso da base no projeto.

A falta de aval oficial e de um acordo de salvaguardas tecnológicas, que tornariam o negócio viável, não desanima os investidores, que já gastaram até abril cerca de US$ 2,5 milhões no projeto e anunciam abertamente, na internet (www.orionspace.com), a intenção de realizar seu primeiro lançamento até 2008.

"A verba inclui despesas, força de trabalho e outros serviços gastos pela OrionSpace Ventures e as empresas russas emparceiradas State Rocket Center e Design Bureau of Transport Machinery e vários consultores para o Órion", disse à Folha Richard Waterman, executivo-chefe do empreendimento. "O total também inclui gastos feitos em regime de risco por companhias brasileiras."

Ainda pondo panos quentes no programa espacial após o acidente com o VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites), que matou 21 pessoas em agosto do ano passado em Alcântara, a AEB (Agência Espacial Brasileira) diz estar analisando a proposta russa, feita por canais oficiais em fevereiro, na reunião bienal intergovernamental realizada entre os dois países.

Editoria de Arte/Folha Imagem

Caso o negócio vá mesmo adiante, a empresa a gerenciá-lo será brasileira --a OrionSpace Internacional, que está sendo aberta em Fortaleza, Ceará, em razão dos benefícios fiscais oferecidos. Para tocar os trabalhos, já foram criados escritórios em Brasília e no Rio. A idéia é desenvolver um veículo lançador de grande porte, chamado Órion, com base em tecnologia de empresas russas.

A porção brasileira no negócio é basicamente o fornecimento da base. Como está localizado a apenas 2,3 da linha do Equador, o Centro de Lançamento de Alcântara é um dos melhores do mundo para a colocação de satélites de telecomunicações no espaço.

Esses dispositivos normalmente são dispostos nas chamadas órbitas geoestacionárias --aquelas em que o satélite gira no mesmo ritmo do planeta, permanecendo sobre a mesma área da superfície o tempo todo. De Alcântara, a exigência de combustível é menor para atingir essas órbitas, pois um foguete pode aproveitar melhor o "empurrão" dado pela rotação da Terra, que é máximo nas regiões equatoriais.

Futuro do VLS

A proposta russa não inclui apenas o uso comercial da base de Alcântara com o Órion, mas o desenvolvimento conjunto de uma família de lançadores, que combinaria as tecnologias envolvidas no projeto russo com as já criadas pelo Brasil para o VLS-1.

"O Órion pode servir na verdade como um destino evolutivo para o programa do VLS", afirma Waterman. "Vários passos tecnológicos que poderiam ser introduzidos no VLS --propulsão líquida, aperfeiçoamento dos propulsores sólidos-- podem depois ser usados em várias configurações do veículo Órion para oferecer novas capacidade para lançamentos brasileiros e comerciais.”

Por ora, a AEB trabalha na cooperação com a Ucrânia, que já tem acordo assinado e prevê o desenvolvimento do foguete Cyclone-4 para lançamento de Alcântara. Qualquer acordo do Brasil com empresas ou o governo russo por ora fica impedido pela inexistência de um acordo de salvaguardas tecnológicas, como o que há entre brasileiros e ucranianos.

Apesar disso, Waterman diz que há sinalização no governo de que o negócio poderá prosseguir. "Tivemos discussões positivas com vários elementos do governo brasileiro, no que diz respeito ao uso de Alcântara. Um acordo formal ainda não foi executado."

A Folha apurou que a proposta russa tem apoio no seio da Aeronáutica e do Ministério da Defesa. As mesmas empresas russas envolvidas no Órion foram trazidas pela Defesa para prestar assistência na preparação do quarto lançamento do VLS-1, prometido para até o fim de 2006 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

E Waterman admite que o Órion poderia servir como uma vantagem extra oferecida pelos russos para a concorrência no Projeto F-X, que envolve a aquisição de caças para a Força Aérea Brasileira. "Mas não há condições impostas pela Rússia de que o Órion só prosseguirá se a oferta russa para o F-X tiver sucesso."


Fonte: Jornal Folha de São Paulo - 26/05/2004

Comentário: Pois é leitor, esse me parece que foi o inicio de toda discussão e desentendimento entre o MCT/AEB e os MD/CTA e que resultou nessa situação de total descontrole administrativo, ingerência política e atraso nessa área tão importante e estratégica para o país. Esse é um bom exemplo do resultado que se obtém quando da presença de políticos em cargos técnicos diretivos de órgãos públicos da área científica e de outras áreas no Brasil, ou seja, um antigo câncer que precisa ser excluído definitivamente da história desse país. Lamentável!

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