AIAB Vai a Brasília e Tenta Por 'Pá de Cal' no Projeto do VLM

Olá leitores e leitoras do BS!
 
Por Duda Falcão
 
No dia de ontem (12/01) foi postado no Likedin da 'Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB)' a nota abaixo que em nossa opinião pode colocar de vez uma 'pá de cal' em cima do projeto do Veículo Lançador de Microssatélites (VLM) e por tabela, não só enterrar definitivamente esse projeto, como também enterrar de vez o sonho brasileiro de acesso ao espaço por seus próprios meios. Leia abaixo na integra a nota em questão.
 
"O presidente da AIAB, Julio Shidara, foi recebido esta semana, no Palácio do Planalto, pelo General de Exército Augusto Heleno Ribeiro Pereira, Ministro Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR), para tratar do atual panorama da indústria espacial brasileira. A reunião ocorreu em 10 de janeiro, contando também com a participação do Contra-Almirante Marcelo da Silva Gomes, Secretário de Coordenação de Sistemas do GSI/PR e Coordenador do Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro (CDPEB), bem como do Dr. Francisco Valnor Rodrigues da Silva, Coordenador Institucional do Departamento de Acompanhamento de Assuntos Espaciais da Secretaria de Coordenação de Sistemas do GSI/PR.
 
No segmento de satélites, Shidara destacou, durante a conversa, que o último projeto de porte do PEB - Programa Espacial Brasileiro que contou com participação extensiva da indústria nacional foi a PMM – Plataforma Multi-Missão, que equipa o satélite Amazônia 1, lançado em fevereiro de 2021, da Índia, mas que o envolvimento da indústria nesse projeto terminou há quase oito anos, sem novos projetos desde então. “Trata-se de lacuna sem precedentes na história recente do PEB”, afirmou Shidara. “Sem novos projetos de satélites no curtíssimo prazo, o Brasil perderá competências tecnológicas essenciais para futuros projetos do PEB”.
 
Já no setor de lançadores, o presidente da AIAB reforçou ser fundamental o Brasil retomar o caminho de busca pela autonomia tecnológica, sem a qual, futuros projetos de lançadores do PEB ficarão seriamente comprometidos. “Infelizmente, o Brasil não alcançará autonomia como resultado de sua participação no projeto VLM – Veículo Lançador de Microssatélites, em função da divisão de trabalhos e de responsabilidades acordada entre o Brasil e a Alemanha”, declarou. O projeto defendido pela AIAB é o VLN – Veículo Lançador de Nanossatélites, que será desenvolvido de maneira incremental, com base no consolidado veículo suborbital brasileiro VSB-30, com demonstração prática de viabilidade por meio de colocação em órbita baixa de uma carga simbólica em um prazo de 18 meses, e a conclusão do projeto em três anos.
 
No momento, a AIAB luta pela priorização de alocação de recursos do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para iniciar, em 2022, os projetos do satélite ótico de observação da Terra Carponis e do VLN, os quais serão apresentados pela indústria na próxima reunião do Comitê Gestor do Fundo Setorial Espacial, prevista para fevereiro.
 
Shidara considerou o resultado da reunião como bastante positivo e encara com otimismo o futuro do PEB. “O Setor Espacial é, declaradamente, prioritário para o Governo Federal, fato que, somado ao cenário crítico atual, deve sensibilizar os tomadores de decisão a destinarem recursos suficientes para, pelo menos, iniciar os projetos do Carponis e do VLN neste ano, já que prioridade e alocação de recursos são aspectos absolutamente indissociáveis”."
 
O presidente da AIAB, Julio Shidara com o Gen. Augusto Heleno no Palácio do Planalto.

Pois então caro leitor, não demorou muito para que o jovem 'CTO' da startup espacial brasileira 'Acrux Aerospace Technologies', o Sr. Oswaldo Barbosa Loureda, postasse um comentário logo abaixo da nota da AAIB dizendo:
 
"Caros amigos, ficamos contentes com os avanços, porém é importante salientar que um VLN baseado no já consagrado VSB30 é uma proposta que a ACRUX AEROSPACE vem trabalhando e tentando levantar recursos a mais de 10 anos no Brasil, inclusive com 2 artigos publicados detalhando o design (https://www.acruxtech.com.br/news-and-papers), até o momento houve ZERO interesse de vcs em desenvolver algo em conjunto, muito pelo contrário...
 
Aproveitando o espaço, creio que a tecnologia do VSB30 já está em poder de uma de suas associadas a alguns anos, com 100% de transf. de tecnologia de algo já com enorme herança de voo, então vcs poderiam explicar por que não houve compradores até o momento, de um foguete que já estava amplamente sendo exportado?
 
Certo de que o interesse da AIAB é acima de tudo pelo progresso da nação, espero que haja melhor e mais estreitas colaborações e parcerias para viabilizar um cenário de desenvolvimento e COMPETITIVIDADE real da indústria espacial nacional."
 
Caro leitor, enquanto para muitos essa tentativa do presidente da AIAB de colocar uma 'pá de cal' no Projeto do VLM possa parecer uma iniciativa positiva, na verdade ela representa o que estamos combatendo há muitos anos, ou seja, o 'Old Space' e/ou 'Legacy Space', já que as empresas que comandam  essa associação fazem parte do leque dos grandes responsáveis pela situação pífia em que se encontra o PEB governamental. Gordas, morosasdescompromissadas e viúvas históricas dos recursos públicos do governo, essas empresas sempre mamaram nas tetas do erário sem nunca conseguirem entregar um produto espacial competitivo no mercado internacional, exceto o VSB-30.
 
Vale lembrar amigo leitores que o único produto espacial realmente desenvolvido no Brasil que chegou a ser exitoso e competitivo no mercado internacional foi o foguete de sondagem VSB-30 (obtendo inclusive o certificado internacional de produto espacial), foguete este que foi desenvolvido pelo Instituto de Aeronáutica Espaço (IAE) em parceria com o DLR alemão, e que tinha suas partes contratadas junto a empresas selecionas pelo instituto que em sua maioria eram locadas na cidade de São José dos Campos-SP. E o que aconteceu com o VSB-30? Bom amigos leitores, como bem lembrou em seu comentário o CTO da Acrux, o projeto deste foguete teve 100% de sua tecnologia transferida para uma dessas empresas lideres da AIAB, ou seja, a Avibras, a mesma da barbeiragem com o Motor S50 e a mesma que até agora desde que assinou o contrato de transferência tecnológica com o IAE em 27 de janeiro de 2020 (veja aqui) não conseguiu sequer vender um foguete VSB-30 ao mercado internacional. Porque será heimm??? Por outro lado, já o IAE, mesmo não sendo um primor de gestão no período, conseguiu vender esse foguete no mercado internacional, comprovando exitosamente o seu potencial e confiabilidade em missões científicas e tecnológicas realizadas em bases de lançamento de países como a Noruega, Suécia e Austrália.
 
Pois então amigos leitor, é com este histórico nada positivo que esta iniciativa da AIAB agora denominada de VLN e muito provavelmente encabeçada pela Avibrás, que o Sr. Julio Shidara foi defender junto ao General de Exército 'Augusto Heleno Ribeiro Pereira'. De minha parte espero sinceramente que o General Augusto Heleno (um militar que merece todo meu respeito e admiração pelo seu histórico de combate ao comunismo) não venha cair nesta armadilha preparada por esses oportunistas.
 
Vale dizer, para finalizar, que ficarei na torcida para que este meu apelo de um brasileiro patriota chegue as mãos do General Heleno antes que seja tarde demais, e que se assim for, que o mesmo possa dar uma oportunidade para que uma comitiva da 'Aliança das Startups Espaciais Brasileiras (ASB)'  vá ao seu gabinete e apresente uma alternativa mais barata, competitiva, dentro do prazo pré-definido e atrelada as praticas atuais adotadas no 'New Space'.

Comentários

  1. Este é o espírito da nossa elite. Se depender dela seremos uma eterna colônia produtora de matérias primas usando mão de obra miserável.

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  2. Em uma exibição no spacebr show a Avibras explicou o que ela quer e que consiste em dois projetos...

    VLE: Veículo Lançador de Experimentos Orbitais.capacidade de 5kg até 300km

    VLN: Veículo Lançador de Nanosatelites, capacidade de 50kg a 300km, e aí que mora a dúvida, o VLN não parece ser baseado no VSB-30 sim no VS-40.

    O que será que tá rolando??

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    1. Olá Blog Luiz!

      Primeiramente obrigado pelo sua pergunta. Bom, o que está rolando? Acho que fui bem claro no meu artigo. A Avibras está tentando sugar mais uma vez o erário do país. Quanto ao VLN, leia com atenção, pois na própria nota do AIAB o presidente desta entidade deixa claro que este foguete será baseado no VSB-30.

      Abs

      Duda Falcão

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  3. Espero que não chegue ao VLF ...Veículo Lançador de Formiguinhas...

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  4. Perguntas de um leigo, talvez apenas não tenha lido corretamente, se for me desculpe.

    Mas e o S-50? Não iria-se usar ele como estágio para o VLM? Me parece quase inútil querer colocar o pé pra trás agora.

    Pelo que eu entendi da fala citada o projeto vai continuar mas não vai ter o resultado esperado então eles irão criar outro projeto do zero para intensificar a autonomia.

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    1. Olá, João Vitor! Obrigado pela participação!

      Você tem razão no seu questionamento, pois, em tese, se o investimento agora é o VLN (que é muito menos complexo e já herda muitos sistemas validados em voo) a Avibras se livra do VLM (que ainda não tem herança de voo para quase nenhum sistema / subsistema e, por consequência, deixa o S-50 na berlinda.

      Abraço

      Rui Botelho

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  5. Matéria interessante.
    Fico confuso com essa situação ...pelo que eu já li sobre e pude concluir,o VLM terá o motor e o sistema de navegação secundário feitos pelo Brasil, a coleta de dados de voo certamente seria de grande ajuda para elaboração e refinamento de um futuro projeto nacional, parar tudo agora não faz sentido.
    Espero que com o recente Marco legal das startups haja uma colaboração maior entre o governo e as novas empresas da área.

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