Marte ou Mercúrio? Mercúrio ou Marte? Uma imagem vale mais...

Olá, Leitora! Olá, Leitor!

Na(s) comunidade(s) espacial(ais) nacionais um dos assunto mais falados dos últimos dias  foi o mais recente episódio de "falha" na comunicação institucional protagonizada pela Agência Espacial Brasileira (AEB).

Em uma postagem nas suas redes sociais, a comunicação da AEB publicou uma peça (card) de divulgação da realização de uma série especial informativa denominada "Eu Astrônomo", sobre os planetas do sistema solar, cujo epsódio da vez seria sobre o planeta mais próximo do Sol, o pequeno Mercúrio.

Parecia tudo simples e tanquilo e eis que, para o desespero de Galileu e Copérnico em suas tumbas, na imagem ilustrativa da peça gráfica divulgada estava uma representação artística do inconfundivelmente rubro (talvez de vergonha), Marte (veja na imagem original abaixo).

Imagem do print de tela da peça artistica originalmente divulgada pela AEB em suas redes sociais.
Fonte: AEB.

Seria só cômico, se não fosse trágico, considerando que a peça foi elaborada e tornada pública pelo órgão nacional que deveria ser referência no segmento das ciências e tecnologias espaciais.

Logo, depois de muitos comentários na postagem alertando e também criticando essa falha, a AEB promveu a mudança da peça gráfica, apagando também no processo todos os comentários e críticas, sem nenhum tipo de errata (veja abaixo).

Imagem do print de tela da peça artistica corrigida divulgada pela AEB em suas redes sociais.
Fonte: AEB.

Passadas muitas horas do ocorrido, dada a repercussão negativa (do soneto e da emenda), a AEB publicou uma Errata inicialmente reconhecendo a falha (o que pelnamente elogiável, louvável e desejável), alegando que "Quem nós acompanha sabe do compromisso que temos em produzir mateiriais de qualidade, com informações fidedígnas e consistentes.", além de informar que vai implementar uma curadoria para evitar erros como esse, conforme imagens abaixo:

Imagem do print de tela da errata publicada pela AEb nas suas redes sociais
Fonte: AEB.

No entanto, se assumir o erro já não fosse o suficiente, bastaria informar que estaria revendo os seus processos internos para evitar situações como essa, que não foi a única, pois o problema da AEB é falta de gestão de processos e de recursos humanos.

Falta de gestão de processos, pois não é a primeira vez que a Agência comete um erro crasso como esse, a exemplo do erro da piublicação que referencia o feito do rover americano Perseverance, mas a imagem da peça gráfica desse fato anterior era a do rover Opportunity de 2003 (que usava paineis solares para produzir energia, ao invés dos geradores termoelétricos de radioisótopos usado pelo Perseverance e, seu antecessor, o Curiosity). Veja imagem da gafe anterior.

Imagem do print de tela da publicação da AEB homenageando o Perseverance com a imagem do Opportunity.
Fonte: AEB.

Se pelo menos a imagem fosse do Curiosity daria até para relevar, dada a semelhaça entre ele o Perseverance, mas usar a imagem do Opportunity é algo que não tem desculpas.

Tem ainda a postagem de 2019, em que a AEB parabeniza a NASA pelo aniversário de 50 anos da chegada do homem à Lua, 1 mês antes (20/06 ao invés de 20/07) da data correta (infelizmente não encontramos a imagem na nossa biblioteca).

Isso tudo é falta de gestão de processos e de pessoas, pois, apesar de tudo isso ser evitável simplesmente passando as peças gráficas pelo crivo de qualquer um dos tecnologistas da AEB, pelo menos 6 destes são doutores e mestres com formação em Astrofísica e Física e poderiam fazer esse papel de revisão técnica internamente.

Além disso, a AEB possui um convêncio com a FUNCATE para o Programa E2T, que substituiu o AEB Escola, que fornece suporte técnico e de pessoal para atividades educacionais, que poderia apoiar a comunicação na validação dos seus produtos.

E ai, por mais que a intelocução e colaboração com outros entes e espacialistas seja válida, por que a AEB vai buscar uma curadoria externa para as atividades realizadas internamente pela sua comunicação se existem recursos humanos próprios ou oriundos de convênios que poderiam resolver essa questão facilmente?

Mais uma vez, a resposta é falta de gestão de processos, gestão de riscos e de gestão de pessoas!

Ou seja, com os erros banais e sucessivos e a resposta à esta última ocorrência, percebe-se claramente que os processos internos estão desconectados dos objetivos estratégicos e da gestão de riscos (no caso de imagem) e controles internos da instituição.

Rui Botelho
Brazilian Space

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