Brasil fica para trás na corrida global do mercado econômico espacial com baixo investimento e falta de marco regulatório
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Segue abaixo a excelente matéria "Brasil fica para trás na corrida global do mercado econômico espacial com baixo investimento e falta de marco regulatório", publicada no Portal de Notícia da Jovem Pan no dia 1o de janeiro, tratando sobre o cenário atual do programa e das atividades espaciais no Brasil e o quanto estamos estagnados quando comparados com o restante do mundo.
A matéria, que conta com entrevistas a diversos especialista do setor espacial e de defesa, empresas e startups em unísono destaca a falta de governança, gestão, articulação, amparo legal e financiamento (público e privado) para que as atividades e a economia espacial no Brasil deslanchem e acompanhem o fenômeno que vem acontecendo em todo mundo.
Quem acompanha o BS sabe o quanto destacamos a qualidade e a criatividade dos nossos pesquisadores, cientistas e engenheiros aeroespaciais, bem como a capacidade nas nossas empresas e startups espaciais, ficando claro o quanto a falta de uma estratégia nacional e uma política nacional do espaço, além dos problemas de governança e gestão, são fatores que nos mantem em um ciclo vicioso, há muitos anos.
Brazilian Space
Brasil fica para trás na corrida global do mercado econômico espacial com baixo investimento e falta de marco regulatório
País tem vantagens relevantes como o Centro de Lançamentos de Alcântara, mas não acompanha avanços de outras nações; especialistas veem necessidade de ação do governo para explorar oportunidades como turismo espacial, fábricas orbitais e estações lunares
Por Luis Filipe Santos
01/01/2022 20h00 - Atualizado em 04/01/2022 19h00
A primeira missão ao espaço tripulada unicamente por civis foi e voltou em segurança. Um ator de 90 anos se tornou o homem mais velho a ficar em órbita. Os feitos realizados pela SpaceX, empresa de Elon Musk, e pela Blue Origin, de Jeff Bezos, são exemplos de como o mercado econômico espacial está se desenvolvendo através da iniciativa privada, com a criação de novas tecnologias. A previsão é que o setor, hoje estimado em US$ 440 bilhões, chegue a US$ 1 trilhão antes de 2030. O Brasil, embora tenha alguns atrativos importantes para desenvolver o setor, pouco investe e fica para trás até de outros países emergentes.
O mercado espacial tem diversas possibilidades, começando com o turismo espacial, a ida de pessoas ao espaço para ver o planeta Terra de fora. Outras são a instalação de fábricas orbitais, para a produção de equipamentos em baixa gravidade, a construção de estações lunares para permitir ocupação contínua da lua ou de rebocadores, para levar naves de um lugar a outro. Outras vertentes de diversos setores podem ser encontradas, como transporte (para levar pessoas e máquinas da Terra para o espaço e vice-versa, do espaço a outros lugares no espaço, ou do espaço à superfície planetária de outros planetas). Também pode ser usado para pesquisa, com estudo e desenvolvimento de habitats de outras espécies, questões de suporte à vida, com aplicações na biomedicina, e ser utilizado nos setores de comunicação e energia, desde a captura até a transmissão e armazenamento. Por fim, cadeias de suprimentos podem ser formadas tendo o cosmo como parte integrante, utilizando o serviço de satélites, ou a partir do momento em que se consiga realizar a mineração em asteroides, satélites, cometas e outros planetas, além da distribuição e armazenamento do material obtido. Até o lixo espacial pode ser utilizado, como fonte de matéria-prima ou para empresas serem pagas para retirá-lo de órbita.
“Diversos sistemas já dependem do espaço e não percebemos, como o serviço de telecomunicações, o monitoramento de mineração e de plantações, além de um serviço corriqueiro que é o de geolocalização. Máquinas de cartão e o setor de energia também usam bastante. Algumas outras coisas que estão acontecendo ou podem vir a acontecer em breve são a mineração de hélio 3 na superfície da Lua, onde abrigos devem ser construídos; a retirada de lixo espacial e a fabricação de materiais em microgravidade, conforme haja uma queda do valor de transporte de cargas úteis ao espaço”, explica o brigadeiro da reserva José Vagner Vital, hoje membro do Sindicato Nacional das Indústrias de Defesa (Simde). O Brasil tem alguns trunfos para participar do mercado espacial, como a existência de sete faculdades de engenharia aeroespacial, a dimensão continental do território, o câmbio, a mão de obra barata e relativamente qualificada, a tecnologia aérea bem desenvolvida pela Embraer e, principalmente, o Centro de Lançamentos de Alcântara, no Maranhão. Pela posição geográfica próxima à Linha do Equador, os foguetes lançados do centro maranhense economizam combustível, o que o torna mais atrativo em relação aos de outros países.
Contudo, o Brasil patina em formar um ecossistema de empresas do setor espacial que se sustentem, embora algumas já existam. “As nossas conquistas seriam perfeitas para as décadas de 80 e 90. Não há consumo sistemático do governo para os produtos espaciais de empresas brasileiras, o que minimiza as possibilidades de mercado. Cada pasta tem que resolver seu problema, assim o Ministério da Comunicação faz um contrato com uma, a Polícia Federal acha outra empresa para usar imagens de satélite e por aí vai”, afirma Vital. “O governo é importante para garantir a viabilidade comercial das empresas. Até o Elon Musk e o Jeff Bezos brigam pelos contratos da Nasa. Falta um mercado que garanta que as empresas brasileiras vão conseguir vender seus produtos e, a partir daí, inovar e gerar um portfólio de produtos que poderão ser oferecidos também ao setor privado”, comenta o brigadeiro da reserva.
Como exemplo, ele cita a Índia, país que criou o Ministério do Espaço em 1972, e instituiu um limiar de compra mínimo de produtos e serviços – hoje, a Índia investe anualmente cerca de US$ 1,29 bilhão e recebe US$ 8,8 bilhões no setor espacial. O país asiático abocanha uma fatia de 2% do mercado, mas tem planos de chegar a 10% com o crescimento de investimentos privados. O Brasil, por sua vez, tinha uma previsão de investir R$ 135 milhões na Agência Espacial Brasileira (AEB) em 2021 (cerca de US$ 23,5 milhões na cotação atual), segundo dados do Portal da Transparência, mantido pelo governo. Até mesmo a Argentina tem um caso de sucesso com a empresa Satellogic, criada por um investidor do país que esteve presente no Vale do Silício e percebeu o mercado em expansão. Com 17 satélites já lançados e prevendo chegar a 80, para aplicações em mapeamento e produção de imagens em alta resolução, a Satellogic recebeu investimento de um fundo brasileiro, que não encontrou empresas espaciais brasileiras que considerou tão promissoras.
Empresários brasileiros do setor ouvidos pela reportagem concordam com a avaliação de Vital sobre a importância da atuação do governo. “Seria importante que o governo fomentasse um ecossistema. Empresas pequenas inovadoras não recebem aporte e não conseguem demonstrar capacidade, logo não conseguem receber investimento de investidores-anjos ou fundos de investimento, e não se tornam competitivas”, avalia Oswaldo Loureda, fundador da empresa ACrux. Para Loureda, seria crucial o governo publicar editais e licitações no qual solicita que empresas de diferentes tamanhos cooperem e trabalhem em conjunto – três pequenas, duas médias e uma grande, por exemplo. Tanto o brigadeiro Vital como os membros do setor privado citam que o Centro de Lançamentos de Alcântara poderia fomentar o surgimento de empresas aeroespaciais em seu entorno. O centro poderá ser utilizado para lançamentos por empresas privadas a partir do próximo ano, após o Brasil assinar um acordo de salvaguardas tecnológicas com os Estados Unidos que foi aprovado no Congresso em 2019 e dois editais serem realizados pela AEB em 2020 e 2021.
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