Novo Diretor do INPE Quer Eliminar Entraves e Avançar Com o Programa Espacial Brasileiro
Olá leitor!
Segue agora uma entrevista com o novo diretor do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Dr. Ricardo Magnus Osório Galvão, postada hoje (23/09) no site
do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Duda Falcão
NOTÍCIAS
Novo Diretor do INPE Quer Eliminar Entraves
e Avançar Com
o Programa Espacial Brasileiro
Nomeado nesta quinta-feira (22), Ricardo Galvão afirmou
que a execução
do Programa Nacional de Atividades Espaciais depende da
perfeita integração
entre as duas instituições, que são vinculadas ao MCTIC.
Por Ascom do MCTIC
Publicação: 23/09/2016 | 00:20
Última modificação: 23/09/2016 | 13:38
Crédito: Divulgação
Ricardo Galvão é membro titular da Academia de Ciências
do Estado de São Paulo e da Academia Brasileira de Ciências,
além do Conselho
da Sociedade Europeia de Física.
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O Diário Oficial da União (DOU) publicou
nesta quinta-feira (22) a nomeação do novo diretor do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE), Ricardo Magnus Osório Galvão. Ele foi escolhido
pelo ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto
Kassab, a partir de lista tríplice.
Em entrevista ao Portal do MCTIC, Ricardo Galvão falou
dos principais desafios do INPE, como a redução do quadro de servidores e a
recomposição orçamentária. "Enquanto alguns pesquisadores permanecem na
instituição mesmo após terem atingido as condições para aposentadoria, atraídos
pela participação em projetos de pesquisa e desenvolvimento, atrativos
semelhantes não existem para o pessoal administrativo. Esta é uma situação que
afeta não somente o INPE, mas praticamente a totalidade das unidades de
pesquisa do MCTIC", disse Galvão.
Outro desafio, segundo ele, é a construção de uma
sinergia com a Agência Espacial Brasileira (AEB). "Se não houver perfeita
integração entre a agência e o instituto, é evidente que a execução do PNAE
pode ser prejudicada por desconfianças e diversidade de visões. Assim, julgo
essencial eliminar entraves e costurar um relacionamento construtivo e
colaborativo entre o INPE e a AEB", afirmou.
Engenheiro de Telecomunicações pela Universidade Federal
Fluminense, o novo diretor do INPE é mestre em engenharia elétrica pela
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e doutor em física de plasmas
aplicada pelo Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos.
Professor da Universidade de São Paulo, foi presidente da Sociedade Brasileira
de Física e é membro titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo e
da Academia Brasileira de Ciências, além do Conselho da Sociedade Europeia de
Física.
MCTIC: Qual é o maior desafio do INPE?
Ricardo Galvão: Não existe um ‘maior desafio', mas
vários desafios a serem enfrentados na próxima gestão. O primeiro deles é a
gravíssima situação de acentuada redução do quadro de servidores do INPE, em
particular analistas e assistentes de gestão. Enquanto alguns pesquisadores,
tecnologistas e técnicos permanecem na instituição mesmo após terem atingido as
condições para aposentadoria, atraídos pela participação em projetos de
pesquisa e desenvolvimento, até com a possibilidade de usufruir de bolsas de
produtividade do CNPq em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, atrativos
semelhantes não existem para o pessoal administrativo. Esta é uma situação que
afeta não somente o INPE, mas praticamente a totalidade das unidades de
pesquisa do MCTIC. A solução definitiva deste problema está além da governança
do diretor e exigirá uma ação integrada entre os diretores de todas as unidades
e o ministério para, gradualmente, trabalhar junto ao Ministério do
Planejamento para conseguir abertura de novos concursos.
MCTIC: O que é possível fazer para contornar a
situação?
Ricardo Galvão: Como solução paliativa, pretendo
estudar reativar propostas de incentivo para servidores que permanecem na ativa
após terem atingido a condição para aposentadoria. No entanto, não estou seguro
de que isto seja possível no governo federal. Continuando, o segundo desafio é
certamente a questão orçamentária, neste cenário de crise econômica que afeta o
país. Aqui também, embora a solução definitiva esteja além da governança do
diretor, existem algumas possibilidades a serem mais bem exploradas com relação
à obtenção de recursos complementares, através de programas mais ambiciosos
junto às agências de fomento, como, aliás, a atual gestão implementou para a
área espacial com a FAPESP [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo] e a FINEP [Financiadora de Estudos e Projetos], e o aumento das
atividades de prestação de serviços, implementadas através da Fundação de
Ciência, Aplicações e Tecnologia Espaciais (FUNCATE). Neste quesito, os
diferentes laboratórios do INPE têm grande potencial, e a nova Lei 13.243/2016
[Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação] introduziu mecanismos jurídicos
que facilitam bastante a prestação de serviços técnicos a instituições públicas
ou privadas. Além disso, algumas coordenações do INPE, como a de Observação da
Terra, por exemplo, têm convênios com outros órgãos e agências do governo
federal que promovem a entrada de recursos na instituição. Essas atividades
devem ser estimuladas, desde que não sejam executadas em detrimento às de
pesquisa científica e que uma parcela dos recursos obtidos seja repassada à
instituição como ‘custos de manutenção e operação'.
MCTIC: O senhor mencionou a área espacial. Como é a
relação com a Agência Espacial Brasileira (AEB)?
Ricardo Galvão: Esse é o terceiro desafio que
temos no INPE, ou seja, melhorar a interação com a AEB no que se refere à
execução do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE). O programa de
satélites foi inicialmente todo desenvolvido sob a governança do INPE. No
entanto, com a publicação do Decreto 1.332, estabelecendo a Política de
Desenvolvimento das Atividades Espaciais (PNDAE), e a sanção da Lei 8.854,
criando a AEB, o INPE perdeu parcialmente a autonomia para estabelecer, de
forma independente, sua política de desenvolvimento de satélites. De fato, o
artigo 30 da referida lei estabelece que ‘compete à AEB executar e fazer
executar a PNDAE, bem como propor as diretrizes e as ações dela decorrentes'.
Como é bem conhecido na comunidade espacial brasileira, essa alteração não foi
fácil e amplamente aceita pelo corpo técnico do INPE.
MCTIC: Quais são os entraves?
Ricardo Galvão: Parece-me que parte dessas
dificuldades decorre de que as competências para execução do PNAE, no que
concerne objetivos científicos e técnicos, projetos conceituais e de engenharia
de satélites, construção por encomenda à indústria ou a instituições
governamentais, como também integração e testes, não estão ainda
satisfatoriamente acordadas e detalhadas. Enquanto considero uma premissa
fundamental a competência da AEB para "executar e fazer executar" o
PNAE, é evidente que boa parcela da competência científica e técnica nessa área
está concentrada principalmente no INPE. Assim, se não houver perfeita
integração entre a agência e o instituto, desde a fase de projeto conceitual
dos satélites, é evidente que sua execução pode ser prejudicada por desconfianças
e diversidade de visões. Assim, julgo essencial eliminar entraves e costurar um
relacionamento construtivo e colaborativo entre o INPE e a AEB. A equipe
técnica do INPE deverá ter participação efetiva na definição de
projetos de satélites que fiquem sob sua responsabilidade, principalmente os
para aplicações científicas. Em contrapartida, deverá assumir o compromisso de
seguir estritamente a execução dos projetos como acordado com a AEB.
Finalmente, outro desafio importante é reverter a
aparente existência de certa atitude de isolamento e independência de alguns
grupos de pesquisa básica em ciência espacial do INPE com relação a outros
grupos nacionais. Especificamente, julgo que a liderança científica de unidades
do MCTIC possa ser almejada somente se promover uma efetiva colaboração
sinergética com outros grupos nacionais, permitindo que sua infraestrutura
administrativa e técnica possa ser utilizada para viabilizar projetos
científicos de maior envergadura, em particular em colaborações internacionais.
Isso ficou muito bem estabelecido no objetivo de um dos
programas do Plano de Ação 2007-2010 do então Ministério da Ciência e
Tecnologia, "aperfeiçoar e consolidar o papel das Unidades de Pesquisa do
MCT como instituições líderes de C,T&I, atuando como centros de pesquisa em
áreas estratégicas, como laboratórios nacionais com instalações de maior porte
e ambiente científico que atraiam a comunidade científica, como âncoras de
projetos mobilizadores e redes de pesquisa, ...".
Portanto é necessário estimular fortemente a pesquisa
básica em ciência espacial e áreas correlatas, mas de forma coordenada, não
somente entre os diversos grupos do INPE, mas também com a comunidade externa,
fazendo com que boa parte de suas instalações opere de fato como laboratórios
multiusuários.
MCTIC: Falando em setor aeroespacial, está previsto
para 2018 o lançamento de um novo CBERS – Satélite Sino-Brasileiro de Recursos
Terrestres. Qual é o objetivo?
Ricardo Galvão: Os objetivos do CBERS estão bem
definidos no Programa Nacional de Atividades Espaciais 2012 – 2021, que são
ampliar a capacidade de observação e monitoramento do território nacional, além
de dar continuidade e ampliar a cooperação com a China no desenvolvimento da
tecnologia espacial. O CBERS 4 foi lançado com grande êxito em dezembro de 2014
e está em operação regular, operando uma câmera de muito boa resolução
desenvolvida por empresa brasileira. O novo CBERS dará continuidade ao
programa, aumentando a resolução das imagens obtidas.
MCTIC: O INPE faz o monitoramento da Amazônia
brasileira por satélite. Como esses dados têm ajudado a combater o
desmatamento?
Ricardo Galvão: Na realidade, o INPE tem vários
programas de extrema importância para o país no que se refere ao monitoramento
e preservação ambiental, como o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na
Amazônia Legal por Satélite (PRODES) e Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER),
além do DEGRAD. Embora as imagens utilizadas para estes programas sejam
provenientes não somente de satélites brasileiros, mas também de outras
constelações de satélites, no Programa Nacional de Atividades Espaciais está
programado o lançamento de satélites da série Amazônia justamente para ampliar
a capacidade do país no monitoramento da região. O Amazônia 1 será um satélite
inteiramente concebido e desenvolvido no país, contribuindo substancialmente
para o nosso avanço no domínio da tecnologia espacial.
Fonte: Site do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação
e Comunicações (MCTIC)
Comentário: Bom leitor, não há como negar o currículo
técnico do Dr. Ricardo Magnus Osório Galvão, ou seja, é um profissional da área
e não um Zé Mané qualquer, mas será que o mesmo tem a experiência de gestão política
necessária para enfrentar este grande desafio que é conviver com esses vermes
de Brasília??? Bom, só o tempo dirá, mas pelas colocações feitas por ele nesta
entrevista, o mesmo parecer ser um profissional centrando com um plano de ação já
estabelecido, porém precisará de muito mais do que isso para poder fazer a
diferença. Como dissemos ao Dr. Galvão via e-mail esta manhã, o Blog BRAZILIAN
SPACE ficará na torcida para que ele possa com sapiência, dinamismo e boas
ideias encontrar uma forma de realizar a parte do programa que cabe ao INPE avançando dez anos em quatro, missão esta extremamente árdua, mas que precisa ser feita
com urgência, ou estremos condenados a pagar o alto preço do atraso
tecnológico. Boa sorte Dr. Galvão, vai precisar.
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