Série Espaçomodelismo: Entrevista Com o Prof. Dr. João Bastista Garcia Canalle da UERJ
Olá leitor!
No dia de hoje, o Blog
BRAZILIAN SPACE traz para você mais uma interessante entrevista da série com
profissionais ligados a educação e ao Espaçomodelismo
Brasileiro, profissionais que tem nas ultimas décadas contribuído significamente
para a educação de jovens e para o desenvolvimento do Espaçomodelismo em nosso país.
Desta vez leitor trazemos para você uma entrevista com um
dos maiores educadores brasileiros nesta área, o Prof. Dr. João Batista Garcia Canalle, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ) e coordenador da Olímpiada
Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), bem como de outros eventos
realizados no Brasil e no âmbito internacional.
Vale lembrar que nesta série pretendemos apresentar quinze entrevistas até o final de 2016, sendo esta a sexta desta série. O Prof. Canalle é um profissional que
merece todo o nosso respeito e admiração pelo trabalho que vem realizando nesta
área junto à comunidade educacional do
ensino fundamental e médio em nível nacional e internacional, sendo um
grande exemplo para aqueles vermes que falam de mais fazendo promessas sem o
menor interesse em cumpri-las. Extremamente comprometido com o que faz este senhor
de 58 anos, nascido na cidade de Monte Alto-SP, é mais uma prova de que
quando as coisas são feitas com seriedade,
competência e compromisso o Brasil pode dar certo.
O Blog BRAZILIAN
SPACE aproveita para agradecer publicamente ao Prof. Canalle pela disposição em participar desta nossa série de entrevistas,
bem como parabeniza-lo e a sua equipe pelo grande trabalho que vem realizando.
Vale a pena conferir esta entrevista.
Prof. Dr. João Batista Garcia Canalle. |
BRAZILIAN SPACE: Prof. Canalle, nos faça um relato
sobre o senhor, sua idade, formação, onde nasceu, trajetória profissional e
desde quando o senhor trabalha na Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ)?
PROF. DR. JOÃO BATISTA
GARCIA CANALLE, 58 anos, nasci em Monte Alto, SP,
em 14/11/1957, me formei em Física (licenciatura e bacharelado,
simultaneamente) pelas Faculdades Oswaldo Cruz, SP. Em seguida fiz Mestrado e
Doutorado em Astrofísica no IAG-USP. Durante minha pós graduação dei aulas de Física
nas Faculdades Oswaldo Cruz e posteriormente na PUC-SP. Em 1995 passei em
concurso público no Instituto de Física da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, onde trabalho desde então, com dedicação exclusiva.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Canalle, é de conhecimento
público que o senhor é o coordenador do maior evento educacional realizado
anualmente na área de Astronomia e Astronáutica no país, ou seja, a Olimpíada
Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA). Quem foi o idealizador deste
evento, quando foi realizado pela primeira vez e desde quando o senhor coordena
este evento?
PROF. JOÃO CANALLE: A OBA
nasceu em 1998 pela iniciativa do prof. Daniel Fonseca Lavouras, enquanto
trabalhava no Sistema Elite de Ensino de
Belém, PR. Ao final deste ano ele precisava levar 5 alunos para a III Olimpíada
Internacional de Astronomia (IOA, em inglês), porém, precisava ir também um
astrônomo. Foi então que ele entrou em contato comigo. A partir de 1999 a OBA
já foi organizada no âmbito da Sociedade Astronômica Brasileira, estando eu à
frente da comissão organizadora da OBA, mas contando com a participação do
Prof. Daniel ainda por alguns anos. A OBA cresceu continuamente em
participações ao longo dos anos, até atingirmos um patamar de cerca de 800.000
alunos por ano, distribuídos por cerca de 9000 escolas de todos os Estados
brasileiros. A figura abaixo ilustra o crescimento anual de alunos
participantes da OBA ao longo dos anos. A queda no número de alunos em 2016 é
reflexo da drástica redução dos recursos obtidos junto ao CNPq para organizar a
XIX OBA em 2016.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Canalle, quantos profissionais participam atualmente na organização
anual da OBA?
PROF. JOÃO CANALLE: A OBA conta com a colaboração de 25 pessoas, a
saber:
1- Prof. Dr. João Batista Garcia Canalle (Presidente)
2- Dr. Eugênio Reis Neto(Vice
Presidente)
E pela astronomia ainda temos:
3- Dr. Gustavo de Araújo Rojas
4- Dr. Marcos Diaz
5- Dr. Júlio César Klafke
6- MSc. Thiago Paulin Caraviello
7- MSc.Josina Oliveira do Nascimento
E pela astronáutica temos:
8- Dr. José Bezerra Pessoa Filho
9- M.Sc. Danton José Fortes Villas Boas
10- Prof. Edson Cereja
11- Dr. José Guido Damilano
12- Profª Terezinha Saes de Lima
13- Dr. Petrônio Noronha de Souza
14- Dr. Antônio F.Bertachini A. Prado
15- Dra. Teresa
Gallotii Florenzano
Contamos também com os seguintes secretários:
16- Thales de Lima Soares dos Santos
17- Giselle Bayer do Amaral
18- Marcela Barreiros Pereira (Designer)
19- Pâmela Marjorie Correia Coelho
Contamos
também com os seguintes bolsistas:
20- Matheus de Oliveira Nunes
21- Thiago Espirito Santo
22- João Paulo Braga Navarro Bittencourt
23- Júlio César de Souza Batista
Contamos
também com os seguintes planetaristas
24- Leandro Soares Faria
25- Bruna Senra da Silva Cruz
BRAZILIAN SPACE:
Prof. Canalle, outro tipo de evento de destaque elaborado e coordenado pela OBA
são os Encontros Regionais de Ensino de Astronomia (EREA). Do que se trata
especificamente este evento e desde quando o mesmo é realizado?
PROF. JOÃO CANALLE: Sim, iniciamos em 2009,
Ano Internacional da Astronomia, de forma sistemática a organizar os EREAs,
cuja finalidade é reunir cerca de 100 a 200 professores em exercício e
preferencialmente responsáveis pelo ensino dos conteúdos de astronomia e ou
astronáutica em escolas do Ensino Fundamental e ou Médio, públicas ou privadas
e trabalhar a capacitação deles quanto ao ensino de astronomia e ou
astronáutica de forma a mais prática e simples possível. Já realizamos 61
EREAs, listados abaixo:
Informações adicionais e incluindo
power points sobre os EREAs, listas das oficinas que realizamos, etc, podem
ser encontrados no link: http://www.oba.org.br/site/?p=conteudo&idcat=35&pag=conteudo&m=s
Como exemplo de uma das atividades
que fazemos nos EREAs está a construção de maquete dos planetas e Sol, ilustrados
na figura abaixo. A fundo da figura vemos uma parte de um balão gigante,
amarelo, com 80 cm de diâmetro e na mesma escala, à frente dele, os planetas.
Na figura abaixo
mostramos uma turma de um dos EREAs com suas maquetes.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Canalle, a OBA realiza também um evento anual que consideramos
muito interessante, trata-se da Mostra Brasileira de Foguetes (MOBFOG). O que o
senhor pode nos falar sobre esta mostra e seus objetivos?
PROF.
JOÃO CANALLE: Em 2005, na VIII OBA, fizemos uma parceria com a Agência Espacial
Brasileira, AEB, e introduzimos a Astronáutica na OBA, a qual passou, então, a
ser chamada de Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, mas
mantivemos a sigla OBA. A partir daí propúnhamos aos participantes, como uma
das atividades práticas que precede às provas da OBA a construção e lançamento
de pequenos foguetes. Vimos que o interesse dos alunos e professores era tão
grande por esta atividade prática, que a transformamos, na X OBA, em 2007, na
Olimpíada Brasileira de Foguetes, OBFOG, a qual atualmente chamamos de Mostra
Brasileira de Foguetes, MOBFOG, pois os alunos do ensino médio, de fato têm que
mostrar os seus foguetes para nós num evento público chamado de Jornada de
Foguetes. A MOBFOG tem crescido anualmente conforme ilustra a figura abaixo. O
decréscimo do número de participantes em 2016 também é reflexo da drástica
redução dos recursos que recebíamos do CNPq para organizar este evento.
Abaixo mostramos uma foto de foguete
de garrafa PET sendo lançada de sua base. Sua pressurização é obtida pelo gás
proveniente da mistura do vinagre com o bicarbonato de sódio.
BRAZILIAN SPACE:
Prof. Canalle, é sabido que a OBA desde 2009 deu início a um evento
internacional que vem crescendo ano após ano, evento este denominado de
Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica (OLAA). Como surgiu
esta iniciativa e quantos países da América Latina já participaram deste
evento?
PROF. JOÃO CANALLE: Em 2008, numa reunião no Uruguai, com representantes do Brasil,
Chile, Uruguai, Paraguai, Colômbia e México fundamos a Olimpíada Latino
Americana de Astronomia e Astronáutica, OLAA. A ideia era que cada país, para
participar da OLAA, precisasse organizar a sua Olimpíada Nacional de Astronomia
e Astronáutica. Em 2015 realizamos a VII OLAA, no Brasil. De fato realizamos a
I, a III e a VII OLAA no Brasil. Em 2016 será, pela primeira vez na Argentina,
com a participação dos seguintes países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile,
Colômbia, México, Paraguai, Peru, e Uruguai. E lentamente estão sendo
organizadas as Olimpíadas Nacionais nos países participantes da OLAA, cada vez
de forma mais ampla. Em 2016 participará pela primeira vez o Perú. Esperamos
que nos próximos anos mais países de língua espanhola ou portuguesa participem.
Esta é uma olimpíada que visa mais a integração do que a simples competição
entre países, pois temos duas provas em equipes com alunos de diferentes países
em cada equipe. Também há a obrigatoriedade de que cada equipe nacional tenham
participantes de ambos os sexos. A lista dos países organizadores e o número de
medalhas que o Brasil já ganhou está na tabela abaixo.
Na foto abaixo estão os alunos da
equipe brasileira participantes da VII OLAA em 2015 com suas medalhas (4 de
ouro e 1 de prata) e seus troféus.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Canalle, é de conhecimento
também que a OBA é a responsável pela seleção dos alunos que representam o
Brasil na OLAA como também para outras competições internacionais como a Olimpíada
Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA) e a Olimpíada Internacional de
Astronomia (IAO). Como são realizadas estas seleções?
PROF. JOÃO CANALLE: A OBA começou em 1998
participando da IAO, mas depois da fundação da IOAA, paramos de participar da
IAO. Atualmente participamos, portanto, de duas Olimpíadas Internacionais, a
IOAA e a OLAA. As equipes que vão a elas são selecionadas e treinadas pela OBA.
O processo de seleção sofreu muitas modificações ao longo do tempo, porém,
atualmente convidamos todos os alunos do ensino médio que participam da OBA e
obtiveram notas maior ou igual a 7 para participarem do processo de seleção.
Estes alunos se cadastram num site no qual aplicamos a estes alunos, cerca de
3.000 deles, três provas onlines. Ao final destas provas convidamos os 200
melhores para uma bateria de provas presenciais, para só então selecionar 15
alunos, pois são 5 para cada Olimpíada e 5 são suplentes. A todos eles
fornecemos um treinamento à distância e presencial também. Nestas ocasiões os
levamos para visitarem o Observatório Abrahão de Morais da USP em Vinhedo e o
Laboratório Nacional de Astrofísica, em Itajubá. Nestes treinamentos
presenciais, aprender a operar vários tipos de telescópios, fazem
reconhecimentos do céu do dia e local onde ocorrerão as provas da IOAA e OLAA,
lançam foguetes, resolvem exercícios e fazem vários simulados.
Na
foto abaixo estão as equipes que irão às Olimpíadas Internacionais de 2016 e
seus “treinadores”.
BRAZILIAN SPACE: Prof.
Canalle, em 2012 os Srs. Oswaldo Loureda e Waldir Vieira da empresa Acrux
Aerospace Technologies de São José dos Campos (SP), deram inicio a um modelo de
evento educacional muito exitoso em outros países e que contou com o apoio da
OBA. Tratou-se da primeira edição do SPACE CAMP da Acrux, ao qual eu estive
presente na primeira parte do evento. Desde então, foram realizadas mais três
edições (2013, 2014 e 2015), todas com o apoio da OBA, mas a edição deste ano
não foi realizada. Por que isto se sucedeu? O evento sofrerá continuidade em
2017, e caso sim a OBA continuará apoiando?
PROF. JOÃO CANALLE:
A OBA realizada, além da própria OBA, também a MOBFOG,
os EREAs, a Jornada Espacial e as Jornadas de Foguetes, ou seja, são várias
dezenas de eventos todos os anos e nós não teríamos como realizar mais um,
porém, o ex aluno da OBA, Dr. Oswaldo Loureda, atualmente concluindo um estágio
de pós doutoramento em Israel, iniciou os Space Camp em 2013, com muito
sucesso, envolvendo os alunos e professores da OBA. Devido justamente a este
afastamento temporário dele do Brasil, em 2016 não foi realizado o SPACE CAMP,
mas que certamente voltará a ser realizado em 2017 com a presença e liderança
do Dr. Oswaldo Loureda em parceria com a OBA.
Logo do Grupo de Foguetes do Rio de Janeiro (GFRJ) da UERJ. |
BRAZILIAN SPACE: Prof. Canalle, recentemente o senhor esteve
participando da terceira edição do Festival de Minifoguetes de Curitiba como
líder e integrante da equipe GFRJ (Grupo de Foguetes do Rio de Janeiro) da
UERJ. Como o senhor se envolveu nesta história e qual foi a sua impressão deste
importante evento para o Espaçomodelismo brasileiro realizado anualmente com
grande sacrifício pela equipe do Prof. Carlos Henrique Marchi?
PROF. JOÃO CANALLE: Participei com muita
satisfação do III Festival de Minifoguetes de Curitiba. Voltei muito animado
com crescimento das atividades de popularização do espaçomodelismo no Brasil.
Certamente os minifoguetes demandam mais cuidados e custos para serem
construídos do que os foguetes de garrafas pet que utilizamos. Porém, vejo os
minifoguetes como um estágio posterior aos de garrafas PET. O Festival é um
evento ainda muito recente, por isso mesmo o número de equipes participantes
ainda é pequeno, mas vamos trabalhar para que ele venha a ser um evento com
muitas equipes participantes. Nesta minha primeira participação, de fato,
acompanhei o Grupo de Foguetes do Rio de Janeiro, que também está se
instalando, liderados por alunos de diversas instituições e cursos e com o
apoio de alguns professores. Os membros do GRFJ voltaram premiados e muito
animados com os resultados e certamente estarão de volta ao IV Festival em
2017. Eles lançaram foguetes como este na foto abaixo.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Canalle, durante o Festival
de Curitiba os fogueteiros presentes deram inicio ao uma iniciativa muito
importante para a consolidação do Espaçomodelismo no Brasil. Tratou-se da
criação da Associação Brasileira de Minifoguetes (ABMF) ou Brazilian Association of Rocketry (BAR). Como
o senhor que participou ativamente deste momento, como enxerga esta iniciativa?
PROF. JOÃO CANALLE: De fato as pessoas presentes ao evento acharam
que para facilitar o crescimento do evento seria interessante formar uma
Associação Brasileira de Minifoguetes, pois com isso pode-se melhor normatizar
as regras de segurança e de premiação dos lançamentos dos minifoguetes e também
será útil para facilitar a difusão de suas atividades. Ou seja, fiquei muito
feliz com a iniciativa e creio que ao contrário de outras iniciativas similares
que ocorreram no passado, a Associação Brasileira de Minifoguetes tem gente suficiente
para não deixar que a “chama se apague”, e aliás, muito pelo contrário, esta
Associação crescerá e se ramificará pelo Brasil todo.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Canalle, existe a
possibilidade de minifoguetes virem a ser inseridos nas atividades da OBA?
PROF. JOÃO CANALLE: Pois é... o Dr. Carlos
Henrique Marchi me convenceu que seria possível fazer minifoguetes de baixo
custo, com materiais acessíveis em qualquer cidade do Brasil. Estou propenso a
incluir os minifoguetes na MOBFOG, mas antes de decidirmos isso, na próxima
Jornada de Foguetes, a ser realizada em Barra do Piraí, RJ, em novembro, com
cerca de 150 professores e 600 alunos, vamos discutir esta possibilidade. Se os
professores acharem que é cabível a inserção de um nível 5 na MOBFOG, constituído
só de minifoguetes, com alunos do ensino médio, então, vamos introduzir sim os
minifoguetes na MOBFOG.
BRAZILIAN SPACE: Finalizando Prof. Canalle, o
senhor teria algo a mais a dizer aos nossos leitores?
PROF. JOÃO CANALLE: Entre as diversas atividades
que a OBA desenvolve uma das mais recentes é a visitação de escolas com o
Planetário Digital Inflável Itinerante. Ele tem atendido cerca de 20.000 alunos
por ano e também participa de quase todos os eventos que a OBA organiza. Este
planetário foi comprado com doações coletivas, na forma de uma “vaquinha” e
aproveito para agradecer a todos que doaram para esta nossa vaquinha que nos
permite levarmos a astronomia de forma ainda mais impressionante aos alunos e
sem depender das condições climáticas, obviamente. Abaixo temos uma foto do
nosso planetário itinerante. Devido à crise financeira pela qual atravessa o
Brasil, os recursos destinados às Olimpíadas Científicas foram reduzidos em
quase 50%, com isso estamos sendo forçados a fazermos outra “vaquinha” para
desta vez conseguirmos distribuir as 50.000 medalhas aos participantes da OBA e
da MOBFOG de 2016. Quem puder ajudar basta doar qualquer quantia no link www.kickante.com.br/oba. Aproveito também para agradecer a oportunidade desta
entrevista e parabenizar aos organizadores do http://brazilianspace.blogspot.com.br/ por colaborar na difusão dos conhecimentos e atividades
aeroespaciais desenvolvidas no Brasil.
Veja abaixo as outras entrevistas da Série:
Comentários
Postar um comentário