Pesquisador da USP Propõe Modelo Para a Expansão do Plasma de Quarks e Glúons
Olá leitor!
Segue abaixo uma nota publicada hoje (29/06) no site da Agência FAPESP, destacando que Pesquisador da USP propõe modelo para a expansão do
plasma de Quarks e Glúons.
Duda Falcão
Notícias
Pesquisador da USP Propõe Modelo Para a
Expansão do
Plasma de Quarks e Glúons
José Tadeu Arantes
Agência FAPESP
29 de junho de 2015
(Foto: BNL)
O plasma de quarks e glúons parece ser um sistema
exótico, mas, segundo o modelo do Big Bang, sua presença foi predominante no
universo uma fração de segundo após o instante inicial. Tornou-se exótico
devido à interação nuclear forte, que confinou quarks e glúons no interior de
estruturas como próton, nêutron e mésons.
Os patamares de
energia alcançados nos dois maiores colisores da atualidade – o Large Hadron
Collider (LHC), na fronteira franco-suíça, e o Brookhaven National Laboratory
(BNL), nos Estados Unidos – possibilitaram que, ao menos por um intervalo de
tempo diminuto, o plasma de quarks e glúons voltasse a aparecer.
Um projeto de um
ano, integrando os grupos liderados pelo professor Jorge Noronha, na
Universidade de São Paulo (USP), e pelo professor Ulrich Heinz, na Ohio State
University (OSU), procurou apresentar o estado da arte na descrição desse
sistema: “A state-of-the-art description of the strongly coupled quark-gluon
plasma using viscous relativistic hydrodynamics and the Gauge/gravity duality”.
O projeto teve apoio da FAPESP.
A ideia original
era utilizar a hidrodinâmica relativística e a dualidade entre teorias de
cordas e teorias de campo para entender um pouco mais a física do plasma de
quarks e glúons.
“Mas, uma vez
que começamos a trabalhar, ocorreu algo que não havíamos previsto. Encontramos,
pela primeira vez, um modelo da expansão no espaço e no tempo desse sistema e
sua descrição como um fluido ultrarrelativístico [que se expande com velocidade
próxima à da luz], disse Noronha, professor do Instituto de Física
da USP, à Agência FAPESP.
A descoberta foi
comunicada em dois trabalhos, um publicado na Physical Review Letters, “New exact solution of the
relativistic Boltzmann equation and its hydrodynamic limit”,
e outro na Physical Review D, “Studying the validity of
relativistic hydrodynamics with a new exact solution of the Boltzmann equation”.
“Devido à grande
repercussão internacional desses artigos, decidimos continuar a pesquisa, agora
com um projeto mais longo, de dois anos”, comentou Noronha.
A hidrodinâmica
relativística proporcionou uma descrição efetiva da complicada dinâmica
microscópica do plasma de quarks e glúons. O recurso matemático utilizado foi a
Equação de Boltzmann, adaptada ao contexto relativístico.
Em sua forma
clássica, essa equação foi proposta originalmente pelo físico austríaco Ludwig
Boltzmann em 1872, para modelar a dinâmica de gases. À frente de sua época,
Boltzmann concebeu os fluídos como conjuntos de moléculas, átomos ou íons, cuja
dinâmica podia ser descrita recorrendo-se apenas aos processos de colisão entre
as partículas constituintes.
“Aplicamos essa
equação a um fluido ultrarrelativístico, que se propaga em velocidade próxima à
da luz, tanto na direção longitudinal como na direção transversal, e
conseguimos resolvê-la de forma exata, usando um mecanismo bastante engenhoso:
a chamada Transformação de Weyl”, disse.
Basicamente,
esse mecanismo possibilitou transformar o problema original, no qual o plasma
se movimenta em um espaço plano [sem curvatura], em
um outro problema, rigorosamente equivalente, no qual o plasma permanece parado
enquanto o próprio espaço-tempo se expande [encurvando-se]”,
disse Noronha.
Foi uma grande
novidade, que permitiu transformar um problema dificílimo de teoria cinética
relativística em um problema muito mais simples de relatividade geral.
“Na descrição no
espaço-tempo curvo, o problema pode ser resolvido de maneira exata. Uma vez
feito isso, pudemos voltar e calcular precisamente como o plasma se expandia no
espaço plano original”, explicou o pesquisador.
Matéria Conhecida
Segundo Noronha,
a ideia de transformar um problema em outro lhe ocorreu devido ao seu
repertório teórico. “Como eu trabalho com aplicações da teoria de cordas [na forma da dualidade holográfica AdS/CFT], os
conceitos da relatividade geral estão sempre presentes na minha mente”, disse.
No contexto
experimental, o plasma de quarks e glúons é formado por meio da colisão de
núcleos pesados, como os de ouro ou de chumbo, acelerados a até 99,9% da
velocidade da luz. Quando colidem, esses núcleos formam um plasma tão
energético que os prótons e os nêutrons que os constituem não podem subsistir
enquanto tal e se decompõem em quarks e glúons.
No instante de
sua formação, esse sistema é muito pequeno e muito quente. Sua temperatura é da
ordem de 1012 K. Para efeito de comparação, a temperatura máxima encontrada no
Sol é da ordem de 107 K. Isso significa que o plasma é 100 mil vezes mais
quente do que a região mais quente do Sol. Trata-se da maior temperatura já
obtida em laboratório.
“Ele se expande
muito rapidamente no espaço-tempo. E, nessa expansão, comporta-se como se fosse
uma espécie de líquido cuja viscosidade é a menor possível, menor até do que a
de um superfluido”, relatou Noronha.
Com a expansão,
a temperatura cai muito rapidamente, e os quarks e glúons voltam a se agrupar,
formando hádrons (prótons, nêutrons, mésons etc.), que são medidos pelos
detectores. O fluido de quarks e glúons perdura por um intervalo de tempo
extremamente curto: não muito mais do que 10 vezes o tempo que a luz leva para
atravessar um único próton.
Segundo Noronha,
um dos motivos para estudar quarks e glúons é que eles respondem por 97% da
massa da matéria conhecida.
“Virou chavão
dizer que o bóson de Higgs é responsável pela massa. Mas não é bem assim. O
Universo é constituído por mais de 70% de energia escura, mais de 20% de
matéria escura e cerca de 4% de matéria conhecida. Desses 4%, aproximadamente
97% vêm dos quarks e glúons. O bóson de Higgs, nesse caso, é responsável pelos
demais 3%”, disse.
Fonte: Site da Agência FAPESP
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