Descoberta de Hádrons Exóticos Estimula Desenvolvimento Teórico
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo postado hoje (15/06) no site da
“Agência FAPESP”, destacando que descoberta de Hádrons Exóticos estimula
desenvolvimento teórico.
Duda Falcão
Notícias
Descoberta de Hádrons Exóticos
Estimula Desenvolvimento Teórico
Por José Tadeu Arantes
Agência FAPESP
15 de junho de 2015
(Foto: Wikimedia
Commons)
A existência do objeto constituído por quatro
quarks foi
confirmada no LHC.
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Proposto
independentemente pelos físicos norte-americanos Murray Gell-Mann e George
Zweig em 1964, o modelo dos quarks completou meio século no ano passado. Mas,
apesar de sua longevidade, novos desenvolvimentos desse modelo têm ocorrido,
tanto no domínio experimental como no teórico.
Uma dessas
novidades foi a descoberta de um objeto constituído por quatro quarks,
denominado Z+ (4430). Encontrado pela primeira vez em 2008, no Instituto KEK
(High Energy Accelerator Research Organization), no Japão, sua existência foi
convincentemente confirmada em 2014 no LHC (Large Hadron Collider), o Grande
Colisor de Hádrons localizado na fronteira franco-suíça.
O número 4430 se
refere à massa do objeto, em unidades de megaelétrons-volt por velocidade da
luz ao quadrado (MeV/c2).
Comparativamente, a massa do próton é de aproximadamente 938,3 MeV/c2. E, ao contrário do próton, cuja meia-vida é
superior a 2,1×1029 anos (quase 20 vezes a idade estimada
do Universo), o Z+ (4430) sobrevive por apenas uma diminuta fração de segundo.
O grande
interesse que suscita decorre de que não há outra explicação para ele que não
seja a de uma composição exótica de quatro quarks.
As composições
usuais são de três quarks, formando os bárions (categoria a que pertencem os
prótons e os nêutrons), ou de um par quark-antiquark, formando os mésons (como
o píon, ou méson pi, previsto teoricamente pelo japonês Hideki Yukawa, em 1935,
e descoberto experimentalmente pelo brasileiro César Lattes, em 1947).
Mas composições
exóticas, que antes eram apenas uma possibilidade teórica, começaram a ser
encontradas nos aceleradores de partículas ao longo da última década.
“O Z+ (4430)
pode ser tanto uma molécula composta por dois mésons (cada qual constituído por
um par quark-antiquark) quanto um tetraquark propriamente dito (constituído por
quatro quarks soltos, confinados em um determinado volume devido à interação
forte)”, disse Marina Nielsen, professora titular e chefe do Departamento de
Física Experimental do Instituto de Física da Universidade de São Paulo
(IF-USP), à Agência FAPESP.
Nielsen coordena
o Projeto Temático “Física de Hádrons”,
que tem o apoio da FAPESP. “O estudo desses hádrons exóticos constitui uma das linhas de
pesquisa de nosso projeto, e aquela à qual eu particularmente me dedico”,
disse.
Outros hádrons
exóticos, descobertos anteriormente, ainda têm sua estrutura sujeita a
controvérsias. É o caso do X (3872), encontrado em 2003 no Instituto KEK, que
também parece ser composto por quatro quarks, organizados na forma de molécula
de mésons ou de tetraquark.
Porém, pelo fato
de ser eletricamente neutro, isso não pode ser dito com segurança. E alguns
pesquisadores afirmam que se trata apenas de um charmônio, um méson formado por
dois quarks bastante massivos, o charm e o anticharm.
“Mas o caso do
Z+ (4430) não dá margem a dúvidas. Ele tem carga elétrica. E, para isso, além
do charm e do anticharm, precisa conter também um up e um antidown”, explicou
Nielsen.
Artigo Referência
A interpretação
da natureza do X (3872) e de outros hádrons exóticos encontrados posteriormente
constitui um desafio para os físicos que se ocupam da cromodinâmica quântica
(QCD, de Quantum chromodynamics), a teoria que trata dos quarks e de suas
interações.
Nielsen e seu
colega Fernando Silveira Navarra, também professor titular do IF-USP,
participam de uma rede internacional dedicada ao assunto, o Quarkonium Working
Group (QWG), um grupo de trabalho que reúne quase 70 pesquisadores das
principais universidades do mundo.
Em 2011, esse
grupo internacional produziu um artigo, publicado no European Physical Journal,
que se tornou referência na área, tendo recebido mais de 700 citações em
artigos especializados: Heavy quarkonium: progress,
puzzles, and opportunities.
Os pesquisadores
da USP tiveram expressiva participação nesse trabalho. “Um dos métodos
utilizados para fazer cálculos na área são as chamadas ‘regras de soma da
cromodinâmica quântica’ (QCDSR, de Quantum Chromodynamics Sum Rules), com as quais
trabalhamos há vários anos. Com o auxílio desse método, pudemos avançar na
compreensão dos estados exóticos”, disse Navarra.
“Alguns deles
podem ser melhor entendidos como tetraquarks; outros como mésons de quarks
massivos, a exemplo do charmônio; outros ainda como uma mistura quântica de
charmônio e tetraquarks”, detalhou o pesquisador.
A expressão
“mistura quântica” significa que a função de onda associada ao objeto em
questão possui duas componentes, uma que descreve o charmônio e outra que
descreve o tetraquark. E que, em um número grande de observações, o objeto será
observado ora como uma coisa ora como outra, conforme certa distribuição
probabilística.
“A proliferação
de novos estados criou uma situação de certa forma parecida com a que havia
antes de Gell-Mann e Zweig proporem o modelo de quarks: várias partículas
aparentemente sem conexão umas com as outras, desafiando os pesquisadores a
agrupá-las segundo algum critério. Em relação a isso, também demos nossa
contribuição, mostrando que certos estados podem ser corretamente interpretados
como excitações de outros”, disse Navarra.
O cenário agora
considerado simples, constituído por bárions (três quarks) e mésons
(quark-antiquark), aos quais os físicos já estavam habituados, correspondia aos
patamares de energia do mundo cotidiano ou àqueles alcançados até recentemente
nos laboratórios. Mas, na medida em que novos equipamentos capazes de alcançar
estados de energia cada vez mais altos são construídos, objetos exóticos tendem
a se multiplicar, exigindo novos esforços de interpretação teórica.
“Essas novas
descobertas conferem, de certa forma, um aval para a cromodinâmica quântica.
Porque essa teoria estabelece as configurações de quarks que podem existir e
aquelas que não podem. As mais simples são a tríade de quarks e o par
quark-antiquark”, disse Nielsen.
“Mas outras
configurações, mais complexas, também são possíveis. E há um dito famoso na
mecânica quântica: o que não é proibido tem que existir. O que estamos
conseguindo agora, graças aos novos patamares de energia alcançados em
aceleradores como o LHC, é observar outros estados possíveis”, disse.
Fonte: Site da Agência FAPESP
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