O Primeiro Satélite "Amador" Brasileiro
Olá leitor!
Em agosto de 2011 postamos aqui no Blog uma informação de
que diferentemente do que a maioria imaginava o primeiro satélite brasileiro
não teria sido o Satélite de Coletas de Dados SCD-1 do INPE (este sim o
primeiro satélite profissional do Brasil) e sim o
microsatélite amador “DOVE (Digital Orbiting Voice Encoder)”, ou “OSCAR
17” como também ficou conhecido (veja aqui), este desenvolvido pelo visionário radioamador
“Junior Torres de Castro (PY2BJO)”. Pois então, agora eu trago um interessante artigo
que conta a história deste satélite e de seu idealizador, artigo este postado dia
(09/02) pelo nosso leitor Bernardino C.
da Silva em seu “Blog BRAZIL IN THE SPACE”. Vale a pena dar uma
conferida
Duda Falcão
O Primeiro Satélite "Amador" Brasileiro
Bernardino C. da
Silva
09 de fevereiro de 2015
“É muito fácil criticar os pioneiros, encontrar seus
erros e enganos.
Mas quando foi necessário arriscar a pele ou colocar em
jogo o próprio
nome, somente eles tiveram coragem de se aventurar.
Lucêmio Lopes da Anunciação”
Dr.
Júnior Torres de Castro (2011)
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A história de paixão e
obstinação do Dr. Júnior Torres de Castro pelo radioamadorismo e pelos
satélites - um brasileiro de Botucatu (SP), simboliza, a meu ver, a essência do
que se resume a luta por desenvolver tecnologias e meios de acesso ao espaço,
especialmente numa época que ainda poucos países dominavam a área.
Modelo de engenharia do
Little Brick.
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Castro passou a sonhar
em construir um satélite, quando tinha 24 anos, já formado em Engenharia Civil
(Mackense), depois de ouvir, com curiosidade e interesse, o bip bip do
Sputnik, lançado pelos soviéticos no dia 4 de outubro de 1957 e que inaugurou a
Era Espacial. A partir daí, Castro foi acalentando este sonho durante 33 anos,
período em que participou de diversos congressos e cursos ligados à área
espacial nos Estados Unidos e na Europa. Também se formou em Engenharia Elétrica
(USP), Engenharia Eletrônica (University of Columbia), além de ter feitos os
cursos de geologia e geofísica (Suécia) e um PhD em Física. Como empresário,
Castro tinha uma empresa de perfuração de poços artesianos.
"Castro é um
exemplo para cientistas e estudantes. Tem a obsessão dos grandes realizadores"
teria dito o Dr. Márcio Nogueira Barbosa, que foi Diretor Geral do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) entre 1989 e 2001. Mas segundo
relatos do próprio Castro, para diversos órgãos de imprensa que o entrevistaram
logo após o lançamento de seu satélite, a coisa nem sempre teria sido assim. De
acordo com ele, no princípio, quando começou a participar de cursos e
congressos internacionais, junto com renomados pesquisadores, se sentia um "peixe
fora d'água" e sentia que era visto com desconfiança, por não ser do meio
científico e acadêmico. Mas ele continuava na luta e, com o passar do tempo e
de dezenas de viagens ao exterior ganhou experiência e prestígio junto à
comunidade científica internacional.
Em 1976, com as
orientações que recebera de diversos cientistas, Castro comandou a criação do
Little Brick (Tijolinho), a primeira versão de um satélite, que era equipado
com sintetizador de voz e transmitia palavras inteligíveis. Ele conseguiu
montar um modelo de engenharia, ao custo de US$ 5 mil, tendo utilizado
componentes de mercado, o que, embora funcionasse com perfeição na terra, não
poderia ser colocado em órbita, porque os componentes utilizados não
suportariam o ambiente espacial.
Estas restrições não
impediram Castro de colocar o "Tijolinho" debaixo do braço e
comparecesse com ele em um congresso da Universidade de Utah (EUA), realizado
em 1977, na Cidade de Salt Lake City.
Sob olhares curiosos de
cientistas presentes, Castro colocou o modelo de engenharia do satélite sobre
uma mesa e, do outro lado da sala, começou a receber os sinais transmitidos por
ele, em viva-voz. Depois disso, Castro mudou-se para Bolder, nos Estados Unidos
e enviou cópias de seu projeto para fabricantes de equipamentos espaciais,
devidamente acompanhadas por cartas de recomendação de cientistas importantes
da época, que acreditaram na viabilidade de seu projeto e, principalmente, pelo
objetivo da missão que pretendia ser a pregação da paz entre os povos, através
da difusão de mensagens. Sem esse apoio dos cientistas não teria sido possível
a compra de componentes qualificados para uso espacial.
O DOVE sendo instalado
base
da coifa do Ariane-4.
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Com peças doadas ou vendidas a preço de custo ou preços
simbólicos, o micro satélite "Brasil Peace Talker", também batizado
por DOVE (Digital Orbiting Voice Encoder), que também significava "Pomba
da Paz" [1] finalmente ficou pronto e seu custo inicialmente previsto para
US$ 4 milhões, acabou reduzido para US$ 225 mil. Parte deste investimento (US$
120 mil, fora outras despesas com viagens, etc.) foi feito por Castro e o
restante pela AMSAT Brasil (Rádio Amateur Sattelite Corporation) [2].
Para o mundo dos Radioamadores, este micro satélite era o
OSCAR 17 [3].
O micro satélite, na forma aproximada de um cubo, com 226
x 226 x 223 mm e 12,92 kg de massa bruta, foi construído em um laboratório
no Colorado (EUA), juntamente com mais três micro satélites idênticos no
formato, tendo sido dois para a Universidade de Utah e um para a Argentina.
Cada instituição definiu a sua própria missão e construiu a carga útil.
A montagem final e os testes ambientais do DOVE foram
feitos no CNES (Centre Spatial Guyanais), na Guiana Francesa. Seu lançamento
foi feito a partir da base espacial de Kourou, em Caienna, na Guiana
Francesa, a bordo do foguete Ariane 4, as 21:30 horas do dia 21 de janeiro de 1990.
Ele foi lançado a uma
órbita de 850 km, para circular a terra durante 100,8 minutos com inclinação de
98º. Sua potência de transmissão era de 4 W e, além de transmitir as mensagens
de paz, transmitia os valores dos sistemas de bordo, como nível de tensão da
bateria, situação dos painéis solares. [4]
O micro satélite DOVE
tinha uma característica única: uma saída de transmissão de voz digitalizada,
bem como gravações de voz digitalizadas em terra e que deveriam ser carregadas
no computador de bordo para retransmissão. Eram mensagens de crianças dos
Estados Unidos, Rússia, França, Índia e Vietnam. Pela primeira vez também foi
utilizada a técnica SMD de montagem dos componentes nas placas eletrônicas,
como acima.
O DOVE teve uma vida
útil estimada em 6 anos, mas ficou operando até março de 1998, quando sua
bateria descarregou e teve uma avaria no computador de bordo.
1] No Cristianismo e no
Judaísmo a pomba branca representa a paz, vindo esta imagem do Velho
Testamento, quando Noé teria soltado um pombo branco para verificar se havia
terra por perto e ele retornou carregando um ramo de oliveira no bico.
[2] O Dr. Júnior Torres
de Castro foi Presidente da ANSAT norte americana por quatro mandatos seguidos
(8 anos). Deve-se ressaltar que, pelo objetivo da missão, que era transmitir
mensagens de paz entre os povos, nada foi cobrado pelo lançamento do DOVE.
[3] Todos os satélites
construídos por Radioamadores e patrocinados pela AMSAT, depois de entrar em
operação, recebiam um número depois de OSCAR (Orbital
Satellite Carrying Amateur Radio). O primeiro foi lançado em 1961 e, até o ano
de 2002, existiam 50 OSCAR's em operação.
[4] O
DOVE foi lançado na companhia dos seguintes satélites: SPOT 2, UoSAT 3, UoSAT
4, Webersat, Pacsat e o argentino Lusat.
Fonte: Blog BRAZIL IN
THE SPACE - http://brazilinspace.blogspot.com.br/
Comentário: Primeiramente
devo parabenizar ao Bernardino C.
da Silva por resgatar a história deste satélite através da iniciativa de
escrever este artigo. Costumo dizer entre meus familiares e amigos que se deve
dar a “Cesar o que é de Cesar” reconhecendo quem realmente fez algo de
relevante (apesar das dificuldades herculanas) na história deste Território de
Piratas. Qualquer Nação que se preze cultua seus heróis e se vale de suas
histórias de vida para fazer valer entre o seu povo o seu exemplo, bem como
também a necessidade de continuar apostando no futuro. Porém isto só é possível
numa nação de verdade e o Brasil jamais se aproximou de algo como uma nação. Nosso
povo é ignorante, corrupto, oportunista e só pensa no seu próprio umbigo,
coisas que não ajudam em nada a construir uma verdadeira sociedade progressista
e de futuro. Portanto, quando observamos iniciativas como esta de
reconhecimento aos verdadeiros brasileiros do Bernardino C da Silva, temos de
cita-las como exemplo, e esperar que algum dia (na história ainda a ser escrita
desse Território de Piratas) pessoas como o Dr.
Júnior Torres de Castro sejam maioria, não só entre aqueles que como ele fazem
a diferença no setor de C&T do país, mais principalmente dentre aqueles que
detêm o poder econômico e político, oriundos ou não da Classe Dominante. Chega
de COLLORS, ITAMARS, CARDOSOS, LULAS, e OGRAS da vida, gente que não presta e
que não contribuem em nada para o verdadeiro desenvolvimento e amadurecimento
da Sociedade Brasileira. Uma vez mais Bernardino, parabéns pelo seu artigo.
Lembro de falar sobre este satélite brevemente nos jornais brasileiros. mas logo a história foi esquecida pois não era algo governamental etc. Parabens a Dr. Júnior Torres de Castro, com certeza é gente que faz este país melhor, apesar de tudo.
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