IME do Exercito Brasileiro Tinha Projeto de Enviar um Gato ao Espaço no Final dos Anos 50. Será?

Olá leitor!

Recebi na noite de ontem (23/03) um e-mail do leitor Andre Dobrychtop com uma informação bastante curiosa e desconhecida por mim. Segundo alguns sites pesquisados por ele por volta de 1958 o Brasil estava planejado colocar um gato no espaço numa missão coordenada pela Escola Técnica do Exército (ETE), hoje Instituto Militar de Engenharia (IME). Pesquisando por conta própria encontrei no “Blog BRAZIL IN THE SPACE”, do nosso leitor Bernardino C. da Silva, um artigo que endossa esta história. Vale a pena dar uma conferida.

Duda Falcão

Poderia Ter Sido o Primeiro Foguete-Sonda

Bernardino C. da Silva
23 de março de 2015

O primeiro projeto de um foguete de sondagem, genuinamente brasileiro, foi feito 1958, pelos alunos de engenharia de armamentos da Escola Técnica do Exército (ETE), hoje Instituto Militar de Engenharia (IME), localizado na Praia Vermelha (RJ).

À frente desse ambicioso projeto estava o Coronel Manoel dos Santos Lage, que contava com a ajuda de vários oficiais professores e pesquisadores da Escola Técnica e fora dela, incluindo o brilhante cientista César Lattes, que desenvolveu os sistemas de comunicação e o experimento que iria ser utilizado para estudo dos Raios Cósmicos e isso em pleno Ano Geofísico Internacional.

Manoel dos Santos Lage nasceu em Santa Maria (RS) em 04 de junho de 1912. Casou muito novo, em 1936, com D. Zilda, nascida em Nova Friburgo (RJ) e teve duas filhas, Helly e Suelena, ambas nascidas no Rio de Janeiro.

Lage era um homem sedento de conhecimento, embora não fosse um especialista ou um gênio da física, mas era movido pela curiosidade e pela necessidade permanente do experimentar, de trocar ideias, de comunicar, de disseminar informações e conhecimentos, de conhecer de tudo um pouco.

O foguete tinha cerca de 4 metros de comprimento total, 400 mm de diâmetro, massa total de 350 kg, incluindo uma carga útil de 15 kg. O foguete era denominado oficialmente de Projeto F-360-BD, mas o Coronel Lage gostava de chamá-lo de Foguete Sonda I (EB). No final, ficou conhecido mesmo por "Félix I", quando a imprensa descobriu que transportaria um gato. Félix era o nome de um dos gatos que os franceses treinavam para mandar ao espaço depois de 1960. O Brasil antecipava esta façanha, já que mais de 150 animais já haviam sido enviado ao espaço, mas nenhum gato.

O foguete "Félix I" era monoestágio, a propelente sólido, também desenvolvido pelos oficiais químicos da Escola Técnica do Exército e a equipe do Coronel Lage tinha a pretensão de que este foguete atingisse um apogeu de 120 km em 190 segundos. A composição do propelente utilizado no foguete, considerada estratégica para a época, por ter sido desenvolvido por Químicos da ETE, era um propelente sólido homogêneo, de base dupla.

O Cel. Lage e a câmara de combustão do "Félix I"

Especulava-se que na mistura havia, entre outros produtos, a trietilamina (C2H5)3N e o ácido nítrico (HNO3). O Coronel Lage apenas informou que uma parte do propelente seria constituída de pólvora, mas não adiantou mais qualquer informação. O ignitor seria à base de pólvora negra.

A missão previa levar ao espaço, além da aparelhagem científica, o gato "Flamengo", em uma cápsula que voltaria suavemente ao solo, com a utilização de dois paraquedas, quando, na altitude programada, a cápsula fosse liberada da câmara de combustão, que cairia no mar. Havia a previsão de 2 horas de oxigênio para o gato "Flamengo", tempo que computaria o lançamento, retorno ao solo de paraquedas e resgate na praia, que tem cerca de 40 km de extensão, mas para o que seria utilizado pessoal da Aeronáutica como apoio.

Com relação ao sistema de ejeção da câmara onde viajaria o gato “Flamengo” o Coronel Lage detalhou que uma vez o foguete ter atingido a altitude prevista de 120 km , quando acabaria o combustível, a cabine em que viajaria - já naquela altura, o ilustre passageiro gato “Flamengo” se desprenderia automaticamente do resto do foguete, quando seria aberto o primeiro paraquedas, com a finalidade de conter um pouco a queda, mas naquela altitude, sendo “o ar muito rarefeito” este primeiro paraquedas só amenizaria e o segundo paraquedas se abriria quando o gato estivesse a 1.500 metros de altitude, sendo tudo feito por meio de instrumentos e dispositivos automáticos, sem qualquer influência de quem estivesse em solo.

Registrador
Segundo explicação dada pelo Coronel Lage ao pessoal da imprensa, o mesmo dispositivo que provocaria a separação da cápsula da câmara de combustão seria responsável, por fazer abrir o primeiro paraquedas. O segundo paraquedas estava programado para abrir quando a cápsula estivesse a 1.500 metros de altitude, também através de um mecanismo automático, que funcionaria a partir do comando de um sensor barométrico.

O Coronel Lage ainda informou que na subida este dispositivo não provocaria a abertura do paraquedas, porque para este abrir havia a dependência, não só da altitude, mas também que a cápsula estivesse desacoplada da câmara de combustão.

O foguete "Félix I" acabou ganhando publicidade além da conta e passou a ser citado inclusive em jornais norte americanos e ingleses, infelizmente, em tom de crítica por estar o Exército Brasileiro mandando um felino ao espaço. Na imprensa interna, todo dia tinha novidade a publicar e o projeto ganhou um peso imensamente maior do que um simples projeto acadêmico da turma de 58 de engenharia de armamentos e passou a ser visto como um projeto do Exército, o que criou uma série de atritos e disputas, já que o Coronel Lage não aceitava a interferência externa nesse projeto, que insistia, era apenas didático. Não era assim que todos o viam, mas como possibilidade do Brasil dar um salto no futuro e criar ambiente para, futuramente, competir com as grandes potências no campo espacial.

A coisa tomou tal proporção que, em fevereiro de 1959, a imprensa divulgava que estaria havendo uma pressão de fornecedores do Exército com relação ao projeto, pois não entendiam como o mesmo estaria sendo feito. Acontecia que, com toda a divulgação dada ao “Félix I” pela imprensa carioca, parecia para esses fornecedores que seria uma construção grandiosa e que teriam muito que ganhar com ela. A visão de quem desconhecia o projeto era de que seria algo muito grande e, no caso os fornecedores, queriam saber porque o Exército havia deixado eles de fora. Na realidade, tudo estava sendo construído com recursos próprios e, na avaliação do Coronel Lage, não custaria mais do que 3 mil dólares.

Só para encurtar a história (que publicarei na íntegra em alguns dias) o foguete não voou, o projeto foi abafado e caiu no esquecimento, assim como o Coronel Lage que, em maio de 1961, foi promovido a General de Brigada, com transferência para a Reserva. Foi uma história recheada de idealismo, mas também de vaidades, inveja, autoritarismo e falta de visão e de jogo de cintura para aproveitar um bom momento de apoio do público para investir no desenvolvimento da área espacial.

Somente em 1965 a Aeronáutica utilizando a Avibrás, como contratada, conseguiria lançar o foguete Sonda I, que era muito menor que o "Félix I" e alcançava apenas 70 km de altitude, com uma carga útil de 4,5 kg. O Sonda I era um foguete de dois estágios, tinha 3,95 m de comprimento, massa total de 59 kg e diâmetro máximo de 127 mm (1º estágio).

A Escola Técnica do Exército já havia, em 1958, produzido e lançado com sucesso um foguete balístico de 2 estágios, comprimento de 1,80 metros e diâmetro de 114 mm, com alcance de 30 km e pasmem, somente com recursos internos de professores e alunos.



Fonte:  Blog BRAZIL IN THE SPACE - http://brazilinspace.blogspot.com.br/

Comentário: Vale dizer leitor que segundo o site britânico “Purr ‘n’ Fur Famous Felines” (veja aqui), esta curiosa notícia foi publicada na época por dois jornais americanos (Daytona Morning Journal e Spokane Daily Chronicle) e reproduzida pelo site brasileiro “Mural Animal” em 05/11/2014 (veja aqui). Bom leitor, se esta notícia tem veracidade isto significa que as atividades espaciais brasileiras começaram antes do que se pensava e fora da Aeronáutica, e com expectativas bastante ousadas, mas que não obtiveram o apoio do governo que deveria. Diante disto leitor, o Coronel Manoel dos Santos Lage, um pioneiro visionário, além de ser mal aproveitado por este país de merda, ainda foi esquecido pela história, sendo muito bom que esta informação venha à tona dando credito a quem realmente merece. Se esta notícia for realmente verdadeira, o Coronel Manoel dos Santos Lage, foi nada mais nada menos que o “Von Brau Brasileiro”, e mesmo que não tenha alcançado seus objetivos devido a falta de visão e da extrema estupidez de quem detinha o poder na época (Cabecinhas de Panetone) merece ter o seu nome registrado, e lamentamos muito, muito mesmo, que esta oportunidade tenha sido perdida devido aos debiloides da época. Enfim... aproveitamos para agradecer ao jovem leitor Andre Dobrychtop por ter nos enviado esta informação e parabenizamos ao Bernardino C. da Silva por ter escrito este artigo esclarecedor.

Comentários

  1. [...] Diante disto leitor, o Coronel Manoel dos Santos Lage, um pioneiro visionário, além de ser mal aproveitado por este país de merda* (Você quis dizer: governo de merda?), ainda foi esquecido pela história, sendo muito bom que esta informação venha à tona dando credito a quem realmente merece.[...]

    * Concordo com seu desanimo à falta de incentivo ao campo aeroespacial, mas não acho necessário generalizar para o Brasil inteiro, somente ao desgoverno.

    :-)

    att.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Xará!

      Endosso o que disse acima, país de merda mesmo, resultado de uma sociedade desorganizada e nada comprometida com a construção de uma verdadeira nação, um país de piratas onde a única lei realmente válida é a do "levar vantagem em tudo", sendo assim os péssimos governos que temos fruto disso. Nação caro Eduardo, só para lhe citar alguns exemplos, são a Suécia, a Austrália, o Canadá, onde suas sociedades são exemplos de organização o que reflete evidentemente em seus governos.

      Abs

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

      Excluir
    2. O Duda disse certo: é PAIS de merda. Não é governo só não.
      E o que mais me espanta é que foi no Rio de Janeiro (carnavalesco, sambeiro e futeboleiro), o centro irradiador de lixo cultural e o maior responsável pelo Brasil ser essa porcaria de republica bananeira.

      Excluir
  2. Pois é amigo Duda Falcão.

    Não é só a presidenta Dilma que é negligente e debiloide como você fala. Sabe que governava o Brasil em 1958? Juscelino Kubistchek, tido como o presidente mais desenvolvimentista e progressista de todas as épocas. O homem que orgulhava-se de ter dado uma nova e moderna capital ao Brasil. Esforço esse ao que parece lhe consumiu toda a sua atenção. Deixando o restante de lado. Que ironia para um presidente que dizia ter uma visão além do seu tempo.

    E aí amigo que você preferia, uma capital novinha em folha um projeto aeroespacial consolidado??

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Quanto a DILMA ser debiloide, irresponsável e uma populista de merda, não resta a menor dúvida quanto a isto. Já quanto ao ex--presidente Juscelino Kubistchek, a história o tem como um presidente desenvolvimentista, progressista e principalmente comprometido na construção de uma verdadeira nação, mas também ele era humano e pisou na bola nesta questão. Entretanto, segundo eu soube, houve uma história paralela aí que envolveu um certo general do Exercito que foi o grande responsável pelo cancelamento deste projeto.

      Já quanto a sua comparação deste projeto com a construção de Brasília ela foi totalmente desproporcional, afinal nesta questão naquela época não se estava falando da consolidação de nada e sim do início de um pequeno projeto que no futuro poderia levar o Brasil a estabelecer um Programa Espacial com mais fundamento e conhecimento, mas obrigado assim mesmo pela sua participação e continue nos acompanhando.

      Abs

      Duda Falcão
      (Brazilian Space)

      Excluir
  3. Essa eu nem imaginava! O Brasil quase pioneiro no espaço!

    ResponderExcluir
  4. João Paulo Laudares2 de maio de 2015 às 15:01

    Esta história é real e foi publicada pelo Dawson Tadeu Izola em seu livreto sobre os projetos que se desenrolaram no IME na década de 50, 60 e 70. Ele teve acesso aos trabalhos originais, que estavam na biblioteca do IME e em mau estado de conservação. A informação seguinte é que os trabalhos acabaram perdidos. Eu mesmo tentei ter acesso a este material na década de 90 mas não tive sucesso. Tenho uma cópia desse livreto comigo onde ele narra a história do Coronel Laje e do seu foguete "Gato Félix". O projeto era simples e na época os foguetes eram todos de propelente sólido, NC base dupla.

    Infelizmente as história brasileiríssimas de inveja, competição entre amigos e ausência de prioridades acabaram enterrando o sonho. Na época Lage reconhecia que o passo importante era começar o desenvolvimento dos propulsores líquidos, mas as vicissitudes das tarefas acabaram por encerrar esta história. Além disso a mudança na modalidade colaborativa de trabalho de final de curso para uma atividade mais acadêmica e individual acabou por exterminar as excepcionais histórias de desenvolvimento tecnológico precoce que aconteciam por lá. Vou tentar achar o livreto aqui em casa e lembrar de mais alguma história.

    Agora, francamente...eu não sei onde o Caminha estava com a cabeça quando escreveu que "nessa terra tudo dá..."

    ResponderExcluir
  5. Manoel dos Santos Lage, não nasceu no Rio Grande do Sul. Nasceu no Rio de Janeiro em São Cristóvão. Filho de Maria Quitéria e Camilo, meus bisavós Ele era irmão de minha avo, Marina dos Santos Lage e que casada passou Marina Lage da Rocha Gomes. Meu bisavô tinha uma loja em São Cristóvão na rua Bela. O resto das informações estão corretas.

    ResponderExcluir
  6. Se quiser pode entrar em contato comigo. Meu email elisalrieger@terra.com.br., Meu tio avo faleceu 6 meses depois de minha bisavô, de câncer, eu era muito pequena, tinha uns quatro anos. Ele já era General. Tenho foto dele, mas aqui não da para postar. Ele estudou nos EUA a mando pelo Exeecicito. Foi primeiro sozinho, depois levou sua familia e lá permaneceu por 2 anos. Agradeço a atenção. Sua esposa e minha prima Helly já estão falecidas, Suelena, depois da morte da mãe não manteve contato conosco.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cara Elisa Rieger!

      Eu sugiro que você procure o autor do artigo, o Sr. Bernardino C. da Silva do Bllog BRAZIL IN THE SPACE pelo link http://brazilinspace.blogspot.com.br/ e faça as suas devidas correções e considerações. Eu soube que ele estava até procurando familiares Coronel Manoel dos Santos Lage para obter maiores informações sobre este projeto e sobre sua carreira. Tá ok Elisa? Boa sorte.

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

      Excluir

Postar um comentário