Vênus Perde Sua Última Espaçonave Ativa, Enquanto o Japão Declara a Sonda Akatsuki Como Morta

Caros entusiastas da atividades espaciais!
 
No dia de ontem (29/10), o portal Space.com noticiou que Vênus perdeu sua última espaçonave ativa, após o Japão declarar, na última terça-feira (28), que a Sonda Akatsuki havia encerrado suas operações. Novas missões ao planeta estão em planejamento, mas seus financiamentos ainda são incertos.
 
(Crédito da imagem: JAXA)
Conceito artístico da espaçonave Akatsuki do Japão em Vênus.

De acordo com a nota do portal, a última missão ativa da humanidade em Vênus chegou ao fim. A Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA) declarou sua espaçonave Akatsuki como morta na terça-feira (28 de outubro), mais de um ano depois de a sonda climática de Vênus ter deixado de responder aos chamados do controle da missão.
 
“Esta foi uma missão que mudou nossa visão sobre o nosso vizinho de tamanho semelhante à Terra e abriu o caminho para novas descobertas sobre o que é preciso para um planeta se tornar o paraíso ou o inferno”, afirmaram representantes da JAXA sobre a missão, em referência à notória alta pressão e temperatura da superfície de Vênus em comparação à Terra.
 
A JAXA observou que a missão Akatsuki gerou 178 artigos científicos (e contando) e triplicou sua vida útil projetada de 4,5 anos — mesmo tendo falhado em sua primeira tentativa de entrar em órbita de Vênus.
 
A espaçonave, de US$ 300 milhões, também conhecida como Orbitador Climático de Vênus, foi lançada em 2010 e sofreu uma falha em seu motor principal, perdendo a chance de realizar a queima crucial para entrar em órbita. Incrivelmente, porém, a missão sobreviveu tempo suficiente para uma segunda tentativa de inserção orbital em 2015, quando a Akatsuki se aproximou novamente de Vênus após cinco anos orbitando o Sol.
 
“Com o motor principal danificado, a equipe foi forçada a ser criativa”, escreveu a JAXA no comunicado. “A espaçonave teria de tentar a captura usando os propulsores menos potentes, projetados apenas para controle de atitude e ajustes finos. A inserção orbital nunca havia sido alcançada por tal método, mas a exploração sempre foi sobre redefinir o impossível.”
 
A Akatsuki não apenas conseguiu a façanha, como permaneceu explorando Vênus por quase uma década. A JAXA anunciou ter perdido contato com a espaçonave em 29 de maio de 2024, após cerca de um mês de problemas de comunicação.
 
A missão da Akatsuki era aprender mais sobre o clima de Vênus, cuja superfície tem temperaturas altas o suficiente para derreter chumbo, além de uma pressão esmagadora que destrói sondas em poucos minutos. Como orbitador, a Akatsuki concentrou-se na camada de nuvens de Vênus, situada entre 50 e 70 quilômetros de altitude.
 
(Crédito da imagem: Equipe do Projeto PLANET-C)
Lado diurno de Vênus capturado pela câmera ultravioleta (UVI) da Akatsuki. A imagem é apresentada em falsa cor, baseada em dados dos comprimentos de onda UV de 283 nm e 365 nm.

“Nessa região, os ventos sopram em velocidades que se aproximam das dos trens-bala Shinkansen — 60 vezes mais rápidas que a rotação do planeta — um fenômeno conhecido como ‘super rotação’”, escreveu a JAXA. Enquanto as nuvens venusianas circulam o planeta em cerca de quatro dias terrestres, a rotação extremamente lenta de Vênus faz com que um único dia venusiano dure o equivalente a 243 dias terrestres.
 
A Akatsuki fez progressos na compreensão da super rotação. “Enquanto observava constantemente a superfície venusiana, os pesquisadores mapearam as nuvens em centenas de imagens, medindo sua velocidade conforme elas se moviam ao redor do globo”, declarou a JAXA. “Essa análise revelou que a aceleração das nuvens dependia do horário solar local, sugerindo que as incríveis velocidades de rotação eram mantidas pelo aquecimento solar.”
 
A descoberta tem implicações para a busca de vida fora da Terra, acrescentou a agência. Vênus orbita o Sol em apenas 225 dias, um período mais curto que sua rotação. Isso significa que o planeta está quase em travamento de maré, o que ocorreria se uma de suas metades ficasse permanentemente voltada para o Sol (como a Lua, cuja face próxima está sempre voltada para a Terra).
 
“Muitos dos exoplanetas descobertos podem estar em travamento de maré, e há um debate contínuo sobre se isso afeta suas chances de habitabilidade”, escreveu a JAXA. “Sem um mecanismo para redistribuir o calor, o ar no lado noturno de um mundo travado congelaria, causando o colapso global da atmosfera. No entanto, se a rápida rotação atmosférica de Vênus for impulsionada pelo aquecimento da estrela, isso poderia ser um mecanismo comum que redistribuiria o calor rapidamente o suficiente para preservar a atmosfera desses mundos travados.”
 
A Akatsuki foi lançada com seis instrumentos científicos, todos funcionando quando entrou na órbita de Vênus em 2015. Duas câmeras infravermelhas pararam de funcionar cerca de um ano após a inserção orbital, mas os outros quatro instrumentos ainda estavam em boas condições quando a Akatsuki parou de se comunicar em 2024.
 
A missão também fez outras descobertas, segundo a JAXA. Cientistas observaram uma estrutura em forma de arco na atmosfera que durou pelo menos quatro dias terrestres — fenômeno que os pesquisadores atribuíram a ondas de gravidade geradas por montanhas venusianas, que permitem ao gás da atmosfera inferior mover-se para camadas mais altas, mais do que se observa na Terra. Mas, para aprender mais, serão necessárias novas missões a Vênus, disse a JAXA.
 
E algumas estão em fase de planejamento. Por exemplo, a NASA está trabalhando em uma missão chamada DAVINCI, projetada para penetrar na atmosfera, e outra chamada VERITAS, que orbitará o planeta em busca de informações sobre sua superfície e interior. Já a Agência Espacial Europeia (ESA) está desenvolvendo a EnVision, uma sonda orbital que estudará a atmosfera, o interior e a superfície de Vênus.
 
Entretanto, tanto DAVINCI quanto VERITAS correm o risco de perder financiamento na proposta orçamentária da NASA para 2026, apresentada pelo presidente Donald Trump, que corta 24% do orçamento da agência e cancela dezenas de missões científicas. O que acontecerá a seguir ainda está sendo debatido por políticos durante a paralisação do governo dos EUA, iniciada em 1º de outubro, quando o orçamento do novo ano fiscal não foi aprovado.
 
Brazilian Space
 
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