Aeronáutica adquire satélite radar por 33 milhões de dólares

Olá, leitor!

O Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), Órgão subordinado ao Comando da Aeronáutica (COMAER) publicou no Diário Oficial da União (DOU) do último dia 22 de dezembro, o Extrato de Dispensa de Licitação Nº 1/2020, sobre a "Aquisição de Sistema de Sensoriamento Remoto", no valor de US$ 33.874.000,00 (Trinta e três milhões oitocentos e setenta e quatro mil dólares norte-americanos), com a empresa finlandesa ICEYE (confira aqui).


Esse satélite é, salvo engano, o mesmo que seria (teoricamente) adquirido pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), que gerou toda a polêmica relatada na nossa matéria "O Radar da Discórdia I, II e III" (veja aqui).

Com o valor em reais na ordem de R$ 176.600.000,00 (Cento e setenta e seis milhões e seiscentos mil reais), com o câmbio de hoje (US$ 1 <=> R$ 5,21), estamos confirmando as informações com a área de comunicação do COMAER para trazer maiores detalhes sobre a referida aquisição.

No entanto, sabemos que a ICEYE possui atualmente 3 modelos de satélites radar de abertura sintética (Synthetic-aperture radar - SAR):

- Série ICEYE-X1: É um equipamento de prova de conceito, conhecido como o primeiro SAR na classe de microssatélites.
  • Classe: Microssatélite;
  • Massa: 70 kg;
  • Dimensões: 0,7 m (H) × 0,6 m (W) × 0,4 m (D); 
  • Payload: SAR Banda X;
  • Comprimento da antena: 3,25 m;
  • Potência: 1,5 a 1,7 kW;
  • Resolução da imagem: 10m;
  • Órbita:
    • Tipo: Polar heliossíncrona;
    • Inclinação: 97,56 °; 
    • Altitude: 494 km × 506 km;
  • Vida útil: 2 a 3 anos.
Imagem: ICEYE-X1.

- Série ICEYE-X2: É uma versão comercial aprimorada do X1, voltado a melhoria do desempenho SAR, com uma potência duas vezes maior que o seu antecessor.
  • Classe: Microssatélite;
  • Massa: 85 kg;
  • Dimensões: 0,8 m (H) × 0,8 m (W) × 0,6 m (D); 
  • Payload: SAR Banda X;
  • Comprimento da antena: ? m;
  • Potência: 4 kW+;
  • Resolução da imagem: Submétrica;
  • Órbita: 
    • Tipo: Polar heliossíncrona;
    • Inclinação: 97,77 °; 
    • Altitude: 570 km × 587 km;
  • Vida útil: 2 a 3+ anos.
Imagem: ICEYE-X2.

ICEYE-X3 "Harbinger": É uma variante para fins militares com propulsão elétrica de efeito de campo e recursos de comunicação a laser de alta taxa, cujas operações de carga útil exigem potência de pico de 3 kW. 
  • Classe: Minissatélite;
  • Massa: 150 kg;
  • Dimensões: ? m (H) × ? m (W) × ? m (D); 
  • Payload: SAR Banda X e Câmera ótica de baixa resolução;
  • Comprimento da antena: ? m;
  • Potência: 3 kW;
  • Resolução da imagem: Submétrica;
  • Órbita:
    • Tipo: Baixa inclinação e alta revisita para baixas latitudes;
    • Inclinação:40 °; 
    • Altitude: 494 km × 506 km;
  • Vida útil: 3 anos.
Imagem: ICEYE-X3 "Harbinger".

A constelação própria da ICEYE, com um total de 18 satélites lançados até 2021, fornecerá uma média de intervalo de revisita de 3 horas ao redor do globo para observar os movimentos do gelo marinho, derramamentos de óleo marinho e embarcações de pesca ilegal.

Nesse sentido, vislumbrando a aquisição do satélite pela FAB, considerando serem satélites de Banda X e as aplicações acima elencadas, apresentadas pela própria ICEYE, acreditamos que a aquisição feita pela FAB não deva ser aplicada para o monitoramento da Amazônia (via SAR Banda L), como havia sido divulgado quando da possível aquisição para o Censipam, mas, provavelmente, para o monitoramento do nosso litoral e da nossa zona econômica exclusiva ou das nossa base na Antártida e as rotas marítimas para a mesma.

Em termos de custos, acreditamos que, a depender do modelo / série do satélite (X2 ou X3), os valores do mesmo variam entre US$ 7 a 16 milhões e o custo de lançamento fica entre US$ 3 a 7 milhões, o que daria, para um único satélite, o valor aproximado (com o lançamento) de US$ 10 milhões para o X2 e de US$ 23 milhões para o X3.

Assim, com um contrato de US$ 33.874.000,00, acreditamos que os US$ 23 milhões (para o X2) ou US$ 10 milhões (para o X3) restantes vão ser usados para a implantação das estruturas de solo, processamento, treinamento, etc.

No caso da aquisição do X2, isso poderia incluir um segundo satélite, que ainda estaria dentro do valor total do contrato.

Vamos aguardar as respostas ao questionamento que fizemos ao COMAER.

Rui Botelho
(Brazilian Space)

Comentários

  1. Prezado Professor Rui,
    Boa tarde! Dada a justificativa para a dispensa - segurança nacional - é provável que poucas informações venham à tona.
    Considerando que o Comando da Aeronáutica tenha contratado a versão militar X3, têm-se um custo de US$ 220.000,00 por kilo. Por que empresas nacionais não exploram esse nicho, como a Visiona? Falta de "visião"?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Prezado Gustavo,

      Fiz a seguinte consulta a Ascom do COMAER:

      1) O sistema adquirido é composto por quantos satélites?
      2) O(s) satélite(s) adquirido(s) é(são) SAR Banda X ou Banda L ou ambas?
      2.1) Se o payload for Banda X qual será o ambiente de emprego (a Antártida, as nossas costas e zona econômica exclusiva, etc)?
      2.2) Se o payload for Banda L será empregado na Amazônia e no controle de fronteiras?
      3) O(s) satélite(s) adquirido(s) é(são) de qual modelo da fabricante ICEYE (X1 ou X2 de 85 kg ou X3 "Harbinger" de 150kg)?
      4) Os valores da aquisição são referentes somente aos satélites ou a infraestrutura de solo, rastreio, processamento, entre outros?
      5) Os custos de lançamento estão inclusos no valor divulgado?
      6) Qual o valor individual de cada componente do sistema (Valor do satélite, valor do sistema de solo e rastreio, valor do sistema de processamento, valor do lançamento, etc...)?
      7) Qual o prazo de entrega, a data de lançamento estimada e a data de entrada em operação estimada?

      Espero que as respostas sejam fornecidas, pois, sendo um satélite de mercado, ainda que venha a ser customizado, os dados que estou pedindo só confirmariam o que já sabemos.

      No mais, é aguardar.

      Abraço e obrigado pela participação!

      Excluir
  2. Essa urgencia implicaria termos alguma ameaça ou lacuna que afetasse operacionalmente alguma atividade economica ou de segurança ou atividade cientifica que não pudesse esperar, fora isso.... esse dinheirinho cairia muito bem num desenvolvimento autocne , que a medio e longo prazo daria um retorno mil vezes melhor, mais as vezes as comisoes que rolam nesses contratos urgentes.....falam mais alto

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é. Eu não consigo entender forças que estão defasadas há décadas por falta de verba, quando pinga um dinheirinho, ao invés de investir na capacitação da indústria, que resultará em produtos de alto valor agregado, que por sua vez resultarão em mais arrecadação do governo, permitindo assim maiores gastos militares; fazem o quê? Compram de fora.
      Aí, os oficiais-generais, estrategistas (???) que são, saem por ai dando palestra dizendo que país maldoso bloqueou acesso a alguma tecnologia...

      Excluir

Postar um comentário