Sistema de Previsão de Raios do ELAT do INPE
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessante matéria postada que foi na edição de janeiro do ”Jornal
do SindCT“, tendo como destaque o “Sistema de Previsão de Raios” desenvolvido
pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT)
do INPE que, por falta de recursos, ainda não se encontra operacional.
Duda Falcão
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
GRUPO DE ELETRICIDADE ATMOSFÉRICA (ELAT) É PIONEIRO NESSE
TIPO DE PESQUISA
Sistema de Previsão de Raios do ELAT
Metodologia de previsão e alerta à população,
desenvolvida por grupo especializado
do INPE, poderia reduzir a média anual de 111 óbitos por
raios no País, mas não
está em operação por falta de investimentos
Alexandre Bezerra
e Antonio Biondi
Jornal do SindCT
Edição nº 54
Janeiro de 2017
Atingido a cada ano por cerca de 50 milhões de raios, o
Brasil é o campeão mundial de incidência desse tipo de fenômeno. Anualmente,
são registradas em média 111 mortes por raios em território brasileiro, sendo o
verão a época de maior ocorrência de acidentes. Por ser o maior país em
extensão territorial localizado na região tropical do planeta, com temperaturas
elevadas, o Brasil reúne condições propícias para a condensação do ar quente e
úmido que sobe para a atmosfera, criando partículas de gelo que se chocam e
formam os relâmpagos.
Diante desse cenário, o Grupo de Eletricidade Atmosférica
(ELAT), pioneiro em pesquisas sobre raios no Brasil, e que integra o Centro de
Ciências do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), desenvolveu uma metodologia de previsão deste fenômeno para que a
população possa se proteger com antecedência das situações de risco.
“É de senso comum e muito divulgado pela imprensa que a
chance de uma pessoa ser atingida por um raio é de uma em um milhão, uma
probabilidade muito remota. Mas essa média não retrata os perigos reais para as
pessoas que se colocam em situações de risco. Se você está no mar durante uma
tempestade, por exemplo, a chance de ser atingido por um raio pode chegar a ser
de 1 em 100, uma probabilidade relativamente alta. E é exatamente nessas
ocasiões que as pessoas são atingidas”, alerta o pesquisador Osmar Pinto
Junior, coordenador do ELAT.
Osmar Pinto Junior, coordenador do ELAT |
Doutor em ciências espaciais, o engenheiro liderou o
desenvolvimento da metodologia de previsão dos raios, que apresenta uma margem
de acerto de 85% — índice semelhante aos da previsão do tempo. O sistema se
utiliza de informações dos modelos meteorológicos tradicionais para identificar
valores de umidade e temperatura em diferentes alturas da atmosfera. Da
comparação da ocorrência de raios com estes dados, foi possível criar um padrão
de configuração de umidade, temperatura e precipitação em determinadas alturas
da atmosfera que indica, com boa margem de segurança, se haverá tempestades de
raios nas 24 horas seguintes.
O sistema, que pode contribuir para a diminuição de
mortes, foi lançado no final de 2015. Porém, diante da crise econômica atual, o
ELAT enfrenta dificuldades para obter os investimentos necessários para tornar
operacional a metodologia e colocar a iniciativa à disposição da população brasileira.
Mortes
Os dados sobre mortes por raios no país começaram a ser
compilados pelo ELAT em 2000, com classificação das ocorrências em cada região
do país, o perfil das pessoas atingidas e as circunstâncias dos acidentes. O
histórico dessa pesquisa aponta para o Sudeste como a região onde mais morre
gente atingida por raios, respondendo por 38% do total de acidentes. São Paulo
é a cidade com mais acidentes fatais, seguida por Manaus.
De cada quatro mortes, três são de homens, e as
circunstâncias mais comuns envolvem pessoas atingidas ao ar livre na zona
rural, trabalhando no campo, com poucos locais próximos para se abrigar durante
as tempestades, ou em campos de futebol, em parques, na praia ou dentro do mar.
Embora a grande maioria dos acidentes fatais ocorra ao ar
livre (80%), há um contingente significativo de cerca de 20% de mortes
ocorridas dentro das residências.
“Isso significa que as pessoas estão mais seguras dentro
de casa do que fora, mas não estão completamente livres do perigo que os raios
representam”. Muitas casas no Brasil não dispõem de fusíveis e componentes de
segurança em seus quadros de força. Assim, um raio que caia próximo a
construções vulneráveis irá induzir correntes pela rede elétrica e por cabos de
telefone que chegam às tomadas caseiras, podendo causar a morte de pessoas que
entrem em contato com objetos ligados à rede elétrica (por exemplo, a
geladeira), ou que estejam tomando banho no chuveiro elétrico, ou falando ao
telefone fixo.
O Brasil é o sexto país em mortes por raios no mundo. A boa
notícia é que o número de acidentes vem apresentando uma tendência de declínio
ao longo dos 16 anos de medição do ELAT. A média brasileira, que era de 130
mortes por ano na primeira década dos anos 2000, está atualmente em torno de
110.
Em comparação com os países desenvolvidos, no entanto, há
muito que melhorar. Nos Estados Unidos, por exemplo, morrem cerca de 30 pessoas
por ano em decorrência de acidentes com raios. “Deveríamos ter um índice
semelhante, pois apesar de os Estados Unidos terem uma incidência menor de
raios, possuem um total de 350 milhões de habitantes, contra cerca de 200
milhões no nosso país, sendo semelhante o risco de ser atingido por um raio nos
dois países”, afirma Osmar Pinto. “Mas lá existem associações médicas dedicadas
ao tema, congressos e seminários frequentes e até um dia nacional de
conscientização sobre medidas de proteção contra raios, ações que não temos
aqui”, acrescenta.
A tendência de queda do número de acidentes fatais no Brasil
se deve, principalmente, ao maior acesso à informação da população a respeito
dos perigos dos raios e das medidas de precaução. “Não há como eliminar os
acidentes e as mortes com raios, mas devemos sempre evitar correr riscos”,
conclui Osmar.
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 54ª – Janeiro de 2017
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