Depois de Filmar Eclipse a 30 km de Altitude, Brasileiros Sonham Mais Alto
Olá leitor!
Segue abaixo uma
interessante matéria publicada hoje (18/06) no site do jornal “O Estado de São
Paulo”, destacando que depois de astrônomos amadores, estudantes e cientistas
do Brasil e dos EUA se aliarem para filmar eclipse a 30 km de altitude, os
brasileiros estão sonhando mais alto.
Duda Falcão
CIÊNCIA
Depois de Filmar Eclipse a 30 km de
Altitude, Brasileiros Sonham Mais Alto
Aliados,
astrônomos amadores, estudantes e cientistas de universidades do Brasil
e dos Estados
Unidos registraram pela primeira o fenômeno em 360° a partir da
estratosfera;
agora grupo quer mais parcerias e novos projetos
Fábio de Castro,
O Estado de
S.Paulo
18 Junho 2018 |
05h00
O sucesso de uma
missão internacional de divulgação cientifica que reuniu astrônomos amadores,
estudantes de engenharia aeroespacial e cientistas profissionais de
universidades do Brasil e dos Estados Unidos, mostrou o caminho para que um
grupo de pesquisadores da Universidade de
Brasília (UnB) aprimorasse seu principal projeto:
desenvolver o primeiro balão geoestacionário de grande altitude, que poderá ter
aplicações em georreferenciamento, agricultura, ciência espacial, meteorologia
e outras áreas.
Em agosto de
2017, durante o eclipse total
do Sol que cruzou a América do Norte, quatro astrônomos amadores do Clube de
Astronomia de Brasília (CAsB), professor de Engenharia Elétrica Renato Borges e
três de seus alunos na UnB viajaram para Rexburg, no estado americano de Idaho,
para realizar um feito único: registrar o eclipse em 360 graus, a partir de um
balão estratosférico a 30 quilômetros de altitude.
Fotos: Projeto
LAICAnSat-UnB / Missão Kuaray
Em Rexburg, nos Estados Unidos, o grupo brasileiro se
prepara para lançar o balão estratosférico; minutos depois
ele faria as
primeiras imagens em 360 graus de um eclipse.
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A missão foi
realizada em parceria com as universidades de Montana e North Dakota (Estados
Unidos) e financiada por um programa da NASA.
Selecionados para o projeto, os brasileiros foram aos EUA financiados por
crowdfunding - uma espécie de "vaquinha" virtual. A aventura rendeu
um vídeo "full dome" de divulgação científica, que será exibido em
planetários e abriu caminho para diversas parcerias científicas.
"A ideia do
projeto do eclipse era dar uma experiência internacional aos alunos, que é
muito importante na área de pesquisa, e fazer divulgação científica. Mas
acabamos fazendo uma nova parceria com a Universidade de Montana para
desenvolver nossa plataforma para um balão estacionário", disse Borges
ao Estado.
"Enquanto
isso, estamos aperfeiçoando um sistema inédito de pouso para esse tipo de
balão", disse o pesquisador. Segundo ele, o primeiro teste foi realizado no
último sábado, 16. "O projeto começou a sair do papel e das simulações
para levantar voo de verdade", afirmou o professor Borges, que é
coordenador do projeto LAICAnSat, do Laboratório de Aplicação e Inovação em
Ciências Aeroespaciais (Laica).
Segundo Borges,
a proposta de viajar para fazer o registro do eclipse foi feita pelo CAsB. O
professor encampou a ideia e acionou seus parceiros das universidades
americanas. A Universidade de Montana, que fazia parte do projeto "Eclipse
Ballooning Projetct", da NASA, cedeu os balões, o gás combustível e o
apoio logístico para que a equipe brasiliense lançasse sua plataforma. A viagem
foi batizada como missão Kuaray.
Laboratório nas Alturas - A equipe
brasileira foi uma das 55 envolvidas no projeto da NASA, que lançou 34 balões
estratosféricos com a meta de realizar experimentos e filmar o eclipse. Esses
balões de látex chegam a mais de 30 mil metros - cerca de três vezes a altitude
de um avião comercial - e atingem a estratosfera, em temperaturas de até 40
graus negativos e pressão 100 vezes menor que a do nível do mar. Eles são
usados para enviar plataformas de pesquisa à estratosfera, funcionando como
laboratórios em grandes altitudes, onde são realizados experimentos que não
seriam possíveis na Terra, com custo mais baixo que o das missões
espaciais.
A plataforma da
equipe da UnB foi testada com o envio de uma câmera especial capaz de filmar o
eclipse em 360 graus, enquanto é desenvolvida para diferentes aplicações.
O professsor Renato Borges, coordenador do projeto LAICAnSat,
da UnB, observa um dos protótipos da plataforma impressa em
3D
que foi utilizada para filmar o eclipse na estratosfera.
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"A missão
foi um marco para nós, porque não havíamos feito nada tão completo. Todos os
lançamentos que havíamos feito no Brasil envolviam basicamente um processo para
gerar um pequeno protótipo da nossa plataforma científica, utilizada para
experimentos em grande altitude", afirmou Borges.
De acordo com o
professor, os resultados da missão também geraram um artigo científico que foi
apresentado em março, nos Estados Unidos, na conferência do Institute of
Electrical and Electronics Engineers (IEEE), a principal associação de
engenharia do mundo.
Conhecimento Compartilhado - O
presidente do CAsB, Augusto Ornella, destacou que até a missão Kuaray,
diversos eclipses já haviam sido filmados a partir de balões estratosféricos,
mas não em 360 graus. Os astrônomos amadores ajudaram em toda a montagem e
preparação para o lançamento.
"Foi muito
interessante para todos. Nós, como astrônomos amadores, tivemos contato com a
academia e pudemos acompanhar de perto o desenvolvimento da tecnologia, dos
circuitos e dos softwares da plataforma. Enquanto isso, o pessoal da academia
teve a oportunidade de compreender melhor a parte prática da observação do
eclipse, na qual temos muita experiência", disse Ornella.
Os membros do
CAsB acompanham de perto todos os eclipses totais do Sol, segundo Ornella.
"Já estamos nos preparando para o próximo, que acontecerá em julho de
2019, na Argentina", disse. De
acordo com Ornella, a cooperação do CAsB com a UnB passou a ser contínua.
"Estamos
sempre dispostos a colaborar com eles. Agora. estamos mediando o contato com um
diretor de cinema, colega nosso, que transformará esse material em um filme em
realidade virtual para ser exibido em atividades de divulgação científica e
planetários."
Segundo Ornella,
a astronomia é uma das ciências que contam com maior interação entre
profissionais e amadores. Os profissionais têm conhecimento profundo e acesso a
instrumentos científicos sofisticados, mas para utilizar os grandes telescópios
por apenas algumas horas é preciso ter um projeto aprovado - e competir por
tempo com outros astrônomos.
"Muitas
vezes eles não têm o tempo disponível para acompanhar um fenômeno de longa
duração, ou que precise ser acompanhado por um ano inteiro, por exemplo. Nós
temos instrumentos menores, mas eles ficam à nossa disposição o tempo todo.
Além disso, estamos espalhados por todo o planeta, incluindo as áreas menos
cobertas pelos grandes telescópios, como o hemisfério Sul. Depois de fazer
nossas observações, entregamos tudo para a análise dos profissionais - e por
isso há tantas descobertas de amadores", disse Ornella.
Além de Borges e
Ornella, a equipe que viajou aos Estados Unidos foi composta pela aluna de mestrado
Lorena Tameirão, pela estudante de engenharia mecatrônica Stephanie Guimarães,
pelo aluno de engenharia aeroespacial Matheus Filipe - todos da UnB - e pelos
membros do CAsB Marcelo Domingues, Arthur Svidzinski e Sérgio Rodrigues.
Plataforma Versátil - Segundo Borges, a
plataforma científica tem o mesmo padrão de um cubesat - termo que remete às
palavras "cubo" e "satélite" em inglês -, um tipo de
satélite miniaturizado que é amplamente utilizado para pesquisas espaciais
acadêmicas. Cada unidade é um cubo de 10 centímetros de lado, que pode ser combinado
de forma modular para carregar vários experimentos.
No caso da
missão Kuaray, a plataforma carregou a câmera de 360 graus. "Foi um ótimo
teste. A plataforma também pode ser utilizada para prestar ou complementar
serviços de telecomunicaçoes e transmissão de dados, por exemplo",
explicou Borges.
O sucesso animou
o pesquisador e seus alunos, que têm o sonho de utilizar sua plataforma em um
balão estratosférico estacionário - isto é, que se mantêm fixo sobre um ponto
específico da Terra - que teria um número ainda maior de aplicações. Mas a
tarefa não é fácil.
"O próximo
passo é projetar um sistema para o retorno da plataforma, que é a maior
dificuldade das missões com balões. Depois de chegar em grande altitude, a
baixa pressão faz o balão estourar e a plataforma cai com um paraquedas. Em
todas nossas missões utilizamos um paraquedas redondo, que reduz o impacto, mas
tema navegabilidade muito baixa. Queremos desenvolver um perfil aerodinâmico
para que possamos prever com precisão a trajetória do voo e o local do
pouso", explicou.
Depois da missão
Kuaray, Borges estabeleceu um novo convênio com a Universidade de Montana para
o desenvolvimento da válvula que permitirá a flutuação do futuro balão
estacionário. "Já estamos trabalhando juntos desde o fim do ano passado. A
missão nos permitiu vislumbrar novos usos e aplicações da nossa plataforma para
o mercado. E essa experiência nos mostrou que, apesar de tudo, não é uma
realidade muito distante da nossa."
Fonte: Site do
Jornal O Estado de São Paulo – 18/06/2018
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