Astrônomos Desvendam o “Coração” da Eta Carinae
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo postado hoje (21/10) no site da
Agência FAPESP, destacando que grupo internacional de astrônomos com
participação brasileira desvendam o “Coração” da Eta Carinae.
Duda Falcão
Notícias
Astrônomos Desvendam o
“Coração” da Eta Carinae
Por Elton Alisson
Agência FAPESP
21 de outubro de 2016
(imagem: ESO)
Um grupo
internacional de astrônomos, com a participação de brasileiros, obteve imagens
com a maior resolução conseguida até hoje da Eta Carinae – um sistema estelar
binário, com duas estrelas massivas orbitando uma em torno da outra, situado a
quase 8 mil anos-luz da Terra, na Nebulosa Carina.
Por meio das
imagens, o grupo de astrônomos conseguiu observar estruturas novas e
inesperadas na estrela binária, incluindo uma região entre as duas estrelas
onde ventos estelares colidem a velocidades extremamente elevadas.
“As atuais
observações permitiram mapear a zona de colisão desses ventos estelares e nos
certificar de que, de fato, entendemos os parâmetros básicos do sistema
binário”, disse Augusto Damineli, professor do Instituto de
Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo
(IAG-USP), à Agência FAPESP.
O pesquisador,
que há mais de 20 anos tem se dedicado a estudar, com apoio da FAPESP,
fenômenos misteriosos que envolvem a Eta Carinae, é um dos três autores
brasileiros do estudo, publicado na revista Astronomy & Astrophysics.
Os outros dois
são Mairan Macedo Teodoro, pesquisador do Goddard Space Flight Center da
agência espacial norte-americana (Nasa) – que fez doutorado
e pós-doutorado com Bolsa da FAPESP –, e José
Henrique Groh de Castro Moura, professor do Trinity College Dublin, na Irlanda,
que também realizou doutorado
direto com Bolsa FAPESP e, assim como Teodoro, foi orientado por
Damineli.
De acordo com
os pesquisadores, as duas estrelas de Eta Carinae são tão luminosas que sua luz
empurra os átomos de suas superfícies, formando ventos estelares muito mais
rápidos e densos que os do Sol.
Esses ventos
colidem violentamente no turbulento espaço entre as duas estrelas, a
velocidades que podem atingir 10 milhões de quilômetros (km) por hora.
O efeito
combinado dos ventos estelares se chocando a velocidades extremas faz com que
as temperaturas da região aumentem em milhões de graus celsius e que ocorram
intensos “dilúvios” de raios X.
A região entre
as duas estrelas onde os ventos estelares colidem é, contudo, muito pequena,
impossibilitando que telescópios localizados tanto no espaço como no solo
obtenham imagens detalhadas.
Por meio de
técnicas avançadas de interferometria de longa base na faixa do infravermelho –
que combina feixes de luz coletados de um mesmo objeto astronômico por vários
telescópios para poder analisá-lo com maior nível de detalhe –, os
pesquisadores conseguiram observar, pela primeira vez, essa região de colisão
de ventos estelares.
Para isso,
utilizaram um instrumento chamado Amber, instalado no Very Large Telescope
Interferometer (VLTI) do Observatório Paranal da European Organization for
Astronomical Research in the Southern Hemisphere (ESO), no deserto do Atacama,
no Chile, além de três dos quatro telescópios auxiliares do Very Large
Telescope (VLT), com espelho de 1,8 metro de diâmetro, que se deslocavam a
diferentes distâncias até 130 metros.
Dessa forma,
conseguiram aumentar em 100 vezes o poder de resolução que tem um dos
telescópios principais do VLT e obter, pela primeira vez, imagens diretas, com
acuidade 50 mil vezes maior que a do olho humano, tanto do vento que circunda a
estrela primária da Eta Carinae como da zona de colisão entre os ventos.
E, por meio de
um efeito chamado Doppler – usado por astrônomos para calcular de forma precisa
quão depressa as estrelas e outros objetos astronômicos se afastam ou se
aproximam da Terra –, obtiveram imagens dos ventos estelares em diferentes
velocidades.
Com isso,
conseguiram medir a velocidade e a densidade desses ventos e compará-las com
uma modelagem computacional das colisões.
“As imagens
que obtivemos por meio do efeito Doppler mostram a colisão dos ventos estelares
em diferente velocidades”, disse Damineli. “Com isso, pudemos reconstruir a
forma das paredes da cavidade formada pela colisão desde seu apex [
ponto entre as duas estrelas onde o choque é mais forte ] até regiões
bem mais afastadas”, explicou.
(ESO,
Digitized Sky Survey 2, A. Fuji, Nick Risinger (skysurvey.org), ESA/Hubble, T.
Preibisch).
Orientação
da Órbita
De acordo com
o pesquisador, no momento em que as imagens da Eta Carinae foram registradas as
duas estrelas ainda estavam se aproximando entre si em direção ao periastro – o ponto de
órbita onde se encontram mais próximas do astro em torno do qual gravitam – e a
cavidade formada pela colisão dos ventos estelares estava aberta na direção dos
telescópios.
Com base nessa
configuração, os pesquisadores inferiram que, ao chegar ao periastro, a estrela
secundária passa por trás da primária, fazendo com que o sistema binário assuma
uma orientação de órbita que Damieli e seus colaboradores já previam em estudos
publicados desde 1997, mas de forma indireta.
“Na última década,
alguns astrônomos que estudam a Eta Carinae insistiam em inverter a orientação
de órbita do sistema binário. Agora não há mais dúvidas de que estávamos
certos”, avaliou.
Os
pesquisadores também observaram por meio das imagens uma inesperada forma em ventoinha
na região onde o vento da estrela menor e mais quente da Eta Carinae colide com
o vento mais denso da estrela maior.
O vento da
estrela menor é menos denso, mas muito mais veloz que o da primária, chegando a
atingir 3 mil km por segundo, estimaram.
Com base
nessas velocidades dos ventos estelares eles esperam, agora, ser possível criar
modelos computacionais mais precisos da estrutura interna da Eta Carinae e
compreender como estrelas extremamente massivas perdem massa à medida que
evoluem.
“Como a
estrela secundária da Eta Carinae é cerca de 200 a 300 vezes mais fraca que a
primária, não pudemos vê-la diretamente com a câmara Amber”, afirmou Damineli.
“Mas isso deverá ser possível com a câmara Gravity, que entrará em operação em
breve no VLTI”, estimou.
Com maior
sensibilidade, a câmera deverá permitir aos astrônomos obter imagens
interferométricas de objetos astronômicos com ainda mais precisão e em um
intervalo de comprimentos de onda maior.
Dessa forma,
poderá ser possível acompanhar a estrela secundária da Eta Carinae ponto a
ponto, ao longo uma órbita de 5,5 anos, e desenhar sua elipse, afirmou
Damineli.
“Quando isso
for feito, finalmente poderemos ‘pesar’ a estrela secundária. A massa é o
parâmetro mais fundamental de uma estrela”, avaliou.
O artigo
VLTI-Amber velocity-resolved aperture-synthesis imaging of Carinae with a
spectral resolution of 12 000. Studies of the primary star wind and innermost
wind-wind collision zone (doi: 10.1051/0004-6361/201628832), de
Weigelt e outros, pode ser lido na revista Astronomy & Astrophysics
em www.aanda.org/articles/aa/abs/2016/10/aa28832-16/aa28832-16.html.
Fonte: Site da Agência FAPESP
O Mairan Macedo é o meu tio
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