"Foram os 9 Minutos Mais Rápidos da Minha Vida", Relembra Primeiro Brasileiro no Espaço
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessante entrevista com o astronauta
“Marcos Pontes” postada dia (30/03) no site “DW”.
Duda Falcão
CIÊNCIA
"Foram
os 9 Minutos Mais Rápidos da Minha Vida", Relembra Primeiro Brasileiro no
Espaço
Há dez anos,
Marcos Pontes se tornou o primeiro e até hoje único brasileiro a
cruzar os
limites da atmosfera e ver a Terra do espaço. Em entrevista à DW,
ele relembra a
viagem e avalia o programa espacial do Brasil.
Por Maurício
Cancilieri
30/03/2013
A bordo da
nave russa Soyuz TMA-8, que partiu do Cazaquistão e carregava 200 toneladas de
combustível a uma velocidade de 28 mil km/h, o primeiro e único astronauta
brasileiro, Marcos Pontes, levou apenas nove minutos para entrar em órbita há
exatamente dez anos, em 30 de março de 2006. Até o momento da acoplagem na
Estação Espacial Internacional (EEI), tudo podia acontecer.
Sem grandes
imprevistos iniciais, Pontes permaneceu dez dias no espaço para cumprir a
Missão Centenário, referência ao voo inaugural do 14-bis de Alberto Santos
Dumont, realizado em 1906. Dormia pouco, trabalhava de olho no cronômetro.
Natural de Bauru, no interior de São Paulo, ele ajudou a fazer a manutenção da
EEI e viu a Terra do alto como "uma criatura viva". Tirou 2.200
fotos, que pretende publicar ainda este ano.
Autor de
quatro livros, o ex-piloto de testes da Força Aérea Brasileira (FAB) agora
tenta retribuir a oportunidade única e histórica divulgando a ciência. Em
entrevista à DW Brasil, ele contou do sonho de deixar a atmosfera uma segunda
vez.
DW Brasil:
O que você fez nos últimos dez anos?
Marcos
Pontes: Fui para a
reserva da Força Aérea, e isso ampliou minha possibilidade de atuação em outras
áreas. Fui convidado pela ONU para ser embaixador de desenvolvimento
industrial. Também trabalho como embaixador da First Foundation, que é para
promoção de ciência e tecnologia em escolas. Também criei uma fundação. Usamos
ciência e tecnologia para promover a educação. Escrevi quatro livros e montei
uma empresa de turismo de aventura porque tenho vontade de levar outras pessoas
ao espaço. Sou palestrante e coach.
Então você
sonha com uma segunda viagem, que seria com mais gente, com turistas?
Eu sonho e
espero que ela se realize. Posso voltar ao espaço através de outras agências ou
de iniciativas privadas. É um mercado amplo, e tenho vários convites. Devo
voltar ao espaço nos próximos anos e espero ajudar a levar mais pessoas. Sei
que esse é o sonho de muita gente.
Marcos Pontes ao lado de colegas
na Estação Espacial Internacional.
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Como você
virou astronauta?
Fiz um
concurso público. Foi nos mesmos moldes que a Nasa. Meu irmão viu o edital e
mandou para mim quando eu estava fazendo meu doutorado nos Estados Unidos.
Do que você
se lembra daqueles dias que antecederam a partida?
Como eu estava
em quarentena, nos últimos 15 dias antes do voo, lá no Cazaquistão, eu estava
muito focado. As coisas que fazíamos eram ligadas a testes de sistema,
verificação da espaçonave, exames médicos, provas de acoplamento. Era aquela
expectativa natural do voo. Esses dias foram muito marcantes, também porque
fazia cinco meses que eu não via minha família. Eles foram para lá no dia
anterior à decolagem. Tive a chance de falar com eles durante meia hora. Aquele
foi um momento muito marcante, a despedida. E depois os detalhes da missão,
lembro de praticamente tudo.
E a viagem,
como foi?
Começa naquele
momento em que você está na escada. Você entra num elevador bem apertado. Tira
a bota que usamos para caminhar e entra na cápsula. A passagem é estreita. Como
aquele macacão é desconfortável, quando você chega dentro da nave, você está
suado, e tudo que você quer é se conectar a um cabo. Tem um cabo de
comunicação, um de oxigênio e um de ventilação. Quando você conecta,
principalmente o de ventilação, dá um alívio. Aí você consegue raciocinar. Toda
aquela parte de fora fica para trás. Tem que se concentrar no painel. Depois de
todo mundo amarrado, vem o acionamento de todos os sistemas, contagem
regressiva, vibração. O foguete vibra muito, o coração acelera bastante. Você
está a caminho dos nove minutos mais rápidos da sua vida.
Teve algum
momento em que bateu medo?
O medo é a
causa de 99% das falhas ou dos insucessos na vida das pessoas. Medo é natural
em todo ser humano. A questão é se você tem coragem ou não de fazer o que você
precisa fazer. O medo vai aparecer. No momento da decolagem, você sabe que está
com 200 toneladas de combustível queimando nas suas costas, e uma explosão
certamente leva todo mundo junto. O acoplamento entre as espaçonaves é a 28 mil
km/h, você não pode errar. Durante o período na Estação Espacial, tivemos um
alarme de incêndio. Conseguimos contornar a situação, e para isso serve o
treinamento, para você controlar a emoção e fazer o necessário.
Qual a
impressão da Terra lá de cima?
É algo
maravilhoso. Captura sua atenção, embora eu tivesse um monte de coisa para
fazer porque o tempo é contado, minuto a minuto. Mas sempre que você passa por
uma janela, você para um ou dois minutos para olhar. Durante o meu tempo de
dormir, seis ou sete horas, era o tempo que eu ficava olhando. Tirava fotos.
Tirei 2.200 fotos. A Terra é obviamente viva, com aquela superfície fina. A
impressão que você tem é que é uma criatuva viva. É difícil de explicar.
O que era a
Missão Centenário? Ela foi cumprida?
Tudo que foi
previsto em termos operacionais, nós conseguimos cumprir. Pode me chamar de
mecânico de espaçonave. Minha função a bordo era manter os sistemas funcionando
e, naquele caso, preparar a estação para a próxima expedição. Todas as tarefas
que recebi foram cumpridas. O que digo que foi além é que teve uma repercussão
em vários setores, tanto de relações internacionais quanto na divulgação
científica do país, e isso tem desdobramentos muito interessantes com relação à
educação. No nosso caso, a missão ajudou a motivar jovens – não sei o número –
a seguir carreira na ciência e tecnologia. Para mim é uma coisa que não tem
preço.
O Programa
Espacial Brasileiro carrega um peso antigo: fruto de uma iniciativa militar,
ele se desenvolveu de forma limitada. Uma nova missão com um brasileiro
ajudaria o programa a se expandir?
Neste momento,
não. O Programa Espacial Brasileiro tem tantos problemas básicos, estruturais.
Lógico que uma missão tem uma repercussão em termos de divulgação que vai
causar apoio público, que vai causar interesse dos políticos, que por sua vez
vai causar um orçamento maior, forçar leis melhores. Mas é só uma parte da
solução. Precisamos solucionar uma série de outros problemas. O Brasil é um dos
países que mais cedo começou as atividades espaciais, lá no início da década de
60, com esforços da Força Aérea. Eles geraram o Centro de Lançamento da
Barreira do Inferno, formação de profissionais. Teve um grande crescimento numa
certa fase. E, em 1995, quando o programa se tornou civil, com a criação da
Agência Espacial, surgiu uma divisão na estrutura que atrapalha. Ou ele ficaria
só militar ou só civil. Deveria existir uma divisão na Força Aérea para tratar
do programa espacial, como é nos Estados Unidos.
Seria uma
integração entre civil e militar?
Na verdade os
dois estão juntos, mas não funcionam bem. Acho que o programa civil deveria ser
só civil, funcionando dentro da premissa de uso pacífico do espaço. E a Força
Aérea? Poderia ser criada uma divisão para tratar de assuntos espaciais. Seria
bom para separarmos as coisas.
Fonte: Site DW - http://www.dw.com/pt/
Comentário: Olá leitor, postei esta entrevista devido principalmente
à parte final da mesma onde o nosso astronauta externa sua opinião sobre o que poderia
ajudar o programa espacial brasileiro a decolar. Num contexto geral eu concordo
com o que o Marcos disse, porém discordo que a solução seja dividir as ações
civis e militares. O Brasil Marcos não é os EUA, onde há recursos enormes de
todas as ordens e vontade politica e seriedade na condução de ambos vetores das
atividades espaciais daquele país. No
nosso universo tupiniquim, antes de dividir, temos que unir todos em prol de um
mesmo objetivo, fortalece-lo, para então ai, criando-se uma cultura diferente
da que existe hoje, seja na classe política, seja na própria comunidade
espacial, dividirmos as ações e seguirmos rumos diferentes. Antes disto, com a cultura vigente, dividir
seria tirar ainda mais de um prato já bem pobre de nutrientes. O que é necessário fazer é unir todos em prol do mesmo objetivo sob a condução de um governo
comprometido em realmente apresentar a Sociedade Brasileira resultados como ocorreu nos últimos anos na Argentina e não fantasias como as que ocorre atualmente no Brasil sob a condução de uma Agencia Espacial de Brinquedo (AEB). Aliás Marcos vale lembrar que isto já ocorreu em outras épocas aqui no Brasil, mesmo o país vivendo graves problemas econômicos,
tá lembrado? Quem quer Marcos, mete a mão e faz, não fica inventando fantasias, né verdade
Sr. Braga Coelho.
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