Relatório Sobre Setores Aeroespacial & Defesa


Olá leitor!

Segue abaixo uma transcrição de parte de um relatório do "Projeto PIB - Perspectivas do Investimento no Brasil" que foi recentemente disponibilizado como um documento setorial sobre os setores Aeroespacial & Defesa, elaborado pelo pesquisador Marcos José Barbieri Ferreira, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Esse documento apresenta em quatro capítulos e 74 páginas a dinâmica global dos investimentos da indústria aeroespacial, um perfil da indústria setorial brasileira e as suas perspectivas e proposições.

O Projeto PIB que é realizado em consórcio por duas das maiores universidades do País, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a UNICAMP, com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem como objetivos, segundo o seu web-site, analisar as perspectivas de investimento na economia brasileira em médio e longo prazo, avaliar as oportunidades e ameaças à expansão das atividades produtivas no País, e sugerir estratégias, diretrizes e instrumentos de política industrial que possam auxiliar o desenvolvimento produtivo nacional.

Caso os leitores queiram acessar na íntegra esse relatório cliquem aqui.

Duda Falcão

Perspectivas de Investimento em Médio Prazo: 2012

Setor Espacial

O Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) tem previsto um investimento médio anual de aproximadamente US$ 220 milhões até o ano de 2012. A expectativa é de que estes investimentos sejam efetivados, dada a necessidade do país em recuperar os atrasos e fracassos ocorridos ao longo das últimas décadas no setor espacial. Esta expectativa é corroborada pela demanda militar, pois a Estratégia Nacional de Defesa elegeu o setor espacial como um dos três setores de importância estratégica que precisam ser fortalecidos. As prioridades da Estratégia Nacional de Defesa para o setor espacial são projetar e fabricar satélites geoestacionários e de sensoriamento, além dos veículos lançadores, de forma que o Brasil tenha autonomia tecnológica neste setor que apresenta uma importância decisiva para a defesa nacional.

Juntamente com a ampliação dos investimentos, que permite a criação de uma importante “janela de oportunidade” para a indústria nacional, existe a perspectiva de um avanço no processo de consolidação da estrutura produtiva, não apenas através da formação de consórcios, mas, principalmente, com as operações de fusões e aquisições. Por um lado, algumas empresas nacionais devem unir suas atividades buscando superar as deficiências relacionadas com a elevada segmentação e a baixa escala produtiva. Por outro lado, conglomerados estrangeiros devem investir na aquisição de empresas locais como forma de obter parte da demanda nacional.

Apesar do avanço das empresas privadas, a perspectiva de médio prazo é que estas continuem a ser fornecedoras de partes e componentes para as instituições públicas responsáveis pelo programa espacial brasileiro.

A seguir são apresentadas as perspectivas de investimento nos principais programas industriais do setor espacial brasileiro, para o período 2009-2012:

Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS): renovação do acordo com a China, tendo agora uma maior participação brasileira, que será de 50%, com investimentos estimados em US$ 250 milhões. Este programa prevê a construção e lançamento de dois novos satélites de sensoriamento de grande porte (2 toneladas), o CBERS-3 (2010) e o CBERS-4 (2012);

Plataforma Multimissão (PMM): satélites de pequeno porte (500 kg) que utilizam um módulo de serviço padrão (subsistemas de propulsão, suprimento de energia e telecomunicações) e deverão ser utilizados em diversas missões de acordo com a carga útil carregada:

a) Amazônia-1: satélite de sensoriamento com câmeras de alta resolução (2010);

b) MAPSAR: satélite de sensoriamento com radar de abertura sintética (2013);

c) Lattes-1: satélite científico para pesquisa geofísica (2012) e

d) GPM - Global Precipitation Mission: satélite meteorológico (2014);

Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB): este programa visa dotar o país de independência em comunicações governamentais, principalmente militares, sistema de controle de tráfego aéreo e produção de dados meteorológicos. Para isto prevê o lançamento de três satélites de grande porte (duas ou mais toneladas), sendo que o primeiro deles poderá estar em órbita antes de 2012. O investimento do programa SGB está estimado em US$ 1 bilhão e, devido à complexidade tecnológica, deverá ser desenvolvido em parceria com empresas e institutos de outros países, visando à transferência de tecnologia para as empresas nacionais.

Veículo Lançador de Satélites (VLS): desenvolvimento concomitante do VLS-1 (combustível sólido) e do VLS-2 (misto sólido e líquido), ambos com o apoio da agência espacial russa (Roskosmos). Os investimentos previstos para os próximos quatro anos são de aproximadamente US$ 100 milhões, havendo a expectativa de lançamento do VLS-1 antes de 2012.

Alcântara Cyclone Space (ACS): criada em 2007, esta joint-venture entre as agências espaciais brasileira (AEB) e ucraniana (NSAU), é responsável pela operação e comercialização do sistema de lançamento do foguete de médio porte Cyclone-4 a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), devendo entrar em operação a partir de 2010.

Perspectivas de Investimento em Longo Prazo: 2022

A expectativa de uma demanda crescente por serviços espaciais, particularmente de monitoramento, implicará em uma significativa expansão dos investimentos no setor espacial brasileiro a longo prazo. As principais demandantes desses serviços são as instituições públicas relacionadas às áreas de meio ambiente, agricultura, defesa, educação à distância, infra-estrutura e planejamento urbano. Dessa maneira, o Brasil deverá se tornam um Global EO - Earth Observation, isto é, um ator global em atividades de observação da terra. A estrutura industrial do setor espacial brasileiro deverá se consolidar na produção de satélites de sensoriamento remoto, coleta de dados ambientais e meteorológicos. Na maioria dos casos, esses novos satélites deverão utilizar plataformas únicas de pequeno porte. Além disso, as empresas e institutos do setor espacial também deverão avançar nos sistemas de processamento das informações obtidas por esses satélites, oferecendo soluções completas e integradas para as mais diversas áreas.

Ainda com relação ao segmento de satélites, as empresas e os institutos de pesquisa brasileiros deverão participar do desenvolvimento e produção de satélites geoestacionários de grande porte, em conjunto com as empresas estrangeiras. Inicialmente, os SGB serão destinados às instituições públicas brasileiras. Entretanto, poderão ser criadas associações entre empresas nacionais e estrangeiras para a venda desses satélites no mercado internacional.

O setor industrial espacial também deverá se capacitar na produção de veículos lançadores de satélites, inicialmente se consolidando na produção dos VLS de pequeno e médio porte, com capacidade de carga de até uma tonelada, o que seria suficiente para lançar a maioria dos satélites de monitoramento que estão sendo desenvolvidos pelo INPE. A longo prazo, o Brasil deverá avançar no desenvolvimento de um VLS de grande porte, mas este dificilmente estará ativo antes de 2022. Dessa maneira, é provável que nesse período o Brasil se associe a outros países na produção de VLS de grande porte, sendo uma das possibilidades a participação de empresas e institutos nacionais no desenvolvimento do Cyclone-5, em conjunto com a Ucrânia.

A construção de satélites e veículos lançadores deverá continuar a cargo dos institutos de pesquisa, INPE e IAE/CTA, respectivamente. Entretanto, a perspectiva é de que as empresas privadas aumentem sua participação nos investimentos do setor espacial brasileiro, deixando de ser fornecedoras de componentes específicos para se tornarem responsáveis pelo desenvolvimento e produção de sistemas completos. Esse maior comprometimento das empresas privadas em conjunto com a elevação dos investimentos deverá propiciar um avanço no processo de consolidação da estrutura produtiva do setor espacial brasileiro. A expectativa é de que seja criada, pelo menos, uma grande empresa nacional no setor industrial espacial; muito provavelmente deverá ser a mesma empresa líder do setor de defesa da indústria aeroespacial, dada à elevada sinergia existente entre estes dois setores. Com relação às demais empresas privadas, a expectativa é de que continuem concentradas em segmentos de mercado bastante específicos, podendo inclusive participar como fornecedoras da futura empresa líder.


Fonte: Projeto PIB - Perspectivas do Investimento no Brasil - Agosto de 2009

Comentário: Como o leitor pode notar, existem sim objetivos claros para o PEB e documentos como este já foram divulgados aos montes. No entanto, para tirá-los do papel é necessário menos blá-blá-blá e mais ação e isso só se faz com “gente que faz”. Infelizmente esse tipo de profissional é escasso dentro do Programa Espacial Brasileiro e, além disso, somos obrigados a conviver com a politicagem e a falta de recursos que imperam dentro do programa. Desse jeito esse documento terá o mesmo fim que todos os outros tiveram anteriormente. Ou seja, em lugar nenhum.

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