Onde a Ciência Tem Vez


Olá leitor!

Segue abaixo um artigo do jornalista Julio Ottoboni publicado na edição nº 3 da revista "Opinião" de São José dos Campos (SP) destacando o sucesso na implantação do Parque Tecnológico Riugi Kojima, de São José dos Campos - tido como exemplo pelo governo de São Paulo para seu programa de desenvolvimento de capacitação tecnológica regional.

Duda Falcão

Especial de Capa

Onde a Ciência Tem Vez

Por Júlio Ottoboni

O presidente Lula introduziu o futebol no discurso político, nada mais acertado para fazer-se compreender no país da bola. Se esse é um requisito para a melhor compreensão de seu programa de governo, pode-se também dizer que a Ciência, na mesma figura de linguagem, é o escanteio. Só acontece quando outras tentativas de gol falharam e algum adversário resolveu despachar a pelota para o fim do campo, para um lugar pouco freqüentado e só lembrado quando dali pode sair alguma nova tentativa de estufar as redes do opositor. Na imensidão do campo, o escanteio se restringe a um cantinho, quando o campo é apenas o encontro de duas retas e um ângulo de 90 graus. Dentro do plano de jogo, o escanteio nunca se encontra no desenho tático, é apenas a conseqüência de tentativas frustradas e ações desesperadas. Enfim, o último recurso. Assim é a ciência, desde tempos imemoriais. Nunca foi protagonista, sempre coadjuvante e último recurso para compensar o embate entre muitos chutes, erros e desacertos. A Ciência é o escanteio. Mas vez por outra, surge neste jogo milenar um atacante que sabe aproveitar as possibilidades do ‘corner’. Dotado de avantajado conhecimento no manejo da bola e das regras do jogo, com a faixa de capitão no braço passa a mostrar que a ordem dos valores pode sim alterar o produto e o resultado do jogo. PhD, Livre-Docente da Universidade de São Paulo (USP), e um currículo de títulos e feitos que pouquíssimos possuem fazem do físico-matemático Marco Antonio Raupp o dono bola. Como diretor do Parque Tecnológico Riugi Kojima, de São José dos Campos - tido como exemplo pelo governo de São Paulo para seu programa de desenvolvimento de capacitação tecnológica regional - uma área de escanteio cobiçadíssima por todos. Ali a Ciência tem vez e faz as regras do jogo. “Aqui no parque o grande desafio é ter, dentro de uma estratégia de país, esse projeto sob os paradigmas da nova economia. Esses paradigmas são dois: competitividade e sustentabilidade. A competitividade das indústrias voltada para uma disputa de mercado global e sustentabilidade social, ambiental e política, que está além da econômica e da inovação, essa última intimamente ligada a tecnologia ”, definiu Raupp os pilares de seu trabalho frente a direção do parque tecnológico.

Hemisfério Sul

O parque dirigido por uma Organização Social (OS), que tem a frente o cientista Raupp, é o maior projeto aeroespacial em curso no hemisfério sul do planeta e está entre os mais promissores ambientes para o desenvolvimento de novas empresas e tecnologias para alicerçar o setor. O local agrega universidades, parcerias com grandes instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Departamento da Coordenação Geral de Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), empresas como a Petrobras, Vale e a Embraer, linhas de financiamento estadual e federal, com o apoio da prefeitura de São José dos Campos.

“ O parque é um território neutro de cooperação entre empresas e instituições de ciência e tecnologia na fase pré competitiva, na absorção de conhecimento que beneficiam toda da cadeia produtiva. Buscamos a competitividade coletiva, da cadeia de produção. Aqui dentro vem parte das grandes empresas, como também das médias e pequenas, que fazem parte deste processo produtivo” , salientou o cientista dirigente. O parque como está articulado e administrado no momento é, sem dúvida, o grande modelo para o crescimento das atividades científicas dentro do setor privado e aumentar significativamente a interação das empresas com a academia. Inclusive, na projeção feita pelo diretor do parque, esse processo abrirá um vasto mercado para pesquisadores graduados, hoje em muito confinados nas universidades e instituições governamentais. Será a retomada dos departamentos de pesquisa e desenvolvimento dentro das indústrias.

Peso do Histórico

Mas Raupp reconhece sua importância neste processo, principalmente como aglutinador de novas entidades científicas no fortalecimento do parque. Também não é para menos, basta olhar mais de perto o currículo deste cientista reconhecidamente entre os mais atuantes e respeitados do país. Ele é o atual presidente da Sociedade Brasileira para Desenvolvimento da Ciência (SBPC), entretanto seu primeiro passo foi no curso de Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, depois sua trajetória profissional e acadêmica apresenta seu PhD em Matemática pela Universidade de Chicago e livre-docência pela USP – a titulação máxima que se consegue dentro da academia. O cientista também foi professor adjunto da Universidade de Brasília (UnB), analista de sistemas do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, pesquisador titular, vice diretor e diretor do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) e diretor geral do INPE e professor associado no IME/USP. Em reconhecimento aos serviços prestados, foi agraciado com o título de Comendador pela Ordem do Rio Branco (Ministério das Relações Exteriores) e pela Ordem Nacional do Mérito Cientifico (Ministério da Ciência e Tecnologia).

Seu histórico ainda apresenta cargos como presidente da Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC) e também tesoureiro, vice-presidente e conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). É membro titular da Academia Internacional de Astronáutica (IAA), membro titular do Conselho Superior da FAPERJ e membro suplente do Conselho Nacional da Ciência e Tecnologia (CCT). “ Estou aqui por causa desta história de cooperação e penetração na área, tem uma preocupação tecnológica com as indústrias. O que eu faço hoje é essa articulação com a USP, Unicamp, Unifesp para não falar em INPE, ITA e em outros”, reconheceu dentro de um sorriso largo o fato de São José dos Campos o ter escolhido para levar a cidade ao seu segundo ciclo aeronáutico e espacial.

O segundo Ciclo Aeroespacial

O sucesso e a inovação metodológica conquistada pelo Parque Tecnológico Riugi Kojima não é obra do acaso caótico, como uma conseqüência dos fatores que envolvem o universo aeroespacial de São José dos Campos. Em funcionamento há 3 anos, o centro é resultante de uma criação conjunta, que reuniu cérebros privilegiados do setor num esforço comum pela transformação qualitativa do pólo aeroespacial local e regional. Assessor de Projetos Estratégicos da prefeitura de São José dos Campos, o também cientista e ex-diretor do INPE e da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Santana, coordena a interface entre o município e o parque. Além de ter tido participação direta na constituição deste novo centro. “O Parque Tecnológico nasceu da convergência de idéias de várias pessoas dos governos municipal e estadual. No início pensava-se em criar o parque tecnológico como um empreendimento imobiliário essencialmente privado, tendo o poder público como fomentador e regulador de sua ocupação. Baseado nesta premissa, em 2005, o governo do estado encomendou ao Centro para Competitividade e Inovação do Cone Leste Paulista (Cecompi) um estudo comparativo de grandes áreas que pudessem sediar o pretenso Parque Tecnológico de São José dos Campos”, relembrou o assessor.

Em 2006, a prefeitura de São José dos Campos adquiriu uma área de 180 mil m2, localizada fora das áreas que eram objetos dos estudos do Cecompi. O propósito específico desta investida foi à constituição do Núcleo do Parque Tecnológico, qualquer que fosse a localização do Parque Tecnológico propriamente dito, que meses mais tarde se formaria nas antigas instalações da fábrica Solectron, as margens da Via Dutra.

Localização Perfeita

O Parque surgiu com instalações prediais de primeira linha, que com algumas modificações e alterações passou a atrair centros de pesquisas e desenvolvimentos ligados a empresas e institutos como Embraer, IPT, Vale do Rio Doce, ITA, Unifesp, Fatec, além de uma incubadora de empresas.

“ Tão exitosa foi a iniciativa que a prefeitura, através de sua empresa de economia mista, Urbam, adquiriu em 2008 uma área de cerca de 900 mil m² no entorno do Núcleo do Parque, passando o conjunto assim a constituir o almejado Parque Tecnológico de São José dos Campos. Esta nova área abrigará laboratórios de desenvolvimento, institutos de pesquisas, universidades e condomínios de empresas”, salientou Santana. Atualmente, o Parque Tecnológico de São José dos Campos engloba uma área definida por lei de 12,5 milhões de m² ao redor do núcleo. Ela conta ainda com áreas particulares e da municipalidade na qual, em iniciativas de parceria com a iniciativa privada, espera-se que venham a se estabelecer entidades com vocação tecnológica em segmentos como aeronáutica, espaço, defesa, energia, meio ambiente, biotecnologia e entre outras áreas do conhecimento técnico-científico. Segundo o assessor, a expectativa é de se criar cerca de 20 mil novos empregos.

“ Somente em uma dessas iniciativas, já em curso, a da Vale Soluções em Energia, VSE, espera-se que em poucos anos estejam lá trabalhando 1800 pessoas, a maior parte pesquisadores com mestrado ou doutorado. Este será, sem dúvida, uma referência internacional na área de energia”, observou o assessor especial da prefeitura.

Empolgação

O atual secretário estadual do desenvolvimento, Geraldo Alckmin, é um entusiasta do conceito de parque tecnológico e dos resultados apresentados pelo núcleo instalado no Vale do Paraíba. “São José dos Campos é um dos maiores pólos aeronáuticos do mundo”, comentou empolgado.

“Aqui está a primeira e única Fatec situada dentro de um parque tecnológico, esse núcleo é um modelo de excelência e todo mundo quer ter um igual. É um ‘case’ de sinergia e mediação da universidade e indústria”, observou. Nos próximos anos o aporte de recursos é imensurável, a tendência é que seja ainda maior que os mais de R$ 500 milhões já investidos entre prefeitura, governo do Estado de São Paulo, Petrobras, Vale, Finep, Embraer, Bndes, IPT, Fapesp entre tantos outros parceiros.

Somente a Secretaria de Desenvolvimento de São Paulo fez recentemente um novo anúncio para ampliação do Centro de Design e Manufatura do Arranjo Produtivo Local (APL) de São José dos Campos (SP). Além disso, dois protocolos de intenções foram assinados para incentivar o desenvolvimento na área aeroespacial.

O centro terá o aporte de R$ 761 mil para aprimorar os serviços de prototipos e design de modelos aeroespaciais. O investimento será feito em parceria com o Cecompi. Segundo Alckmin, do total dos investimentos, R$ 420 mil serão provenientes do governo do estado e R$ 341 mil da entidade do cone leste.

A Secretaria do Desenvolvimento assinou também um protocolo de intenções para a criação do Pólo de Capacitação Aeronáutica de São Paulo, que vai atuar na formação de mão de obra especializada em tecnologias aeroespaciais, em parceria com o Centro Paula Souza, Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), prefeitura de São José dos Campos e Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB).

Outro protocolo envolve a Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade – Investe São Paulo e a Embraer. Ele objetiva atrair empresas aeroespaciais para a região, com a elaboração de medidas que favoreçam a instalação de fornecedores de componentes, partes, peças e serviços presentes na cadeia produtiva de aviões.


Júlio Ottoboni é jornalista diplomado e pós-graduado em jornalismo científico, e cobre a área de ciência e tecnologia espacial há mais de duas décadas.


Fonte: Revista "Opinião" de São José dos Campos - Ano I - Edição nº 3 - 2009

Comentário: Quando um governo realmente acerta tem de ser parabenizado pelo seu feito e não é diferente nesse caso com o governo paulista e a prefeitura de São José dos Campos. No entanto, como o artigo do jornalista Júlio Ottoboni deixa claro, a participação do físico-matemático Marco Antonio Raupp foi decisiva para a implantação do Parque Tecnológico Riugi Kojima. E não poderia ser diferente, o Marco Antônio Raupp é uma dessas pessoas (como o Ozires Silva) que eu chamo de “Gente que Faz”, e junto com o mesmo são grandes nomes para assumirem a mal dirigida e cambaleante Agencia Espacial Brasileira (AEB). Pela experiência de ambos, pela fácil circulação de ambos entre o poder público e a iniciativa privada, pela objetividade que ambos demonstram ter de sobra e principalmente por lutarem a décadas pelo crescimento do setor aeroespacial brasileiro. Infelizmente, não acredito que o Ozires Silva aceitasse o cargo (mesmo sendo um grande desafio e ele gosta de desafios), por diversos motivos, mas principalmente pela sua idade avançada (já que assumir um cargo como esse com os políticos que temos não é nada fácil e certamente muito estressante) e também por ser um apaixonado pela engenharia aeronáutica. Já o Raupp, que também é conhecido por gostar de desafios e já ter experiência de ter sido diretor do INPE seria um bom nome para assumir no lugar do atrapalhado e ineficiente Carlos Ganem, antes que o mesmo resolva criar um projeto de um novo sítio de lançamento ao lado da base Comandante Ferraz na Antártica ou no pico da Neblina.

Comentários

  1. Oi Duda,

    Creio que o caminho do sucesso está sendo trilhado por pesquisadores, fundações de fomento, institutos (IAE e outros) e empresas privadas. Esperar por agências aparelhadas é esperar a morte chegar (lembrando Raul Seixas). Daqui a pouco eles vão ter que tirar a bunda da cadeira e correr atrás do sucesso dessas iniciativas, nem que seja para aparecer bem na foto... quá quá quá...

    Abraços,

    Sengedradog

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  2. E como normalmente esses políticos procedem Sengedradog. Fazer o que? Infelizmente se algo de relevante vier acontecer, eles certamente vão querer tirar proveito da situação.

    Abs

    Duda Falcão

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  3. Grande matéria. É até uma grande coincidência que este final de semana eu havia ido até Aparecida de onibus, e passei ao lado do DCTA/ITA/INPE e pouco depois, perto deste Parque Tecnologico, que eu não saibia exatamente o que era, mas só vi a placa da FATEC lá. Agora eu sei que é um núcleo de desenvolvimento tecnológico. Bacana. Quanto as palavras sobre o Sr.Ozires Silva, este é outro cidadão que eu tiro o chapéu. Inclusive sou o moderador da comunidade dele no Orkut. É um brasileiro que gostaria de apertar a mão pessoalmente algum dia. Alguem que tirou o Brasil do chão e acreditou que poderiamos ter uma industria aeronáutica no nosso país. Infelizmente, existe um "revanchismo" enrustido na nossa sociedade. Muitos vêem o Sr.Ozires Silva, como filhote do Governo Militar e pessoas do atual governo ficavam pegando no pé dele algumas vezes no passado. Não podemos ficar presos no passado. Só o futuro interessa. Nos States, Democratas e Republicanos se unem em prol da união nacional, aqui no Brasil é cada um por sí. Assim não tem como progredirmos.

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  4. Verdade Ricardo, endosso suas palavras principalmente quanto ao Sr. Ozires Silva que realmente é um exemplo de brasileiro a ser seguido.

    Abs

    Duda Falcão

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