Concluído o Primeiro Recenseamento de Nuvens do Brasil
Olá leitor!
Segue abaixo uma notícia postada hoje (01/12) no site da
“Agência FAPESP”, destacando que foi concluído o primeiro recenseamento de
nuvens do Brasil.
Duda Falcão
Notícias
Concluído Primeiro Recenseamento
de Nuvens do Brasil
Por Karina Toledo
01 de dezembro de 2014
(Fotos: Projeto Chuva)
Agência FAPESP –
Para conseguir prever com precisão eventos extremos, como tempestades, ou
simular cenários de impactos das mudanças climáticas, é preciso avançar no
conhecimento dos processos físicos que ocorrem no interior das nuvens e
descobrir a variação de fatores como o tamanho das gotas de chuva, a proporção
das camadas de água e de gelo e o funcionamento das descargas elétricas.
Com esse objetivo, uma série de campanhas para coleta de
dados foi realizada entre 2010 e 2014 em seis cidades brasileiras – Alcântara
(MA), Fortaleza (CE), Belém (PA), São José dos Campos (SP), Santa Maria (RS) e
Manaus (AM) – no âmbito de um Projeto Temático FAPESP coordenado
por Luiz Augusto Toledo Machado, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE). Essas campanhas contaram com a participação de pesquisadores da
Universidade de São Paulo (USP) e de diversas faculdades de Meteorologia no
Brasil, que sediaram os experimentos.
Os principais resultados da iniciativa, conhecida como “Projeto Chuva”,
foram descritos em um artigo de
capa do Bulletin of the American Meteorological Society, revista de
grande impacto na área de meteorologia.
Segundo Machado, as regiões escolhidas para a pesquisa de
campo representam os diferentes regimes de precipitação existentes no Brasil.
“É importante fazer essa caracterização regional para que os modelos
matemáticos possam fazer previsões em alta resolução, ou seja, em escala de
poucos quilômetros”, disse o pesquisador.
Um conjunto comum de instrumentos – que inclui radares de
nuvens de dupla polarização – foi usado nos diferentes sítios de forma que as
medidas pudessem ser comparadas e parametrizadas para modelagem.
O radar de dupla polarização, em conjunto com outros
instrumentos, envia ondas horizontais e verticais que, por reflexão, indicam o
formato dos cristais de gelo e das gotas de chuva, ajudando a elucidar a
composição das nuvens e os mecanismos de formação e intensificação das
descargas elétricas durante as tempestades. Também foram coletados dados como
temperatura, umidade e composição de aerossóis.
Além disso, experimentos adicionais distintos foram
realizados em cada uma das seis cidades. No caso de Alcântara, onde a coleta de
dados ocorreu em março de 2010, o experimento teve como foco o desenvolvimento
de algoritmos de estimativa de precipitação para o satélite internacional
Global Precipitation Measurement (GPM) – lançado em fevereiro de 2014 pela Nasa
(a agência espacial americana) e pela Agência Japonesa de Exploração
Aeroespacial (JAXA).
“Naquela região, o grande desafio é conseguir estimar a
precipitação das chamadas nuvens quentes, que não têm cristais de gelo em seu
interior. Elas são comuns na região do semiárido nordestino”, explicou Machado.
Por não abrigarem gelo, a chuva dessas nuvens passa
despercebida pelos sensores de micro-ondas que equipam os satélites usados
normalmente para medir a precipitação, resultando em dados imprecisos.
As medições de nuvens quentes feitas por radar em
Alcântara, comparadas com as medições feitas por satélite, indicaram que os
valores de volume de água estavam subestimados em mais de 50%.
Em Fortaleza, onde a coleta foi feita em abril de 2011,
foi testado em parceria com a Defesa Civil um sistema de previsão de
tempestades em tempo real e de acesso aberto chamado Sistema de Observação de
Tempo Severo (SOS Chuva).
“Usamos os dados que estavam sendo coletados pelos
radares e os colocamos em tempo real dentro de um sistema de informações
geográficas. Dessa forma, é possível fazer previsões para as próximas duas
horas. E saber onde chove forte no momento, onde tem relâmpago e como a
situação vai se modificar em 20 ou 30 minutos. Também acrescentamos um mapa de
alagamento, que permite prever as regiões que podem ficar alagadas caso a água
suba um metro, por exemplo”, contou Machado.
A experiência foi tão bem-sucedida, contou o pesquisador,
que a equipe decidiu repeti-la nas campanhas realizadas posteriormente. “O SOS
Chuva contribui para diminuir a vulnerabilidade da população a eventos extremos
do clima, pois oferece informações não apenas para os agentes da Defesa Civil
como também para os cidadãos”, disse.
Em junho de 2011 foi realizada a campanha de coleta de
dados em Belém, onde os pesquisadores usaram uma rede de instrumentos de GPS
para estimar a quantidade de água na atmosfera. Os resultados devem ser
publicados em breve. Também foram lançados balões meteorológicos capazes de
voar durante 10 horas e coletar dados da atmosfera. “O objetivo era entender o
fluxo de vapor d’água que vem do Oceano Atlântico que forma a chuva na
Amazônia", contou Machado.
Entre novembro de 2011 e março de 2012, foi realizada a
campanha de São José dos Campos, cujo foco era estudar os relâmpagos e a
eletricidade atmosférica. Para isso, foi utilizado um conjunto de redes de
detecção de descargas elétricas em parceria com a Agência de Pesquisas
Oceânicas e Atmosféricas (NOAA), dos Estados Unidos, e a Agência Europeia de
Satélites Meteorológicos (EUMETSAT).
“Foram coletados dados para desenvolver os algoritmos dos
sensores de descarga elétrica dos satélites geoestacionários de terceira
geração, que ainda serão lançados pela NOAA e pela EUMETSAT nesta década. Outro
objetivo era entender como a nuvem vai se modificando antes que ocorra a
primeira descarga elétrica, de forma a prever a ocorrência de raios”, contou
Machado.
Em Santa Maria, entre novembro e dezembro de 2012, foram
testados, em parceria com pesquisadores argentinos, modelos matemáticos de
previsão de eventos extremos. Segundo Machado, a região que abrange o sul do
Brasil e o norte da Argentina que ocorrem as tempestades mais severas do mundo.
“Os resultados mostraram que os modelos ainda não são
precisos o suficiente para prever com eficácia a ocorrência desses eventos
extremos. Em 2017, faremos um novo experimento semelhante, chamado Relâmpago,
no norte da Argentina”, contou Machado.
GOAmazon
As duas operações intensivas de coleta de dados
realizadas em Manaus – a primeira entre fevereiro e março de 2014 e a segunda entre
setembro e outubro do mesmo ano – ainda não haviam ocorrido quando o artigo foi
submetido à publicação.
A campanha foi feita no âmbito do projeto Green Ocean Amazon e contou com
dois aviões voando em diferentes alturas para acompanhar a pluma de poluição
emitida pela região metropolitana de Manaus. O objetivo era avaliar a interação
entre os poluentes e os compostos emitidos pela floresta, bem como seu impacto
nas propriedades de nuvens (leia mais em http://agencia.fapesp.br/avioes_sobrevoam_a_amazonia_por_quase_200_horas_para_medir_impacto_da_poluicao/20150/).
Os dados ainda estão em fase de análise.
Ao comentar as principais diferenças encontradas nas
diversas regiões brasileiras, Machado destaca que as regiões Sul e Sudeste são
as que apresentam gotas de chuva de tamanhos maiores e uma camada mista, na
qual há água no estado líquido e sólido, mais desenvolvida. Essa é, segundo o
pesquisador, a principal razão da maior incidência de descargas elétricas
nesses locais.
Já as nuvens da Amazônia apresentam a camada de gelo no
topo – acima de 20 quilômetros de altura – mais bem desenvolvida que a de
outras regiões. As regiões litorâneas, como Alcântara e Fortaleza, apresentam
em maior quantidade as chamadas nuvens quentes, nas quais quase não há
descargas elétricas.
“Foi o primeiro recenseamento de nuvens feito no Brasil.
Essas informações servirão de base para testar e desenvolver modelos capazes de
descrever em detalhes a formação de nuvens, com alta resolução espacial e
temporal”, concluiu o pesquisador.
chuva, como tamanho e
velocidade,
instalado no sítio de Caucaia, no Ceará.
|
sensoreamento remoto, no Rio
Grande do Sul.
|
Fonte: Site da Agência FAPESP
Comentários
Postar um comentário