E o Brasil, como Anda?

Olá leitor!

Segue agora uma matéria realizada pelo jornalista André Mileski (Blog Panorama Espacial) para a revista Tecnologia & Defesa (T&D) com o Brig. Eng. Francisco Carlos Melo Pantoja, diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) em 26 de maio desse ano.

Duda Falcão

Espaço

E o Brasil, como Anda?

André M. Mileski


Em 26 de maio, o brigadeiro-engenheiro Francisco Carlos Melo Pantoja, diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), subordinado ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), gentilmente recebeu a reportagem de Tecnologia & Defesa, em São José dos Campos (SP), para conversar sobre as atividades do IAE no campo espacial.

O resultado, a seguir, está apresentado em tópicos principais, como o Veículo Lançador de Satélites (VLS) e sistema inerciais, o foguete de sondagem VSB-30, os planos para novos lançadores e também breves comentários sobre o projeto SARA, de reentrada atmosférica, entre outros.

VLS E SISTEMAS INERCIAIS

De acordo com o diretor, o estudo de revisão já foi concluído e vários ensaios em solo estão sendo realizados, seguindo os apontamentos feitos na revisão, que contou com a participação de especialistas da Rússia. O brigadeiro Pantoja disse que muito se aprendeu com o processo, o qual também confirmou muitas coisas que já se faziam no programa.

Destacando uma novidade, mencionou a celebração de um contrato coma MECTRON, também daquela cidade, para implementação de elementos do VLS, no caso a rede elétrica. O contrato é no valor de R$ 21,490 milhões e foi assinado em 30 de dezembro de 2010, mas publicado no Diário Oficial da União apenas em 10 de maio de 2011. Isso aconteceu  apenas agora porque foi o momento em que o IAE sentiu que a indústria estava capacitada para assumir maiores responsabilidades em relação ao programa. Tal potencial foi comprovado em projetos de menor porte, como o da rede elétrica do SARA, também executada pela MECTRON. O diretor ressaltou que, com este contrato, especialistas do IAE poderão focar em outros aspectos técnicos.

Um panorama sobre as atividades
Espaciais do IAE/DCTA

A expectativa é que o próximo vôo do VLS, denominado XVT-01, ocorra no final de 2012. O objetivo, aliás, é que o protótipo do foguete voe com o sistema inercial desenvolvido dentro do projeto “Sistemas Espaciais para Aplicação Aeroespacial (SIA)”, tocado pelo IAE junto a outros institutos e empresas nacionais. Recentemente, testes bem sucedidos de um protótipo do sistema inercial, componente crítico em programas aeroespaciais, foram realizados numa montanha russa em Vinhedo (SP), e existe previsão de novos testes dentro dos próximos meses. Paralelamente as atividades do XVT-01, o IAE também trabalha no vôo seguinte, o XVT-02, que poderia ocorrer seis meses após, com novos aprimoramentos. “Hoje, podemos dizer que ganhamos autonomia numa tecnologia das mais críticas”, afirmou, referindo-se ao SIA.

O SIA é ainda um modelo laboratorial, em desenvolvimento, e será necessário transformá-lo  num produto para outras finalidades que não apenas as aeroespacial, como defesa, exploração de petróleo e gás, entre outras. O entendimento do diretor é que o governo deve ter um papel mais efetivo nesse processo, colocando encomendas.

VSB-30

O brigadeiro Pantoja fez um paralelo do SIA e a importância de se haver demanda para a sua industrialização, com o foguete de sondagem VSB-30. O foguete teve seu desenvolvimento concluído e tem realizado vôos com sucesso no Brasil e no exterior, e agora se espera uma encomenda governamental para o uso em missões de microgravidade. Assim estaria consolidado o seu desenvolvimento e permitiria a transferência de sua produção para a iniciativa privada.

“Não é nosso papel”, disse, quando questionado se o IAE seria o prime-contractor do foguete. O instituto executa esta função porque não existe um contratante principal privado no País, mas a indústria tem demonstrado interesse em assumir o encargo e, para tanto, deve haver investimentos, compras sucessiva de lotes para se atender os programas do governo, como as pesquisas em microgravidade.

Segundo o oficial, algumas empresas que demonstraram interesse foram a AVIBRÁS Aeroespacial, a MECTRON, o grupo Odebrecht (Controlador da MECTRON) e também a EMBRAER, que tem se aproximado do setor espacial tendo, inclusive, realizado várias reuniões com equipes do IAE. Ele faz ainda um alerta: “Caso demoremos muito para fazer isso ( a industrialização do VSB-30), corre-se o risco de perder a competência adquirida.”

LANÇADOR DE PEQUENO PORTE

Tema que freqüentemente gera indagações dos interessados  no programa de lançadores é o futuro do VLS. O assunto é ocasionalmente abordado por T&D, que apresentou algumas das possibilidades analisadas pelo IAE e pela Agência Espacial Brasileira (AEB), como parcerias da Rússia, França, Ucrânia ou Alemanha.

Dessas, a que mais parece agradar ao IAE é com Alemanha, país com o qual o Brasil já coopera no campo espacial há quase 40 anos. O objetivo é desenvolver um veículo lançador de microssatélites (VLM), iniciativa que teria forte vocação para o mercado comercial e que seria concebida em conjunto com a indústria. A idéia, a propósito, surgiu com o programa SHEFEX (Sharp Edge Flight EXperiment), tendo em vista a necessidade dos alemães em dispor de um foguete mais capaz para uma missão ainda suborbital, mas muito próxima da capacidade de entrada em órbita. “Com a Alemanha, percebe-se a tão buscada transferência de tecnologia, e é bilateral”, disse o brigadeiro.

Como idealizado, o VLM “alemão” teria três estágios de propulsão sólida, sendo os dois primeiros dotados com propulsores S-50, a ser desenvolvido e, o terceiro, com o propulsor S-44, que já equipa o quarto estágio do VLS -1. O projeto, caso siga adiante, faria proveito do know-how adquirido com o VSB-30, tanto em termos de gestão, como de qualificação.

O fato é que, qualquer decisão sobre o caminho a ser seguido em relação ao futuro do VLS, dependerá da revisão do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), em curso, que, logicamente, terá reflexos no programa Cruzeiro do Sul, trazendo-o para um cenário mais realista. “O VLM é algo mais ou menos certo para gente, mas vai depender de recursos, não apenas financeiros, mas também de pessoal”, disse o diretor do IAE.

SARA

O projeto do Satélite de Reentrada Atmosférica (SARA) continua avançando. Um vôo suborbital é planejado para 2012, a bordo de um foguete de sondagem VS-40. Vários subsistemas estão sendo desenvolvidos e ensaiados, com a participação da indústria nacional, como a estrutura, dispositivos de recuperação e rede elétrica.

RECURSOS HUMANOS

Seguindo a tendência que assola outras instituições envolvidas com o Programa Espacial, o IAE também tem enfrentado o crônico problema de falta de recursos humanos, à medida em que servidores vão se aposentando e não há reposição com a abertura de novas vagas. De acordo com o diretor, existem várias gestões junto aos órgãos competentes, como o Ministério da Defesa e da Ciência e Tecnologia, visando a promoção de concursos públicos para preencher o vazio humano que vai se formando . Atualmente, o IAE conta com cerca de 1.160 servidores, sendo que, desses, aproximadamente 800 são civis. T&D

Centro de Alcântara Tem Infra-estrutura
Modernizada e Ampliada

Em paralelo ao desenvolvimento de foguetes pelo IAE, o Comando da Aeronáutica também tem atuado fortemente na modernização das instalações do principal sítio de lançamento brasileiro, o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. O grande marco desse processo é a construção da Torre Móvel de Integração (TMI), que será usada pelo VLS. A torre anterior foi destruída no trágico acidente que vitimou 21 especialistas do IAE em agosto de 2003, quando trabalhavam no preparo do vôo do terceiro protótipo do VLS-1. A TMI foi oficialmente apresentada em julho de 2010 e a previsão é que até o segundo semestre de 2011, todos os sistemas, tais como mecanismos de proteção contra descargas elétricas, de medição da velocidade dos ventos, comunicações, entre outros, estejam instalados e a torre seja entregue para a equipe técnica do CLA e IAE. Sua operação deve estar disponível em janeiro de 2012. A nova torre, construída pelo Consórcio Jaraguá/Lavitta, envolveu um investimento de R$ 44 milhões.

Além da TMI, o CLA também teve modernizadas a sala de controle, sistemas de radares de trajetografia e meteorologia e casamata. A sala de controle, por exemplo, teve todos SOS sistemas analógicos substituídos por digitais, com comunicação feita por fibra ótica. Dispositivos de segurança, como câmeras, foram também adotados. Em breve, o centro contará ainda com um sistema ótico, dotado de telêmetro laser, em desenvolvimento pela Omnisys Engenharia, de São Bernardo dos Campos (SP), para o acompanhamento das missões. (AM)


Fonte: Revista Tecnologia & Defesa (T&D) - Junho de 2011 - págs. 74 e 75

Comentário: O companheiro jornalista André Mileski realizou uma grande e esclarecedora matéria com o Brig. Pantoja que vem confirmar a impressão do blog de que não existe mais nenhum empecilho técnico para que o IAE possa cumprir o cronograma de lançamento do VLS-1 XVT-01 no final de 2012 (Note o grande avanço alcançado mesmo com dificuldade pelo IAE no Projeto SIA). O grande problema agora está nos recursos financeiros para que esse cronograma seja respeitado e dependerá exclusivamente do governo DILMA cumprir suas promessas para com esse primeiro vôo tecnológico, como também para com o segundo, que está previsto para ocorrer seis meses após o primeiro. Vale lembrar que, se assim for, finalmente em 2014, talvez antes da Copa do Mundo, o VLS-1 V04 (quarto vôo de qualificação do lançador) estará colocando exitosamente (assim esperamos) um satélite no espaço e colocando o Brasil definitivamente entre os países que dominam o ciclo completo da pesquisa espacial. Quanto às notícias sobre o VLM, para mim são preocupantes, pois imaginávamos que o seu desenvolvimento não seria afetado pela falta de atitude do governo, devido ao mesmo está atrelado ao projeto do SHEFEX (que está previsto da fazer seu terceiro vôo, o SHEFEX III, em 2015, o que exige que o IAE se apresse, ou corra o risco de ter seu foguete substituído pelo DLR) e a um grupo indústrias brasileiras o que teoricamente aceleraria seu desenvolvimento, mas pelas palavras do Brig. Pantoja, o mesmo ainda não saiu da fase de estudos e ainda depende de recursos financeiros e humanos adequados para que possa avançar. Já quanto a SARA Suborbital, parece que as expectativas são boas em relação ao seu primeiro lançamento ocorrer em 2012, entretanto dependerá também que o cronograma do projeto não venha ser atrapalhado pelos gênios de Brasília e suas decisões maravilhosas.

Comentários

  1. E os Russos vem aqui e adquirem novas idéias e tecnologias que não haviam desenvolvido nem imaginado, melhoram seus conhecimentos e tecnologias, deixando o mínimo para trás.
    Já disse que nosso foguete é 100% funcional! nossos políticos é que são traidores e estão deixando o país se atrasar ainda mais em termos de espaço.
    É "teoria da conspiração" ou não?: tem gente ganhando para não deixar nosso foguete mostrar sua eficiência, ou pressão internacional por ser de combustível sólido? Os EUA e outros tem seus mísseis prontos, nó temos que ficar assistindo e batendo palmas?

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