O Avanço da Astronomia no Brasil
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo publicado na edição 89 (outubro/2009) da revista SCIENTIFIC AMERICAN – Brasil destacando o reconhecimento internacional pelo atual estagio que hoje se encontra a Astronomia Brasileira.
Duda Falcão
O Avanço da Astronomia no Brasil
Realização da Assembléia da IAU no Rio é Reconhecimento
da Capacidade de Nossos Astrônomos
Por Augusto Damineli
SCIENTIFIC AMERICAN - Brasil
Edição 89 - Outubro 2009
A Astronomia Brasileira está conquistando um novo estágio em sua história. Isso ficou claro na realização da Assembléia Geral da IAU no Rio de Janeiro, entre 3 e 14 de agosto passado. Na avaliação dos aproximadamente 2.500 cientistas participantes, o encontro foi um dos melhores dos últimos tempos.
A escolha das sedes das assembléias da IAU é definida especialmente pelo interesse da comunidade internacional pela atividade astronômica no país e pela competência dos anfitriões em organizar um evento tão complexo como esse. Ao longo de duas semanas foram realizados 31 congressos, sendo 19 deles com brasileiros em seus comitês científicos.
Essa participação não foi apenas por cortesia dos estrangeiros, pois a reputação de um congresso é avaliada pela estatura científica do comitê. A comunidade internacional já havia notado que nossa astronomia cresce a uma taxa acima de 10% ao ano em termos de publicações e formação de doutores desde 1970. Esse crescimento é ímpar no mundo. Além disso, o Brasil tem investido em projetos de grande porte, como os telescópios Gemini de 8 metros (no Havaí e Andes chilenos) e o Soar de 4 metros (nos Andes chilenos). Alguns de nossos astrônomos têm demonstrado competência na gestão desses projetos, como também em comissões internacionais que publicam revistas científicas e a própria IAU, onde temos a vice-presidência.
Para os pesquisadores e estudantes da área, o acesso a dados científicos nunca foi tão abundante. Além dos telescópios Gemini e Soar, compramos acesso temporário ao Telescópio Canadá-França-Havaí (CFHT, na sigla em inglês), de 3,6 metros, no Havaí; por troca de tempo com o telescópio Gemini temos acesso aos telescópios Keck de 10 metros e ao Subaru de 8 metros (ambos no Havaí). E, por troca de tempo com o Soar, temos acesso ao Telescópio Blanco de 4 metros (no Chile).
Os pesquisadores e estudantes de pós-graduação têm demonstrado habilidade no uso desses recursos. No Gemini e Soar, nossa comunidade publica o dobro de artigos científicos (por unidade de tempo disponível) que os parceiros de melhor performance. Isso encorajou o ministro de Ciência e Tecnologia a anunciar, durante o encontro, que a cota de acesso ao Gemini será duplicada em 2010 e que o governo está estudando a participação do Brasil no telescópio de 42 metros (o Extremely Large Telescope) que a Europa planeja construir nos Andes chilenos. O capital viria dos trabalhos de construção civil por companhias brasileiras que já operam na região e pelo fornecimento de aço e alumínio.
Uma área muito dinâmica e com potencial de melhoria de nossos processos industriais é a fabricação de instrumentos de observação. Construir telescópios dá dinheiro, mas, como duram muito tempo, só poucas empresas no mundo se interessam por esse mercado. Os instrumentos, em contrapartida, podem ser renovados a cada poucos anos, dependendo do aparecimento de detectores de melhor performance, componentes ópticos de melhor transmissão de luz, computadores mais velozes ou de maior capacidade de memória e sistema de controle das oscilações atmosféricas como a óptica adaptativa.
Ainda este ano o Brasil vai colocar dois espectrógrafos de campo integral para funcionar no Soar (o SIFS e o BTFI). Um terceiro espectrógrafo, mono-objeto, mas de alta resolução espectral (Steles), irá para lá no próximo ano. Instrumentos desse porte são chamados de “classe mundial” e envolvem tecnologia de ponta em óptica, mecânica e controle. Além de permitir o aumento de qualidade e quantidade de dados em comparação aos equipamentos de geração anterior, eles são um excelente cartão de visita para os usuários estrangeiros, certificando nossa capacidade técnica.
Uma outra fonte importante de dados são os observatórios virtuais. Com o aumento da capacidade computacional e do poder de comunicação da Internet é possível oferecer as bases de dados já coletados por telescópios em solo e no espaço. Essa organização mundial se chama International Virtual Observatory Alliance (Ivoa), da qual o Brasil passou a fazer parte desde maio passado, através do Brazilian Virtual Observatory (Bravo). Qualquer internauta, ao acessar um observatório virtual, pode requisitar que o ponto do céu em que está interessado seja apresentado em diferentes janelas espectrais. Ou seja, os observatórios virtuais permitem uma visão multiespectral do céu, varrendo a faixa de raios gama, raios X, ultravioleta, visível, infravermelho e rádio. As oportunidades de descobertas são enormes.
A Assembléia no Rio de Janeiro tomou diversas decisões para implementar um plano de expansão da astronomia no mundo. Esse plano decenal (2010-20) prevê, além do progresso instrumental, um maior impacto no sistema educacional e inclusão social. Foi lançado o Portal para o Universo (http://www.portaltotheuniverse.org), que congrega todos os recursos em astronomia. O programa aumentará o número de centros de pesquisa em países não desenvolvidos, entre outros objetivos.
Augusto Damineli: É chefe do departamento de astronomia do Instituto Astronômico, Geofísico e de Ciências Atmosféricas (IAG-USP), é o representante brasileiro da IAU para as comemorações do Ano Internacional da Astronomia.
Fonte: Revista SCIENTIFIC AMERICAN - Brasil - Edição 89 - Outubro 2009
Comentário: Grande artigo do Augusto Damineli que descreve claramente para o leitor uma vez mais o estágio em que se encontra atualmente a Astronomia Brasileira. A astronomia e suas ciências correlatas estão em franco desenvolvimento no país e isso certamente fará com que as suas necessidades acabem forçando uma maior integração com o Programa Espacial Brasileiro. É certo que já existem algumas ações nesse sentido, como por exemplo, os projetos do satélite científico Lattes-1 e NANOSATC-BR e um projeto que esta ainda sendo discutido de um satélite Monitor de Clima Espacial (MCE). No entanto, essas ações ainda são muito tímidas para as inúmeras possibilidades nessa área de satélites científicos e de sondas espaciais. Sinceramente espero que essa integração venha alavancar de uma vez por todas o nosso cambaleante e tão necessário Programa Espacial Brasileiro.
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