Como Chegar a Marte e Não Morrer? Eminente Cientista Brasileira Explica
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessante entrevista com a cientista brasileira
Thais Russomano publicada hoje (26/06) pelo site “Sputnik News”, concedida
quando da sua passagem no dia de hoje pela Universidade Russa da Amizade dos
Povos em Moscou.
Duda Falcão
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Como Chegar a Marte e Não Morrer?
Eminente Cientista Brasileira Explica
Nesta segunda-feira (26), a Universidade Russa da Amizade
dos Povos contou
com uma visita da Dra. Thais Russomano, diretora da
empresa InnovaSpace e
fundadora do primeiro centro de pesquisa em medicina
espacial no Brasil, o
MicroG. A Sputnik Brasil falou com a cientista e discutiu
os assuntos mais
urgentes no desbravamento do Planeta Vermelho.
Sputnik News
2/.06/2017 – 16:19
Atualizado 26/06/2017 – 17:37
© REUTERS/ NASA/JPL-Caltech
A viagem humana a Marte e sua provável colonização tem
gerado bastante repercussão ao longo dos últimos anos, com numerosos projetos
aparecendo, filmes espaciais sendo lançados no ar, com até projetos tais como
MARS ONE, que planeja reunir centenas de pessoas de várias profissões,
históricos e origens para viajarem ao Planeta Vermelho.
Entretanto, além das fantasias e sonhos, a colonização de
Marte continua uma tarefa bem sofisticada, relacionada com dezenas de nuances e
obstáculos, predominantemente na área da medicina. A Dra. Russomano,
especializada exatamente nas questões de tratamento médico de astronautas,
falou com a Sputnik Brasil e respondeu às perguntas mais curiosas sobre o curso
das coisas.
Que
desafios ainda impedem essa aventura?
Em uma
conversa com a Sputnik, a cientista revelou que a gravidade está entre os três
problemas críticos para a organização de tal tipo de viagem, além da radiação e
aspetos psicossociológicos.
Sputnik: Em
primeiro lugar, queria perguntar quando, a seu ver, se efetuará a primeira
viagem a Marte e qual projeto, afinal das contas, será pioneiro neste sentido,
já que há vários?
Thais
Russomano: Bom, primeiro é preciso entender o que é que restringe a nossa
viagem a Marte. Porque, na verdade, tecnicamente nós já estamos em Marte. Já se
mandou sondas, já se mandou robôs que caminham lá até hoje. Então, já sabemos
como chegar em Marte. O que restringe basicamente a chegada é basicamente a
minha área de atividade que é a própria vida espacial.
Então, nós
saímos da Terra, da sua gravidade, e vamos chegar na gravidade de Marte. Saímos
de um G [constante de gravitação universal] e chegamos a um terço desse G. Ou
seja, se eu peso 90 quilos na Terra, vou pesar 30 quilos em Marte. É uma coisa,
e outra é que ainda vou passar microgravidade no espaço.
Além disso, a
médica brasileira frisou que a radiação representa um desafio ainda maior à
viagem humana ao espaço, especialmente no caso de um voo longo.
"A radiação é muito difícil de proteger. Tudo
é muito pesado para se proteger. Se a gente usasse a água para proteger a radiação
que vem do espaço, a espaçonave ficaria muito pesada. Talvez a melhor maneira
de reduzir essa radiação, pelo menos diminuir a chance de ela afetar o ser
humano, seria encurtar essa distância em termos de tempo de voo. Em vez de ter
uma viagem de 6 meses, teremos uma missão de 3 semanas", partilhou.
Dra. Russomano
adiantou que outro fator importantíssimo, que não se pode deixar à parte, tem a
ver com o estado psicológico de um astronauta. Citando como exemplo uma
espaçonave com 3-4 pessoas que vêm de "backgrounds" diferentes,
deixam sua família e amigos e se distanciam cada vez mais da vida terrestre, a
cientista frisa que esta situação influi muito na condição em que uma pessoa
chega no planeta.
Mas qual seria
a saída deste novelo de problemas que, à primeira vista, parece solucionável? A
médica nos revelou essa "receita" ideal, mas realçou que ela
necessita de um investimento muito grande.
"Tecnicamente,
seria ideal se a gente conseguisse colocar a gravidade da Terra na espaçonave.
Se conseguisse gerar uma centrifugação que nos dê, pelo menos, algo muito
parecido com a gravidade terrestre", disse.
Dra. Russomano
explicou que tal processo, cujo conceito já existe na ciência, se chama de
terraformação, ou seja, a transformação das condições climáticas e ambientais
de um planeta ou satélite para igualá-las com as da Terra, e fazer com que
o ser humano seja capaz de lá sobreviver. "Ou seja, pegar em uma
espaçonave e transformá-la na Terra. Tentar mimetizar o máximo possível a nossa
vida aqui dentro da espaçonave", explicou.
"Mas ainda é distante, eu acho, esse momento
de chegar em Marte com sucesso. Chegar a Marte — a gente chega, mas pode
chegar morto, né?", gracejou.
A doutora
detalhou que, para chegar ao planeta sãs e salvas, as pessoas devem
avaliar todos os riscos, que há muitos, de antemão, com o fim de prever os
problemas já na superfície.
"Provavelmente,
até dentro do projeto MARS ONE seria bom mandar primeiro os habitats humanos,
construí-los em Marte para a chegada do ser humano. Eu acho uma ideia interessante.
[…] Senão, tu chega em uma nave e vai ficar dentro da nave, isso é complicado.
A gente pode sair para fazer as atividades fora, mas a tua casa será só
aquela nave", pormenorizou.
© Foto:
Viktoria Tulisova, PFUR
Cientista brasileira, Thais Russomano, durante uma
entrevista
coletiva na Universidade Russa da Amizade dos Povos,
em Moscou, em
26 de junho de 2017.
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A doutora frisou: a própria viagem longa não é o maior problema, sendo que a atrofia de músculos, por exemplo, pode ser evitada através de um conjunto de exercícios adequados. Russomano fez lembrar, por exemplo, o recorde mundial do cosmonauta soviético Vladimir Poliakov, que passou no espaço 437 dias. Porém, uma viagem ao chamado "deep space" (espaço profundo) difere criticamente de uma estância na órbita e faz surgir desafios novos.
Como se
resolvem esses problemas?
Falando de
como se resolve um dilema tão complexo, a doutora revelou — tudo, como
sempre, depende da questão de financiamento.
S:
Resumindo o discutido, se pode dizer que a humanidade tem duas opções: chegar a
Marte agora sem condições mínimas e sofrer enormes riscos, ou sacrificar o
tempo e viajar depois, mas já com tudo preparado?
TR: Se tem um
projeto complexo como é mandar uma pessoa para Marte, o que pode reduzir esse
tempo [de preparativos] é o dinheiro que eu vou investir e o número de pessoas
que eu vou botar juntas trabalhando. Essas duas coisas podem reduzir o tempo de
um projeto, mesmo de um projeto tão complexo. Eu acho que uma boa analogia
aconteceu com os americanos, quando decidiram levar o homem à Lua. Fazendo um
paralelo, naquele tempo, nos anos sessenta, a Lua estava muito distante, talvez
tão distante como hoje nós estejamos de Marte. Talvez um pouco menos, mas de
qualquer maneira era um projeto extremamente complexo para a tecnologia e o
conhecimento que se tinha. Mas é o que aconteceu — [foi investido] muito
dinheiro que "comprou" o tempo menor. Então é uma cama de gato ainda,
como se diz em português.
S: Então,
falamos da importância do financiamento. Sabe-se que o projeto MARS ONE, por
exemplo, recusa as verbas governamentais por querer manter a independência
e não se atar com a burocracia. Porém, muitos duvidam que o investimento
privado seja suficiente para um projeto de tal escala. Como se resolve esse
dilema?
TR: Dinheiro
para projeto — esse é uma pergunta árdua. É dor de cabeça, né. […] Claro
que os governos hoje em dia, eles detêm muito dinheiro, mas se sabe que a
iniciativa privada também detém muito dinheiro e muitas vezes eles estão
interconectados. Mas eu acho que o dinheiro é um problema, não só para o
projeto de MARS ONE, mas para qualquer projeto marciano. […] Mas ainda faltam
muitos conhecimentos, eu acho, de como levar uma pessoa com saúde até lá e
permitir que ela fique.
Ao falar da
futura colonização de larga escala, a doutora frisou que este é um assunto
muito distante que precisa profunda ponderação e pesquisa. Porém, não excluiu
que em algum dia a primeira criança pudesse nascer no Planeta Vermelho, na Lua,
ou até em pleno espaço.
"É
difícil saber. Mas se tu tiveres um ambiente, homens e mulheres, com a ideia de
ficar e permanecer… […] Se todo esse cenário se tornasse real um dia, em algum
momento vai nascer um bebê na Lua, em Marte, ou no espaço mesmo. Outra questão
é se nós realmente seremos capazes de nos reproduzir em outro ambiente
gravitacional, esse é o primeiro ponto. Segundo ponto — como é que a
criança que nascer vai lidar com o seu passado terrestre. […] Acho que há
muitas coisas curiosas ainda, mas muito mais no campo da imaginação, não se tem
uma resposta científica correta", revelou a doutora.
Espaço em
cada casa?
Ultimamente,
se tem registrado um interesse elevado pelos temas científicos até na área da
cultura popular — basta relembrar os recentes filmes, tais como
"Interstelar" ou "Perdido em Marte", cujo desempenho no
cinema deixou impressionados até os próprios cineastas.
A Dra.
Russomano expressou que este é um bom sinal e uma boa oportunidade de fazer
as pessoas comuns descobrirem um pouco mais sobre esferas que até agora
lhe pareciam distantes.
"Tem uma
mescla das duas coisas [ciência e ficção]. Claro que esses filmes são feitos
para um grande público. E acho que eles têm uma função que é muito diferente da
ciência espacial como ela é. Eu acho que têm uma função de motivar o grande
público em relação à ciência espacial e de engajar o público nessas
dificuldades ou nas situações com as quais os cientistas se deparam. Mas
eu acho que não é o momento ali de ter uma ciência-ciência. Ficaria muito
chato", brincou a cientista.
S: Que
saibamos, no âmbito do projeto MARS ONE se planejava organizar uma espécie de
reality show contando com a participação dos primeiros colonizadores. Como se
faria do ponto de vista técnico e qual é a ideia principal — o ensino ou
entretenimento?
TR: Acho que
já terminou. A ideia inicial era transformar… A ideia tinha dois aspetos —
a primeira era conseguir os representantes da Terra chegando ao outro planeta
para que toda a humanidade tivesse um acesso a essa evolução do projeto. Mas
aí, eu acho que foi muito criticada pela possibilidade de se tornar um
"Big Brother" espacial e gerar mais polêmica ainda. Eu não sei se
essa é a razão, mas eu entendo que tenha sido por isso.
Como é o
perfil do colonizador marciano?
Ao falar da
futura tripulação que, pela primeira vez na história humana, irá tentar
permanecer e sobreviver na superfície do Planeta Vermelho, a cientista
brasileira notou que seria preferível formar uma equipe diversificada, de
homens e mulheres, sendo estes representantes de muitos países.
S: Segundo
se comunicava, o processo de seleção para o projeto MARS ONE, em particular, se
realizava entre os voluntários. Foi assim mesmo?
TR: Sim, no
MARS ONE a ideia é mais a representação de pessoas que tenham um perfil de
desbravadores e possam ser treinadas em outras áreas. A concepção é de que é
esse perfil que vai te fazer querer ir a Marte, chegar em Marte, viver em
Marte.
S: Em sua
opinião, quais são os objetivos perseguidos por estes voluntários? É interesse
pessoal, busca de popularidade ou adrenalina, ou, talvez, altruísmo, quer
dizer, o empenho no futuro das próximas gerações?
TR: Eu acho
que tudo em conjunto. Eu não participei em nenhum momento desse processo de
seleção, não sabia dizer exatamente o que é que as pessoas pensam, mas
acho que é comunhão, como tudo na vida. […] Eles, quem desenhou o projeto MARS
ONE, entendem que esse traço de perfil da pessoa de ser um desbravador, de ser
uma pessoa que trabalha bem com risco, [dizendo] "vou conseguir, vou
trabalhar", coisas de determinação, perseverança, todas
as características psicossociais são mais importantes. Claro que tem de
ser saudável, tem que ser isso e aquilo, mas o background científico na
concepção que eles estipularam teria menos importância.
S: Talvez
essa pergunta seja um pouco provocatória. Mas é frequente que a gente
ouve — a humanidade investe tanto dinheiro no desbravamento do espaço, de
Marte em particular, mas tem uma atitude terrível para com seu próprio planeta.
Diz-se que estamos dispostos a colonizar outro planeta sem sequer poder cuidar
do nosso. A senhora partilha esta opinião?
TR: Não, eu
acho que a colonização de Marte, por exemplo, ou mesmo da Lua, não está ligada
ao fato de que a gente não cuida bem da Terra, sabe. Acho que é mais a
necessidade de vencer essa barreira final, essa "final frontier" e
realmente se expandir, o que faz parte da natureza humana.
Durante sua
estadia breve em Moscou, a destacada especialista Thais Russomano também não
deixou escapar a oportunidade de interagir com os pesquisadores russos, visando
estreitar os laços no campo de investigação científica espacial e marciana em
particular. O projeto
universitário 5-100, do qual a Universidade Russa da Amizade dos Povos faz
parte, se ocupou de organizar conferências científicas e palestras em Moscou
para efetuar uma troca de experiências. Já hoje de noite, a Dra. Russomano vai
viajar para a cidade russa de Novosibirsk, onde buscará apoio de várias
iniciativas que chefia e discutirá os problemas mais críticos de desbravamento
espacial.
Fonte: Site Sputniknews - http://br.sputniknews.com/
Comentário: Pois é, alguns de meus leitores podem esta agora confusos e se perguntando como um país que literalmente brinca de fazer programa espacial pode produzir uma especialista em Medicina Espacial que seja convidada para falar sobre este assunto especificamente direcionado a desejada viajem humana ao planeta Marte e logo onde, na Rússia? É por incrível que possa parecer para você leitor, talvez hoje a Dra. Thais Russomano e seu Grupo MicroG (locado na PUCRS) sejam um dos grupos mais indicados (se não o mais indicado) para falar sobre os efeitos da falta de gravidade no corpo humano durante a permanência de astronautas por longos períodos no espaço. Realmente o grupo MicroG da PUCRS sob a coordenação da Dra. Thaís Russomano vem realizando nesta área um trabalho exemplar de reconhecimento internacional não sendo por acaso ela ter sido convidada para participar deste debate nesta universidade moscovita. Pois é, esse é mais um indicio do potencial de um país adormecido que infelizmente permanece inativo pela própria cultura de seu povo, um tremendo desperdício.
" O PERIGO MAIOR É MANTER A INTEGRIDADE PSICOLÓGICA "
ResponderExcluirEm busca de melhores oportunidades de vida, nossos ancestrais primitivos, segundo os cientistas evolucionistas, devido a nessecidade de exploração e descobertas, encontravam meios de subsistência, fazendo trajetos perigosos e desconhecidos, para manter sua integridade física, para eles, tudo era uma novidade. Não mudou muito nos dias atuais, nós temos no sangue o gene da preservação e perpetuação da nossa espécie, correndo por nossas veias, entretanto nosso desejo de explorar o inexplorado, diminui a sua contundência, pois o perigo não é mais constante, as constantes descobertas cientificas, nos dão respaldo para seguirmos em frente, com uma leve segurança. Daí, após ler esta matéria, modéstia parte eu questiono, sem muito rodeios, sobre os efeitos nocivos e a influência pisicologica, das viagens espaciais, lembre-se! nossa ligação com a mãe terra, em contemplar e usufruir de seus benefícios, são muito fortes: (o Céu, Mar, Solo, reino animal e a biodiversidades) é muito interligada com a nossa real existência, agora pergunto: - " Por quanto tempo viveríamos enclausurados em uma redoma seja ela uma nave mãe espacial ou um modulo de vida em Marte? Cerca de alguns dias, por efeito iniciais da importância da missão; por alguns meses, em detrimento das execuções experimentais nos lab´s;, ou por alguns anos, para " TENTAR" manter a aparência psicológica aos diretores da missão em terra; e após alguns anos, quando a moeda da verdade cair, como sera os comportamentos?. Estas são as quantidade razoável de expectativas? Ou seria bem melhor, se pudéssemos ir como turista, e retorna em seguida?
Mas todos nos sabemos que, que a terra é o berço do nosso conhecimento, mas nós não podemos viver para sempre em um berço, que nos mesmos poluímos, inconsequentemente, infantilmente, irresponsavelmente, diariamente, eis a questão.
Esses são os questionamentos e requisitos atmosféricos futurísticos da terra, limitantes que enfrentaríamos em um planeta como Marte, é uma pura questão de visão e prevenção. Como é que nós empenharemos para viagens cujos destinos de sobrevivência, será a de usar escafandros eternamente em Marte? Será que vamos continuamente enviar suprimentos a partir do planeta Terra? Como podemos fazer crescer alimentos no espaço e no solo marciano?
A partir de experiências dos astronautas no espaço, sabemos que o mais longo período de tempo que qualquer ser humano passou no espaço foi cerca de 12 a 14 meses. Com esta experiência descobrimos que permanecer em um ambiente de microgravidade traz perda óssea, atrofia muscular, problemas cardiovasculares, entre muitas outras complicações que vão do fisiológico ao psicológico.
Há muitos perigos em viagens cósmicas. A tecnologia tem nos deixado ciente de acontecimentos, para garantir nossa passagem segura pelo espaço.
Em fim, para finalizar o meu comentário, e justificar o título escolhido, e dirimir o grande entrave para diminuir o (Stress), o "Ler" repetitivo, em se ficar enclausurado como uma sardinha na lata, é uma solução impossível de se realizar, a solução está no grande filme, " Lost in Space", quem estava abordo? Toda a família Robson. A importância da interação da presença da família para o ser humano é muito gratificante, supera para mim, os problemas psicológicos. Não podendo levar todos, existe outra solução, a VÍDEO transmissão diária entre seus pares. Ainda é muito cedo, para enfrentarmos uma permanência grande, fora dos laços, da nossa mãe terra e de nossa parentela.