Aeronáutica Quer Mudar o Programa Espacial e Implantar Nova Governança
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria publicada na edição de setembro
do “Jornal do SindCT” destacando que a Aeronáutica quer mudar o Programa
Espacial e implantar Nova Governança.
Duda Falcão
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA - 2
Aeronáutica Quer Mudar o Programa
Espacial e Implantar Nova Governança
GT Propôs Criação de Conselho Interministerial e Comitê Executivo
Na visão do comandante da FAB, tenente-brigadeiro
Nivaldo Rossato, falta
harmonia entre o PEB e o Programa Estratégico
de Sistemas Espaciais (PESE).
“Existe um modelo de governança errado”, disse ele
a uma comissão do Senado
Por Pedro Biondi*
Jornal do SindCT
Edição nº 61
Setembro de 2017
O governo federal segue operando em busca da
reestruturação do Programa Espacial Brasileiro (PEB). O comandante da
Aeronáutica, tenente-brigadeiro Nivaldo Luiz Rossato, tratou abertamente
desse plano em audiência realizada no Senado Federal no dia 26 de setembro.
Falando à Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e
Informática (CCT), Rossato atribuiu os problemas da área ao atual modelo
de governança e defendeu mudança que, segundo informou, está em
tramitação.
De acordo com a fala do oficial-general, amparada em
apresentação de PowerPoint, falta harmonia entre o Programa Nacional de
Atividades Espaciais (PNAE), coordenado pela Agência Espacial Brasileira
(AEB), e o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), liderado
pela Aeronáutica. Rossato listou o que seriam as falhas estruturais do
conjunto: falta de direcionamento estratégico e de prioridade, ações
descentralizadas nas demandas por produtos, deficiência em recursos
humanos. “Existe um modelo de governança errado. Ele não está
adequado”, pontuou.
“Nossa proposta é uma mudança do modelo atual.
Simples assim? Sim. Talvez eu esteja sendo muito sintético, mas como diz
uma regra, na guerra só dá certo o que é simples”. O palestrante, que
comanda a Força Aérea Brasileira desde janeiro de 2015, no início do
segundo governo de Dilma Rousseff, detalhou proposta apresentada por um
grupo de trabalho (GT) interministerial, criado em outubro daquele ano para
assessorar temporariamente os ministros da Defesa e da Ciência,
Tecnologia e Inovação — à época, Jaques Wagner e Aldo Rebelo. Ele
recordou a principal recomendação do GT: criar o Conselho Nacional
de Espaço e o Comitê Executivo de Espaço.
Nesta página e na seguinte reproduzimos alguns dos slides
exibidos no Senado pelo brigadeiro Rossato.
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“Esse comitê trabalharia em cima dos programas, da
política, do orçamento e dos acordos que deveriam ser feitos. Ele teria
toda essa definição do que queremos do nosso espaço”, explicou. Segundo
seu relato, as proposições seguiriam para o Conselho, constituído pelas
pastas da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC),
Defesa, planejamento e Casa Civil. “Tomariam a decisão e essa
decisão viria para dentro da AEB, para dentro do Comando da Aeronáutica,
do INPE [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais] ou de outros
entes envolvidos, para execução desse orçamento de acordo com os projetos
que fossem priorizados”. A AEB, acrescentou, “teria um orçamento interno
e seria responsável por toda a execução de acordos com outros países, com
outras companhias do mundo inteiro”.
Contraponto (1)
O secretário de Comunicação e Cultura do SindCT,
Gino Genaro, considera que o PESE não pode ser confundido com o Programa
Espacial Brasileiro, cujas diretrizes são dadas pelo PNAE.
“Enquanto o PESE tem cunho operacional e volta-se
às necessidades militares em comunicações, imageamento,
meteorologia etc., o PNAE visa o desenvolvimento e a busca da autonomia
nacional no uso do espaço, por meio de bases de lançamento, veículos
lançadores e satélites projetados e fabricados no país”, diferencia.
Genaro relativiza o caráter dual atribuído às iniciativas
do PESE: “Talvez seja uma tentativa de obter mais apoio no governo e no
Congresso, mas o programa possui claramente um objetivo estratégico
ligado à área de Defesa e é conduzido pelas Forças Armadas, ao passo que
o PNAE é, por definição, eminentemente civil”.
Quanto à aventada mudança de governança, Genaro pondera
que pode ser positiva e garantir à área o status de política de Estado.
“Agora, é preciso saber em detalhe como serão a composição e o
funcionamento do Conselho. O assunto vem sendo tratado de maneira
muito fechada, sem a devida participação de todos os atores do setor. Mesmo as
conclusões do GT nunca foram oficialmente tornadas públicas”, diz.
Tarjas
Em sua fala aos senadores, o brigadeiro Rossato
apresentou lâminas que alertam para a ultrapassagem do Brasil na área por
países da América do Sul e para o orçamentário dedicado, muito inferior ao de
Estados Unidos, Rússia, China, Índia e Argentina tanto em termos absolutos
como relativos.
“Nós podemos dizer nesse diagnóstico que os
recursos foram inconstantes e não foram priorizados”, criticou. O gráfico
sobre os recursos aplicados, no entanto, mostra crescimento quase
constante do valor total nos governos de Lula.
Nos mandatos de sua sucessora, queda livre, que,
continuada no período Temer, faz a curva regredir ao patamar de
2003. A sequência de slides crava tarjas vermelhas com comentários
negativos sobre o quadro de investimentos do PNAE, o Veículo Lançador de
Satélites (VLS, dado ali como irrecuperável), a parceria binacional da
extinta Alcântara Cyclone Space e o acordo com a NASA para uso da Estação
Espacial Internacional.
Da exposição consta, ainda, a transformação do Centro de
Lançamento de Alcântara (CLA) em “Centro Espacial”, com o destaque
“Elevado potencial para comercialização de operações de lançamento” e
mapa que exibe a expansão pretendida pelo Ministério da Defesa na
franja litorânea da península maranhense, em localidade também reconhecida
como território quilombola (conforme relatado no Jornal d SindCT,
ed. 60).
Na descrição da estratégia para o fortalecimento do
PEB, um dos itens é a aprovação de acordos de salvaguardas tecnológicas
(de proteção comercial) com diversos países.
Contraponto (2)
O presidente do SindCT, Ivanil Elisiário, questiona as
soluções em andamento para o PEB.
“Uma reestruturação como essa tem de considerar de
forma prioritária a revitalização dos institutos públicos de pesquisa”,
diz.
“Estão em pleno processo de extinção, e a indústria
não tem maturidade para assumir um programa independente deles.” Ivanil
avalia como “um equívoco muito grande” a possibilidade de privatizar um
setor que o Estado brasileiro ainda não domina. Ele defende que o investimento
público garanta a sustentabilidade econômica, como indutor, para chegar a
uma escala de projetos que permita “transbordar” para a iniciativa
privada e aí consolidar um parque industrial nessa especialidade.
Outra preocupação levantada é a falta de projetos
mobilizadores — desafios tecnológicos capazes de gerar orçamento e
nuclear postos de trabalho. “O IAE está sem projeto mobilizador”, observa.
“O VLM [Veículo Lançador de Microssatélites] não é um. Sem o DLR
[agência espacial alemã], não teria futuro. O INPE, com o fim da série
CBERS, também ficará sem”.
O dirigente alerta para a perda de força de
trabalho nas unidades que executam o Programa Espacial. “Em 1987,
éramos 4.100. Hoje somos 1.600”, diz referindo-se ao Departamento
de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA).
“Em 2020, com base na idade e no tempo de contribuição
dos servidores, a estimativa é que seremos apenas 890. No INPE, o
quadro passou de 2.080 para 920, e deve cair para 520”. Caso se concretize
o loteamento de “fatias” do atual CLA para outros países, Ivanil chama
atenção para a importância de garantir contrato de locação e a destinação
do montante arrecadado ao próprio PEB. “Mas é algo que não existe
hoje. Tudo que explora utilidades brasileiras vai para o caixa do Tesouro”,
ressalva.
* O autor é jornalista. Especial para o SindCT
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 61ª - Setembro de 2017
Comentário: Galera é muito cacife para pouco índio. Não
sou contra a criação de um Conselho Espacial que defina um caminho a ser
seguido pela Politica Espacial, e assim ser passado para AEB (órgão executor). Porém seria muito
mais fácil e produtivo colocar a AEB sob a batuta direta da Presidência
da República (como uma espécie de ministério) transformando assim definitivamente
o PEB em Programa de Estado. O estabelecimento de um escritório de apoio politico em Brasília onde ficaria o presidente da Agencia para dar
suporte à Presidência da Republica, contatos com o Congresso e a eventuais acordos internacionais, e a transferência de toda a sua estrutura para
onde ela deveria estar, ou seja, em São José dos Campos (SP), ao lado do IAE,
INPE, IEAv, IFI, orientando os institutos a seguirem a Politica Espacial
estabelecida pelo Conselho, fornecendo recursos e cobrando por resultados.
Porém leitor, qualquer caminho que seja adotado ele tem de partir de alguns princípios
básicos para que se obtenha resultados, ou seja, seriedade e competência, coisas
que atualmente não fazem parte da atual gestão de nossa Agencia Espacial de Brinquedo
(AEB) e muito menos do Governo TEMER.
A discussão é pertinente mas como sempre não aborda problemas cruciais. Basicamente pede dinheiro e mais funcionários...
ResponderExcluirNão se fala que a legislação emperra todo o processo de desenvolvimento científico. Um exemplo prático - o problema que aconteceu com a reconstrução da torre de lançamento do VLS , aconteceria novamente. O problema da licitação da rede elétrica do VLS aconteceria novamente. A paralisia dos contratos feita pelos orgãos jurídicos continuaria. E por aí vai... Isso sem tocar na mentalidade vigente dentro dos institutos públicos que não priorizam os objetivos.
Continuo sem ver uma solução verdadeira em discussão.
Acredito que a criação de uma Agência Espacial Sul Americana, envolvendo vários países seria a melhor solução, seguindo o exemplo da ESA.
ResponderExcluirMas é necessário comprometimento, honestidade, conhecimento e recursos, infelizmente falta tudo isso no Brasil e mais um pouco.
A situação é triste.
prof. Miraglia
O problema do Programa Espacial Brasileiro está, justamente, nesta mistura, pouco ou nada palatável, entre programas civis e programas militares. Há uma encrenca dentro do DCTA que não se resolve facilmente, porque os pesquisadores civis nunca aceitaram ser comandados por militares. Eu, particularmente, acho que isto é idiotice, mas os caras são concursados, têm estabilidade e se apegam a isto para fingir indignação, quando deveriam estar usando esta energia para construir e não para criar desavenças. No INPE, a coisa não é muito diferente; apesar de ser 100% civil, convive com facções internas que não permitem o crescimento da equipe, que vai levando com a barriga até se aposentar, com bons salários. Claro, que no meio dessa turma toda, tem muitos bons profissionais, mas que se deixam levar na onda, principalmente, porque o PEB nunca teve recursos suficientes e nem objetivos claros e mensuráveis. Concordo que o PEB precisa ser convertido em um programa de Estado, mas o Programa de Defesa Nacional, que deveria ser tratado de forma igual, carece de muito recurso não disponível e de ajustes quanto à mistura do civil com o militar. Por exemplo, o decreto 6.703 define que o foguete de lançamento de satélites brasileiro também será utilizado para lançamento de mísseis. O que sempre foi combatido pelos americanos, o Lula deu conta de instituir como regra. Quanto à AEB, em Brasília, concordo que não faz o mínimo sentido.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEspero que você não esteja que o Vitória ganhe do meu Cruzeiro dia 19 de novembro...
ExcluirRelaxe Bernardino!
ExcluirO Cruzeiro vai atropelar os Urubus, e ele voltarão pra casa.
Abs
Duda Falcão
(Brasília Space)