Crise Ameaça Maior Obra da Ciência Brasileira
Olá leitor!
Segue abaixo uma
matéria postada ontem (29/08) no Blog do Jornalista Hertor Escobar do site do jornal “O Estado de São Paulo”, tendo como destaque a ameaça que a crise traz a
maior obra da ciência brasileira.
Duda Falcão
CIÊNCIA
Crise Ameaça Maior Obra da Ciência Brasileira
Sem recursos para chegar até o fim do ano,
tanto o acelerador de partículas Sirius
quanto o Centro Nacional de Pesquisa em
Energia e Materiais (CNPEM) podem
paralisar atividades por falta de dinheiro.
Ministério da Ciência e Tecnologia
também está quebrado, com quase 90% do seu
orçamento já comprometido
Estadão
Blog do Herton Escobar
29 de agosto de 2017
Foto: CNPEM/LNLS
Canteiro de obras do Sirius. |
Sem recursos para chegar até o fim do ano,
tanto o acelerador de partículas Sirius quanto o Centro Nacional de Pesquisa em
Energia e Materiais (CNPEM) podem paralisar atividades por falta de dinheiro.
Ministério da Ciência e Tecnologia também está quebrado, com quase 90% do seu
orçamento já comprometido.
O melhor lugar para se proteger dos maus
presságios que ameaçam a ciência brasileira parece ser o canteiro de obras do
novo acelerador de partículas nacional — o Sirius, em Campinas. Mais
especificamente, dentro do corredor que vai abrigar o anel do feixe de
elétrons. As paredes são de um concreto especial, com até 1,5 metro de
espessura, para evitar o vazamento de radiação; e o piso é de uma estabilidade
absurda, com 4 metros de profundidade e diversas camadas, feitas de diferentes
materiais e unidas por estacas, para evitar qualquer tipo de vibração. Nem
terremoto derruba.
Com previsão de entrega para junho de 2018, o
projeto segue a todo vapor, com máquinas e homens trabalhando intensamente
dentro e fora de sua gigantesca estrutura em forma de disco-voador, com 230
metros de diâmetro — quase a largura do Estádio do Maracanã. O telhado já está
todo fechado, as paredes de blindagem do corredor do anel já estão sendo
concretadas, e as peças do primeiro estágio do acelerador (onde os elétrons
serão produzidos) acabam de chegar ao Porto de Santos. É um projeto que
impressiona, tanto pela grandiosidade quanto pela complexidade e ousadia.
Nem parece que a ciência brasileira está
passando pela maior crise de sua história. Mas está; e nem o Sirius, nem o
Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), que o abriga, nem o Centro Nacional de Pesquisa em Energias e
Materiais (CNPEM),
do qual o LNLS faz parte, estão imunes a essa crise.
Assim
como todos os outros institutos
de pesquisa federais, o CNPEM não tem dinheiro suficiente para fechar o ano sem
dispensar funcionários ou desligar suas máquinas. O centro tem recursos para
mais dois meses de operação. Depois disso, se não houver uma liberação de
recursos por parte do governo federal, o CNPEM terá de paralisar suas
atividades.
“Temos uma reserva de contingência (de R$ 23
milhões) que dá para fechar”, diz o diretor, Rogério Cerqueira Leite.
“Fechar o ano?”, pergunto. “Não”, esclarece
ele. “Para demitir todo mundo e fechar as portas.”
O prejuízo disso seria tremendo para a ciência
brasileira. O CNPEM é um conglomerado de quatro importantes laboratórios
nacionais — de Biociências (LNBio), Bioenergia (CTBE), Nanotecnologia (LNNano) e Luz Síncrotron (LNLS) —, e todos eles funcionam como “facilities”.
Ou seja, são laboratórios dotados de equipamentos caríssimos, de alta
tecnologia, que servem a toda a comunidade científica brasileira, e também à
indústria nacional, para diversas aplicações científicas e tecnológicas.
Centenas de projetos e milhares de cientistas seriam prejudicados com a
paralisação.
O orçamento aprovado no Congresso para o CNPEM
este ano é de aproximadamente R$ 90 milhões, mas o centro só tem autorização
para gastar R$ 54 milhões, em função do corte (contingenciamento) de 44% do
imposto pelo governo federal ao orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações (MCTIC). E desses R$ 54 milhões, o CNPEM só recebeu,
até agora, R$ 15 milhões.
“Não temos dinheiro suficiente para chegar até
o fim do ano, mas aguardamos novas liberações”, disse Cerqueira Leite ao
Estado. “Estamos aflitos, mas não desesperados”, completou, tentando manter o
otimismo. Os recursos disponíveis hoje, segundo ele, são suficientes para mais
dois meses de salário dos seus quase 600 funcionários.
O CNPEM, diferentemente de outros institutos
de pesquisa federais, funciona como uma Organização Social, o que significa que
seus funcionários são contratados via CLT — não servidores públicos — e o
dinheiro dos seus salários sai do orçamento — não do Tesouro Nacional. Ou seja,
o centro corre risco de ficar sem dinheiro, sem pesquisa e sem funcionários.
Foto: Herton Escobar/Estadão
Parte interna do prédio do Sirius, com as paredes de
blindagem do corredor do anel em construção.
|
Cronograma em Risco. O
Sirius tem um orçamento próprio, vinculado ao Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), o que lhe confere uma certa blindagem da crise, mas não
chega a ser uma imunidade. O orçamento previsto na Lei Orçamentária Anual para
o projeto este ano é de R$ 325 milhões, mas esse valor já foi rebaixado para R$
189 milhões (42% de contingenciamento).
E o pior é que, para cumprir o cronograma de
terminar a obra e rodar o primeiro feixe de elétrons em junho de 2018, nem esse
orçamento original basta. Além da liberação integral dos R$ 325 milhões
previstos na lei orçamentária, o projeto precisa de mais R$ 180 milhões
liberados para empenho até o fim do ano para não cair em atraso — o que
implicaria em um encarecimento da obra, além do prejuízo científico, diz o diretor
do LNLS, Antônio José Roque da Silva. “Reorganizar o cronograma significa
reorganizar os custos”, explica. “Também há risco de perda de pessoal e impacto
na cadeia de fornecedores.”
O custo total estimado do projeto é de R$ 1,8
bilhão, incluindo o prédio, o acelerador, a mão de obra e as 13 linhas de luz
previstas para estar em funcionamento até 2020. Essas “linhas” são as estações
de pesquisa que são acopladas ao acelerador, onde os experimentos com a luz
gerada pela aceleração dos elétrons no anel interno são executados. Essa luz
extremamente brilhante, chamada de “luz síncrotron”, pode ser usada para
estudar a estrutura molecular de diferentes materiais, como uma liga metálica,
um tipo de cerâmica, uma amostra de solo, uma molécula com potencial terapêutico
ou um fóssil de milhões de anos. Detalhes técnicos aqui: http://lnls.cnpem.br/sirius/projeto-sirius/
Projetado para ser uma das melhores fontes de
luz síncrotron do mundo, o Sirius é um projeto 100% brasileiro, com cerca de
85% dos seus componentes produzidos e desenvolvidos totalmente no Brasil, por
meio de encomendas tecnológicas feitas a dezenas de pequenas, médias e grandes
empresas nacionais.
“Não existe outro projeto de alta tecnologia
no Brasil com esse índice de nacionalização”, destaca Silva. “Cada peça do
Sirius exigiu um grau de desenvolvimento sem precedentes. Em alguns casos, sem
precedentes no mundo.”
Tudo isso pode ser colocado em xeque se o
dinheiro não sair. Segundo Silva, os recursos não precisam ser liberados todos
ao mesmo tempo, mas é preciso que haja uma certeza no cronograma de liberações,
para que as encomendas possam ser feitas e entregues no momento certo, com
segurança jurídica e financeira. “O ministério está extremamente empenhado em
fazer isso acontecer”, afirma Silva. “Mas chegamos a um momento crucial.
Estamos aguardando as definições relacionadas a proposta de mudança da meta
fiscal para sabermos como serão os próximos passos.”
Procurado Pela Reportagem, o MCTIC Emitiu o Seguinte Posicionamento:
“O Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações (MCTIC) esclarece que atua junto aos Ministérios da
Fazenda e do Planejamento pelo descontingenciamento de recursos, que afetaram
os diferentes órgãos do Governo Federal. O MCTIC ressalta o papel da pesquisa e
do investimento em ciência e tecnologia para o desenvolvimento do país e
trabalha pela recuperação do orçamento total previsto para esse ano.
O MCTIC está dando prioridade a seus institutos
(16 unidades de pesquisa e as 6 organizações sociais); a eles foi aplicado um
percentual de corte inferior ao aplicado ao ministério como um todo. Além
disso, este ministério está acompanhando criteriosamente as atividades dos
institutos de pesquisa de maneira a evitar que impactos significativos venham a
ser observados.”
A situação financeira da pasta é dramática.
Seu orçamento inicial, de R$ 5,8 bilhões, foi reduzido para R$ 3,2 bilhões, e
cerca de R$ 2,8 bilhões desse valor já foram empenhados. Ou seja, faltando
quatro meses para o fim do ano, o MCTIC tem apenas R$ 400 milhões em caixa para
bancar toda a ciência nacional (gráfico abaixo).
Situação orçamentária do MCTIC em agosto de 2017.
|
Fonte: Site do
Jornal O Estado de São Paulo – 29/12/2016
Comentário:
Bom, pelo menos já se nota uma imagem da obra bem diferente da foto anteriormente
divulgada, demonstrando que houve um grande avanço. Entretanto, o que ainda
espanta é crença da Comunidade científica envolvida com esta obra de que este
atraso não iria ocorrer. Infelizmente a comunidade de C&T brasileira (ou
pelo menos a sua cúpula) continua acreditando que vivemos num país sério onde a
sua comunidade politica esta realmente comprometida na construção de uma
verdadeira nação, crença esta que é uma tremenda fantasia. Veja por exemplo o
que ocorre com as outras comunidades de trabalhadores. Se forem os professores eles saem às ruas, se
são os policiais eles saem às ruas, se são lixeiros eles saem às ruas e vão
lutar pelo que reivindicam, mas a comunidade cientifica escreve carta de
desagravo e entrega a esses canalhas na esperança de sensibiliza-los. Esta passividade
não leva a lugar nenhum transformando a comunidade em piada e peça de
manipulação em prol dos interesses nefastos desses vermes. Aqui leitor não é uma questão partidária, já que nenhum dos pseudo partidos de merda existentes no país irá resolver o problema, seja no governo dos Petralhas, seja no governo dos Tucanalhas, seja no governo
dos Pmdbtralhas, ou mesmo no governo dos Macianotralhas, jamais com a cultura politica
vigente a ciência, Tecnologia e a Educação de qualidade baseada na cidadania
serão prioridades para esses vermes, pois isso vai de encontro aos princípios
básicos do POPULISMO. Ou seja, seria o mesmo que ‘cagar’ no prato onde comem,
uma tremenda de uma burrice, e se tem algo que essa gente está longe de ser é
burro. O entendimento é muito simples, um povo bem educado e cidadão
(politizado) prioriza a competência e cobra resultados de todos os setores da sua
sociedade, principalmente de sua classe politica, deixando assim de ser peça de
manobra desses vagabundos que são em sua grande maioria sanguessugas, incapazes
de produzir, vivendo da ignorância politica e dos esforços daqueles que
produzem. Vocês precisam acordar. A participação da Comunidade de C&T do país nesta mudança cultural que o país precisa é de fundamental importância, mas se vocês continuarem com essa passividade, nada mudará e a história registrará a falta de atitude de vocês. Chega de choro, ingenuidade e passividade, se mexam, vão a luta, façam a diferença.
Olha, não sou de concordar com todos os comentários do Duda, principalmente os que apontavam seriedade no IAE (que não existe na maioria dos servidores e militares), mas esse foi nota 10!
ResponderExcluirÉ desolador mas nosso país está sendo derrotado numa guerra hibrida e duto que construímos nos últimos anos está sendo jogado no lixo ou entregue aos abutres.Agora só temos dinheiro para comprar voto de político bandido e saciar a gula do sistema financeiro.
ResponderExcluirTalvez depois de ter suas necessidades básicas atendidas, o povo comece a olhar para a ciência.
ResponderExcluir